ENVIADA ESPECIAL A COLÔMBIA - A percepção entre os colombianos de que a violência está aumentando no país é um dos fatores que explicam a queda de popularidade do presidente Gustavo Petro, cuja reprovação atingiu 66% em dezembro. Quando ele tomou posse, em agosto de 2022, 75% da população achava que a insegurança estava piorando; hoje, esse número é de 87%, segundo dados da Invamer.
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A violência já era crescente durante o mandato de Iván Duque, antecessor de Petro, mas, como não parou de escalonar, se tornou um motivo a mais de tensão no governo atual. No país, foram registrados 7.962 assassinatos entre janeiro e julho de 2023, um aumento de 4,8% na comparação com o mesmo período de 2022 (os últimos meses do governo Duque).
No acumulado de 2023 até novembro (dado mais recente), a alta foi de 5,3% e o total de assassinatos, 12.682 – o maior número para o período desde 2014, início da série disponibilizada pelo Instituto Nacional de Medicina Legal. No comparativo anual, os homicídios vêm crescendo ininterruptamente desde 2021, quando o aumento foi de 18%.
O número de sequestros no país também não para de subir. Foram registrados 297 casos entre janeiro e outubro de 2023, de acordo com a Fundación Paz & Reconciliación (Pares). No ano anterior inteiro, quando já houve uma alta de 39,4%, haviam sido 223.
Quase 60% das ocorrências de sequestros de 2023 não tiveram seus autores descobertos. Do restante, 11% foram coordenadas pela guerrilha Exército de Liberação Nacional (ELN), 10% pelo Estado Mayor Central (EMC, uma dissidência das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, as Farc) e 9% pelo cartel Clã do Golfo.
Na análise do estrategista Camilo Granada, consultor para comunicações do ex-presidente Juan Manuel Santos, parte da população vincula o aumento da violência ao Paz Total, um dos pilares da campanha de Petro. O programa previa negociações de paz com diferentes grupos armados – nos moldes do que Manuel Santos fez em 2016 ao entrar em acordo com as Farc.
Desde 2016, no entanto, vários grupos armados passaram a disputar territórios que antes era dominados pelas Farc. Com isso, emergiu a preocupação de que se repita o cenário que se tinha nos anos 90, com intensa guerra entre os diferentes grupos. Estimativas da fundação Pares indicam que o número de grupos armados na Colômbia passou de 18, em 2018, para 43, em 2022.
“A percepção é que a insegurança é crescente, e as pessoas temem estar voltando a épocas que pensavam que tinham ficado para trás. O presidente errou ao reduzir a política de segurança ao Paz Total”, diz Granada.
O consultor político Andrés Mejía Vergnaud também afirma que a insegurança nas ruas e a violência entre guerrilhas e cartéis têm despertado a preocupação nos colombianos de que o cenário de guerra doméstica dos anos 90 possa voltar ao país, o que reduz ainda mais a popularidade de Gustavo Petro.
Para a colombiana Angela Segura, de 24 anos, porém, a sensação de insegurança não aumentou especificamente nos últimos 18 meses, mas vem crescendo desde 2019. Foi quando começou a ouvir com frequência histórias de pessoas e carros sendo roubados ou furtados e quando ela mesma foi vítima de um assalto. Angela voltava da universidade quando foi cercada por dois homens que levaram sua bolsa e seu celular. “Faz um tempo que tenho essa percepção ruim em relação à segurança em Bogotá”, diz.
O estudante Juan Felipe Duarte, de 20 anos, também afirma que a insegurança em Bogotá é permanente. “Os roubos estão normalizados, acontecem todos os dias em diferentes regiões da cidade e não são tomadas medidas eficazes para mudar isso.”