Com ecos da Guerra Fria, Nobel da Paz vai para ativistas de Belarus, Ucrânia e Rússia


Embora negue que prêmio deste ano seja ‘contra Vladimir Putin’, o comitê do Prêmio Nobel ressaltou a promoção de valores ‘que não são de agressão e de guerra’

Por Redação
Atualização:

OSLO - O Prêmio Nobel da Paz de 2022 foi concedido para Ales Bialiatski, um ativista de direitos humanos preso em Belarus, ao grupo de campanha russo Memorial e ao Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, em um prêmio que remonta as inspirações políticas da Guerra Fria, quando dissidentes soviéticos foram reconhecidos. O comitê nega que o prêmio deste ano seja contra Vladimir Putin e sua guerra na Ucrânia, mas reconhece que a decisão ressalta a promoção de valores “que não são de agressão e de guerra”.

Após algumas decisões polêmicas nos últimos anos - como a premiação ao americano Barack Obama e ao primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed - o comitê vinha se abstendo de comentar questões políticas. Desta vez, defendeu a democracia e a “coexistência pacífica nos países vizinhos: Belarus, Rússia e Ucrânia”. Segundo os organizadores, os vencedores “representam a sociedade civil em seus países de origem”.

A premiação deste ano ocorre com a guerra da Ucrânia à porta se arrastando por mais de sete meses e laureia três indivíduos e entidades da região em conflito. Um ato que relembra os tempos da Guerra Fria, quando ativistas como Andrei Sakharov e Alexander Solzhenitsin ganharam o Nobel de Paz e Literatura, respectivamente.

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Ilustração divulgada pela Academia Norueguesa, que concede o Nobel da Paz, com os vencedores do prêmio de 2022  Foto: Niklas Elmehed/Ilustração

O primeiro foi um físico nuclear e ativista por reformas civis na União Soviética, e dá nome a um prêmio europeu para a liberdade de pensamento que em 2021 laureou o opositor de Putin, Alexei Navalni. Sakharov, inclusive é um dos fundadores de uma das organizações premiadas este ano. O outro foi um preso político soviético que revelou em suas obras a atrocidades dos campos de trabalhos forçados. Ao fim da Guerra Fria, o próprio Mikhail Gorbachev foi premiado com o Nobel da Paz.

Os premiados de 2022

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Um dos vencedores, Ales Bialiatski, é um dos principais nomes da oposição ao atual ditador de Belarus, Alexander Lukashenko, aliado de Vladimir Putin. Bialiatski foi preso em 2020 pelo regime de Lukashenko e continua atrás das grades. Ele esteve na vanguarda do movimento pró-democracia em Minsk, ainda nos anos 1980, e “dedicou sua vida à promoção da democracia e do desenvolvimento pacífico de seu país natal”.

Após o anúncio, os organizadores do Nobel pediram que as autoridades do país soltem o ativista. “Nossa mensagem é fazer um apelo para que as autoridades soltem Bialiatski. Nossa esperança é que isso aconteça e que ele venha a Oslo para receber o prêmio que lhe foi concedido”, disse Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê, antes de admitir que seu pedido dificilmente será ouvido. “Mas há milhares de presos políticos em Belarus e temo que meu desejo não seja muito realista.”

Ales Bialiatski, ativista de Direitos Humanos que está preso em Belarus por participar dos protestos contra o ditador do país, Aleksander Lukashenko  Foto: Tatyana Zenkovich/EPA/EFE
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Já o Memorial russo, com mais de três décadas de atuação, é o mais antigo grupo de direitos humanos do país. Ele foi fundado por dissidentes soviéticos —incluindo Andrei Sakharov— que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Josef Stálin.

Em novembro de 2021, a Justiça da Rússia pediu a dissolução do Memorial, acusando o grupo de ter infringido “de maneira sistemática” obrigações de sua condição de “agente estrangeiro”. Moscou também argumentou que estava aplicando leis para impedir o extremismo e proteger o país de influências externas. No mês seguinte, a Suprema Corte do país determinou a dissolução do Memorial, marcando o final de um ano de intensa repressão a críticos e opositores do governo de Vladimir Putin.

A placa 'A sociedade do Memorial' na entrada da sede do Centro de Direitos Humanos Memorial de Moscou em Moscou, Rússia Foto: Sergei Ilnitsky/EPA/EFE
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Por fim, o Centro de Liberdades Civis da Ucrânia é uma organização internacional de defesa dos direitos humanos fundada em 2007 em Kiev, Ucrânia, e liderada pela advogada ucraniana Oleksandra Matviichuk.

O Centro teve papel importante na documentação de prisões políticas e desaparecimentos nos últimos anos na Ucrânia, principalmente depois das manifestações de 2013 e 2014 contra o presidente Viktor Yanukovitch. O grupo apresentou ao Tribunal Penal Internacional certidões sobre crimes contra a humanidade cometidos pelo regime de Yanukovitch durante a onda de protestos que ficou conhecida como Euromaidan.

O grupo também teve participação no monitoramento da movimentação russa na Crimeia e Donbas, e ganhou relevância com sua atuação depois da invasão russa. Entre outras coisas, o Centro monitora desaparecimentos forçados que alega serem promovidos por forças militares russas em território ucraniano.

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Integrantes do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, laureados com o Prêmio Nobel da Paz de 2022 Foto: Reprodução/Centro de Liberdades Civis

Questões políticas

Apesar da premiação ir para opositores de Vladimir Putin e de seu aliado em Belarus, a presidente do comitê negou que o evento deste ano seja direcionado ao presidente russo, que completou 70 anos nesta sexta-feira.

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“Nós sempre damos o prêmio para algo e para algo e não contra alguém”, disse ela. “Este prêmio não se dirige ao presidente Putin, nem em seu aniversário ou em qualquer outro sentido, exceto que seu governo, como o governo da Belarus, está representando um governo autoritário que está reprimindo ativistas de direitos humanos.”

“A atenção que Putin atraiu para si mesmo que é relevante neste contexto em que a sociedade civil e os defensores dos direitos humanos estão sendo reprimidos e é isso que gostaríamos de abordar com este prêmio”, completou Berit Reiss-Andersen.

À agência Reuters, o embaixador russo na ONU disse que Moscou não se importava com o prêmio. Em Belarus, a premiação não foi divulgada na mídia estatal, diz a agência.

O presidente americano, Joe Biden, felicitou os laureados deste ano, fazendo críticas a “opressão e intimidação”. “Os vencedores do Prêmio Nobel da Paz deste ano nos lembram que mesmo nos dias sombrios da guerra, diante da intimidação e da opressão, o desejo humano por direitos e dignidade não pode ser extinto”, disse em comunicado.

A academia do Nobel evita se colocar politicamente nos acontecimentos mundiais, especialmente após polêmicas envolvendo laureados, como Obama que foi premiado em 2009 em meio ao seu acordo nuclear com o Irã - que mais tarde foi desmantelado pelo seu sucessor, Donald Trump - enquanto mantinha tropas americanas no Oriente Médio.

Dez anos depois, a entidade premiou o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, por sua contribuição para o acordo de paz com a Eritreia. No entanto, um ano depois ele lançou uma guerra civil no norte do país. A situação levou o comitê a divulgar uma nota este ano para justificar a premiação em 2019 e dizer que ele tem a responsabilidade de acabar com o conflito.

Na lista de premiações contestadas também está a ativista e ex-líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, que terminou em um julgamento por genocídio contra a minoria muçulmana rohingya de seu país.

No ano passado, o Nobel da Paz foi concedido para os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, pela “contribuição essencial de ambos para a liberdade de expressão e pelo jornalismo em seus países”. Muratov que é um crítico do Kremlin vendeu a sua medalha para ajudar crianças afetadas pela guerra da Ucrânia.

O prêmio Nobel da Paz é concedido, desde 1901, a homens, mulheres e organizações que trabalharam para o progresso da humanidade, conforme o desejo de seu criador, o inventor sueco Alfred Nobel. O prêmio é entregue pelo Comitê Norueguês do Nobel, composto por cinco membros escolhidos pelo Parlamento norueguês. O vencedor recebe, além de uma medalha de ouro, 9 milhões de coroas suecas, o equivalente a US$ 910 mil (R$ 5 milhões). O prêmio deste ano será entregue em 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel.

OSLO - O Prêmio Nobel da Paz de 2022 foi concedido para Ales Bialiatski, um ativista de direitos humanos preso em Belarus, ao grupo de campanha russo Memorial e ao Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, em um prêmio que remonta as inspirações políticas da Guerra Fria, quando dissidentes soviéticos foram reconhecidos. O comitê nega que o prêmio deste ano seja contra Vladimir Putin e sua guerra na Ucrânia, mas reconhece que a decisão ressalta a promoção de valores “que não são de agressão e de guerra”.

Após algumas decisões polêmicas nos últimos anos - como a premiação ao americano Barack Obama e ao primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed - o comitê vinha se abstendo de comentar questões políticas. Desta vez, defendeu a democracia e a “coexistência pacífica nos países vizinhos: Belarus, Rússia e Ucrânia”. Segundo os organizadores, os vencedores “representam a sociedade civil em seus países de origem”.

A premiação deste ano ocorre com a guerra da Ucrânia à porta se arrastando por mais de sete meses e laureia três indivíduos e entidades da região em conflito. Um ato que relembra os tempos da Guerra Fria, quando ativistas como Andrei Sakharov e Alexander Solzhenitsin ganharam o Nobel de Paz e Literatura, respectivamente.

Ilustração divulgada pela Academia Norueguesa, que concede o Nobel da Paz, com os vencedores do prêmio de 2022  Foto: Niklas Elmehed/Ilustração

O primeiro foi um físico nuclear e ativista por reformas civis na União Soviética, e dá nome a um prêmio europeu para a liberdade de pensamento que em 2021 laureou o opositor de Putin, Alexei Navalni. Sakharov, inclusive é um dos fundadores de uma das organizações premiadas este ano. O outro foi um preso político soviético que revelou em suas obras a atrocidades dos campos de trabalhos forçados. Ao fim da Guerra Fria, o próprio Mikhail Gorbachev foi premiado com o Nobel da Paz.

Os premiados de 2022

Um dos vencedores, Ales Bialiatski, é um dos principais nomes da oposição ao atual ditador de Belarus, Alexander Lukashenko, aliado de Vladimir Putin. Bialiatski foi preso em 2020 pelo regime de Lukashenko e continua atrás das grades. Ele esteve na vanguarda do movimento pró-democracia em Minsk, ainda nos anos 1980, e “dedicou sua vida à promoção da democracia e do desenvolvimento pacífico de seu país natal”.

Após o anúncio, os organizadores do Nobel pediram que as autoridades do país soltem o ativista. “Nossa mensagem é fazer um apelo para que as autoridades soltem Bialiatski. Nossa esperança é que isso aconteça e que ele venha a Oslo para receber o prêmio que lhe foi concedido”, disse Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê, antes de admitir que seu pedido dificilmente será ouvido. “Mas há milhares de presos políticos em Belarus e temo que meu desejo não seja muito realista.”

Ales Bialiatski, ativista de Direitos Humanos que está preso em Belarus por participar dos protestos contra o ditador do país, Aleksander Lukashenko  Foto: Tatyana Zenkovich/EPA/EFE

Já o Memorial russo, com mais de três décadas de atuação, é o mais antigo grupo de direitos humanos do país. Ele foi fundado por dissidentes soviéticos —incluindo Andrei Sakharov— que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Josef Stálin.

Em novembro de 2021, a Justiça da Rússia pediu a dissolução do Memorial, acusando o grupo de ter infringido “de maneira sistemática” obrigações de sua condição de “agente estrangeiro”. Moscou também argumentou que estava aplicando leis para impedir o extremismo e proteger o país de influências externas. No mês seguinte, a Suprema Corte do país determinou a dissolução do Memorial, marcando o final de um ano de intensa repressão a críticos e opositores do governo de Vladimir Putin.

A placa 'A sociedade do Memorial' na entrada da sede do Centro de Direitos Humanos Memorial de Moscou em Moscou, Rússia Foto: Sergei Ilnitsky/EPA/EFE

Por fim, o Centro de Liberdades Civis da Ucrânia é uma organização internacional de defesa dos direitos humanos fundada em 2007 em Kiev, Ucrânia, e liderada pela advogada ucraniana Oleksandra Matviichuk.

O Centro teve papel importante na documentação de prisões políticas e desaparecimentos nos últimos anos na Ucrânia, principalmente depois das manifestações de 2013 e 2014 contra o presidente Viktor Yanukovitch. O grupo apresentou ao Tribunal Penal Internacional certidões sobre crimes contra a humanidade cometidos pelo regime de Yanukovitch durante a onda de protestos que ficou conhecida como Euromaidan.

O grupo também teve participação no monitoramento da movimentação russa na Crimeia e Donbas, e ganhou relevância com sua atuação depois da invasão russa. Entre outras coisas, o Centro monitora desaparecimentos forçados que alega serem promovidos por forças militares russas em território ucraniano.

Integrantes do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, laureados com o Prêmio Nobel da Paz de 2022 Foto: Reprodução/Centro de Liberdades Civis

Questões políticas

Apesar da premiação ir para opositores de Vladimir Putin e de seu aliado em Belarus, a presidente do comitê negou que o evento deste ano seja direcionado ao presidente russo, que completou 70 anos nesta sexta-feira.

“Nós sempre damos o prêmio para algo e para algo e não contra alguém”, disse ela. “Este prêmio não se dirige ao presidente Putin, nem em seu aniversário ou em qualquer outro sentido, exceto que seu governo, como o governo da Belarus, está representando um governo autoritário que está reprimindo ativistas de direitos humanos.”

“A atenção que Putin atraiu para si mesmo que é relevante neste contexto em que a sociedade civil e os defensores dos direitos humanos estão sendo reprimidos e é isso que gostaríamos de abordar com este prêmio”, completou Berit Reiss-Andersen.

À agência Reuters, o embaixador russo na ONU disse que Moscou não se importava com o prêmio. Em Belarus, a premiação não foi divulgada na mídia estatal, diz a agência.

O presidente americano, Joe Biden, felicitou os laureados deste ano, fazendo críticas a “opressão e intimidação”. “Os vencedores do Prêmio Nobel da Paz deste ano nos lembram que mesmo nos dias sombrios da guerra, diante da intimidação e da opressão, o desejo humano por direitos e dignidade não pode ser extinto”, disse em comunicado.

A academia do Nobel evita se colocar politicamente nos acontecimentos mundiais, especialmente após polêmicas envolvendo laureados, como Obama que foi premiado em 2009 em meio ao seu acordo nuclear com o Irã - que mais tarde foi desmantelado pelo seu sucessor, Donald Trump - enquanto mantinha tropas americanas no Oriente Médio.

Dez anos depois, a entidade premiou o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, por sua contribuição para o acordo de paz com a Eritreia. No entanto, um ano depois ele lançou uma guerra civil no norte do país. A situação levou o comitê a divulgar uma nota este ano para justificar a premiação em 2019 e dizer que ele tem a responsabilidade de acabar com o conflito.

Na lista de premiações contestadas também está a ativista e ex-líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, que terminou em um julgamento por genocídio contra a minoria muçulmana rohingya de seu país.

No ano passado, o Nobel da Paz foi concedido para os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, pela “contribuição essencial de ambos para a liberdade de expressão e pelo jornalismo em seus países”. Muratov que é um crítico do Kremlin vendeu a sua medalha para ajudar crianças afetadas pela guerra da Ucrânia.

O prêmio Nobel da Paz é concedido, desde 1901, a homens, mulheres e organizações que trabalharam para o progresso da humanidade, conforme o desejo de seu criador, o inventor sueco Alfred Nobel. O prêmio é entregue pelo Comitê Norueguês do Nobel, composto por cinco membros escolhidos pelo Parlamento norueguês. O vencedor recebe, além de uma medalha de ouro, 9 milhões de coroas suecas, o equivalente a US$ 910 mil (R$ 5 milhões). O prêmio deste ano será entregue em 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel.

OSLO - O Prêmio Nobel da Paz de 2022 foi concedido para Ales Bialiatski, um ativista de direitos humanos preso em Belarus, ao grupo de campanha russo Memorial e ao Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, em um prêmio que remonta as inspirações políticas da Guerra Fria, quando dissidentes soviéticos foram reconhecidos. O comitê nega que o prêmio deste ano seja contra Vladimir Putin e sua guerra na Ucrânia, mas reconhece que a decisão ressalta a promoção de valores “que não são de agressão e de guerra”.

Após algumas decisões polêmicas nos últimos anos - como a premiação ao americano Barack Obama e ao primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed - o comitê vinha se abstendo de comentar questões políticas. Desta vez, defendeu a democracia e a “coexistência pacífica nos países vizinhos: Belarus, Rússia e Ucrânia”. Segundo os organizadores, os vencedores “representam a sociedade civil em seus países de origem”.

A premiação deste ano ocorre com a guerra da Ucrânia à porta se arrastando por mais de sete meses e laureia três indivíduos e entidades da região em conflito. Um ato que relembra os tempos da Guerra Fria, quando ativistas como Andrei Sakharov e Alexander Solzhenitsin ganharam o Nobel de Paz e Literatura, respectivamente.

Ilustração divulgada pela Academia Norueguesa, que concede o Nobel da Paz, com os vencedores do prêmio de 2022  Foto: Niklas Elmehed/Ilustração

O primeiro foi um físico nuclear e ativista por reformas civis na União Soviética, e dá nome a um prêmio europeu para a liberdade de pensamento que em 2021 laureou o opositor de Putin, Alexei Navalni. Sakharov, inclusive é um dos fundadores de uma das organizações premiadas este ano. O outro foi um preso político soviético que revelou em suas obras a atrocidades dos campos de trabalhos forçados. Ao fim da Guerra Fria, o próprio Mikhail Gorbachev foi premiado com o Nobel da Paz.

Os premiados de 2022

Um dos vencedores, Ales Bialiatski, é um dos principais nomes da oposição ao atual ditador de Belarus, Alexander Lukashenko, aliado de Vladimir Putin. Bialiatski foi preso em 2020 pelo regime de Lukashenko e continua atrás das grades. Ele esteve na vanguarda do movimento pró-democracia em Minsk, ainda nos anos 1980, e “dedicou sua vida à promoção da democracia e do desenvolvimento pacífico de seu país natal”.

Após o anúncio, os organizadores do Nobel pediram que as autoridades do país soltem o ativista. “Nossa mensagem é fazer um apelo para que as autoridades soltem Bialiatski. Nossa esperança é que isso aconteça e que ele venha a Oslo para receber o prêmio que lhe foi concedido”, disse Berit Reiss-Andersen, presidente do comitê, antes de admitir que seu pedido dificilmente será ouvido. “Mas há milhares de presos políticos em Belarus e temo que meu desejo não seja muito realista.”

Ales Bialiatski, ativista de Direitos Humanos que está preso em Belarus por participar dos protestos contra o ditador do país, Aleksander Lukashenko  Foto: Tatyana Zenkovich/EPA/EFE

Já o Memorial russo, com mais de três décadas de atuação, é o mais antigo grupo de direitos humanos do país. Ele foi fundado por dissidentes soviéticos —incluindo Andrei Sakharov— que se dedicaram a preservar a memória dos milhões de russos que morreram ou foram perseguidos em campos de trabalhos forçados durante a era Josef Stálin.

Em novembro de 2021, a Justiça da Rússia pediu a dissolução do Memorial, acusando o grupo de ter infringido “de maneira sistemática” obrigações de sua condição de “agente estrangeiro”. Moscou também argumentou que estava aplicando leis para impedir o extremismo e proteger o país de influências externas. No mês seguinte, a Suprema Corte do país determinou a dissolução do Memorial, marcando o final de um ano de intensa repressão a críticos e opositores do governo de Vladimir Putin.

A placa 'A sociedade do Memorial' na entrada da sede do Centro de Direitos Humanos Memorial de Moscou em Moscou, Rússia Foto: Sergei Ilnitsky/EPA/EFE

Por fim, o Centro de Liberdades Civis da Ucrânia é uma organização internacional de defesa dos direitos humanos fundada em 2007 em Kiev, Ucrânia, e liderada pela advogada ucraniana Oleksandra Matviichuk.

O Centro teve papel importante na documentação de prisões políticas e desaparecimentos nos últimos anos na Ucrânia, principalmente depois das manifestações de 2013 e 2014 contra o presidente Viktor Yanukovitch. O grupo apresentou ao Tribunal Penal Internacional certidões sobre crimes contra a humanidade cometidos pelo regime de Yanukovitch durante a onda de protestos que ficou conhecida como Euromaidan.

O grupo também teve participação no monitoramento da movimentação russa na Crimeia e Donbas, e ganhou relevância com sua atuação depois da invasão russa. Entre outras coisas, o Centro monitora desaparecimentos forçados que alega serem promovidos por forças militares russas em território ucraniano.

Integrantes do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, laureados com o Prêmio Nobel da Paz de 2022 Foto: Reprodução/Centro de Liberdades Civis

Questões políticas

Apesar da premiação ir para opositores de Vladimir Putin e de seu aliado em Belarus, a presidente do comitê negou que o evento deste ano seja direcionado ao presidente russo, que completou 70 anos nesta sexta-feira.

“Nós sempre damos o prêmio para algo e para algo e não contra alguém”, disse ela. “Este prêmio não se dirige ao presidente Putin, nem em seu aniversário ou em qualquer outro sentido, exceto que seu governo, como o governo da Belarus, está representando um governo autoritário que está reprimindo ativistas de direitos humanos.”

“A atenção que Putin atraiu para si mesmo que é relevante neste contexto em que a sociedade civil e os defensores dos direitos humanos estão sendo reprimidos e é isso que gostaríamos de abordar com este prêmio”, completou Berit Reiss-Andersen.

À agência Reuters, o embaixador russo na ONU disse que Moscou não se importava com o prêmio. Em Belarus, a premiação não foi divulgada na mídia estatal, diz a agência.

O presidente americano, Joe Biden, felicitou os laureados deste ano, fazendo críticas a “opressão e intimidação”. “Os vencedores do Prêmio Nobel da Paz deste ano nos lembram que mesmo nos dias sombrios da guerra, diante da intimidação e da opressão, o desejo humano por direitos e dignidade não pode ser extinto”, disse em comunicado.

A academia do Nobel evita se colocar politicamente nos acontecimentos mundiais, especialmente após polêmicas envolvendo laureados, como Obama que foi premiado em 2009 em meio ao seu acordo nuclear com o Irã - que mais tarde foi desmantelado pelo seu sucessor, Donald Trump - enquanto mantinha tropas americanas no Oriente Médio.

Dez anos depois, a entidade premiou o primeiro-ministro etíope, Abiy Ahmed, por sua contribuição para o acordo de paz com a Eritreia. No entanto, um ano depois ele lançou uma guerra civil no norte do país. A situação levou o comitê a divulgar uma nota este ano para justificar a premiação em 2019 e dizer que ele tem a responsabilidade de acabar com o conflito.

Na lista de premiações contestadas também está a ativista e ex-líder de Mianmar, Aung San Suu Kyi, que terminou em um julgamento por genocídio contra a minoria muçulmana rohingya de seu país.

No ano passado, o Nobel da Paz foi concedido para os jornalistas Maria Ressa, das Filipinas, e Dmitri Muratov, da Rússia, pela “contribuição essencial de ambos para a liberdade de expressão e pelo jornalismo em seus países”. Muratov que é um crítico do Kremlin vendeu a sua medalha para ajudar crianças afetadas pela guerra da Ucrânia.

O prêmio Nobel da Paz é concedido, desde 1901, a homens, mulheres e organizações que trabalharam para o progresso da humanidade, conforme o desejo de seu criador, o inventor sueco Alfred Nobel. O prêmio é entregue pelo Comitê Norueguês do Nobel, composto por cinco membros escolhidos pelo Parlamento norueguês. O vencedor recebe, além de uma medalha de ouro, 9 milhões de coroas suecas, o equivalente a US$ 910 mil (R$ 5 milhões). O prêmio deste ano será entregue em 10 de dezembro, data da morte de Alfred Nobel.

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