LONDRES - O Reino Unido registrou um número recorde de casos de covid-19 nesta quarta-feira, 15, ligando o alerta para um novo pico da pandemia no horizonte. Enquanto a variante Delta do novo coronavírus continua predominando no país, o principal conselheiro médico do governo de Boris Johnson já anuncia uma epidemia simultânea de Ômicron nas próximas semanas.
Segundo os dados oficiais, foram registrados 78.610 novos casos da doença nas últimas 24 horas no país. O recorde diário anterior era de 68.053 em 8 de janeiro, em pleno avanço da variante Alfa. O país é um dos mais castigados da Europa, com mais de 146 mil mortos.
“O que temos são duas epidemias uma por cima da outra. Uma epidemia Delta atual, aparentemente estável, e uma epidemia de Ômicron de crescimento muito rápido”, disse o diretor-médico da Inglaterra, Chris Whitty, em entrevista coletiva.
O médico ainda alertou que é possível que novos recordes sejam quebrados nas próximas semanas conforme a ômicron avance pelo Reino Unido. “Infelizmente, temos que ser realistas, pois muitos recordes serão quebrados nas próximas semanas, à medida que as taxas continuam subindo.”
Além dos números de casos, Whitty também citou o aumento das hospitalizações em algumas áreas do país e as festas de fim de ano devem ser um agravante. “Temo que haverá um número crescente de pacientes com Ômicron indo para o NHS (Serviço Nacional de Saúde na sigla em inglês), indo para o hospital, indo para UTIs. Não sabemos as proporções exatas, mas haverá números substanciais. Isso começará a ficar claro, a meu ver, logo após o Natal.”
Ômicron caminha para se tornar dominante
Com este rápido crescimento descrito pelo médico conselheiro, espera-se que a variante Ômicron se torne a predominante no Reino Unido em questão de dias, superando a Delta. Na última segunda-feira, 13, o secretário de Saúde do Reino Unido, Sajid Javid, disse esperar que a Ômicron se tornasse dominante em Londres em questão de horas.
"Nenhuma variante da covid-19 se espalhou tão rápido", disse Javid ao parlamento. "Embora a Ômicron represente mais de 20% dos casos na Inglaterra, já vimos aumentar para mais de 44% em Londres e esperamos que se torne a variante dominante na capital nas próximas 48 horas."
A Europa também diz esperar o mesmo até o início de 2022. O Centro Europeu para Prevenção e Controle de Doenças (ECDC) disse em um relatório que a variante provavelmente ultrapassará a Delta nos primeiros dois meses do próximo ano.
O centro alertou que apenas a vacinação pode não ser suficiente para frear a variante e pediu o reforço de medidas restritivas com a aproximação do Natal. Entre as medidas, o ECDC sugere o retorno ao teletrabalho e maior prudência nas celebrações de fim de ano.
Medidas para conter a variante
O governo de Boris Johnson impôs nesta semana novas restrições para tentar frear o rápido avanço da ômicron, e lançou uma campanha de vacinação de reforço em massa com o objetivo de administrar uma terceira dose a todos os maiores de 18 anos antes do fim do ano.
Até esta quarta-feira, 45% da população já havia recebido a terceira dose da vacina, uma proporção que chega a 88% entre os maiores de 70 anos, anunciou o primeiro-ministro em coletiva de imprensa. Além disso, 81,5% dos britânicos acima de 12 anos já receberam as duas doses da vacina.
Com os números de vacinação se estagnando devido aqueles que se recusam a receber o imunizante, o premiê voltou a fazer um apelo para que a população se vacine. Segundo ele, “a onda da ômicron continua arrasando o Reino Unido e as infecções relacionadas a esta variante estão dobrando em menos de dois dias em algumas regiões".
"Temo que também estejamos vendo um aumento inevitável dos ingressos em hospitais, 10% em nível nacional semana a semana e quase um terço em Londres", a capital onde os níveis de vacinação são mais baixos. Ainda assim, o primeiro-ministro foi otimista em dizer que as pessoas estão correndo para obter suas doses de reforço.
Chris Whitty, por outro lado, vê os dados com cautela, e diz que a informação de que a nova variante seja mais suave que a anterior pode ser interpretada de forma errada. “Eu quero colocar uma advertência muito séria sobre isso”, disse. “Há o perigo de as pessoas interpretarem literal demais ao dizer que isso não é um problema e que não precisamos nos preocupar. Quero ser claro: temo que isso seja um problema.”
“Esta é uma ameaça muito séria no momento. Quão grande é a ameaça? Existem várias coisas que não sabemos. Mas todas as coisas que sabemos são ruins e a principal delas é a velocidade com que isso está se movendo, está se movendo em um ritmo absolutamente fenomenal”, alertou.
O Reino Unido é até o momento o país mais castigado pela variante primeiro identificada na África do Sul. O país já tem dezenas de pacientes internados com confirmação para a variante e na última segunda-feira reportou a primeira morte causada pela Ômicron.
Revés político para Boris Johnson
A piora nos números acontece em meio a uma crise política enfrentada pelo primeiro-ministro devido às suas políticas contra a covid-19. Em uma votação na terça-feira, 14, 99 dos 361 deputados do Partido Conservador se posicionaram contra a obrigatoriedade do passaporte sanitário para acessar grandes eventos, como estádios de futebol ou casas noturnas.
Esta e outras medidas do governo destinadas a frear o rápido avanço da ômicron foram aprovadas, graças ao apoio da oposição trabalhista, que alegou defender o "interesse nacional". Mas esta foi a maior rebelião interna contra Johnson desde sua chegada ao poder em 2019 e um duro revés para sua legitimidade./AFP, REUTERS E WASHINGTON POST