É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|China aumenta sinais de apoio militar à Rússia na guerra contra a Ucrânia


Ocidente tem dado à Ucrânia ajuda militar a conta-gotas, insuficiente para uma vitória decisiva

Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

O emprego de mísseis mais potentes pela Ucrânia e pela Rússia mobilizou, compreensivelmente, as atenções nos últimos dias. Mas algo com consequências mais profundas tem passado despercebido: os crescentes sinais de apoio militar da China à Rússia.

Documentos obtidos pela agência Reuters indicam que a IEMZ Kupol, subsidiária da empresa estatal russa de armamentos Almaz-Antey, desenvolveu na China um novo drone militar, chamado Garpiya-3 (G3), com a ajuda de especialistas chineses. O G3 pode voar cerca de 2 mil km, com carga explosiva de 50 kg, de acordo com relatórios enviados pela Kupol ao Ministério da Defesa russo.

Cemitério de tanques na Praça São Miguel, em Kiev, Ucrânia Foto: Carolina Marins/Estadão
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A China tem fornecido à Rússia maquinário e componentes microeletrônicos necessários para a fabricação de mísseis, tanques e aviões de guerra. Em 2023, cerca de 90% das importações de microeletrônicos e 70% de maquinário da Rússia foram provenientes da China. O chanceler alemão, Olaf Scholz, manifestou preocupação com essa ajuda em reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, na cúpula do G20. Não há informações sobre o que Xi respondeu.

Em 2023, a China comprou da Rússia US$ 60,7 bilhões em petróleo, equivalentes a 19% das importações chinesas desse combustível; US$ 6,4 bilhões em gás natural; US$ 3,9 bilhões em gás liquefeito; e US$ 9,3 bilhões em carvão.

Por duas vezes, navios chineses foram flagrados no local e momento de sabotagens entre a Escandinávia e o Mar Báltico. O último episódio ocorreu no dia 19, envolvendo o Yi Peng 3, cujo capitão é russo. Ele é suspeito de ter cortado dois cabos submarinos, um ligando a Finlândia e a Alemanha e o outro, a Lituânia e a Suécia — todos membros da Otan.

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Há um ano, outro navio chinês, o Newnew Polar Bear, foi detectado no momento e lugar em que se romperam um gasoduto entre a Finlândia e a Estônia e dois cabos de comunicação que ligavam os dois países e também a Estônia à Suécia — de novo, integrantes da Otan.

Líderes do G-20 participam da foto oficial da cúpula, no Rio de Janeiro, Brasil  Foto: Ludovic Marin/AFP

Essas ações se inscrevem na doutrina da guerra híbrida, amplamente usada pela Rússia, China e Coreia do Norte, que inclui também desinformação e ataques cibernéticos. A China emprega esses métodos contra Taiwan; a Rússia, contra a Ucrânia; a Coreia do Norte, contra a Coreia do Sul; e os três, contra os Estados Unidos.

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Já no campo da guerra convencional, a volta de Donald Trump à Casa Branca intensifica a escalada entre Ucrânia e Rússia, ambas preocupadas em fortalecer suas posições em eventual cessar-fogo que o presidente eleito tentará impor.

A mobilização de 11 mil soldados norte-coreanos pelos russos levou o presidente Joe Biden a finalmente autorizar o emprego dos mísseis Atacms, com 300 km de alcance, em território russo. Os ucranianos passaram a empregar também os mísseis anglo-franceses Storm Shadow, com alcance de 250 km.

Em resposta, Vladimir Putin reduziu as condições para o emprego de armas nucleares e ordenou o disparo do míssil balístico de alcance intermediário (entre 1.800 e 5.500 km) Oreshnik contra o complexo industrial-militar ucraniano de Yuzhmash, em Dnipro, que fabrica lançadores de satélites, mísseis e foguetes.

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Segundo Putin, o míssil alcança velocidade 11 Mach, equivalente a 4 km/s, o que o tornaria impossível de interceptar. Ele é capaz de transportar ogivas nucleares e um total de 36 cargas explosivas, mas foi usado com carga convencional. Foi o primeiro disparo dessa arma e há poucas informações sobre ela. Não se sabe se o sistema antiaéreo americano Patriot, o mais avançado, é capaz de derrubá-la.

O emprego desse míssil não faz sentido militar no teatro ucraniano. O propósito foi político: “Consideramos que temos o direito de usar nossas armas contra instalações militares dos países que permitem que suas armas sejam usadas contra nossas instalações”, alertou Putin. Entretanto, a Rússia informou os EUA antes do disparo, seguindo o protocolo Redução de Risco Nuclear, firmado entre os dois países.

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Isso significa que Putin não deseja correr o risco de guerra direta com os Estados Unidos e a Otan, que têm capacidade de aniquilar o seu regime. Como tem feito desde antes da invasão da Ucrânia, ele pretende apenas intimidar as democracias ocidentais que, ao contrário das ditaduras russa e chinesa, são sensíveis aos temores de sua opinião pública.

Tem funcionado: graças a essas chantagens, o Ocidente tem dado à Ucrânia ajuda militar a conta-gotas, insuficiente para uma vitória decisiva. Isso só serviu para aumentar o sofrimento de ucranianos e russos. E potencialmente de toda a Europa: o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, prevê que a Alemanha travará uma guerra com a Rússia dentro de cinco a oito anos.

O emprego de mísseis mais potentes pela Ucrânia e pela Rússia mobilizou, compreensivelmente, as atenções nos últimos dias. Mas algo com consequências mais profundas tem passado despercebido: os crescentes sinais de apoio militar da China à Rússia.

Documentos obtidos pela agência Reuters indicam que a IEMZ Kupol, subsidiária da empresa estatal russa de armamentos Almaz-Antey, desenvolveu na China um novo drone militar, chamado Garpiya-3 (G3), com a ajuda de especialistas chineses. O G3 pode voar cerca de 2 mil km, com carga explosiva de 50 kg, de acordo com relatórios enviados pela Kupol ao Ministério da Defesa russo.

Cemitério de tanques na Praça São Miguel, em Kiev, Ucrânia Foto: Carolina Marins/Estadão

A China tem fornecido à Rússia maquinário e componentes microeletrônicos necessários para a fabricação de mísseis, tanques e aviões de guerra. Em 2023, cerca de 90% das importações de microeletrônicos e 70% de maquinário da Rússia foram provenientes da China. O chanceler alemão, Olaf Scholz, manifestou preocupação com essa ajuda em reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, na cúpula do G20. Não há informações sobre o que Xi respondeu.

Em 2023, a China comprou da Rússia US$ 60,7 bilhões em petróleo, equivalentes a 19% das importações chinesas desse combustível; US$ 6,4 bilhões em gás natural; US$ 3,9 bilhões em gás liquefeito; e US$ 9,3 bilhões em carvão.

Por duas vezes, navios chineses foram flagrados no local e momento de sabotagens entre a Escandinávia e o Mar Báltico. O último episódio ocorreu no dia 19, envolvendo o Yi Peng 3, cujo capitão é russo. Ele é suspeito de ter cortado dois cabos submarinos, um ligando a Finlândia e a Alemanha e o outro, a Lituânia e a Suécia — todos membros da Otan.

Há um ano, outro navio chinês, o Newnew Polar Bear, foi detectado no momento e lugar em que se romperam um gasoduto entre a Finlândia e a Estônia e dois cabos de comunicação que ligavam os dois países e também a Estônia à Suécia — de novo, integrantes da Otan.

Líderes do G-20 participam da foto oficial da cúpula, no Rio de Janeiro, Brasil  Foto: Ludovic Marin/AFP

Essas ações se inscrevem na doutrina da guerra híbrida, amplamente usada pela Rússia, China e Coreia do Norte, que inclui também desinformação e ataques cibernéticos. A China emprega esses métodos contra Taiwan; a Rússia, contra a Ucrânia; a Coreia do Norte, contra a Coreia do Sul; e os três, contra os Estados Unidos.

Já no campo da guerra convencional, a volta de Donald Trump à Casa Branca intensifica a escalada entre Ucrânia e Rússia, ambas preocupadas em fortalecer suas posições em eventual cessar-fogo que o presidente eleito tentará impor.

A mobilização de 11 mil soldados norte-coreanos pelos russos levou o presidente Joe Biden a finalmente autorizar o emprego dos mísseis Atacms, com 300 km de alcance, em território russo. Os ucranianos passaram a empregar também os mísseis anglo-franceses Storm Shadow, com alcance de 250 km.

Em resposta, Vladimir Putin reduziu as condições para o emprego de armas nucleares e ordenou o disparo do míssil balístico de alcance intermediário (entre 1.800 e 5.500 km) Oreshnik contra o complexo industrial-militar ucraniano de Yuzhmash, em Dnipro, que fabrica lançadores de satélites, mísseis e foguetes.

Segundo Putin, o míssil alcança velocidade 11 Mach, equivalente a 4 km/s, o que o tornaria impossível de interceptar. Ele é capaz de transportar ogivas nucleares e um total de 36 cargas explosivas, mas foi usado com carga convencional. Foi o primeiro disparo dessa arma e há poucas informações sobre ela. Não se sabe se o sistema antiaéreo americano Patriot, o mais avançado, é capaz de derrubá-la.

O emprego desse míssil não faz sentido militar no teatro ucraniano. O propósito foi político: “Consideramos que temos o direito de usar nossas armas contra instalações militares dos países que permitem que suas armas sejam usadas contra nossas instalações”, alertou Putin. Entretanto, a Rússia informou os EUA antes do disparo, seguindo o protocolo Redução de Risco Nuclear, firmado entre os dois países.

Isso significa que Putin não deseja correr o risco de guerra direta com os Estados Unidos e a Otan, que têm capacidade de aniquilar o seu regime. Como tem feito desde antes da invasão da Ucrânia, ele pretende apenas intimidar as democracias ocidentais que, ao contrário das ditaduras russa e chinesa, são sensíveis aos temores de sua opinião pública.

Tem funcionado: graças a essas chantagens, o Ocidente tem dado à Ucrânia ajuda militar a conta-gotas, insuficiente para uma vitória decisiva. Isso só serviu para aumentar o sofrimento de ucranianos e russos. E potencialmente de toda a Europa: o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, prevê que a Alemanha travará uma guerra com a Rússia dentro de cinco a oito anos.

O emprego de mísseis mais potentes pela Ucrânia e pela Rússia mobilizou, compreensivelmente, as atenções nos últimos dias. Mas algo com consequências mais profundas tem passado despercebido: os crescentes sinais de apoio militar da China à Rússia.

Documentos obtidos pela agência Reuters indicam que a IEMZ Kupol, subsidiária da empresa estatal russa de armamentos Almaz-Antey, desenvolveu na China um novo drone militar, chamado Garpiya-3 (G3), com a ajuda de especialistas chineses. O G3 pode voar cerca de 2 mil km, com carga explosiva de 50 kg, de acordo com relatórios enviados pela Kupol ao Ministério da Defesa russo.

Cemitério de tanques na Praça São Miguel, em Kiev, Ucrânia Foto: Carolina Marins/Estadão

A China tem fornecido à Rússia maquinário e componentes microeletrônicos necessários para a fabricação de mísseis, tanques e aviões de guerra. Em 2023, cerca de 90% das importações de microeletrônicos e 70% de maquinário da Rússia foram provenientes da China. O chanceler alemão, Olaf Scholz, manifestou preocupação com essa ajuda em reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, na cúpula do G20. Não há informações sobre o que Xi respondeu.

Em 2023, a China comprou da Rússia US$ 60,7 bilhões em petróleo, equivalentes a 19% das importações chinesas desse combustível; US$ 6,4 bilhões em gás natural; US$ 3,9 bilhões em gás liquefeito; e US$ 9,3 bilhões em carvão.

Por duas vezes, navios chineses foram flagrados no local e momento de sabotagens entre a Escandinávia e o Mar Báltico. O último episódio ocorreu no dia 19, envolvendo o Yi Peng 3, cujo capitão é russo. Ele é suspeito de ter cortado dois cabos submarinos, um ligando a Finlândia e a Alemanha e o outro, a Lituânia e a Suécia — todos membros da Otan.

Há um ano, outro navio chinês, o Newnew Polar Bear, foi detectado no momento e lugar em que se romperam um gasoduto entre a Finlândia e a Estônia e dois cabos de comunicação que ligavam os dois países e também a Estônia à Suécia — de novo, integrantes da Otan.

Líderes do G-20 participam da foto oficial da cúpula, no Rio de Janeiro, Brasil  Foto: Ludovic Marin/AFP

Essas ações se inscrevem na doutrina da guerra híbrida, amplamente usada pela Rússia, China e Coreia do Norte, que inclui também desinformação e ataques cibernéticos. A China emprega esses métodos contra Taiwan; a Rússia, contra a Ucrânia; a Coreia do Norte, contra a Coreia do Sul; e os três, contra os Estados Unidos.

Já no campo da guerra convencional, a volta de Donald Trump à Casa Branca intensifica a escalada entre Ucrânia e Rússia, ambas preocupadas em fortalecer suas posições em eventual cessar-fogo que o presidente eleito tentará impor.

A mobilização de 11 mil soldados norte-coreanos pelos russos levou o presidente Joe Biden a finalmente autorizar o emprego dos mísseis Atacms, com 300 km de alcance, em território russo. Os ucranianos passaram a empregar também os mísseis anglo-franceses Storm Shadow, com alcance de 250 km.

Em resposta, Vladimir Putin reduziu as condições para o emprego de armas nucleares e ordenou o disparo do míssil balístico de alcance intermediário (entre 1.800 e 5.500 km) Oreshnik contra o complexo industrial-militar ucraniano de Yuzhmash, em Dnipro, que fabrica lançadores de satélites, mísseis e foguetes.

Segundo Putin, o míssil alcança velocidade 11 Mach, equivalente a 4 km/s, o que o tornaria impossível de interceptar. Ele é capaz de transportar ogivas nucleares e um total de 36 cargas explosivas, mas foi usado com carga convencional. Foi o primeiro disparo dessa arma e há poucas informações sobre ela. Não se sabe se o sistema antiaéreo americano Patriot, o mais avançado, é capaz de derrubá-la.

O emprego desse míssil não faz sentido militar no teatro ucraniano. O propósito foi político: “Consideramos que temos o direito de usar nossas armas contra instalações militares dos países que permitem que suas armas sejam usadas contra nossas instalações”, alertou Putin. Entretanto, a Rússia informou os EUA antes do disparo, seguindo o protocolo Redução de Risco Nuclear, firmado entre os dois países.

Isso significa que Putin não deseja correr o risco de guerra direta com os Estados Unidos e a Otan, que têm capacidade de aniquilar o seu regime. Como tem feito desde antes da invasão da Ucrânia, ele pretende apenas intimidar as democracias ocidentais que, ao contrário das ditaduras russa e chinesa, são sensíveis aos temores de sua opinião pública.

Tem funcionado: graças a essas chantagens, o Ocidente tem dado à Ucrânia ajuda militar a conta-gotas, insuficiente para uma vitória decisiva. Isso só serviu para aumentar o sofrimento de ucranianos e russos. E potencialmente de toda a Europa: o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, prevê que a Alemanha travará uma guerra com a Rússia dentro de cinco a oito anos.

O emprego de mísseis mais potentes pela Ucrânia e pela Rússia mobilizou, compreensivelmente, as atenções nos últimos dias. Mas algo com consequências mais profundas tem passado despercebido: os crescentes sinais de apoio militar da China à Rússia.

Documentos obtidos pela agência Reuters indicam que a IEMZ Kupol, subsidiária da empresa estatal russa de armamentos Almaz-Antey, desenvolveu na China um novo drone militar, chamado Garpiya-3 (G3), com a ajuda de especialistas chineses. O G3 pode voar cerca de 2 mil km, com carga explosiva de 50 kg, de acordo com relatórios enviados pela Kupol ao Ministério da Defesa russo.

Cemitério de tanques na Praça São Miguel, em Kiev, Ucrânia Foto: Carolina Marins/Estadão

A China tem fornecido à Rússia maquinário e componentes microeletrônicos necessários para a fabricação de mísseis, tanques e aviões de guerra. Em 2023, cerca de 90% das importações de microeletrônicos e 70% de maquinário da Rússia foram provenientes da China. O chanceler alemão, Olaf Scholz, manifestou preocupação com essa ajuda em reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, na cúpula do G20. Não há informações sobre o que Xi respondeu.

Em 2023, a China comprou da Rússia US$ 60,7 bilhões em petróleo, equivalentes a 19% das importações chinesas desse combustível; US$ 6,4 bilhões em gás natural; US$ 3,9 bilhões em gás liquefeito; e US$ 9,3 bilhões em carvão.

Por duas vezes, navios chineses foram flagrados no local e momento de sabotagens entre a Escandinávia e o Mar Báltico. O último episódio ocorreu no dia 19, envolvendo o Yi Peng 3, cujo capitão é russo. Ele é suspeito de ter cortado dois cabos submarinos, um ligando a Finlândia e a Alemanha e o outro, a Lituânia e a Suécia — todos membros da Otan.

Há um ano, outro navio chinês, o Newnew Polar Bear, foi detectado no momento e lugar em que se romperam um gasoduto entre a Finlândia e a Estônia e dois cabos de comunicação que ligavam os dois países e também a Estônia à Suécia — de novo, integrantes da Otan.

Líderes do G-20 participam da foto oficial da cúpula, no Rio de Janeiro, Brasil  Foto: Ludovic Marin/AFP

Essas ações se inscrevem na doutrina da guerra híbrida, amplamente usada pela Rússia, China e Coreia do Norte, que inclui também desinformação e ataques cibernéticos. A China emprega esses métodos contra Taiwan; a Rússia, contra a Ucrânia; a Coreia do Norte, contra a Coreia do Sul; e os três, contra os Estados Unidos.

Já no campo da guerra convencional, a volta de Donald Trump à Casa Branca intensifica a escalada entre Ucrânia e Rússia, ambas preocupadas em fortalecer suas posições em eventual cessar-fogo que o presidente eleito tentará impor.

A mobilização de 11 mil soldados norte-coreanos pelos russos levou o presidente Joe Biden a finalmente autorizar o emprego dos mísseis Atacms, com 300 km de alcance, em território russo. Os ucranianos passaram a empregar também os mísseis anglo-franceses Storm Shadow, com alcance de 250 km.

Em resposta, Vladimir Putin reduziu as condições para o emprego de armas nucleares e ordenou o disparo do míssil balístico de alcance intermediário (entre 1.800 e 5.500 km) Oreshnik contra o complexo industrial-militar ucraniano de Yuzhmash, em Dnipro, que fabrica lançadores de satélites, mísseis e foguetes.

Segundo Putin, o míssil alcança velocidade 11 Mach, equivalente a 4 km/s, o que o tornaria impossível de interceptar. Ele é capaz de transportar ogivas nucleares e um total de 36 cargas explosivas, mas foi usado com carga convencional. Foi o primeiro disparo dessa arma e há poucas informações sobre ela. Não se sabe se o sistema antiaéreo americano Patriot, o mais avançado, é capaz de derrubá-la.

O emprego desse míssil não faz sentido militar no teatro ucraniano. O propósito foi político: “Consideramos que temos o direito de usar nossas armas contra instalações militares dos países que permitem que suas armas sejam usadas contra nossas instalações”, alertou Putin. Entretanto, a Rússia informou os EUA antes do disparo, seguindo o protocolo Redução de Risco Nuclear, firmado entre os dois países.

Isso significa que Putin não deseja correr o risco de guerra direta com os Estados Unidos e a Otan, que têm capacidade de aniquilar o seu regime. Como tem feito desde antes da invasão da Ucrânia, ele pretende apenas intimidar as democracias ocidentais que, ao contrário das ditaduras russa e chinesa, são sensíveis aos temores de sua opinião pública.

Tem funcionado: graças a essas chantagens, o Ocidente tem dado à Ucrânia ajuda militar a conta-gotas, insuficiente para uma vitória decisiva. Isso só serviu para aumentar o sofrimento de ucranianos e russos. E potencialmente de toda a Europa: o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, prevê que a Alemanha travará uma guerra com a Rússia dentro de cinco a oito anos.

O emprego de mísseis mais potentes pela Ucrânia e pela Rússia mobilizou, compreensivelmente, as atenções nos últimos dias. Mas algo com consequências mais profundas tem passado despercebido: os crescentes sinais de apoio militar da China à Rússia.

Documentos obtidos pela agência Reuters indicam que a IEMZ Kupol, subsidiária da empresa estatal russa de armamentos Almaz-Antey, desenvolveu na China um novo drone militar, chamado Garpiya-3 (G3), com a ajuda de especialistas chineses. O G3 pode voar cerca de 2 mil km, com carga explosiva de 50 kg, de acordo com relatórios enviados pela Kupol ao Ministério da Defesa russo.

Cemitério de tanques na Praça São Miguel, em Kiev, Ucrânia Foto: Carolina Marins/Estadão

A China tem fornecido à Rússia maquinário e componentes microeletrônicos necessários para a fabricação de mísseis, tanques e aviões de guerra. Em 2023, cerca de 90% das importações de microeletrônicos e 70% de maquinário da Rússia foram provenientes da China. O chanceler alemão, Olaf Scholz, manifestou preocupação com essa ajuda em reunião com o presidente chinês, Xi Jinping, na cúpula do G20. Não há informações sobre o que Xi respondeu.

Em 2023, a China comprou da Rússia US$ 60,7 bilhões em petróleo, equivalentes a 19% das importações chinesas desse combustível; US$ 6,4 bilhões em gás natural; US$ 3,9 bilhões em gás liquefeito; e US$ 9,3 bilhões em carvão.

Por duas vezes, navios chineses foram flagrados no local e momento de sabotagens entre a Escandinávia e o Mar Báltico. O último episódio ocorreu no dia 19, envolvendo o Yi Peng 3, cujo capitão é russo. Ele é suspeito de ter cortado dois cabos submarinos, um ligando a Finlândia e a Alemanha e o outro, a Lituânia e a Suécia — todos membros da Otan.

Há um ano, outro navio chinês, o Newnew Polar Bear, foi detectado no momento e lugar em que se romperam um gasoduto entre a Finlândia e a Estônia e dois cabos de comunicação que ligavam os dois países e também a Estônia à Suécia — de novo, integrantes da Otan.

Líderes do G-20 participam da foto oficial da cúpula, no Rio de Janeiro, Brasil  Foto: Ludovic Marin/AFP

Essas ações se inscrevem na doutrina da guerra híbrida, amplamente usada pela Rússia, China e Coreia do Norte, que inclui também desinformação e ataques cibernéticos. A China emprega esses métodos contra Taiwan; a Rússia, contra a Ucrânia; a Coreia do Norte, contra a Coreia do Sul; e os três, contra os Estados Unidos.

Já no campo da guerra convencional, a volta de Donald Trump à Casa Branca intensifica a escalada entre Ucrânia e Rússia, ambas preocupadas em fortalecer suas posições em eventual cessar-fogo que o presidente eleito tentará impor.

A mobilização de 11 mil soldados norte-coreanos pelos russos levou o presidente Joe Biden a finalmente autorizar o emprego dos mísseis Atacms, com 300 km de alcance, em território russo. Os ucranianos passaram a empregar também os mísseis anglo-franceses Storm Shadow, com alcance de 250 km.

Em resposta, Vladimir Putin reduziu as condições para o emprego de armas nucleares e ordenou o disparo do míssil balístico de alcance intermediário (entre 1.800 e 5.500 km) Oreshnik contra o complexo industrial-militar ucraniano de Yuzhmash, em Dnipro, que fabrica lançadores de satélites, mísseis e foguetes.

Segundo Putin, o míssil alcança velocidade 11 Mach, equivalente a 4 km/s, o que o tornaria impossível de interceptar. Ele é capaz de transportar ogivas nucleares e um total de 36 cargas explosivas, mas foi usado com carga convencional. Foi o primeiro disparo dessa arma e há poucas informações sobre ela. Não se sabe se o sistema antiaéreo americano Patriot, o mais avançado, é capaz de derrubá-la.

O emprego desse míssil não faz sentido militar no teatro ucraniano. O propósito foi político: “Consideramos que temos o direito de usar nossas armas contra instalações militares dos países que permitem que suas armas sejam usadas contra nossas instalações”, alertou Putin. Entretanto, a Rússia informou os EUA antes do disparo, seguindo o protocolo Redução de Risco Nuclear, firmado entre os dois países.

Isso significa que Putin não deseja correr o risco de guerra direta com os Estados Unidos e a Otan, que têm capacidade de aniquilar o seu regime. Como tem feito desde antes da invasão da Ucrânia, ele pretende apenas intimidar as democracias ocidentais que, ao contrário das ditaduras russa e chinesa, são sensíveis aos temores de sua opinião pública.

Tem funcionado: graças a essas chantagens, o Ocidente tem dado à Ucrânia ajuda militar a conta-gotas, insuficiente para uma vitória decisiva. Isso só serviu para aumentar o sofrimento de ucranianos e russos. E potencialmente de toda a Europa: o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, prevê que a Alemanha travará uma guerra com a Rússia dentro de cinco a oito anos.

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