O mais consequente evento de política externa do ano ocorrerá na noite de sábado em Buenos Aires, quando Donald Trump e Xi Jinping tentarão resgatar a química de seu relacionamento e evitar a combustão que levará à escalada da guerra comercial entre Washington e Pequim a partir de 1º de janeiro. O resultado do encontro interessa virtualmente a todo o mundo, em razão de seu impacto sobre os mercados e o crescimento global.
Fiel a seu estilo imprevisível, o ocupante da Casa Branca emitiu sinais contraditórios sobre o possível desfecho de sua primeira reunião com Xi em um ano. O mais recente deles veio em entrevista ao Wall Street Journal na segunda-feira, 27 de novembro, na qual ele disse ser "muito improvável" um acordo que evite a elevação de tarifas de 10% para 25% sobre US$ 200 bilhões de importações da China a partir do primeiro dia de 2019.
Há menos de duas semanas, Trump se mostrava otimista em relação às chances de acordo e se declarava quase satisfeito com uma proposta detalhada que os chineses haviam apresentado. "É uma lista bastante completa, (com) muitas das coisas que nós pedimos, mas quatro ou cinco coisas foram deixadas de fora. Eu acredito que nós vamos consegui-las também", afirmou no dia 17 de novembro. Agora, Trump fala não apenas em elevar as tarifas a 25%, mas em impor barreiras sobre os restantes US$ 267 bilhões de importações do país asiático, o que ajuda a explicar o atual mau humor dos mercados. É difícil saber se as recentes declarações são uma ameaça real ou uma tática de negociação.
Os americanos atuaram para que o encontro tenha um formato de peso e sugeriram que a reunião de trabalho entre os presidentes seja seguida de um jantar. Trump e Xi se viram pela última vez em Pequim, no início de novembro de 2017, quando o chinês recebeu o americano com uma mais elaboradas cerimônias oferecidas a um chefe de Estado estrangeiro pelo regime comunista.
"Meu sentimento em relação a você é incrivelmente caloroso. Como nós dissemos, há uma grande química", disse Trump em Pequim, dirigindo-se a Xi. Depois do início da guerra comercial entre os dois países, o presidente americano levantou dúvidas sobre a natureza de seus laços com o líder chinês. "Ele pode não ser mais meu amigo, mas eu acho que ele provavelmente me respeita", afirmou no fim de setembro.
As declarações contraditórias de Trump refletem em parte as disputas internas de seu governo entre assessores pró-globalização e livre mercado ligados a Wall Street e a ala protecionista e anti-China. No primeiro grupo estão o secretário do Tesouro, Steven Mnuchin, e o conselheiro econômico da Casa Branca, Larry Kudlow. O campo oposto reúne o representante comercial dos EUA, Robert Lighthizer, e o conselheiro comercial do presidente, Peter Navarro.
O resultado do encontro Trump-Xi dependerá de qual dos dois grupos conseguirá influenciar a decisão final do presidente. Se for tratado como uma questão de acesso a mercado de exportações e investimentos, o embate poderia ser resolvido por meio de redução de barreiras e de restrições à entrada de empresas americanas em setores hoje fechados a estrangeiros. Isso exigiria dos chineses uma abertura mais rápida e profunda do que a antecipada em planos recentes. No domingo, 25 de novembro, as autoridades de Pequim deram indício de que podem escolher esse caminho, ao darem o sinal verde para a alemã Allianz estabeler a primeira seguradora de capital 100% estrangeiro na China, quatro anos antes do previsto.
Mas gestos nesse sentido não serão suficientes para os defensores das tarifas, que veem a relação entre EUA e China como uma competição estratégica pela supremacia global e o controle das tecnologias que dominarão a economia do Século 21. Para eles, a disputa vai muito além de comércio e investimentos e exige medidas que contenham a ascensão da China. No sábado saberemos qual das duas facções prevaleceu.