Analista político e professor de Relações Internacionais da FGV-SP. Escreve quinzenalmente

Opinião|Por que 2024 será o ano decisivo da Guerra na Ucrânia? Leia a coluna de Oliver Stuenkel


Eleição americana definirá continuidade do apoio americano a Volodmir Zelenski

Por Oliver Stuenkel
Atualização:

A atual dinâmica da Guerra na Ucrânia lembra cada vez mais a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando cidades menores, até então pouco conhecidas e de pouca relevância estratégica — como o vilarejo francês Verdun ou o município belga Ypres — viraram palco de batalhas épicas, ao elevado custo de dezenas de milhares de mortos de ambos os lados.

A atual batalha de Bakhmut, cidade ucraniana com menos de 75.000 habitantes antes da guerra, começou em agosto do ano passado e se tornou uma das mais sangrentas desde a invasão russa em fevereiro do ano passado. É um sinal típico da chamada guerra de atrito, na qual a paciência, a resiliência e a capacidade de manter a sociedade mobilizada em meio às dificuldades valem bem mais do que pequenos ganhos territoriais.

A natureza do conflito dá pouco espaço para um cessar-fogo ou até um acordo de paz: a Rússia já deixou claro que não pretende devolver os territórios ocupados nunca mais, enquanto a Ucrânia está ciente de que qualquer acordo de paz que envolva ganhos territoriais russos seria interpretado em Moscou como um convite para futuras agressões.

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A atual batalha de Bakhmut, em Donetsk, se tornou uma das mais sanguinolentas na Guerra da Ucrânia  Foto: REUTERS/Oleksandr Ratushniak/File Photo

Afinal, a Rússia se comprometeu, por meio do Memorando de Budapeste em 1994, a respeitar a soberania ucraniana, promessa violada vinte anos depois quando Moscou invadiu e anexou a Crimeia. Não surpreende, portanto, que, aos olhos do governo ucraniano, seja pouco atraente confiar em um governo que, até poucos dias antes da invasão em 2022, insistia não ter nenhuma intenção de iniciar uma guerra.

Qualquer acordo envolvendo a cessão de território ucraniano seria uma catástrofe política não só para o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, como também para o presidente dos EUA, Joe Biden. Da mesma forma, retirar as tropas russas sem poder apresentar nenhum ganho territorial seria uma humilhação para Vladimir Putin, que tem amplos recursos humanos para continuar a guerra por muito mais tempo.

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Há, no entanto, uma variável que pode alterar a dinâmica do conflito de forma decisiva: apesar do apoio militar europeu sem precedentes à Ucrânia, é a ajuda militar e financeira do governo americano que explica por que o governo em Kiev conseguiu resistir, até agora, à invasão russa.

A reeleição de Biden ou de qualquer outro (a) candidato (a) democrata ou a vitória de um (a) liderança moderada do Partido Republicano provavelmente garantiria a continuação da atual política americana em relação à Ucrânia. Afinal, tanto Mike Pence quanto Mike Pompeo, ambos representantes da ala mais moderada do Partido Republicano, defendem a atual estratégia dos EUA.

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Quem acompanha os debates sobre a guerra na Ucrânia em grupos trumpistas do Telegram ou por meio da Fox News depara com argumentos semelhantes aos divulgados na TV estatal russa

Uma vitória de Donald Trump ou de um candidato (a) da ala trumpista do Partido Republicano, por outro lado, aumentaria a probabilidade de uma guinada na política externa americana e uma redução significativa de ajuda ao governo ucraniano. Trump, por exemplo, defende o fim do apoio militar ao governo Zelenski, postura que provavelmente levaria ao colapso do regime em Kiev em questão de meses.

Trump também sabe que o presidente russo é popular junto a uma parte de sua base eleitoral em vista de sua postura conservadora e seu hábito de debochar das posições progressistas no Ocidente quanto a gênero.

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A Rússia retomou os bombardeios em larga escala contra a Ucrânia nesta quinta-feira (9), com os ataques mais intensos em várias semanas

Quem acompanha os debates sobre a guerra na Ucrânia em grupos trumpistas do Telegram ou por meio da Fox News depara com argumentos semelhantes aos divulgados na TV estatal russa: Tucker Carlson, um dos principais comentaristas da direita radical americana, tem se tornado o maior defensor do presidente Putin e espalha regularmente notícias falsas sobre a Ucrânia.

É difícil imaginar que Trump, DeSantis ou qualquer outro candidato trumpista ousaria desafiar essa parcela de sua base, fundamental durante o processo eleitoral. O trumpista Ron DeSantis, atual governador da Flórida e liderança política com o mais potencial para desafiar Trump nas primárias, apoiou o envio de ajuda militar à Ucrânia logo após a invasão russa à Crimeia – ou seja, antes da ascensão de Trump –, mas agora é crítico da política de Biden em relação a Kiev.

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A maior ameaça para a Ucrânia, portanto, não é uma nova ofensiva russa, mas a vitória do trumpismo nas próximas eleições americanas em novembro de 2024.

A atual dinâmica da Guerra na Ucrânia lembra cada vez mais a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando cidades menores, até então pouco conhecidas e de pouca relevância estratégica — como o vilarejo francês Verdun ou o município belga Ypres — viraram palco de batalhas épicas, ao elevado custo de dezenas de milhares de mortos de ambos os lados.

A atual batalha de Bakhmut, cidade ucraniana com menos de 75.000 habitantes antes da guerra, começou em agosto do ano passado e se tornou uma das mais sangrentas desde a invasão russa em fevereiro do ano passado. É um sinal típico da chamada guerra de atrito, na qual a paciência, a resiliência e a capacidade de manter a sociedade mobilizada em meio às dificuldades valem bem mais do que pequenos ganhos territoriais.

A natureza do conflito dá pouco espaço para um cessar-fogo ou até um acordo de paz: a Rússia já deixou claro que não pretende devolver os territórios ocupados nunca mais, enquanto a Ucrânia está ciente de que qualquer acordo de paz que envolva ganhos territoriais russos seria interpretado em Moscou como um convite para futuras agressões.

A atual batalha de Bakhmut, em Donetsk, se tornou uma das mais sanguinolentas na Guerra da Ucrânia  Foto: REUTERS/Oleksandr Ratushniak/File Photo

Afinal, a Rússia se comprometeu, por meio do Memorando de Budapeste em 1994, a respeitar a soberania ucraniana, promessa violada vinte anos depois quando Moscou invadiu e anexou a Crimeia. Não surpreende, portanto, que, aos olhos do governo ucraniano, seja pouco atraente confiar em um governo que, até poucos dias antes da invasão em 2022, insistia não ter nenhuma intenção de iniciar uma guerra.

Qualquer acordo envolvendo a cessão de território ucraniano seria uma catástrofe política não só para o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, como também para o presidente dos EUA, Joe Biden. Da mesma forma, retirar as tropas russas sem poder apresentar nenhum ganho territorial seria uma humilhação para Vladimir Putin, que tem amplos recursos humanos para continuar a guerra por muito mais tempo.

Há, no entanto, uma variável que pode alterar a dinâmica do conflito de forma decisiva: apesar do apoio militar europeu sem precedentes à Ucrânia, é a ajuda militar e financeira do governo americano que explica por que o governo em Kiev conseguiu resistir, até agora, à invasão russa.

A reeleição de Biden ou de qualquer outro (a) candidato (a) democrata ou a vitória de um (a) liderança moderada do Partido Republicano provavelmente garantiria a continuação da atual política americana em relação à Ucrânia. Afinal, tanto Mike Pence quanto Mike Pompeo, ambos representantes da ala mais moderada do Partido Republicano, defendem a atual estratégia dos EUA.

Quem acompanha os debates sobre a guerra na Ucrânia em grupos trumpistas do Telegram ou por meio da Fox News depara com argumentos semelhantes aos divulgados na TV estatal russa

Uma vitória de Donald Trump ou de um candidato (a) da ala trumpista do Partido Republicano, por outro lado, aumentaria a probabilidade de uma guinada na política externa americana e uma redução significativa de ajuda ao governo ucraniano. Trump, por exemplo, defende o fim do apoio militar ao governo Zelenski, postura que provavelmente levaria ao colapso do regime em Kiev em questão de meses.

Trump também sabe que o presidente russo é popular junto a uma parte de sua base eleitoral em vista de sua postura conservadora e seu hábito de debochar das posições progressistas no Ocidente quanto a gênero.

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Quem acompanha os debates sobre a guerra na Ucrânia em grupos trumpistas do Telegram ou por meio da Fox News depara com argumentos semelhantes aos divulgados na TV estatal russa: Tucker Carlson, um dos principais comentaristas da direita radical americana, tem se tornado o maior defensor do presidente Putin e espalha regularmente notícias falsas sobre a Ucrânia.

É difícil imaginar que Trump, DeSantis ou qualquer outro candidato trumpista ousaria desafiar essa parcela de sua base, fundamental durante o processo eleitoral. O trumpista Ron DeSantis, atual governador da Flórida e liderança política com o mais potencial para desafiar Trump nas primárias, apoiou o envio de ajuda militar à Ucrânia logo após a invasão russa à Crimeia – ou seja, antes da ascensão de Trump –, mas agora é crítico da política de Biden em relação a Kiev.

A maior ameaça para a Ucrânia, portanto, não é uma nova ofensiva russa, mas a vitória do trumpismo nas próximas eleições americanas em novembro de 2024.

A atual dinâmica da Guerra na Ucrânia lembra cada vez mais a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), quando cidades menores, até então pouco conhecidas e de pouca relevância estratégica — como o vilarejo francês Verdun ou o município belga Ypres — viraram palco de batalhas épicas, ao elevado custo de dezenas de milhares de mortos de ambos os lados.

A atual batalha de Bakhmut, cidade ucraniana com menos de 75.000 habitantes antes da guerra, começou em agosto do ano passado e se tornou uma das mais sangrentas desde a invasão russa em fevereiro do ano passado. É um sinal típico da chamada guerra de atrito, na qual a paciência, a resiliência e a capacidade de manter a sociedade mobilizada em meio às dificuldades valem bem mais do que pequenos ganhos territoriais.

A natureza do conflito dá pouco espaço para um cessar-fogo ou até um acordo de paz: a Rússia já deixou claro que não pretende devolver os territórios ocupados nunca mais, enquanto a Ucrânia está ciente de que qualquer acordo de paz que envolva ganhos territoriais russos seria interpretado em Moscou como um convite para futuras agressões.

A atual batalha de Bakhmut, em Donetsk, se tornou uma das mais sanguinolentas na Guerra da Ucrânia  Foto: REUTERS/Oleksandr Ratushniak/File Photo

Afinal, a Rússia se comprometeu, por meio do Memorando de Budapeste em 1994, a respeitar a soberania ucraniana, promessa violada vinte anos depois quando Moscou invadiu e anexou a Crimeia. Não surpreende, portanto, que, aos olhos do governo ucraniano, seja pouco atraente confiar em um governo que, até poucos dias antes da invasão em 2022, insistia não ter nenhuma intenção de iniciar uma guerra.

Qualquer acordo envolvendo a cessão de território ucraniano seria uma catástrofe política não só para o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, como também para o presidente dos EUA, Joe Biden. Da mesma forma, retirar as tropas russas sem poder apresentar nenhum ganho territorial seria uma humilhação para Vladimir Putin, que tem amplos recursos humanos para continuar a guerra por muito mais tempo.

Há, no entanto, uma variável que pode alterar a dinâmica do conflito de forma decisiva: apesar do apoio militar europeu sem precedentes à Ucrânia, é a ajuda militar e financeira do governo americano que explica por que o governo em Kiev conseguiu resistir, até agora, à invasão russa.

A reeleição de Biden ou de qualquer outro (a) candidato (a) democrata ou a vitória de um (a) liderança moderada do Partido Republicano provavelmente garantiria a continuação da atual política americana em relação à Ucrânia. Afinal, tanto Mike Pence quanto Mike Pompeo, ambos representantes da ala mais moderada do Partido Republicano, defendem a atual estratégia dos EUA.

Quem acompanha os debates sobre a guerra na Ucrânia em grupos trumpistas do Telegram ou por meio da Fox News depara com argumentos semelhantes aos divulgados na TV estatal russa

Uma vitória de Donald Trump ou de um candidato (a) da ala trumpista do Partido Republicano, por outro lado, aumentaria a probabilidade de uma guinada na política externa americana e uma redução significativa de ajuda ao governo ucraniano. Trump, por exemplo, defende o fim do apoio militar ao governo Zelenski, postura que provavelmente levaria ao colapso do regime em Kiev em questão de meses.

Trump também sabe que o presidente russo é popular junto a uma parte de sua base eleitoral em vista de sua postura conservadora e seu hábito de debochar das posições progressistas no Ocidente quanto a gênero.

Seu navegador não suporta esse video.

A Rússia retomou os bombardeios em larga escala contra a Ucrânia nesta quinta-feira (9), com os ataques mais intensos em várias semanas

Quem acompanha os debates sobre a guerra na Ucrânia em grupos trumpistas do Telegram ou por meio da Fox News depara com argumentos semelhantes aos divulgados na TV estatal russa: Tucker Carlson, um dos principais comentaristas da direita radical americana, tem se tornado o maior defensor do presidente Putin e espalha regularmente notícias falsas sobre a Ucrânia.

É difícil imaginar que Trump, DeSantis ou qualquer outro candidato trumpista ousaria desafiar essa parcela de sua base, fundamental durante o processo eleitoral. O trumpista Ron DeSantis, atual governador da Flórida e liderança política com o mais potencial para desafiar Trump nas primárias, apoiou o envio de ajuda militar à Ucrânia logo após a invasão russa à Crimeia – ou seja, antes da ascensão de Trump –, mas agora é crítico da política de Biden em relação a Kiev.

A maior ameaça para a Ucrânia, portanto, não é uma nova ofensiva russa, mas a vitória do trumpismo nas próximas eleições americanas em novembro de 2024.

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