A segunda noite de Convenção Nacional do Partido Democrata mirou no futuro, representado na figura de Kamala Harris, depois de despedida de Joe Biden. O escolhido para marcar essa transição foi o ex-presidente Barack Obama, destaque desta terça-feira, 20, no United Center, em Chicago.
Obama elogiou Joe Biden por colocar a ambição pessoal de lado e buscar o melhor para o país, interrompido pelos gritos de “obrigada Joe”, da plateia. “Agora, a tocha foi passada e cabe a todos nós lutar pela América que queremos. E não se enganem, vai ter luta”, declarou Barack Obama, sinalizando que a disputa será difícil, em meio à empolgação que tomou conta do partido após a substituição de Biden por Kamala.
“Apesar de toda a incrível energia que conseguimos gerar nas últimas semanas, de todos os comícios e memes, essa ainda será uma disputa acirrada em um país muito dividido”, alertou. Quando criticou Donald Trump e ouviu vaias como resposta da plateia, ele reforçou: “não vaie, vote”.
“Não precisamos de mais quatro anos de arrogância, trapalhadas e caos, já vimos esse filme antes e todos sabemos que a sequência geralmente é pior”, disse Obama, referindo-se a Trump. “A América está pronta para um novo capítulo. A América está pronta para uma história melhor”.
Antes dele, Michelle Obama subiu ao palco ovacionada pela multidão. “Alguma coisa incrivelmente mágica está no ar. O poder contagioso da esperança”, disse. Ela enalteceu os valores e a trajetória de Kamala Harris, como uma mulher de classe média, filha de imigrantes que chegou à vice-presidência dos Estados Unidos.
Logo, voltou à carga para Donald Trump. “Por anos, Trump fez tudo o que estava ao seu alcance para tentar fazer as pessoas terem medo de nós. Sua visão limitada e estreita do mundo o fez se sentir ameaçado pela existência de duas pessoas trabalhadoras, altamente educadas e bem-sucedidas que por acaso são negras”, disse.
“Quem vai dizer a ele que o emprego que ele está buscando atualmente pode ser um desses empregos para negros?”, seguiu, referindo-se à polêmica declaração do republicano na mesma entrevista com jornalistas negro em que questionou a identidade racial de Kamala Harris.
Segundo-cavalheiro traz lado pessoal de Kamala
Em meio a uma série de discursos que fortaleceram a figura política de Kamala como uma mulher séria com seu trabalho e com voracidade para combater Trump, o marido da vice-presidente, Douglas Emhoff, emocionou o público ao descrever o lado pessoal e mais sensível da candidata, contando bastidores do relacionamento dos dois e da dinâmica familiar.
Emhoff afirmou que Kamala chegou em sua vida após ele ter passado por um divórcio. Em sua participação, a relação da vice-presidente com os enteados ganhou força, pouco tempo depois de democratas reviverem uma fala de J.D. Vance, vice de Trump, condenou Kamala por não ter filhos biológicos.
“Ela fez isso por mim e pela nossa família. Agora que o país precisa dela, ela está mostrando o que já sabíamos: está pronta para liderar, assume essa tarefa com alegria e força, e será uma grande presidente que nós todos ficarão para trás.”muito orgulhoso”, disse Emhoff.
Foco no futuro do Partido Democrata
Sob o lema “Uma Visão Ousada para o Futuro da América”, os democratas repetiram ao longo dos discursos e vídeos institucionais que o país não pode retroceder. Ideia que contrasta com o lema republicano de “Fazer a América Grande de Novo”.
Enquanto discursava em Milwaukee, Kamala mandou um recado ao vivo, exibido na Convenção. Ela disse que estava honrada com a nomeação depois da animada votação simbólica dos delegados democratas (entenda abaixo) e prometeu traçar o caminho para um futuro de “liberdade otimismo e fé”.
Jack Schlossberg, que é neto do ex-presidente John F. Kennedy — e primo do candidato independe à Casa Branca Robert F. Kennedy Jr — disse que Kamala Harris representa a nova geração, e compartilha a “compartilha a energia, visão e otimismo” que o avô tinha sobre o futuro do país. “Assim como o presidente Kennedy, Kamala Harris dedicou sua vida ao serviço público. Ela acredita na América, como meu avô acreditava”, disse.
O líder da maioria democrata no Senado Chuck Schumer enfatizou a importância da escolha que os americanos vão enfrentar nas eleições e disse que Kamala levará a “América para um futuro mais brilhante”, mas destacou que, para isso, vai precisar de maioria no Senado.
“Dois anos atrás, pessimistas disseram que os democratas do Senado não teriam chance nas eleições de meio de mandato. Eu disse a eles, esperem só”, declarou. “Vamos conseguir o Senado novamente, e estamos prontos para ganhar cadeiras.”
Mais sobre a Convenção do Partido Democrata
Schumer também recordou seu tempo trabalhando com Kamala Harris quando ela ainda era senadora, exaltando-a como corajosa e dedicada às famílias de classe média — parcela da sociedade que deve ser decisiva nas eleições. Ele descreveu Kamala como uma líder focada em temas importantes para o cotidiano, como ajudar os pais a criar seus filhos, garantir bairros e escolas seguras, e construir uma economia com oportunidades para todos.
“Nossos filhos, nossos netos, não importa sua raça, não importa seu credo, seu gênero ou família, merecem algo melhor do que a carnificina americana de Donald Trump”, disse ao encerrar sua fala.
O progressista Bernie Sanders também destacou o lado social ao elogiar o governo Biden-Kamala por iniciativas adotadas durante a pandemia. Seguindo a cartilha tradicional dos seus discursos ele defendeu a expansão do Medcare (programa de saúde destinado aos idosos) e o aumento do salário mínimo.
Mas foi ao falar da guerra na Faixa de Gaza que foi mais aplaudido. “Devemos acabar com essa horrível guerra em Gaza”, disse. “Trazer os reféns de volta para casa e exigir o cessar-fogo imediato.”
Antigos apoiadores de Trump declaram apoio a Kamala
Circulando na plateia e tirando selfies, estava Michael Cohen, que foi de advogado pessoal a crítico ferrenho de Donald Trump e inimigo nos tribunais. Outra antiga aliada foi além e subiu no palco do United Center para declarar voto em Kamala Harris. Era Stephanie Grisham, que atuou como Secretária de Imprensa de Trump e chefe de gabinete da primeira-dama Melania.
Em discurso duro, ela falou sobre a proximidade que teve com Trump ao descrevê-lo como uma pessoa sem empatia e sem moral. “Não era apenas apoiadora. Era uma verdadeira fiel. Eu era uma de suas conselheiras mais próximas. A família Trump se tornou a minha família. Eu passei a Páscoa, o Dia de Ação de Graças, o Natal e o Ano Novo em Mar-a-Lago. Eu o vi quando as câmeras estavam desligadas. A portas fechadas, Trump zomba de seus apoiadores”, disse.
Stephanie seguiu o discurso relembrando a sua renúncia logo após o ataque ao Capitólio. “No dia 6 de janeiro, eu perguntei à Melania se poderíamos pelo menos tuitar que, embora o protesto pacífico seja o direito de todo americano, não há lugar para ilegalidade ou violência. Ela respondeu com uma palavra, não”, relatou.
Naquele momento, ela trabalhava para a primeira-dama. Antes disso, havia deixado o posto de Secretária de Imprensa sem nunca ter feito um briefing com jornalistas. “É porque, ao contrário do meu chefe, eu nunca quis ficar naquele pódio e mentir”, disse em alusão às críticas que enfrentou na época. E concluiu declarando voto em Kamala: “Agora aqui estou eu, atrás de um pódio, defendendo uma democrata”.
A presença de Stephanie é parte da tentativa de atrair republicanos mais resistentes à Donald Trump. A estratégia contou também alguns poucos político menos expressivos do partido adversário, como John Giles, prefeito de Mesa, do Arizona, e eleitores comuns como Kyle Sweetser, também do Arizona.
Votação simbólica confirma indicação de Kamala
Durante a segunda noite da convenção, as delegações estaduais realizaram uma “votação nominal comemorativa”, para nomear Kamala como a indicada democrata para concorrer à presidência. A ação foi somente de caráter simbólico, já que a nomeação foi oficializada dia 6 de agosto de maneira virtual.
Ao ritmo de hits conhecidos de músicos como Beyoncé, Snoop Dogg e Bruno Mars, o presidente de cada delegação ecoou os resultados da votação, que consolidou Kamala como sucessor de Joe Biden. Além dos 50 Estados americanos, participaram os territórios de Porto Rico, Guam, Samoa Americana, Ilhas Virgens Americanas e Ilhas Marianas do Norte.