Volta de Trump à Casa Branca seria boa notícia para Putin e Xi Jinping; leia análise


Segundo mandato de Trump produziria mudanças globais mais duradouras e poderia representar fim da OTAN

Por Oliver Stuenkel

As eleições presidenciais nos EUA em novembro de 2024 representam o mais alto risco político da atualidade. Trata-se do pleito mais imprevisível desde a Segunda Guerra Mundial, com elevada probabilidade de imprevistos: presumindo que Joe Biden e Donald Trump se enfrentarão novamente – cenário mais provável neste momento –, um dos dois pode ter que desistir no meio da campanha por motivos de saúde: Biden tem 80 anos, Trump 77.

Outro cenário é que, considerando o número de processos contra Trump, o ex-presidente seja preso meses antes das eleições, causando uma situação sem precedentes. Para complicar ainda mais as circunstâncias, o sistema eleitoral arcaico e a ausência de uma justiça eleitoral como a brasileira nos EUA aumentam o risco de tensão e violência política.

Em uma sociedade extremamente polarizada, teorias conspiratórias — como a de que Biden teria fraudado as últimas eleições — são amplamente difundidas entre eleitores de Trump. Se este for derrotado, é praticamente certo que não aceitará o resultado. Não ajuda o cenário mais provável de uma eleição extremamente apertada.

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Por fim, diferentemente de significativa parte das oito décadas desde a Segunda Guerra Mundial, hoje não há um consenso mínimo entre os Republicanos e Democratas em relação aos pilares da política externa norte-americana. Em eleições passadas, líderes dos dois principais partidos em Washington podiam discordar sobre questões específicas, mas não colocavam em dúvida os elementos-chave da estratégia internacional dos EUA, como o compromisso de Washington com a OTAN. Nas eleições de 2024, porém, tudo estará em jogo: enquanto uma vitória de Biden representaria a continuação da atual política externa americana, é provável que a volta de Trump à Casa Branca levaria a mudanças muito mais profundas do que durante seu primeiro mandato de 2017 a 2020.

Ex-presidente Donald Trump em comício para as eleições de 2024. Foto: SCOTT OLSON / Getty Images via AFP
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Isso porque, quando assumiu o poder pela primeira vez, Trump inicialmente apostou em quadros mais experientes, que conseguiram frustrar muitas das ideias mais radicais do presidente, como lançar mísseis contra cartéis de drogas no México ou alterar ilegalmente o resultado das eleições de 2020 para se manter no poder. Os quadros mais radicais, ao mesmo tempo, desconheciam a máquina pública e muitas vezes não sabiam como implementar medidas mais drásticas.

Se vencer o pleito daqui a um ano, o cenário seria diferente: Trump muito provavelmente evitaria nomear integrantes do mainstream republicano e logo apostaria em representantes da ala trumpista de seu partido, que ganharam experiência executiva durante o primeiro mandato do magnata.

Além disso, enquanto Trump enfrentou uma resistência ferrenha, dentro do seu próprio partido, de quadros moderados como os senadores John McCain e Mitt Romney, a ala moderada se enfraqueceu: McCain faleceu em 2018, e Romney já anunciou que não buscará a reeleição no ano que vem. Numerosos deputados Republicanos anti-Trump, como Adam Kinziger, deixaram a política. Por fim, mesmo se o Partido Republicano não obtiver a maioria na Câmara e no Senado, o judiciário, durante um segundo mandato de Trump, seria mais amigável ao Republicano do que o foi em seu primeiro mandato. Tudo isso permitiria mudanças mais amplas tanto no âmbito interno quanto na política externa.

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No âmbito externo, a eleição de Trump seria uma péssima notícia para os principais aliados dos EUA. Segundo seu ex-assessor de segurança nacional, John Bolton, Trump planejava tirar os EUA da OTAN em seu segundo mandato. O ex-presidente também reduziria o apoio militar à Ucrânia, uma excelente notícia para o presidente russo Vladimir Putin – mesmo presumindo que a União Europeia provavelmente aumentaria apoio ao governo Zelenski para compensar a redução de suporte dos EUA.

Tudo indica que Trump também poderia enfraquecer a relação com os principais aliados dos EUA na Ásia, como Coréia do Sul e Japão – uma boa notícia para o governo de Xi Jinping, que, apesar da retórica anti-China de Trump, se deu melhor com Trump no poder do que durante o governo Biden. Uma ruptura maior das alianças dos EUA com seus principais parceiros também aumentaria o risco de proliferação nuclear: sem a proteção dos EUA, é natural que lideranças em Seul e Tóquio considerem desenvolver um arsenal nuclear para se proteger da China. Menos impactada do que o resto do mundo em função da baixa relevância geopolítica, a América Latina também tem motivo para temer a volta de Trump: proposta considerada absurda até recentemente, a ideia de bombardear o México para combater o tráfico de drogas hoje encontra apoio entre numerosos políticos e eleitores Republicanos. O ataque criaria um precedente preocupante para toda a região.

As eleições presidenciais nos EUA em novembro de 2024 representam o mais alto risco político da atualidade. Trata-se do pleito mais imprevisível desde a Segunda Guerra Mundial, com elevada probabilidade de imprevistos: presumindo que Joe Biden e Donald Trump se enfrentarão novamente – cenário mais provável neste momento –, um dos dois pode ter que desistir no meio da campanha por motivos de saúde: Biden tem 80 anos, Trump 77.

Outro cenário é que, considerando o número de processos contra Trump, o ex-presidente seja preso meses antes das eleições, causando uma situação sem precedentes. Para complicar ainda mais as circunstâncias, o sistema eleitoral arcaico e a ausência de uma justiça eleitoral como a brasileira nos EUA aumentam o risco de tensão e violência política.

Em uma sociedade extremamente polarizada, teorias conspiratórias — como a de que Biden teria fraudado as últimas eleições — são amplamente difundidas entre eleitores de Trump. Se este for derrotado, é praticamente certo que não aceitará o resultado. Não ajuda o cenário mais provável de uma eleição extremamente apertada.

Por fim, diferentemente de significativa parte das oito décadas desde a Segunda Guerra Mundial, hoje não há um consenso mínimo entre os Republicanos e Democratas em relação aos pilares da política externa norte-americana. Em eleições passadas, líderes dos dois principais partidos em Washington podiam discordar sobre questões específicas, mas não colocavam em dúvida os elementos-chave da estratégia internacional dos EUA, como o compromisso de Washington com a OTAN. Nas eleições de 2024, porém, tudo estará em jogo: enquanto uma vitória de Biden representaria a continuação da atual política externa americana, é provável que a volta de Trump à Casa Branca levaria a mudanças muito mais profundas do que durante seu primeiro mandato de 2017 a 2020.

Ex-presidente Donald Trump em comício para as eleições de 2024. Foto: SCOTT OLSON / Getty Images via AFP

Isso porque, quando assumiu o poder pela primeira vez, Trump inicialmente apostou em quadros mais experientes, que conseguiram frustrar muitas das ideias mais radicais do presidente, como lançar mísseis contra cartéis de drogas no México ou alterar ilegalmente o resultado das eleições de 2020 para se manter no poder. Os quadros mais radicais, ao mesmo tempo, desconheciam a máquina pública e muitas vezes não sabiam como implementar medidas mais drásticas.

Se vencer o pleito daqui a um ano, o cenário seria diferente: Trump muito provavelmente evitaria nomear integrantes do mainstream republicano e logo apostaria em representantes da ala trumpista de seu partido, que ganharam experiência executiva durante o primeiro mandato do magnata.

Além disso, enquanto Trump enfrentou uma resistência ferrenha, dentro do seu próprio partido, de quadros moderados como os senadores John McCain e Mitt Romney, a ala moderada se enfraqueceu: McCain faleceu em 2018, e Romney já anunciou que não buscará a reeleição no ano que vem. Numerosos deputados Republicanos anti-Trump, como Adam Kinziger, deixaram a política. Por fim, mesmo se o Partido Republicano não obtiver a maioria na Câmara e no Senado, o judiciário, durante um segundo mandato de Trump, seria mais amigável ao Republicano do que o foi em seu primeiro mandato. Tudo isso permitiria mudanças mais amplas tanto no âmbito interno quanto na política externa.

No âmbito externo, a eleição de Trump seria uma péssima notícia para os principais aliados dos EUA. Segundo seu ex-assessor de segurança nacional, John Bolton, Trump planejava tirar os EUA da OTAN em seu segundo mandato. O ex-presidente também reduziria o apoio militar à Ucrânia, uma excelente notícia para o presidente russo Vladimir Putin – mesmo presumindo que a União Europeia provavelmente aumentaria apoio ao governo Zelenski para compensar a redução de suporte dos EUA.

Tudo indica que Trump também poderia enfraquecer a relação com os principais aliados dos EUA na Ásia, como Coréia do Sul e Japão – uma boa notícia para o governo de Xi Jinping, que, apesar da retórica anti-China de Trump, se deu melhor com Trump no poder do que durante o governo Biden. Uma ruptura maior das alianças dos EUA com seus principais parceiros também aumentaria o risco de proliferação nuclear: sem a proteção dos EUA, é natural que lideranças em Seul e Tóquio considerem desenvolver um arsenal nuclear para se proteger da China. Menos impactada do que o resto do mundo em função da baixa relevância geopolítica, a América Latina também tem motivo para temer a volta de Trump: proposta considerada absurda até recentemente, a ideia de bombardear o México para combater o tráfico de drogas hoje encontra apoio entre numerosos políticos e eleitores Republicanos. O ataque criaria um precedente preocupante para toda a região.

As eleições presidenciais nos EUA em novembro de 2024 representam o mais alto risco político da atualidade. Trata-se do pleito mais imprevisível desde a Segunda Guerra Mundial, com elevada probabilidade de imprevistos: presumindo que Joe Biden e Donald Trump se enfrentarão novamente – cenário mais provável neste momento –, um dos dois pode ter que desistir no meio da campanha por motivos de saúde: Biden tem 80 anos, Trump 77.

Outro cenário é que, considerando o número de processos contra Trump, o ex-presidente seja preso meses antes das eleições, causando uma situação sem precedentes. Para complicar ainda mais as circunstâncias, o sistema eleitoral arcaico e a ausência de uma justiça eleitoral como a brasileira nos EUA aumentam o risco de tensão e violência política.

Em uma sociedade extremamente polarizada, teorias conspiratórias — como a de que Biden teria fraudado as últimas eleições — são amplamente difundidas entre eleitores de Trump. Se este for derrotado, é praticamente certo que não aceitará o resultado. Não ajuda o cenário mais provável de uma eleição extremamente apertada.

Por fim, diferentemente de significativa parte das oito décadas desde a Segunda Guerra Mundial, hoje não há um consenso mínimo entre os Republicanos e Democratas em relação aos pilares da política externa norte-americana. Em eleições passadas, líderes dos dois principais partidos em Washington podiam discordar sobre questões específicas, mas não colocavam em dúvida os elementos-chave da estratégia internacional dos EUA, como o compromisso de Washington com a OTAN. Nas eleições de 2024, porém, tudo estará em jogo: enquanto uma vitória de Biden representaria a continuação da atual política externa americana, é provável que a volta de Trump à Casa Branca levaria a mudanças muito mais profundas do que durante seu primeiro mandato de 2017 a 2020.

Ex-presidente Donald Trump em comício para as eleições de 2024. Foto: SCOTT OLSON / Getty Images via AFP

Isso porque, quando assumiu o poder pela primeira vez, Trump inicialmente apostou em quadros mais experientes, que conseguiram frustrar muitas das ideias mais radicais do presidente, como lançar mísseis contra cartéis de drogas no México ou alterar ilegalmente o resultado das eleições de 2020 para se manter no poder. Os quadros mais radicais, ao mesmo tempo, desconheciam a máquina pública e muitas vezes não sabiam como implementar medidas mais drásticas.

Se vencer o pleito daqui a um ano, o cenário seria diferente: Trump muito provavelmente evitaria nomear integrantes do mainstream republicano e logo apostaria em representantes da ala trumpista de seu partido, que ganharam experiência executiva durante o primeiro mandato do magnata.

Além disso, enquanto Trump enfrentou uma resistência ferrenha, dentro do seu próprio partido, de quadros moderados como os senadores John McCain e Mitt Romney, a ala moderada se enfraqueceu: McCain faleceu em 2018, e Romney já anunciou que não buscará a reeleição no ano que vem. Numerosos deputados Republicanos anti-Trump, como Adam Kinziger, deixaram a política. Por fim, mesmo se o Partido Republicano não obtiver a maioria na Câmara e no Senado, o judiciário, durante um segundo mandato de Trump, seria mais amigável ao Republicano do que o foi em seu primeiro mandato. Tudo isso permitiria mudanças mais amplas tanto no âmbito interno quanto na política externa.

No âmbito externo, a eleição de Trump seria uma péssima notícia para os principais aliados dos EUA. Segundo seu ex-assessor de segurança nacional, John Bolton, Trump planejava tirar os EUA da OTAN em seu segundo mandato. O ex-presidente também reduziria o apoio militar à Ucrânia, uma excelente notícia para o presidente russo Vladimir Putin – mesmo presumindo que a União Europeia provavelmente aumentaria apoio ao governo Zelenski para compensar a redução de suporte dos EUA.

Tudo indica que Trump também poderia enfraquecer a relação com os principais aliados dos EUA na Ásia, como Coréia do Sul e Japão – uma boa notícia para o governo de Xi Jinping, que, apesar da retórica anti-China de Trump, se deu melhor com Trump no poder do que durante o governo Biden. Uma ruptura maior das alianças dos EUA com seus principais parceiros também aumentaria o risco de proliferação nuclear: sem a proteção dos EUA, é natural que lideranças em Seul e Tóquio considerem desenvolver um arsenal nuclear para se proteger da China. Menos impactada do que o resto do mundo em função da baixa relevância geopolítica, a América Latina também tem motivo para temer a volta de Trump: proposta considerada absurda até recentemente, a ideia de bombardear o México para combater o tráfico de drogas hoje encontra apoio entre numerosos políticos e eleitores Republicanos. O ataque criaria um precedente preocupante para toda a região.

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