XANGAI - As autoridades da capital da região de Xinjiang, Urumqi, no noroeste da China, anunciaram, neste sábado, 26, que vão começar a retirar as restrições anticovid em alguns pontos da cidade, confinada desde agosto, após a polêmica nas redes sobre a morte de 10 pessoas em um incêndio.
Relatos apontam que o incêndio começou no décimo quinto andar de um edifício residencial na noite de quinta-feira, 24, mas somente três horas depois os bombeiros terminaram de apagar as chamas e resgatar os feridos, que tiveram de ser transferidos para centros hospitalares para serem tratados por inalação de fumaça.
Pelas redes sociais, fortemente censuradas no país asiático, inúmeros usuários expressaram indignação com o evento. Um vídeo compartilhado pelos moradores mostram o que parece ser um caminhão de bombeiros pulverizando o prédio com água à distância porque não podia se aproximar devido ao confinamento imposto pelas autoridades em virtude da covid-19.
Em coletiva de imprensa, as autoridades locais asseguraram que o camião teve dificuldades em chegar ao edifício porque a estrada que lhe dá acesso estava ocupada por viaturas estacionadas, tendo apontado que o quarteirão tinha sido classificado como “área de baixo risco” no último dia, de modo que “os seus residentes puderam deixá-lo em etapas a partir do dia 20″.
De acordo com o jornal de Hong Kong South China Morning Post, os bancos de dados de áreas de risco da Comissão Nacional de Saúde de Xinjiang não mostram que a classificação do desenvolvimento de Jianxiang - onde o prédio estava localizado - teria sido alterada para uma “área de baixo risco”.
Da mesma forma, as autoridades afirmaram que o alastramento do incêndio ocorreu pelo fato da porta corta-fogo da fábrica onde tiveram origem as chamas estar aberta, impedindo que alguns moradores fugissem por não conhecerem as saídas de emergência.
Segundo o portal especializado What’s on Weibo, que mostra as principais estatíticas do Weibo, rede social semelhante ao Twitter - censurado no país, a hashtag na qual os usuários discutiam a entrevista coletiva concedida pelas autoridades sobre o incêndio teve mais de 160 milhões de interações em apenas 30 minutos.
Esse mesmo portal garante que outras publicações em referência ao incêndio receberam mais de 1 bilhão e 500 milhões de visitas, mas não constavam da lista de tendências, o que daria a entender que teriam sido excluídas pela censura da plataforma.
Algumas das mensagens postadas pelos usuários não apenas oferecem condolências pelas mortes, mas também mostram sua indignação por essas pessoas terem passado os últimos 100 dias de suas vidas confinadas em suas casas, em mais um exemplo do crescente descontentamento da população chinesa com as duras restrições impostas no quadro da política de ‘zero covid’.
Um dos comentários comparou o evento com a morte de 27 pessoas em um acidente de ônibus em setembro passado na província de Guizhou, no sul da China, enquanto eram transferidas para um centro de quarentena na madrugada: “A história se repete mais uma vez, e são as pessoas comuns que pagam o preço.”
Outro vídeo que circula nas redes sociais mostra um suposto protesto na noite de sexta-feira nas ruas de Urumqi, liderado por uma multidão de cidadãos exigindo o fim do confinamento enquanto um funcionário do governo, de megafone na mão, tenta acalmá-los.
Após o evento e a onda de indignação, o governo de Urumqi anunciou nesta manhã que a cidade conseguiu interromper a transmissão do coronavírus em nível comunitário e que “gradualmente restaurará a ordem na vida dos cidadãos em áreas de baixo risco”.
Segundo o jornal oficial Global Times, no entanto, as autoridades alegaram que ainda existem algumas áreas consideradas de “alto risco” de contágio, que vão continuar confinadas uma vez que “as conquistas da campanha de prevenção e controlo das infeções por covid devem ser continuamente consolidadas”.
Apesar do impacto económico e do já referido descontentamento de alguns setores da população chinesa, as autoridades nacionais mantêm-se convictas na política de ‘zero covid’, que dizem ser a “mais econômica e científica” e que salvou milhões de vidas. /EFE