É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais. Escreve uma vez por semana.

Opinião|Uma leitura ultrapassada do mundo


Lula foi convidado a participar da cúpula do G-7, algo que não se repetirá se ele não aterrissar em 2023

Por Lourival Sant'Anna

A leitura que o Brasil faz do mundo é equivocada e ultrapassada. A intensificação do comércio e investimentos com a China, o estreitamento dos laços com a Rússia, a tentativa de se equilibrar e extrair vantagens entre os blocos das democracias e das autocracias e a abordagem mercantilista e imediatista do interesse nacional se baseiam em premissas que já não são válidas.

A prioridade de Xi Jinping de se perpetuar no poder lançou a China num ciclo de decadência. Como na época de Mao Tsé-tung, Xi devolveu o Partido Comunista Chinês (PCC) ao centro das decisões, no lugar do governo. É a derrota dos tecnocratas para políticos fiéis ao ditador, da competência para a obediência.

O regime passou a perseguir as grandes empresas de tecnologia chinesas, temendo que o poder econômico e informações sobre os cidadãos por elas acumuladas rivalizassem com o PCC. Uma ofensiva regulatória adotada a partir de outubro de 2020 subjugou as empresas de inovação ao encolhimento e à fragmentação.

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Presidente Lula durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no dia 10 deste mês Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O regime impôs a Hong Kong seu sistema de Justiça, subordinado ao PCC. A península deixou de ser a porta de entrada para os negócios estrangeiros antes protegidos de suas arbitrariedades. O governo de Joe Biden adotou medidas para impedir o acesso da China à estratégica tecnologia de desenho de máquinas de fabricação de semicondutores (chips) e uma política industrial de US$ 369 bilhões para deslocar indústrias da China para os EUA e países amigos. As companhias saem traumatizadas pela prática chinesa de associar uma empresa local a uma estrangeira para roubar sua tecnologia.

A China já é o maior parceiro comercial do Brasil. A Rússia saltou em 2022 de 12.º para 5.º maior exportador para o Brasil. A China apoia a Rússia e se prepara para invadir Taiwan. Aumentar a dependência de autocracias envolvidas em conflitos armados é temerário.

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A Rússia foi reduzida a economia de guerra, fornecedora de armas e bens primários para China e Índia. Assim como Jair Bolsonaro, Lula pretende aumentar impunemente a compra de fertilizantes e diesel da Rússia enquanto o Ocidente arca com os custos de impor sanções ao país.

No mundo de hoje, não basta se declarar contra a invasão e apoiar o invasor econômica e politicamente. Assim como não basta se declarar contra o racismo, a homofobia ou a misoginia e comprar produtos de empresas que praticam esses crimes. Os valores agora são medidos por ações, não palavras.

O comunicado da reunião dos chanceleres do G-7 no Japão ameaça os países que ajudam a Rússia com “custos severos”. Lula foi convidado a participar da cúpula do grupo dentro de um mês. Poderá ser sua última oportunidade de ouvir dos governantes dos países avançados o que pensam de seus movimentos geopolíticos. O convite foi enviado antes desses movimentos. Dificilmente se repetirá, se o presidente brasileiro não aterrissar em 2023.

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É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

A leitura que o Brasil faz do mundo é equivocada e ultrapassada. A intensificação do comércio e investimentos com a China, o estreitamento dos laços com a Rússia, a tentativa de se equilibrar e extrair vantagens entre os blocos das democracias e das autocracias e a abordagem mercantilista e imediatista do interesse nacional se baseiam em premissas que já não são válidas.

A prioridade de Xi Jinping de se perpetuar no poder lançou a China num ciclo de decadência. Como na época de Mao Tsé-tung, Xi devolveu o Partido Comunista Chinês (PCC) ao centro das decisões, no lugar do governo. É a derrota dos tecnocratas para políticos fiéis ao ditador, da competência para a obediência.

O regime passou a perseguir as grandes empresas de tecnologia chinesas, temendo que o poder econômico e informações sobre os cidadãos por elas acumuladas rivalizassem com o PCC. Uma ofensiva regulatória adotada a partir de outubro de 2020 subjugou as empresas de inovação ao encolhimento e à fragmentação.

Presidente Lula durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no dia 10 deste mês Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O regime impôs a Hong Kong seu sistema de Justiça, subordinado ao PCC. A península deixou de ser a porta de entrada para os negócios estrangeiros antes protegidos de suas arbitrariedades. O governo de Joe Biden adotou medidas para impedir o acesso da China à estratégica tecnologia de desenho de máquinas de fabricação de semicondutores (chips) e uma política industrial de US$ 369 bilhões para deslocar indústrias da China para os EUA e países amigos. As companhias saem traumatizadas pela prática chinesa de associar uma empresa local a uma estrangeira para roubar sua tecnologia.

A China já é o maior parceiro comercial do Brasil. A Rússia saltou em 2022 de 12.º para 5.º maior exportador para o Brasil. A China apoia a Rússia e se prepara para invadir Taiwan. Aumentar a dependência de autocracias envolvidas em conflitos armados é temerário.

A Rússia foi reduzida a economia de guerra, fornecedora de armas e bens primários para China e Índia. Assim como Jair Bolsonaro, Lula pretende aumentar impunemente a compra de fertilizantes e diesel da Rússia enquanto o Ocidente arca com os custos de impor sanções ao país.

No mundo de hoje, não basta se declarar contra a invasão e apoiar o invasor econômica e politicamente. Assim como não basta se declarar contra o racismo, a homofobia ou a misoginia e comprar produtos de empresas que praticam esses crimes. Os valores agora são medidos por ações, não palavras.

O comunicado da reunião dos chanceleres do G-7 no Japão ameaça os países que ajudam a Rússia com “custos severos”. Lula foi convidado a participar da cúpula do grupo dentro de um mês. Poderá ser sua última oportunidade de ouvir dos governantes dos países avançados o que pensam de seus movimentos geopolíticos. O convite foi enviado antes desses movimentos. Dificilmente se repetirá, se o presidente brasileiro não aterrissar em 2023.

É COLUNISTA DO ESTADÃO E ANALISTA DE ASSUNTOS INTERNACIONAIS

A leitura que o Brasil faz do mundo é equivocada e ultrapassada. A intensificação do comércio e investimentos com a China, o estreitamento dos laços com a Rússia, a tentativa de se equilibrar e extrair vantagens entre os blocos das democracias e das autocracias e a abordagem mercantilista e imediatista do interesse nacional se baseiam em premissas que já não são válidas.

A prioridade de Xi Jinping de se perpetuar no poder lançou a China num ciclo de decadência. Como na época de Mao Tsé-tung, Xi devolveu o Partido Comunista Chinês (PCC) ao centro das decisões, no lugar do governo. É a derrota dos tecnocratas para políticos fiéis ao ditador, da competência para a obediência.

O regime passou a perseguir as grandes empresas de tecnologia chinesas, temendo que o poder econômico e informações sobre os cidadãos por elas acumuladas rivalizassem com o PCC. Uma ofensiva regulatória adotada a partir de outubro de 2020 subjugou as empresas de inovação ao encolhimento e à fragmentação.

Presidente Lula durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília, no dia 10 deste mês Foto: Ueslei Marcelino/Reuters

O regime impôs a Hong Kong seu sistema de Justiça, subordinado ao PCC. A península deixou de ser a porta de entrada para os negócios estrangeiros antes protegidos de suas arbitrariedades. O governo de Joe Biden adotou medidas para impedir o acesso da China à estratégica tecnologia de desenho de máquinas de fabricação de semicondutores (chips) e uma política industrial de US$ 369 bilhões para deslocar indústrias da China para os EUA e países amigos. As companhias saem traumatizadas pela prática chinesa de associar uma empresa local a uma estrangeira para roubar sua tecnologia.

A China já é o maior parceiro comercial do Brasil. A Rússia saltou em 2022 de 12.º para 5.º maior exportador para o Brasil. A China apoia a Rússia e se prepara para invadir Taiwan. Aumentar a dependência de autocracias envolvidas em conflitos armados é temerário.

A Rússia foi reduzida a economia de guerra, fornecedora de armas e bens primários para China e Índia. Assim como Jair Bolsonaro, Lula pretende aumentar impunemente a compra de fertilizantes e diesel da Rússia enquanto o Ocidente arca com os custos de impor sanções ao país.

No mundo de hoje, não basta se declarar contra a invasão e apoiar o invasor econômica e politicamente. Assim como não basta se declarar contra o racismo, a homofobia ou a misoginia e comprar produtos de empresas que praticam esses crimes. Os valores agora são medidos por ações, não palavras.

O comunicado da reunião dos chanceleres do G-7 no Japão ameaça os países que ajudam a Rússia com “custos severos”. Lula foi convidado a participar da cúpula do grupo dentro de um mês. Poderá ser sua última oportunidade de ouvir dos governantes dos países avançados o que pensam de seus movimentos geopolíticos. O convite foi enviado antes desses movimentos. Dificilmente se repetirá, se o presidente brasileiro não aterrissar em 2023.

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