BOLÍVIA - Apoiadores do partido governista Movimento pelo Socialismo (MAS) manifestaram apoio nesta quinta-feira, 11, ao presidente da Bolívia, Luis Arce, diante do que consideram tentativas de desestabilizar sua administração através de uma greve que tem sido parcialmente aplicada desde o início da semana em algumas regiões do país.
Produtores de coca, camponeses e indígenas simpatizantes do governo marcaram presença no gramado do Estádio Municipal de Shinahota, na região do Trópico de Cochabamba - reduto político do ex-presidente Evo Morales -, para apoiar Arce diante dos protestos de setores como trabalhadores do transporte, comerciantes informais e grupos cívicos contra uma lei controversa.
O evento no estádio, liderado por Arce e Morales, também foi convocado para comemorar os dois anos desde que o ex-presidente deixou o país após renunciar ao poder em meio a acusações de ter vencido de forma fraudulenta as eleições de 2019 - o MAS considera que ele sofreu um "golpe de Estado" - e para comemorar um ano desde seu retorno da Argentina.
Morales, que hoje preside o MAS e lidera os sindicatos de produtores de coca no Trópico de Cochabamba, pediu aos militantes do partido governista que organizassem "marchas para as cidades pacificamente" para "defender" o governo de Arce, pois, "caso contrário, a direita voltará para privatizar os recursos naturais".
O ex-presidente opinou que a "direita" está procurando "desgastar" o governo porque "sabe que não vai ganhar" do MAS nas eleições. Arce, por sua vez, concordou com Morales e acusou a oposição de querer "ganhar outra vez através de um golpe de Estado".
O conflito
Nesta quinta-feira a Bolívia chegou ao quarto dia de uma greve nacional que está sendo realizada parcialmente em regiões como Santa Cruz, Cochabamba, Potosí e Tarija.
Santa Cruz, a maior região e motor econômico do país, está liderando os protestos contra a chamada "lei mãe", que os setores mobilizados consideram um ataque às liberdades individuais por dar excessivos poderes ao governo de controle financeiro.
A lei em questão tem como medida inicial o combate à lavagem de dinheiro, mas os críticos alegam que ela permite que sejam investigadas todas as transações de qualquer conta bancária apontadas como suspeitas, independente dos valores movimentados, ao contrário de diversos países onde isso é permitido a partir de uma determinada quantidade de recursos.
Além disso, em um país com uma grande parcela da população no mercado informal, torna-se difícil para essas pessoas comprovar a origem de valores usados por elas para adquirir bens.
Nesta quinta, caminhoneiros fizeram uma caravana que percorreu as ruas da cidade de Santa Cruz exigindo a revogação da polêmica lei. Já em Potosí houve uma mobilização de mineradores de cooperativas contra a lei e as reações violentas da polícia e de apoiadores do MAS contra o protesto naquela região.
O conflito pode se intensificar nesta sexta-feira, 12, quando são esperadas mobilizações em regiões como Chuquisaca, onde comerciantes e líderes sindicais anunciaram uma paralisação de 24 horas.
O ministro da Economia, Marcelo Montenegro, convidou os comerciantes informais a conversarem sobre a lei no sábado, 13, em Cochabamba.
Por sua vez, a ministra da Presidência, María Nela Prada, assegurou que o governo "sempre" foi "aberto ao diálogo e mantém a comunicação com alguns dos setores mobilizados, mas atacou o líder do protesto em Santa Cruz, Rómulo Calvo, a quem chamou de "golpista, antidemocrático e racista".
Segundo Prada, Calvo falou em "derrubar o presidente", embora ele, na verdade, tenha se referido ao risco de que isso aconteça se setores antes simpatizantes do governo, como o dos mineradores de Potosí, se juntarem aos protestos.
O conflito voltou a expor a polarização que persiste na Bolívia desde 2019, com o partido no poder alegando que Evo Morales foi derrubado em um golpe, e seus detratores argumentando que a crise foi o resultado de alegações de fraude a favor dele nas eleições gerais daquele ano, que foram posteriormente anuladas. EFE