Com escolas fechadas pela covid, crianças do Congo dirigem mototáxis para ajudar famílias


Jovens ganham menos de R$ 10 por dia com o trabalho em Kinshasa, uma metrópole de 17 milhões de habitantes

Por Jordan Mayenikini e Thomson Reuters Foundation

KINSHASA - O adolescente congolês Bienvenu sonha em ter uma loja de roupas, mas passa os dias dirigindo ilegalmente um mototáxi na movimentada Kinshasa para sustentar sua família durante a pandemia de covid-19.

Dirigindo no trânsito e esquivando-se dos policiais na capital da República Democrática do Congo, o jovem de 16 anos trabalha como mototaxista menor - a idade mínima legal é 18 - desde que seu tio perdeu o emprego em uma agência de viagens há cinco meses.

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Bienvenu é uma das milhares de crianças congolesas que, segundo estimativas de instituições de caridade, ingressaram na força de trabalho no último ano devido ao novo coronavírus. Com o fechamento das escolas, muitas crianças começaram a trabalhar para ajudar a colocar comida na mesa em casa. Ele - cujo nome completo foi omitido - quer parar de dirigir, mas seus familiares agora dependem de sua renda.

"Não é minha escolha fazer este trabalho. Decidi fazê-lo para ajudar minha família, com a bênção de meu tio ... todas as noites eu trago meus ganhos para casa", disse ele, sentado em um estacionamento. Sem transporte público confiável, uma rede informal de mototáxis - conhecida como "Wewa" - é a principal forma de transporte de muitas pessoas em Kinshasa.

Criança trabalha em mototáxi em Kinshasa, capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation
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Os mototáxis costumam transportar famílias inteiras e grandes entregas ao passar pelo trânsito. "Se eu conseguir encontrar um emprego seguro, quero pedir demissão. Tenho o sonho de um dia ser um grande comerciante de roupas", disse Bienvenu. Trabalhando seis dias por semana, a maior parte de seus ganhos vão para o proprietário do mototáxi, deixando-o com cerca de 3 mil francos congoleses (US$ 1,50 ou R$ 8,50) por dia.

Nas ruas de Kinshasa - uma metrópole de 17 milhões de habitantes - inúmeras crianças vendem de tudo, desde sacos de batatas fritas a máscaras faciais. E o número está crescendo devido às consequências econômicas da covid-19, dizem os defensores dos direitos da criança.

Cerca de três quartos dos 90 milhões de congoleses vivem em extrema pobreza - sobrevivendo com menos de US$ 1,90 (R$ 10,80) por dia - e o Banco Africano de Desenvolvimento alertou que a economia do país dependente das exportações será afetada pela pandemia.

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O Congo é um importante produtor global de cobre e cobalto e a mineração é responsável por cerca de um terço de sua produção nacional. A pandemia desacelerou a demanda por metais no ano passado, levando ao fechamento de minas e cortes de empregos, mas os preços estão se recuperando.

Com mais crianças procurando empregos para sustentar suas famílias, trabalhar para um proprietário de mototáxi é a opção mais lucrativa e atraente, de acordo com Annie Bambe, chefe do Fórum de ONGs pelos Direitos da Criança no Congo (FODJEC). "No início, é como um jogo e depois se torna um trabalho", disse Bambe. "Os adultos devem se recusar a andar de motocicleta dirigida por crianças e os proprietários devem parar de usar crianças para ganhar dinheiro. Ninguém se levanta para condenar este trabalho". 

A Comissão Nacional de Segurança Viária, que faz parte do ministério dos transportes, disse ter recursos limitados para deter motoristas menores de idade e que a polícia de trânsito não poderia "regular a situação".

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“Todos devem se envolver, em particular os prefeitos e chefes de bairro para desencorajar essas crianças de dirigir”, disse Jean Bome, secretário executivo da comissão. Antes da pandemia, cerca de 15% das crianças de 5 a 17 anos no Congo estavam envolvidas em trabalho infantil - a maioria realizando atividades perigosas. Os dados são de um relatório de 2019 do Instituto Nacional de Estatística.

A partir dos 15 anos, as crianças no Congo podem fazer trabalhos leves por um máximo de quatro horas por dia com a aprovação dos inspetores do trabalho, mas a idade legal para dirigir é 18.

Jovem conserta mototáxi na capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation
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Mas meninos como Bienvenu têm táticas para escapar de multas ou prisão. "Tento não chegar a uma encruzilhada onde possa facilmente cruzar o caminho dos policiais de trânsito. Se for parado, sei como negociar com eles", disse Bienvenu, explicando como pagou subornos no valor de 5 mil francos (menos de US$ 3) para evitar punição.

Proprietário de um mototáxi, Patrick Maweja disse que não contratava crianças, mas sabia de vários outros que o fizeram porque consideravam os jovens motoristas trabalhadores e confiáveis. O chefe da Associação de Mototaxistas do distrito de Tshangu, em Kinshasa, Jean-Pierre Kabangu, disse não aceitar menores de idade, mas reconheceu que a pandemia não deu a algumas crianças escolha a não ser trabalhar.

Para elas, Kabangu ofereceu alguns conselhos. “Os motoristas menores são solicitados a circular pelos bairros periféricos e não a dirigir na avenida, o que é muito perigoso”, disse Kabangu, cuja associação apóia mototaxistas e ajuda a mediar disputas com a polícia de trânsito.

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Bambe, da FODJEC, disse que os pais também são culpados por não impedirem que seus filhos trabalhem nessa função. “Para muitos, o importante é que a criança traga de volta os frutos do seu trabalho no final do dia”. Isso soa verdadeiro para Joel, de 17 anos, que começou a dirigir o mototáxi de seu pai em dezembro enquanto a escola estava fechada e planeja conciliar o trabalho com sua educação, que desde então foi retomada.

Joel disse que às vezes se sente envergonhado quando seus colegas o veem dirigindo o mototáxi, mas precisa trabalhar para sustentar sua família. "Eles não sabem que este trabalho me permite estudar", disse Joel - cujo nome completo foi omitido - enquanto consertava um pneu furado em uma garagem. "É o pão com manteiga da minha família."

KINSHASA - O adolescente congolês Bienvenu sonha em ter uma loja de roupas, mas passa os dias dirigindo ilegalmente um mototáxi na movimentada Kinshasa para sustentar sua família durante a pandemia de covid-19.

Dirigindo no trânsito e esquivando-se dos policiais na capital da República Democrática do Congo, o jovem de 16 anos trabalha como mototaxista menor - a idade mínima legal é 18 - desde que seu tio perdeu o emprego em uma agência de viagens há cinco meses.

Bienvenu é uma das milhares de crianças congolesas que, segundo estimativas de instituições de caridade, ingressaram na força de trabalho no último ano devido ao novo coronavírus. Com o fechamento das escolas, muitas crianças começaram a trabalhar para ajudar a colocar comida na mesa em casa. Ele - cujo nome completo foi omitido - quer parar de dirigir, mas seus familiares agora dependem de sua renda.

"Não é minha escolha fazer este trabalho. Decidi fazê-lo para ajudar minha família, com a bênção de meu tio ... todas as noites eu trago meus ganhos para casa", disse ele, sentado em um estacionamento. Sem transporte público confiável, uma rede informal de mototáxis - conhecida como "Wewa" - é a principal forma de transporte de muitas pessoas em Kinshasa.

Criança trabalha em mototáxi em Kinshasa, capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation

Os mototáxis costumam transportar famílias inteiras e grandes entregas ao passar pelo trânsito. "Se eu conseguir encontrar um emprego seguro, quero pedir demissão. Tenho o sonho de um dia ser um grande comerciante de roupas", disse Bienvenu. Trabalhando seis dias por semana, a maior parte de seus ganhos vão para o proprietário do mototáxi, deixando-o com cerca de 3 mil francos congoleses (US$ 1,50 ou R$ 8,50) por dia.

Nas ruas de Kinshasa - uma metrópole de 17 milhões de habitantes - inúmeras crianças vendem de tudo, desde sacos de batatas fritas a máscaras faciais. E o número está crescendo devido às consequências econômicas da covid-19, dizem os defensores dos direitos da criança.

Cerca de três quartos dos 90 milhões de congoleses vivem em extrema pobreza - sobrevivendo com menos de US$ 1,90 (R$ 10,80) por dia - e o Banco Africano de Desenvolvimento alertou que a economia do país dependente das exportações será afetada pela pandemia.

O Congo é um importante produtor global de cobre e cobalto e a mineração é responsável por cerca de um terço de sua produção nacional. A pandemia desacelerou a demanda por metais no ano passado, levando ao fechamento de minas e cortes de empregos, mas os preços estão se recuperando.

Com mais crianças procurando empregos para sustentar suas famílias, trabalhar para um proprietário de mototáxi é a opção mais lucrativa e atraente, de acordo com Annie Bambe, chefe do Fórum de ONGs pelos Direitos da Criança no Congo (FODJEC). "No início, é como um jogo e depois se torna um trabalho", disse Bambe. "Os adultos devem se recusar a andar de motocicleta dirigida por crianças e os proprietários devem parar de usar crianças para ganhar dinheiro. Ninguém se levanta para condenar este trabalho". 

A Comissão Nacional de Segurança Viária, que faz parte do ministério dos transportes, disse ter recursos limitados para deter motoristas menores de idade e que a polícia de trânsito não poderia "regular a situação".

“Todos devem se envolver, em particular os prefeitos e chefes de bairro para desencorajar essas crianças de dirigir”, disse Jean Bome, secretário executivo da comissão. Antes da pandemia, cerca de 15% das crianças de 5 a 17 anos no Congo estavam envolvidas em trabalho infantil - a maioria realizando atividades perigosas. Os dados são de um relatório de 2019 do Instituto Nacional de Estatística.

A partir dos 15 anos, as crianças no Congo podem fazer trabalhos leves por um máximo de quatro horas por dia com a aprovação dos inspetores do trabalho, mas a idade legal para dirigir é 18.

Jovem conserta mototáxi na capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation

Mas meninos como Bienvenu têm táticas para escapar de multas ou prisão. "Tento não chegar a uma encruzilhada onde possa facilmente cruzar o caminho dos policiais de trânsito. Se for parado, sei como negociar com eles", disse Bienvenu, explicando como pagou subornos no valor de 5 mil francos (menos de US$ 3) para evitar punição.

Proprietário de um mototáxi, Patrick Maweja disse que não contratava crianças, mas sabia de vários outros que o fizeram porque consideravam os jovens motoristas trabalhadores e confiáveis. O chefe da Associação de Mototaxistas do distrito de Tshangu, em Kinshasa, Jean-Pierre Kabangu, disse não aceitar menores de idade, mas reconheceu que a pandemia não deu a algumas crianças escolha a não ser trabalhar.

Para elas, Kabangu ofereceu alguns conselhos. “Os motoristas menores são solicitados a circular pelos bairros periféricos e não a dirigir na avenida, o que é muito perigoso”, disse Kabangu, cuja associação apóia mototaxistas e ajuda a mediar disputas com a polícia de trânsito.

Bambe, da FODJEC, disse que os pais também são culpados por não impedirem que seus filhos trabalhem nessa função. “Para muitos, o importante é que a criança traga de volta os frutos do seu trabalho no final do dia”. Isso soa verdadeiro para Joel, de 17 anos, que começou a dirigir o mototáxi de seu pai em dezembro enquanto a escola estava fechada e planeja conciliar o trabalho com sua educação, que desde então foi retomada.

Joel disse que às vezes se sente envergonhado quando seus colegas o veem dirigindo o mototáxi, mas precisa trabalhar para sustentar sua família. "Eles não sabem que este trabalho me permite estudar", disse Joel - cujo nome completo foi omitido - enquanto consertava um pneu furado em uma garagem. "É o pão com manteiga da minha família."

KINSHASA - O adolescente congolês Bienvenu sonha em ter uma loja de roupas, mas passa os dias dirigindo ilegalmente um mototáxi na movimentada Kinshasa para sustentar sua família durante a pandemia de covid-19.

Dirigindo no trânsito e esquivando-se dos policiais na capital da República Democrática do Congo, o jovem de 16 anos trabalha como mototaxista menor - a idade mínima legal é 18 - desde que seu tio perdeu o emprego em uma agência de viagens há cinco meses.

Bienvenu é uma das milhares de crianças congolesas que, segundo estimativas de instituições de caridade, ingressaram na força de trabalho no último ano devido ao novo coronavírus. Com o fechamento das escolas, muitas crianças começaram a trabalhar para ajudar a colocar comida na mesa em casa. Ele - cujo nome completo foi omitido - quer parar de dirigir, mas seus familiares agora dependem de sua renda.

"Não é minha escolha fazer este trabalho. Decidi fazê-lo para ajudar minha família, com a bênção de meu tio ... todas as noites eu trago meus ganhos para casa", disse ele, sentado em um estacionamento. Sem transporte público confiável, uma rede informal de mototáxis - conhecida como "Wewa" - é a principal forma de transporte de muitas pessoas em Kinshasa.

Criança trabalha em mototáxi em Kinshasa, capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation

Os mototáxis costumam transportar famílias inteiras e grandes entregas ao passar pelo trânsito. "Se eu conseguir encontrar um emprego seguro, quero pedir demissão. Tenho o sonho de um dia ser um grande comerciante de roupas", disse Bienvenu. Trabalhando seis dias por semana, a maior parte de seus ganhos vão para o proprietário do mototáxi, deixando-o com cerca de 3 mil francos congoleses (US$ 1,50 ou R$ 8,50) por dia.

Nas ruas de Kinshasa - uma metrópole de 17 milhões de habitantes - inúmeras crianças vendem de tudo, desde sacos de batatas fritas a máscaras faciais. E o número está crescendo devido às consequências econômicas da covid-19, dizem os defensores dos direitos da criança.

Cerca de três quartos dos 90 milhões de congoleses vivem em extrema pobreza - sobrevivendo com menos de US$ 1,90 (R$ 10,80) por dia - e o Banco Africano de Desenvolvimento alertou que a economia do país dependente das exportações será afetada pela pandemia.

O Congo é um importante produtor global de cobre e cobalto e a mineração é responsável por cerca de um terço de sua produção nacional. A pandemia desacelerou a demanda por metais no ano passado, levando ao fechamento de minas e cortes de empregos, mas os preços estão se recuperando.

Com mais crianças procurando empregos para sustentar suas famílias, trabalhar para um proprietário de mototáxi é a opção mais lucrativa e atraente, de acordo com Annie Bambe, chefe do Fórum de ONGs pelos Direitos da Criança no Congo (FODJEC). "No início, é como um jogo e depois se torna um trabalho", disse Bambe. "Os adultos devem se recusar a andar de motocicleta dirigida por crianças e os proprietários devem parar de usar crianças para ganhar dinheiro. Ninguém se levanta para condenar este trabalho". 

A Comissão Nacional de Segurança Viária, que faz parte do ministério dos transportes, disse ter recursos limitados para deter motoristas menores de idade e que a polícia de trânsito não poderia "regular a situação".

“Todos devem se envolver, em particular os prefeitos e chefes de bairro para desencorajar essas crianças de dirigir”, disse Jean Bome, secretário executivo da comissão. Antes da pandemia, cerca de 15% das crianças de 5 a 17 anos no Congo estavam envolvidas em trabalho infantil - a maioria realizando atividades perigosas. Os dados são de um relatório de 2019 do Instituto Nacional de Estatística.

A partir dos 15 anos, as crianças no Congo podem fazer trabalhos leves por um máximo de quatro horas por dia com a aprovação dos inspetores do trabalho, mas a idade legal para dirigir é 18.

Jovem conserta mototáxi na capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation

Mas meninos como Bienvenu têm táticas para escapar de multas ou prisão. "Tento não chegar a uma encruzilhada onde possa facilmente cruzar o caminho dos policiais de trânsito. Se for parado, sei como negociar com eles", disse Bienvenu, explicando como pagou subornos no valor de 5 mil francos (menos de US$ 3) para evitar punição.

Proprietário de um mototáxi, Patrick Maweja disse que não contratava crianças, mas sabia de vários outros que o fizeram porque consideravam os jovens motoristas trabalhadores e confiáveis. O chefe da Associação de Mototaxistas do distrito de Tshangu, em Kinshasa, Jean-Pierre Kabangu, disse não aceitar menores de idade, mas reconheceu que a pandemia não deu a algumas crianças escolha a não ser trabalhar.

Para elas, Kabangu ofereceu alguns conselhos. “Os motoristas menores são solicitados a circular pelos bairros periféricos e não a dirigir na avenida, o que é muito perigoso”, disse Kabangu, cuja associação apóia mototaxistas e ajuda a mediar disputas com a polícia de trânsito.

Bambe, da FODJEC, disse que os pais também são culpados por não impedirem que seus filhos trabalhem nessa função. “Para muitos, o importante é que a criança traga de volta os frutos do seu trabalho no final do dia”. Isso soa verdadeiro para Joel, de 17 anos, que começou a dirigir o mototáxi de seu pai em dezembro enquanto a escola estava fechada e planeja conciliar o trabalho com sua educação, que desde então foi retomada.

Joel disse que às vezes se sente envergonhado quando seus colegas o veem dirigindo o mototáxi, mas precisa trabalhar para sustentar sua família. "Eles não sabem que este trabalho me permite estudar", disse Joel - cujo nome completo foi omitido - enquanto consertava um pneu furado em uma garagem. "É o pão com manteiga da minha família."

KINSHASA - O adolescente congolês Bienvenu sonha em ter uma loja de roupas, mas passa os dias dirigindo ilegalmente um mototáxi na movimentada Kinshasa para sustentar sua família durante a pandemia de covid-19.

Dirigindo no trânsito e esquivando-se dos policiais na capital da República Democrática do Congo, o jovem de 16 anos trabalha como mototaxista menor - a idade mínima legal é 18 - desde que seu tio perdeu o emprego em uma agência de viagens há cinco meses.

Bienvenu é uma das milhares de crianças congolesas que, segundo estimativas de instituições de caridade, ingressaram na força de trabalho no último ano devido ao novo coronavírus. Com o fechamento das escolas, muitas crianças começaram a trabalhar para ajudar a colocar comida na mesa em casa. Ele - cujo nome completo foi omitido - quer parar de dirigir, mas seus familiares agora dependem de sua renda.

"Não é minha escolha fazer este trabalho. Decidi fazê-lo para ajudar minha família, com a bênção de meu tio ... todas as noites eu trago meus ganhos para casa", disse ele, sentado em um estacionamento. Sem transporte público confiável, uma rede informal de mototáxis - conhecida como "Wewa" - é a principal forma de transporte de muitas pessoas em Kinshasa.

Criança trabalha em mototáxi em Kinshasa, capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation

Os mototáxis costumam transportar famílias inteiras e grandes entregas ao passar pelo trânsito. "Se eu conseguir encontrar um emprego seguro, quero pedir demissão. Tenho o sonho de um dia ser um grande comerciante de roupas", disse Bienvenu. Trabalhando seis dias por semana, a maior parte de seus ganhos vão para o proprietário do mototáxi, deixando-o com cerca de 3 mil francos congoleses (US$ 1,50 ou R$ 8,50) por dia.

Nas ruas de Kinshasa - uma metrópole de 17 milhões de habitantes - inúmeras crianças vendem de tudo, desde sacos de batatas fritas a máscaras faciais. E o número está crescendo devido às consequências econômicas da covid-19, dizem os defensores dos direitos da criança.

Cerca de três quartos dos 90 milhões de congoleses vivem em extrema pobreza - sobrevivendo com menos de US$ 1,90 (R$ 10,80) por dia - e o Banco Africano de Desenvolvimento alertou que a economia do país dependente das exportações será afetada pela pandemia.

O Congo é um importante produtor global de cobre e cobalto e a mineração é responsável por cerca de um terço de sua produção nacional. A pandemia desacelerou a demanda por metais no ano passado, levando ao fechamento de minas e cortes de empregos, mas os preços estão se recuperando.

Com mais crianças procurando empregos para sustentar suas famílias, trabalhar para um proprietário de mototáxi é a opção mais lucrativa e atraente, de acordo com Annie Bambe, chefe do Fórum de ONGs pelos Direitos da Criança no Congo (FODJEC). "No início, é como um jogo e depois se torna um trabalho", disse Bambe. "Os adultos devem se recusar a andar de motocicleta dirigida por crianças e os proprietários devem parar de usar crianças para ganhar dinheiro. Ninguém se levanta para condenar este trabalho". 

A Comissão Nacional de Segurança Viária, que faz parte do ministério dos transportes, disse ter recursos limitados para deter motoristas menores de idade e que a polícia de trânsito não poderia "regular a situação".

“Todos devem se envolver, em particular os prefeitos e chefes de bairro para desencorajar essas crianças de dirigir”, disse Jean Bome, secretário executivo da comissão. Antes da pandemia, cerca de 15% das crianças de 5 a 17 anos no Congo estavam envolvidas em trabalho infantil - a maioria realizando atividades perigosas. Os dados são de um relatório de 2019 do Instituto Nacional de Estatística.

A partir dos 15 anos, as crianças no Congo podem fazer trabalhos leves por um máximo de quatro horas por dia com a aprovação dos inspetores do trabalho, mas a idade legal para dirigir é 18.

Jovem conserta mototáxi na capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation

Mas meninos como Bienvenu têm táticas para escapar de multas ou prisão. "Tento não chegar a uma encruzilhada onde possa facilmente cruzar o caminho dos policiais de trânsito. Se for parado, sei como negociar com eles", disse Bienvenu, explicando como pagou subornos no valor de 5 mil francos (menos de US$ 3) para evitar punição.

Proprietário de um mototáxi, Patrick Maweja disse que não contratava crianças, mas sabia de vários outros que o fizeram porque consideravam os jovens motoristas trabalhadores e confiáveis. O chefe da Associação de Mototaxistas do distrito de Tshangu, em Kinshasa, Jean-Pierre Kabangu, disse não aceitar menores de idade, mas reconheceu que a pandemia não deu a algumas crianças escolha a não ser trabalhar.

Para elas, Kabangu ofereceu alguns conselhos. “Os motoristas menores são solicitados a circular pelos bairros periféricos e não a dirigir na avenida, o que é muito perigoso”, disse Kabangu, cuja associação apóia mototaxistas e ajuda a mediar disputas com a polícia de trânsito.

Bambe, da FODJEC, disse que os pais também são culpados por não impedirem que seus filhos trabalhem nessa função. “Para muitos, o importante é que a criança traga de volta os frutos do seu trabalho no final do dia”. Isso soa verdadeiro para Joel, de 17 anos, que começou a dirigir o mototáxi de seu pai em dezembro enquanto a escola estava fechada e planeja conciliar o trabalho com sua educação, que desde então foi retomada.

Joel disse que às vezes se sente envergonhado quando seus colegas o veem dirigindo o mototáxi, mas precisa trabalhar para sustentar sua família. "Eles não sabem que este trabalho me permite estudar", disse Joel - cujo nome completo foi omitido - enquanto consertava um pneu furado em uma garagem. "É o pão com manteiga da minha família."

KINSHASA - O adolescente congolês Bienvenu sonha em ter uma loja de roupas, mas passa os dias dirigindo ilegalmente um mototáxi na movimentada Kinshasa para sustentar sua família durante a pandemia de covid-19.

Dirigindo no trânsito e esquivando-se dos policiais na capital da República Democrática do Congo, o jovem de 16 anos trabalha como mototaxista menor - a idade mínima legal é 18 - desde que seu tio perdeu o emprego em uma agência de viagens há cinco meses.

Bienvenu é uma das milhares de crianças congolesas que, segundo estimativas de instituições de caridade, ingressaram na força de trabalho no último ano devido ao novo coronavírus. Com o fechamento das escolas, muitas crianças começaram a trabalhar para ajudar a colocar comida na mesa em casa. Ele - cujo nome completo foi omitido - quer parar de dirigir, mas seus familiares agora dependem de sua renda.

"Não é minha escolha fazer este trabalho. Decidi fazê-lo para ajudar minha família, com a bênção de meu tio ... todas as noites eu trago meus ganhos para casa", disse ele, sentado em um estacionamento. Sem transporte público confiável, uma rede informal de mototáxis - conhecida como "Wewa" - é a principal forma de transporte de muitas pessoas em Kinshasa.

Criança trabalha em mototáxi em Kinshasa, capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation

Os mototáxis costumam transportar famílias inteiras e grandes entregas ao passar pelo trânsito. "Se eu conseguir encontrar um emprego seguro, quero pedir demissão. Tenho o sonho de um dia ser um grande comerciante de roupas", disse Bienvenu. Trabalhando seis dias por semana, a maior parte de seus ganhos vão para o proprietário do mototáxi, deixando-o com cerca de 3 mil francos congoleses (US$ 1,50 ou R$ 8,50) por dia.

Nas ruas de Kinshasa - uma metrópole de 17 milhões de habitantes - inúmeras crianças vendem de tudo, desde sacos de batatas fritas a máscaras faciais. E o número está crescendo devido às consequências econômicas da covid-19, dizem os defensores dos direitos da criança.

Cerca de três quartos dos 90 milhões de congoleses vivem em extrema pobreza - sobrevivendo com menos de US$ 1,90 (R$ 10,80) por dia - e o Banco Africano de Desenvolvimento alertou que a economia do país dependente das exportações será afetada pela pandemia.

O Congo é um importante produtor global de cobre e cobalto e a mineração é responsável por cerca de um terço de sua produção nacional. A pandemia desacelerou a demanda por metais no ano passado, levando ao fechamento de minas e cortes de empregos, mas os preços estão se recuperando.

Com mais crianças procurando empregos para sustentar suas famílias, trabalhar para um proprietário de mototáxi é a opção mais lucrativa e atraente, de acordo com Annie Bambe, chefe do Fórum de ONGs pelos Direitos da Criança no Congo (FODJEC). "No início, é como um jogo e depois se torna um trabalho", disse Bambe. "Os adultos devem se recusar a andar de motocicleta dirigida por crianças e os proprietários devem parar de usar crianças para ganhar dinheiro. Ninguém se levanta para condenar este trabalho". 

A Comissão Nacional de Segurança Viária, que faz parte do ministério dos transportes, disse ter recursos limitados para deter motoristas menores de idade e que a polícia de trânsito não poderia "regular a situação".

“Todos devem se envolver, em particular os prefeitos e chefes de bairro para desencorajar essas crianças de dirigir”, disse Jean Bome, secretário executivo da comissão. Antes da pandemia, cerca de 15% das crianças de 5 a 17 anos no Congo estavam envolvidas em trabalho infantil - a maioria realizando atividades perigosas. Os dados são de um relatório de 2019 do Instituto Nacional de Estatística.

A partir dos 15 anos, as crianças no Congo podem fazer trabalhos leves por um máximo de quatro horas por dia com a aprovação dos inspetores do trabalho, mas a idade legal para dirigir é 18.

Jovem conserta mototáxi na capital do Congo Foto: Jordan Mayenikini/Thomson Reuters Foundation

Mas meninos como Bienvenu têm táticas para escapar de multas ou prisão. "Tento não chegar a uma encruzilhada onde possa facilmente cruzar o caminho dos policiais de trânsito. Se for parado, sei como negociar com eles", disse Bienvenu, explicando como pagou subornos no valor de 5 mil francos (menos de US$ 3) para evitar punição.

Proprietário de um mototáxi, Patrick Maweja disse que não contratava crianças, mas sabia de vários outros que o fizeram porque consideravam os jovens motoristas trabalhadores e confiáveis. O chefe da Associação de Mototaxistas do distrito de Tshangu, em Kinshasa, Jean-Pierre Kabangu, disse não aceitar menores de idade, mas reconheceu que a pandemia não deu a algumas crianças escolha a não ser trabalhar.

Para elas, Kabangu ofereceu alguns conselhos. “Os motoristas menores são solicitados a circular pelos bairros periféricos e não a dirigir na avenida, o que é muito perigoso”, disse Kabangu, cuja associação apóia mototaxistas e ajuda a mediar disputas com a polícia de trânsito.

Bambe, da FODJEC, disse que os pais também são culpados por não impedirem que seus filhos trabalhem nessa função. “Para muitos, o importante é que a criança traga de volta os frutos do seu trabalho no final do dia”. Isso soa verdadeiro para Joel, de 17 anos, que começou a dirigir o mototáxi de seu pai em dezembro enquanto a escola estava fechada e planeja conciliar o trabalho com sua educação, que desde então foi retomada.

Joel disse que às vezes se sente envergonhado quando seus colegas o veem dirigindo o mototáxi, mas precisa trabalhar para sustentar sua família. "Eles não sabem que este trabalho me permite estudar", disse Joel - cujo nome completo foi omitido - enquanto consertava um pneu furado em uma garagem. "É o pão com manteiga da minha família."

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