Comentaristas têm afirmado que Kamala venceu o debate; os eleitores indecisos não têm tanta certeza


Eleitores afirmam que a vice-presidente falou a respeito de uma visão ampla e abrangente para consertar os problemas mais persistentes do país, mas eles queriam detalhes

Por Jeremy W. Peters, Jack Healy e Campbell Robertson
Atualização:

Há semanas, eleitores indecisos têm pedido mais substância.

Talvez então não seja por acaso que as primeiras palavras da vice-presidente Kamala Harris durante o debate presidencial na terça-feira foram, “Na verdade, eu sou a única pessoa neste palanque com um plano”.

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Mas alguns americanos não se convenceram.

Bob e Sharon Reed, ambos professores aposentados, de 77 anos, que vivem numa fazenda na região central de Pensilvânia, tinham grandes esperanças para o debate entre Kamala e o ex-presidente Donald Trump. Pensavam que conseguiriam decidir qual candidato apoiar em novembro.

Para Sharon, porém, o debate “foi totalmente decepcionante”. O casal terminou a noite se perguntando como os custosos programas que cada candidato apoia — as tarifas de Trump e o auxílio de Harris a famílias jovens e pequenos negócios — ajudaria pessoas como eles, que vivem com uma renda fixa que não foi reajustada segundo a inflação. Ambos disseram que não também ouviram propostas detalhadas sobre imigração ou política externa.

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O debate da noite da terça-feira foi a primeira oportunidade que os eleitores tiveram de ver Trump e Kamala juntos. Os dois candidatos nunca tinham se encontrado em pessoa, o que criou uma trepidação considerável entre apoiadores de ambas as campanhas a respeito da maneira que cada um desempenharia.

Kamala Harris encontra equipe de campanha depois do debate contra Donald Trump na Pensilvânia.  Foto: Haiyun Jiang/The New York Times

As reações imediatas dos analistas políticos foram favoráveis a Kamala, cujos ataques pareceram irritar Trump. Ela o cutucou em relação aos vários indiciamentos criminosos e civis contra ele. Disse que ex-assessores de Trump o consideram “uma desgraça” e que os líderes mundiais riem dele. Num determinado momento, perguntou se ele estaria “confuso” — uma linha provocativa dado o escárnio incessante de Trump à acuidade mental do presidente Joe Biden. E questionou a estabilidade mental de Trump afirmando que ele não conseguiu se conformar com sua derrota em 2020.

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Mas nem todos os eleitores, especialmente aqueles poucos indecisos capazes de definir a eleição, ficaram efusivos em relação ao desempenho da vice-presidente.

Em entrevistas, eleitores indecisos reconheceram que Kamala pareceu mais presidencial que Trump. E afirmaram que ela expôs uma visão ampla e abrangente para consertar alguns dos problemas mais persistentes do país.

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Mas também disseram que ela não pareceu muito diferente de Biden — e eles querem mudança. Acima de tudo, eles queriam saber detalhes, o que não ocorreu.

Os eleitores afirmaram que ficaram satisfeitos por Kamala ter um plano tributário e econômico. Mas queriam saber como isso se tornaria lei em meio a tanta polarização em Washington. Eles sabem que Harris quer dar ajudas aos compradores de sua primeira residência, mas duvidam que a ideia seja realista.

“Ela tentou dizer umas duas vezes, ‘Eu quero fazer isso ou aquilo outro’, e as promessas são boas”, afirmou Sharon. “Espero que ela consiga aprová-las no Congresso.”

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Durante o debate, Kamala encarou um desafio que Trump não tinha: dizer aos americanos o que eles devem esperar de sua presidência — mas com o limite de 2 minutos para as respostas dos candidatos isso seria difícil de qualquer maneira.

Sharon e Bob Reed, professores aposentados na Pensilvânia, ainda se perguntam como propostas dos candidatos podem melhorar a vida do casal.  Foto: Hannah Beier/The New York Times

Os americanos conhecem Trump, especialmente depois dos quatro anos que ele passou na Casa Branca e seus mais de três anos de problemas com a Justiça após deixar Washington derrotado e em desgraça.

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Uma vasta maioria — 90% — de americanos registrados para votar consultados em todo o país afirmou que sabe tudo o que é preciso saber sobre Trump, de acordo com uma pesquisa New York Times/Siena College publicada nesta semana antes do debate.

E o debate parecia conter poucas surpresas para eles.

Shavanaka Kelly, em vive em Milwaukee, disse que suas três filhas adolescentes começaram a rir quando Trump vociferou sobre rumores falsos que circulam em redes sociais afirmando que imigrantes estão roubando e devorando bichos de estimação em Ohio.

“Foi do tipo, dá pra levar esse cara a sério?”, disse ela.

Shavanaka, de 45 anos, gostou muito do que ouviu da vice-presidente, especialmente a respeito do papel de Trump no ataque de 6 de janeiro de 2021 contra o Capitólio dos Estados Unidos. Ainda assim, ela disse que gostaria de ter ouvido propostas mais específicas sobre políticas, especialmente como elas se comparam ao histórico de Biden.

“Ela meio que não se desassociou”, disse, afirmando que Kamala “ainda está em cima do muro”.

Kamala, que segue desconhecida para muitos americanos, corre contra o tempo para convencer os eleitores de que é digna de ocupar a presidência.

As imagens de democratas eufóricos celebrando, no verão (Hemisfério Norte), a entrada dela na disputa não refletem a realidade em muitos lares americanos. 28% de eleitores registrados afirmaram na pesquisa Times/Siena mais recente considerar que precisam saber mais a respeito dela. A maior dúvida em suas mentes, segundo constatou a pesquisa, é sobre quais seriam seus planos e políticas.

Clientes assistem ao debate em bar em Nova York. Foto: Hiroko Masuike/The New York Times

Samira Ali, aluna do 2.º ano na Universidade de Wisconsin-Madison, foi assistir ao debate numa ruidosa reunião no campus, sem saber se vai votar ou não. E deixou o evento ainda sem saber.

“Ela tem de me impressionar”, afirmou Samira, de 19 anos. Como uma pessoa que se mudou recentemente para seu próprio espaço fora do campus e tem de comprar alimentos pela primeira vez na vida, ela disse que queria ouvir Kamala Harris falar mais sobre custos de moradia e inflação. “Ainda não decidi”, afirmou quando o debate estava próximo do fim.

Em Las Vegas, Gerald Mayes, de 40 anos, disse ter ficado com a sensação de que nenhum dos candidatos conseguiu conectar as promessas de campanha com seu orçamento familiar. E o debate o deixou confuso. “Nada está claro para mim. E estou realmente me esforçando para entender”, afirmou ele. “Quero saber como tudo isso impacta minha família financeiramente.”

A estudante de enfermagem Kristen Morris, de 60 anos, moradora de um subúrbio de Charlotte, Carolina do Norte, estava profundamente decepcionada no início do verão com as opções de postulantes à presidência, mas ficou intrigada quando Kamala entrou na disputa. Depois do debate, ela disse que esclareceu sua mente e decidiu votar na vice-presidente.

Ex-republicana de longa data, que votou em Biden em 2020 e recentemente alterou sua afiliação para independente, Kristen disse, “Minhas expectativas foram atendidas”.

Outros eleitores desalentados diante das alternativas também consideraram o debate esclarecedor — mas em relação às suas dúvidas sobre Kamala Harris.

Ex-presidente Donald Trump fala com apoiadores depois do debate.  Foto: Graham Dickie/The New York Times

Keilah Miller, de 34 anos, que vive em Milwaukee, também estava intrigada quanto a Kamala. Ela disse que votou nos democratas em eleições presidenciais recentes, mas decidiu parar totalmente de votar cerca de um ano atrás. Sua situação e a de outras mulheres negras de Milwaukee, segundo Keilah, não melhorou.

Na terça-feira, ela se sentiu inesperadamente atraída por Trump. “O discurso de Trump foi um pouco mais convincente que o dela”, afirmou Keilah. “Acho que estou pendendo mais para os fatos dele do que para a visão dela.”

Ela afirmou que, ainda que seu coração a diga para apoiar a candidatura potencialmente histórica de Kamala Harris, ela flagra a si mesma pensando com carinho a respeito de sua vida antes de Biden assumir como presidente.”Quando Trump estava na presidência, não vou mentir, minha vida era bem melhor”, afirmou ela. “Nunca estive tão mal quanto nos últimos quatro anos. A coisa tem sido bem difícil para mim.”

No sul do Arizona, Jason Henderson, um prestador de serviços militares e ex-soldado, chegou à conclusão de que não vai votar por não ter estômago para engolir nenhum dos candidatos. Assim como Keilah, porém, o debate o fez pender tenuamente para o candidato republicano

“Trump teve a apresentação mais imponente”, afirmou Henderson. “Kamala não fez nada que me tenha feito sentir que ela é melhor. De nenhuma maneira.”

Henderson, que votou no ex-presidente Barack Obama e na sequência em Trump, admitiu que o candidato republicano “pareceu um doido” no debate, mas da mesma forma que em suas aparições em comícios e entrevistas.

As respostas dele sobre Ucrânia foram fracas, afirmou Henderson, mas Trump atacou Kamala com sucesso em relação à fronteira e à imigração. Mesmo que tenha dado respostas melhores sobre aborto e raça, afirmou ele, a vice-presidente não detalhou seus planos tributários para famílias com filhos ou pequenos negócios.

Conforme assistia comentaristas falando sobre o debate em noticiários de TVs a cabo, Henderson disse que se indignou com analistas que criticaram em geral o desempenho de Trump. “Será que eles assistiram ao mesmo debate que eu?”, perguntou-se. Ainda assim, Henderson afirmou que seu novo entusiasmo poderá desaparecer quando o frenesi em torno do debate passar. “Provavelmente retomarei meus sentidos”, afirmou ele. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Há semanas, eleitores indecisos têm pedido mais substância.

Talvez então não seja por acaso que as primeiras palavras da vice-presidente Kamala Harris durante o debate presidencial na terça-feira foram, “Na verdade, eu sou a única pessoa neste palanque com um plano”.

Mas alguns americanos não se convenceram.

Bob e Sharon Reed, ambos professores aposentados, de 77 anos, que vivem numa fazenda na região central de Pensilvânia, tinham grandes esperanças para o debate entre Kamala e o ex-presidente Donald Trump. Pensavam que conseguiriam decidir qual candidato apoiar em novembro.

Para Sharon, porém, o debate “foi totalmente decepcionante”. O casal terminou a noite se perguntando como os custosos programas que cada candidato apoia — as tarifas de Trump e o auxílio de Harris a famílias jovens e pequenos negócios — ajudaria pessoas como eles, que vivem com uma renda fixa que não foi reajustada segundo a inflação. Ambos disseram que não também ouviram propostas detalhadas sobre imigração ou política externa.

O debate da noite da terça-feira foi a primeira oportunidade que os eleitores tiveram de ver Trump e Kamala juntos. Os dois candidatos nunca tinham se encontrado em pessoa, o que criou uma trepidação considerável entre apoiadores de ambas as campanhas a respeito da maneira que cada um desempenharia.

Kamala Harris encontra equipe de campanha depois do debate contra Donald Trump na Pensilvânia.  Foto: Haiyun Jiang/The New York Times

As reações imediatas dos analistas políticos foram favoráveis a Kamala, cujos ataques pareceram irritar Trump. Ela o cutucou em relação aos vários indiciamentos criminosos e civis contra ele. Disse que ex-assessores de Trump o consideram “uma desgraça” e que os líderes mundiais riem dele. Num determinado momento, perguntou se ele estaria “confuso” — uma linha provocativa dado o escárnio incessante de Trump à acuidade mental do presidente Joe Biden. E questionou a estabilidade mental de Trump afirmando que ele não conseguiu se conformar com sua derrota em 2020.

Mas nem todos os eleitores, especialmente aqueles poucos indecisos capazes de definir a eleição, ficaram efusivos em relação ao desempenho da vice-presidente.

Em entrevistas, eleitores indecisos reconheceram que Kamala pareceu mais presidencial que Trump. E afirmaram que ela expôs uma visão ampla e abrangente para consertar alguns dos problemas mais persistentes do país.

Mas também disseram que ela não pareceu muito diferente de Biden — e eles querem mudança. Acima de tudo, eles queriam saber detalhes, o que não ocorreu.

Os eleitores afirmaram que ficaram satisfeitos por Kamala ter um plano tributário e econômico. Mas queriam saber como isso se tornaria lei em meio a tanta polarização em Washington. Eles sabem que Harris quer dar ajudas aos compradores de sua primeira residência, mas duvidam que a ideia seja realista.

“Ela tentou dizer umas duas vezes, ‘Eu quero fazer isso ou aquilo outro’, e as promessas são boas”, afirmou Sharon. “Espero que ela consiga aprová-las no Congresso.”

Durante o debate, Kamala encarou um desafio que Trump não tinha: dizer aos americanos o que eles devem esperar de sua presidência — mas com o limite de 2 minutos para as respostas dos candidatos isso seria difícil de qualquer maneira.

Sharon e Bob Reed, professores aposentados na Pensilvânia, ainda se perguntam como propostas dos candidatos podem melhorar a vida do casal.  Foto: Hannah Beier/The New York Times

Os americanos conhecem Trump, especialmente depois dos quatro anos que ele passou na Casa Branca e seus mais de três anos de problemas com a Justiça após deixar Washington derrotado e em desgraça.

Uma vasta maioria — 90% — de americanos registrados para votar consultados em todo o país afirmou que sabe tudo o que é preciso saber sobre Trump, de acordo com uma pesquisa New York Times/Siena College publicada nesta semana antes do debate.

E o debate parecia conter poucas surpresas para eles.

Shavanaka Kelly, em vive em Milwaukee, disse que suas três filhas adolescentes começaram a rir quando Trump vociferou sobre rumores falsos que circulam em redes sociais afirmando que imigrantes estão roubando e devorando bichos de estimação em Ohio.

“Foi do tipo, dá pra levar esse cara a sério?”, disse ela.

Shavanaka, de 45 anos, gostou muito do que ouviu da vice-presidente, especialmente a respeito do papel de Trump no ataque de 6 de janeiro de 2021 contra o Capitólio dos Estados Unidos. Ainda assim, ela disse que gostaria de ter ouvido propostas mais específicas sobre políticas, especialmente como elas se comparam ao histórico de Biden.

“Ela meio que não se desassociou”, disse, afirmando que Kamala “ainda está em cima do muro”.

Kamala, que segue desconhecida para muitos americanos, corre contra o tempo para convencer os eleitores de que é digna de ocupar a presidência.

As imagens de democratas eufóricos celebrando, no verão (Hemisfério Norte), a entrada dela na disputa não refletem a realidade em muitos lares americanos. 28% de eleitores registrados afirmaram na pesquisa Times/Siena mais recente considerar que precisam saber mais a respeito dela. A maior dúvida em suas mentes, segundo constatou a pesquisa, é sobre quais seriam seus planos e políticas.

Clientes assistem ao debate em bar em Nova York. Foto: Hiroko Masuike/The New York Times

Samira Ali, aluna do 2.º ano na Universidade de Wisconsin-Madison, foi assistir ao debate numa ruidosa reunião no campus, sem saber se vai votar ou não. E deixou o evento ainda sem saber.

“Ela tem de me impressionar”, afirmou Samira, de 19 anos. Como uma pessoa que se mudou recentemente para seu próprio espaço fora do campus e tem de comprar alimentos pela primeira vez na vida, ela disse que queria ouvir Kamala Harris falar mais sobre custos de moradia e inflação. “Ainda não decidi”, afirmou quando o debate estava próximo do fim.

Em Las Vegas, Gerald Mayes, de 40 anos, disse ter ficado com a sensação de que nenhum dos candidatos conseguiu conectar as promessas de campanha com seu orçamento familiar. E o debate o deixou confuso. “Nada está claro para mim. E estou realmente me esforçando para entender”, afirmou ele. “Quero saber como tudo isso impacta minha família financeiramente.”

A estudante de enfermagem Kristen Morris, de 60 anos, moradora de um subúrbio de Charlotte, Carolina do Norte, estava profundamente decepcionada no início do verão com as opções de postulantes à presidência, mas ficou intrigada quando Kamala entrou na disputa. Depois do debate, ela disse que esclareceu sua mente e decidiu votar na vice-presidente.

Ex-republicana de longa data, que votou em Biden em 2020 e recentemente alterou sua afiliação para independente, Kristen disse, “Minhas expectativas foram atendidas”.

Outros eleitores desalentados diante das alternativas também consideraram o debate esclarecedor — mas em relação às suas dúvidas sobre Kamala Harris.

Ex-presidente Donald Trump fala com apoiadores depois do debate.  Foto: Graham Dickie/The New York Times

Keilah Miller, de 34 anos, que vive em Milwaukee, também estava intrigada quanto a Kamala. Ela disse que votou nos democratas em eleições presidenciais recentes, mas decidiu parar totalmente de votar cerca de um ano atrás. Sua situação e a de outras mulheres negras de Milwaukee, segundo Keilah, não melhorou.

Na terça-feira, ela se sentiu inesperadamente atraída por Trump. “O discurso de Trump foi um pouco mais convincente que o dela”, afirmou Keilah. “Acho que estou pendendo mais para os fatos dele do que para a visão dela.”

Ela afirmou que, ainda que seu coração a diga para apoiar a candidatura potencialmente histórica de Kamala Harris, ela flagra a si mesma pensando com carinho a respeito de sua vida antes de Biden assumir como presidente.”Quando Trump estava na presidência, não vou mentir, minha vida era bem melhor”, afirmou ela. “Nunca estive tão mal quanto nos últimos quatro anos. A coisa tem sido bem difícil para mim.”

No sul do Arizona, Jason Henderson, um prestador de serviços militares e ex-soldado, chegou à conclusão de que não vai votar por não ter estômago para engolir nenhum dos candidatos. Assim como Keilah, porém, o debate o fez pender tenuamente para o candidato republicano

“Trump teve a apresentação mais imponente”, afirmou Henderson. “Kamala não fez nada que me tenha feito sentir que ela é melhor. De nenhuma maneira.”

Henderson, que votou no ex-presidente Barack Obama e na sequência em Trump, admitiu que o candidato republicano “pareceu um doido” no debate, mas da mesma forma que em suas aparições em comícios e entrevistas.

As respostas dele sobre Ucrânia foram fracas, afirmou Henderson, mas Trump atacou Kamala com sucesso em relação à fronteira e à imigração. Mesmo que tenha dado respostas melhores sobre aborto e raça, afirmou ele, a vice-presidente não detalhou seus planos tributários para famílias com filhos ou pequenos negócios.

Conforme assistia comentaristas falando sobre o debate em noticiários de TVs a cabo, Henderson disse que se indignou com analistas que criticaram em geral o desempenho de Trump. “Será que eles assistiram ao mesmo debate que eu?”, perguntou-se. Ainda assim, Henderson afirmou que seu novo entusiasmo poderá desaparecer quando o frenesi em torno do debate passar. “Provavelmente retomarei meus sentidos”, afirmou ele. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Há semanas, eleitores indecisos têm pedido mais substância.

Talvez então não seja por acaso que as primeiras palavras da vice-presidente Kamala Harris durante o debate presidencial na terça-feira foram, “Na verdade, eu sou a única pessoa neste palanque com um plano”.

Mas alguns americanos não se convenceram.

Bob e Sharon Reed, ambos professores aposentados, de 77 anos, que vivem numa fazenda na região central de Pensilvânia, tinham grandes esperanças para o debate entre Kamala e o ex-presidente Donald Trump. Pensavam que conseguiriam decidir qual candidato apoiar em novembro.

Para Sharon, porém, o debate “foi totalmente decepcionante”. O casal terminou a noite se perguntando como os custosos programas que cada candidato apoia — as tarifas de Trump e o auxílio de Harris a famílias jovens e pequenos negócios — ajudaria pessoas como eles, que vivem com uma renda fixa que não foi reajustada segundo a inflação. Ambos disseram que não também ouviram propostas detalhadas sobre imigração ou política externa.

O debate da noite da terça-feira foi a primeira oportunidade que os eleitores tiveram de ver Trump e Kamala juntos. Os dois candidatos nunca tinham se encontrado em pessoa, o que criou uma trepidação considerável entre apoiadores de ambas as campanhas a respeito da maneira que cada um desempenharia.

Kamala Harris encontra equipe de campanha depois do debate contra Donald Trump na Pensilvânia.  Foto: Haiyun Jiang/The New York Times

As reações imediatas dos analistas políticos foram favoráveis a Kamala, cujos ataques pareceram irritar Trump. Ela o cutucou em relação aos vários indiciamentos criminosos e civis contra ele. Disse que ex-assessores de Trump o consideram “uma desgraça” e que os líderes mundiais riem dele. Num determinado momento, perguntou se ele estaria “confuso” — uma linha provocativa dado o escárnio incessante de Trump à acuidade mental do presidente Joe Biden. E questionou a estabilidade mental de Trump afirmando que ele não conseguiu se conformar com sua derrota em 2020.

Mas nem todos os eleitores, especialmente aqueles poucos indecisos capazes de definir a eleição, ficaram efusivos em relação ao desempenho da vice-presidente.

Em entrevistas, eleitores indecisos reconheceram que Kamala pareceu mais presidencial que Trump. E afirmaram que ela expôs uma visão ampla e abrangente para consertar alguns dos problemas mais persistentes do país.

Mas também disseram que ela não pareceu muito diferente de Biden — e eles querem mudança. Acima de tudo, eles queriam saber detalhes, o que não ocorreu.

Os eleitores afirmaram que ficaram satisfeitos por Kamala ter um plano tributário e econômico. Mas queriam saber como isso se tornaria lei em meio a tanta polarização em Washington. Eles sabem que Harris quer dar ajudas aos compradores de sua primeira residência, mas duvidam que a ideia seja realista.

“Ela tentou dizer umas duas vezes, ‘Eu quero fazer isso ou aquilo outro’, e as promessas são boas”, afirmou Sharon. “Espero que ela consiga aprová-las no Congresso.”

Durante o debate, Kamala encarou um desafio que Trump não tinha: dizer aos americanos o que eles devem esperar de sua presidência — mas com o limite de 2 minutos para as respostas dos candidatos isso seria difícil de qualquer maneira.

Sharon e Bob Reed, professores aposentados na Pensilvânia, ainda se perguntam como propostas dos candidatos podem melhorar a vida do casal.  Foto: Hannah Beier/The New York Times

Os americanos conhecem Trump, especialmente depois dos quatro anos que ele passou na Casa Branca e seus mais de três anos de problemas com a Justiça após deixar Washington derrotado e em desgraça.

Uma vasta maioria — 90% — de americanos registrados para votar consultados em todo o país afirmou que sabe tudo o que é preciso saber sobre Trump, de acordo com uma pesquisa New York Times/Siena College publicada nesta semana antes do debate.

E o debate parecia conter poucas surpresas para eles.

Shavanaka Kelly, em vive em Milwaukee, disse que suas três filhas adolescentes começaram a rir quando Trump vociferou sobre rumores falsos que circulam em redes sociais afirmando que imigrantes estão roubando e devorando bichos de estimação em Ohio.

“Foi do tipo, dá pra levar esse cara a sério?”, disse ela.

Shavanaka, de 45 anos, gostou muito do que ouviu da vice-presidente, especialmente a respeito do papel de Trump no ataque de 6 de janeiro de 2021 contra o Capitólio dos Estados Unidos. Ainda assim, ela disse que gostaria de ter ouvido propostas mais específicas sobre políticas, especialmente como elas se comparam ao histórico de Biden.

“Ela meio que não se desassociou”, disse, afirmando que Kamala “ainda está em cima do muro”.

Kamala, que segue desconhecida para muitos americanos, corre contra o tempo para convencer os eleitores de que é digna de ocupar a presidência.

As imagens de democratas eufóricos celebrando, no verão (Hemisfério Norte), a entrada dela na disputa não refletem a realidade em muitos lares americanos. 28% de eleitores registrados afirmaram na pesquisa Times/Siena mais recente considerar que precisam saber mais a respeito dela. A maior dúvida em suas mentes, segundo constatou a pesquisa, é sobre quais seriam seus planos e políticas.

Clientes assistem ao debate em bar em Nova York. Foto: Hiroko Masuike/The New York Times

Samira Ali, aluna do 2.º ano na Universidade de Wisconsin-Madison, foi assistir ao debate numa ruidosa reunião no campus, sem saber se vai votar ou não. E deixou o evento ainda sem saber.

“Ela tem de me impressionar”, afirmou Samira, de 19 anos. Como uma pessoa que se mudou recentemente para seu próprio espaço fora do campus e tem de comprar alimentos pela primeira vez na vida, ela disse que queria ouvir Kamala Harris falar mais sobre custos de moradia e inflação. “Ainda não decidi”, afirmou quando o debate estava próximo do fim.

Em Las Vegas, Gerald Mayes, de 40 anos, disse ter ficado com a sensação de que nenhum dos candidatos conseguiu conectar as promessas de campanha com seu orçamento familiar. E o debate o deixou confuso. “Nada está claro para mim. E estou realmente me esforçando para entender”, afirmou ele. “Quero saber como tudo isso impacta minha família financeiramente.”

A estudante de enfermagem Kristen Morris, de 60 anos, moradora de um subúrbio de Charlotte, Carolina do Norte, estava profundamente decepcionada no início do verão com as opções de postulantes à presidência, mas ficou intrigada quando Kamala entrou na disputa. Depois do debate, ela disse que esclareceu sua mente e decidiu votar na vice-presidente.

Ex-republicana de longa data, que votou em Biden em 2020 e recentemente alterou sua afiliação para independente, Kristen disse, “Minhas expectativas foram atendidas”.

Outros eleitores desalentados diante das alternativas também consideraram o debate esclarecedor — mas em relação às suas dúvidas sobre Kamala Harris.

Ex-presidente Donald Trump fala com apoiadores depois do debate.  Foto: Graham Dickie/The New York Times

Keilah Miller, de 34 anos, que vive em Milwaukee, também estava intrigada quanto a Kamala. Ela disse que votou nos democratas em eleições presidenciais recentes, mas decidiu parar totalmente de votar cerca de um ano atrás. Sua situação e a de outras mulheres negras de Milwaukee, segundo Keilah, não melhorou.

Na terça-feira, ela se sentiu inesperadamente atraída por Trump. “O discurso de Trump foi um pouco mais convincente que o dela”, afirmou Keilah. “Acho que estou pendendo mais para os fatos dele do que para a visão dela.”

Ela afirmou que, ainda que seu coração a diga para apoiar a candidatura potencialmente histórica de Kamala Harris, ela flagra a si mesma pensando com carinho a respeito de sua vida antes de Biden assumir como presidente.”Quando Trump estava na presidência, não vou mentir, minha vida era bem melhor”, afirmou ela. “Nunca estive tão mal quanto nos últimos quatro anos. A coisa tem sido bem difícil para mim.”

No sul do Arizona, Jason Henderson, um prestador de serviços militares e ex-soldado, chegou à conclusão de que não vai votar por não ter estômago para engolir nenhum dos candidatos. Assim como Keilah, porém, o debate o fez pender tenuamente para o candidato republicano

“Trump teve a apresentação mais imponente”, afirmou Henderson. “Kamala não fez nada que me tenha feito sentir que ela é melhor. De nenhuma maneira.”

Henderson, que votou no ex-presidente Barack Obama e na sequência em Trump, admitiu que o candidato republicano “pareceu um doido” no debate, mas da mesma forma que em suas aparições em comícios e entrevistas.

As respostas dele sobre Ucrânia foram fracas, afirmou Henderson, mas Trump atacou Kamala com sucesso em relação à fronteira e à imigração. Mesmo que tenha dado respostas melhores sobre aborto e raça, afirmou ele, a vice-presidente não detalhou seus planos tributários para famílias com filhos ou pequenos negócios.

Conforme assistia comentaristas falando sobre o debate em noticiários de TVs a cabo, Henderson disse que se indignou com analistas que criticaram em geral o desempenho de Trump. “Será que eles assistiram ao mesmo debate que eu?”, perguntou-se. Ainda assim, Henderson afirmou que seu novo entusiasmo poderá desaparecer quando o frenesi em torno do debate passar. “Provavelmente retomarei meus sentidos”, afirmou ele. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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