Como a crise econômica da China ameaça o controle de Xi Jinping sobre o país; entenda


China desacelera e desafio econômico ameaça agenda do presidente Xi Jinping após uma década no poder

Por Chris Buckley

Na estratégia de Xi Jinping para assegurar o crescimento da China, o Partido Comunista mantém um controle firme sobre a economia, conduzindo-a de uma era antiga, dependente do mercado imobiliário e de indústrias obsoletas, para um novo período orientado por inovação e gastos em consumo. Mas à medida que essa estratégia é pressionada, Xi poderá ter de abrir mão de parte desse controle.

Os consumidores estão letárgicos. O investimento privado anda devagar. Uma grande firma imobiliária está à beira do colapso. Governos locais administram dívidas incapacitantes. O desemprego entre os jovens continua a aumentar. Reveses econômicos erodem a imagem de Xi de comando ostentoso e emergem talvez como o desafio mais continuado e espinhoso para sua agenda em mais de uma década no poder.

“É um momento de grande incerteza e, pode-se argumentar, o momento de menor confiança em torno do governo de Xi”, afirmou em entrevista o pesquisador Neil Thomas, do Centro para Análise de China da Asia Society. “Quanto pior forem as coisas para a economia chinesa, mais provável será que Xi Jinping tenha de corrigir o curso de alguma maneira.”

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O Presidente da China, Xi Jinping (C), observa a sessão plenária durante a Cimeira dos BRICS de 2023 no Centro de Convenções de Sandton, em Joanesburgo, a 23 de agosto de 2023. Foto: GIANLUIGI GUERCIA / AFP

Anteriormente este ano, Xi iniciou seu terceiro mandato como presidente chinês com ar de invencível. Ele tinha se desvencilhado de três anos de dolorosos lockdowns pandêmicos e estava confiante de que as empresas se recuperariam, comprometido em domar o setor imobiliário carregado de dívidas mesmo enquanto as vendas de residências diminuíam. E contava com um novo secto de líderes leais no Partido Comunista posicionados para fazer avançar seus planos de crescimento.

Agora o governo de Xi confronta um emaranhado de escolhas difíceis. De um lado, o presidente chinês pode ter de dar mais liberdade a empresas privadas e apoio financeiro a governos locais amarrados a dívidas. De outro, ele pode ter dedicar mais de seu poder a adotar medidas dolorosas que, afirmam alguns especialistas, são necessárias para consertar a economia e as finanças do Estado, como a introdução de novos impostos.

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A queda nas vendas de residências é o cerne dos problemas econômicos do país e se deve, ao menos parcialmente, ao desfecho das escolhas de Xi.

O setor imobiliário foi um dos principais impulsionadores do crescimento chinês por mais de duas décadas, mas as construtoras produziram níveis assustadores de dívida, e Xi coibiu empréstimos excessivos  concedidos pelas empresas. Agora, à medida que a crise no setor imobiliário reverbera na macroeconomia, as autoridades aliviaram restrições sobre vendas de residências e podem dar passos maiores.

Uma vista mostra edifícios residenciais em construção em Pequim, China, a 6 de setembro de 2023.  Foto: Tingshu Wang / Reuters
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Nos anos recentes, Xi buscou controlar o capital privado por meio de regulações punitivas, punições a grandes empresas de tecnologia por abusos aos consumidores e alertando contra “a expansão desordenada do capital”. Agora, para estimular o crescimento, Pequim poderá ter de abrir novos setores para empreendedores privados e investidores, que com frequência desconfiam de promessas de mais apoio do governo.

A crise do setor imobiliário chinês também pressiona folhas de pagamento de governos locais, que dependeram por muito tempo de rendimentos com vendas de terras. Alguns especialistas afirmam que o governo central poderá ser forçado a escolher entre dar aos governo locais mais fontes de renda ou assumir parte de seus gastos.

“Xi Jinping gosta de estar no controle, mas muitas dessas mudanças significam abrir mão de parte do controle”, afirmou Dave Rank, ex-subchefe de missão da Embaixada dos Estados Unidos em Pequim, que hoje atua como conselheiro sênior do Cohen Group. E sob a altamente centralizada liderança de Xi, acrescentou ele, “o círculo de indivíduos que tomarão decisões a respeito de como sair deste período tão, tão desafiador é muito pequeno”.

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Construção descontinuada num parque de diversões em Nantong, China, 19 de agosto de 2023. (Qilai Shen/The New York Times) Foto: Qilai Shen / NYT

O partido tem argumentado que os crescentes desafios econômicos do país são administráveis e que novos impulsionadores de crescimento, incluindo veículos elétricos e energia limpa, surgem adiante. De fato, nem todos os observadores acreditam que a economia chinesa se encontre numa espiral descendente aguda.

Mas os percalços recentes colocaram em foco problemas antigos e alimentaram um debate doméstico notavelmente franco a respeito da direção da política econômica sob Xi, especialmente sua expansão do controle do Estado sobre a economia. Mesmo conforme o crescimento diminui, Xi tem se dedicado a fortalecer a segurança nacional contra o que percebe como ameaças do Ocidente.

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Defensores do setor privado têm argumentado com urgência renovada, argumentando que essas políticas estatizantes estão levando a China para um beco sem saída. Usuários de internet chineses circularam um ensaio de um empresário aposentado de  Hong Kong, Lew Mon-hung, que culpa Xi implicitamente pelos problemas econômicos da China declarando: “O problema é a economia, a raiz encontra-se na política”.

FILE Ñ A solar farm in Beijing, Oct. 25, 2022. The economic slowdown is posing perhaps the most sustained challenge to President Xi JinpingÕs agenda in over a decade in power. (Gilles SabriŽ/The New York Times) Foto: NYT / NYT

“Os modos antigos de alcançar crescimento estável não estão funcionando”, afirmou o economista Liu Shijin, que no passado exerceu uma função graduada no governo chinês, em um discurso pronunciado no mês passado que também foi compartilhado por muitos usuários de redes sociais. “As expectativas de instabilidade dos empreendedores e sua falta de confiança estão limitando novas atividades e o crescimento de novas indústrias de ponta.”

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Hu Xingdou, um incisivo acadêmico radicado em Pequim, fez um chamado mais ousado à mudança, instando Xi a encerrar o beligerante estilo “Lobo Guerreiro” de diplomacia, que tem alimentado tensões com muitos países, e reafirmar a importância do livre mercado.

Por enquanto, pelo menos, Xi não parece inclinado a adotar nenhuma grande mudança em sua estratégia maior. E Pequim também tem evitado aplicar um grande plano de resgate para as construtoras e os governo locais.

A liderança da China não quer encorajar uma percepção de que o governo central será o salvador, afirmou Alicia García, economista-chefe para Ásia-Pacífico do banco Natixis.

“É como uma panela de pressão — uma maneira de lhes mostrar que ele quer que eles assumam a responsabilidade por seus próprios problemas”, afirmou ela.

Esta fotografia, tirada a 19 de agosto de 2023, mostra pessoas a participar numa feira de emprego em Pequim. Milhões de licenciados estão a entrar no mercado de trabalho da China numa altura em que o desemprego juvenil está a aumentar. Recentemente, o número atingiu um recorde todos os meses, com 21,3% das pessoas com idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos sem emprego em junho de 2023.  Foto: JADE GAO / AFP

Mas uma abordagem distanciada pode não se sustentar. O governo central controla a maioria dos tributos na China e posteriormente transfere a maioria desses recursos para os governos locais. Mas esse montante é muito menos do que vários condados, vilarejos e cidades precisam para atender demandas de gerar crescimento e implementar políticas de Pequim, o que pressiona os governos locais a contrair dívidas.

Os governos locais, especialmente em muitas regiões mais pobres, podem precisar que o governo central se apresente para absorver parte de suas dívidas destinando-lhes uma  fatia maior das receitas tributárias ou arcando com mais custos de serviços sociais em expansão.

“A maior prioridade eu diria que é reformar o sistema fiscal”, afirmou Bert Hofman, diretor do Instituto de Leste Asiático da Universidade Nacional de Cingapura, a respeito das prioridades da China em política econômica. “Grande parte da desfuncionalidade do sistema decorre de um sistema fiscal que não atende mais ao seu propósito.”

Mas restaurar as finanças do governo ao mesmo tempo tranquilizando investidores privados conforma um dilema assustador em políticas, até mesmo para Xi.

Cortes de impostos pagos pelas empresas já enfraqueceram finanças do governo em anos recentes, especialmente em cidades menores, onde pequenos negócios são responsáveis por grande parte da base da renda. A China poderá precisar restabelecer esses impostos aos níveis anteriores e, por fim, até aplicar novas taxas, incluindo um longamente debatido e longamente postergado imposto sobre propriedade, afirmam alguns especialistas. Mudanças desse tipo poderiam ser profundamente contenciosas, especialmente em tempos difíceis para a economia, e testariam as alegações de Xi de que ele ousaria mudanças que líderes anteriores evitariam.

“Uma reforma fiscal na China requererá de Xi poderes quase absolutos para alcançar o que precisa ser feito”, afirmou García, a economista. “É irônico que o critiquemos por ser poderoso demais, mas de certa maneira ele precisa de ainda mais poder para conseguir operar essa mudança.”

O Presidente chinês Xi Jinping e o Primeiro-Ministro Li Keqiang saem no final da sessão de encerramento do Congresso Nacional do Povo (CNP) no Grande Salão do Povo em Pequim, China, a 11 de março de 2022.  Foto: Carlos Garcia Rawlins / Reuters

Muitos aguardam as reuniões do Partido Comunista nos próximos meses para observar como Xi buscará restaurar a confiança em sua agenda econômica. Em 2013, Xi usou uma reunião do Comitê Central — chamada de “Terceiro Plenário” em razão de sua posição no ciclo quinquenal de reuniões do organismo — para revelar um ambicioso programa de 60 pontos que prometia conceder ao mercado um papel expandido na economia. Muitos dos objetivos ainda não foram alcançados.

Algumas ex-autoridades e economistas chineses alertaram que o tempo pode estar se esgotando para o país empreender mudanças difíceis.

“O mercado imobiliário também atingiu um máximo, o consumo já atingiu um pico”, afirmou o ex-ministro das Finanças Lou Jiwei, numa entrevista recente em vídeo, à revista chinesa Caixin, especializada em negócios, na qual ele defendeu reduções amplas às barreiras oficiais para chineses oriundos de regiões se estabelecerem permanentemente nas cidades. “Nós estamos empacados institucionalmente e, se não resolvermos isso, não há como crescer mais.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Na estratégia de Xi Jinping para assegurar o crescimento da China, o Partido Comunista mantém um controle firme sobre a economia, conduzindo-a de uma era antiga, dependente do mercado imobiliário e de indústrias obsoletas, para um novo período orientado por inovação e gastos em consumo. Mas à medida que essa estratégia é pressionada, Xi poderá ter de abrir mão de parte desse controle.

Os consumidores estão letárgicos. O investimento privado anda devagar. Uma grande firma imobiliária está à beira do colapso. Governos locais administram dívidas incapacitantes. O desemprego entre os jovens continua a aumentar. Reveses econômicos erodem a imagem de Xi de comando ostentoso e emergem talvez como o desafio mais continuado e espinhoso para sua agenda em mais de uma década no poder.

“É um momento de grande incerteza e, pode-se argumentar, o momento de menor confiança em torno do governo de Xi”, afirmou em entrevista o pesquisador Neil Thomas, do Centro para Análise de China da Asia Society. “Quanto pior forem as coisas para a economia chinesa, mais provável será que Xi Jinping tenha de corrigir o curso de alguma maneira.”

O Presidente da China, Xi Jinping (C), observa a sessão plenária durante a Cimeira dos BRICS de 2023 no Centro de Convenções de Sandton, em Joanesburgo, a 23 de agosto de 2023. Foto: GIANLUIGI GUERCIA / AFP

Anteriormente este ano, Xi iniciou seu terceiro mandato como presidente chinês com ar de invencível. Ele tinha se desvencilhado de três anos de dolorosos lockdowns pandêmicos e estava confiante de que as empresas se recuperariam, comprometido em domar o setor imobiliário carregado de dívidas mesmo enquanto as vendas de residências diminuíam. E contava com um novo secto de líderes leais no Partido Comunista posicionados para fazer avançar seus planos de crescimento.

Agora o governo de Xi confronta um emaranhado de escolhas difíceis. De um lado, o presidente chinês pode ter de dar mais liberdade a empresas privadas e apoio financeiro a governos locais amarrados a dívidas. De outro, ele pode ter dedicar mais de seu poder a adotar medidas dolorosas que, afirmam alguns especialistas, são necessárias para consertar a economia e as finanças do Estado, como a introdução de novos impostos.

A queda nas vendas de residências é o cerne dos problemas econômicos do país e se deve, ao menos parcialmente, ao desfecho das escolhas de Xi.

O setor imobiliário foi um dos principais impulsionadores do crescimento chinês por mais de duas décadas, mas as construtoras produziram níveis assustadores de dívida, e Xi coibiu empréstimos excessivos  concedidos pelas empresas. Agora, à medida que a crise no setor imobiliário reverbera na macroeconomia, as autoridades aliviaram restrições sobre vendas de residências e podem dar passos maiores.

Uma vista mostra edifícios residenciais em construção em Pequim, China, a 6 de setembro de 2023.  Foto: Tingshu Wang / Reuters

Nos anos recentes, Xi buscou controlar o capital privado por meio de regulações punitivas, punições a grandes empresas de tecnologia por abusos aos consumidores e alertando contra “a expansão desordenada do capital”. Agora, para estimular o crescimento, Pequim poderá ter de abrir novos setores para empreendedores privados e investidores, que com frequência desconfiam de promessas de mais apoio do governo.

A crise do setor imobiliário chinês também pressiona folhas de pagamento de governos locais, que dependeram por muito tempo de rendimentos com vendas de terras. Alguns especialistas afirmam que o governo central poderá ser forçado a escolher entre dar aos governo locais mais fontes de renda ou assumir parte de seus gastos.

“Xi Jinping gosta de estar no controle, mas muitas dessas mudanças significam abrir mão de parte do controle”, afirmou Dave Rank, ex-subchefe de missão da Embaixada dos Estados Unidos em Pequim, que hoje atua como conselheiro sênior do Cohen Group. E sob a altamente centralizada liderança de Xi, acrescentou ele, “o círculo de indivíduos que tomarão decisões a respeito de como sair deste período tão, tão desafiador é muito pequeno”.

Construção descontinuada num parque de diversões em Nantong, China, 19 de agosto de 2023. (Qilai Shen/The New York Times) Foto: Qilai Shen / NYT

O partido tem argumentado que os crescentes desafios econômicos do país são administráveis e que novos impulsionadores de crescimento, incluindo veículos elétricos e energia limpa, surgem adiante. De fato, nem todos os observadores acreditam que a economia chinesa se encontre numa espiral descendente aguda.

Mas os percalços recentes colocaram em foco problemas antigos e alimentaram um debate doméstico notavelmente franco a respeito da direção da política econômica sob Xi, especialmente sua expansão do controle do Estado sobre a economia. Mesmo conforme o crescimento diminui, Xi tem se dedicado a fortalecer a segurança nacional contra o que percebe como ameaças do Ocidente.

Defensores do setor privado têm argumentado com urgência renovada, argumentando que essas políticas estatizantes estão levando a China para um beco sem saída. Usuários de internet chineses circularam um ensaio de um empresário aposentado de  Hong Kong, Lew Mon-hung, que culpa Xi implicitamente pelos problemas econômicos da China declarando: “O problema é a economia, a raiz encontra-se na política”.

FILE Ñ A solar farm in Beijing, Oct. 25, 2022. The economic slowdown is posing perhaps the most sustained challenge to President Xi JinpingÕs agenda in over a decade in power. (Gilles SabriŽ/The New York Times) Foto: NYT / NYT

“Os modos antigos de alcançar crescimento estável não estão funcionando”, afirmou o economista Liu Shijin, que no passado exerceu uma função graduada no governo chinês, em um discurso pronunciado no mês passado que também foi compartilhado por muitos usuários de redes sociais. “As expectativas de instabilidade dos empreendedores e sua falta de confiança estão limitando novas atividades e o crescimento de novas indústrias de ponta.”

Hu Xingdou, um incisivo acadêmico radicado em Pequim, fez um chamado mais ousado à mudança, instando Xi a encerrar o beligerante estilo “Lobo Guerreiro” de diplomacia, que tem alimentado tensões com muitos países, e reafirmar a importância do livre mercado.

Por enquanto, pelo menos, Xi não parece inclinado a adotar nenhuma grande mudança em sua estratégia maior. E Pequim também tem evitado aplicar um grande plano de resgate para as construtoras e os governo locais.

A liderança da China não quer encorajar uma percepção de que o governo central será o salvador, afirmou Alicia García, economista-chefe para Ásia-Pacífico do banco Natixis.

“É como uma panela de pressão — uma maneira de lhes mostrar que ele quer que eles assumam a responsabilidade por seus próprios problemas”, afirmou ela.

Esta fotografia, tirada a 19 de agosto de 2023, mostra pessoas a participar numa feira de emprego em Pequim. Milhões de licenciados estão a entrar no mercado de trabalho da China numa altura em que o desemprego juvenil está a aumentar. Recentemente, o número atingiu um recorde todos os meses, com 21,3% das pessoas com idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos sem emprego em junho de 2023.  Foto: JADE GAO / AFP

Mas uma abordagem distanciada pode não se sustentar. O governo central controla a maioria dos tributos na China e posteriormente transfere a maioria desses recursos para os governos locais. Mas esse montante é muito menos do que vários condados, vilarejos e cidades precisam para atender demandas de gerar crescimento e implementar políticas de Pequim, o que pressiona os governos locais a contrair dívidas.

Os governos locais, especialmente em muitas regiões mais pobres, podem precisar que o governo central se apresente para absorver parte de suas dívidas destinando-lhes uma  fatia maior das receitas tributárias ou arcando com mais custos de serviços sociais em expansão.

“A maior prioridade eu diria que é reformar o sistema fiscal”, afirmou Bert Hofman, diretor do Instituto de Leste Asiático da Universidade Nacional de Cingapura, a respeito das prioridades da China em política econômica. “Grande parte da desfuncionalidade do sistema decorre de um sistema fiscal que não atende mais ao seu propósito.”

Mas restaurar as finanças do governo ao mesmo tempo tranquilizando investidores privados conforma um dilema assustador em políticas, até mesmo para Xi.

Cortes de impostos pagos pelas empresas já enfraqueceram finanças do governo em anos recentes, especialmente em cidades menores, onde pequenos negócios são responsáveis por grande parte da base da renda. A China poderá precisar restabelecer esses impostos aos níveis anteriores e, por fim, até aplicar novas taxas, incluindo um longamente debatido e longamente postergado imposto sobre propriedade, afirmam alguns especialistas. Mudanças desse tipo poderiam ser profundamente contenciosas, especialmente em tempos difíceis para a economia, e testariam as alegações de Xi de que ele ousaria mudanças que líderes anteriores evitariam.

“Uma reforma fiscal na China requererá de Xi poderes quase absolutos para alcançar o que precisa ser feito”, afirmou García, a economista. “É irônico que o critiquemos por ser poderoso demais, mas de certa maneira ele precisa de ainda mais poder para conseguir operar essa mudança.”

O Presidente chinês Xi Jinping e o Primeiro-Ministro Li Keqiang saem no final da sessão de encerramento do Congresso Nacional do Povo (CNP) no Grande Salão do Povo em Pequim, China, a 11 de março de 2022.  Foto: Carlos Garcia Rawlins / Reuters

Muitos aguardam as reuniões do Partido Comunista nos próximos meses para observar como Xi buscará restaurar a confiança em sua agenda econômica. Em 2013, Xi usou uma reunião do Comitê Central — chamada de “Terceiro Plenário” em razão de sua posição no ciclo quinquenal de reuniões do organismo — para revelar um ambicioso programa de 60 pontos que prometia conceder ao mercado um papel expandido na economia. Muitos dos objetivos ainda não foram alcançados.

Algumas ex-autoridades e economistas chineses alertaram que o tempo pode estar se esgotando para o país empreender mudanças difíceis.

“O mercado imobiliário também atingiu um máximo, o consumo já atingiu um pico”, afirmou o ex-ministro das Finanças Lou Jiwei, numa entrevista recente em vídeo, à revista chinesa Caixin, especializada em negócios, na qual ele defendeu reduções amplas às barreiras oficiais para chineses oriundos de regiões se estabelecerem permanentemente nas cidades. “Nós estamos empacados institucionalmente e, se não resolvermos isso, não há como crescer mais.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Na estratégia de Xi Jinping para assegurar o crescimento da China, o Partido Comunista mantém um controle firme sobre a economia, conduzindo-a de uma era antiga, dependente do mercado imobiliário e de indústrias obsoletas, para um novo período orientado por inovação e gastos em consumo. Mas à medida que essa estratégia é pressionada, Xi poderá ter de abrir mão de parte desse controle.

Os consumidores estão letárgicos. O investimento privado anda devagar. Uma grande firma imobiliária está à beira do colapso. Governos locais administram dívidas incapacitantes. O desemprego entre os jovens continua a aumentar. Reveses econômicos erodem a imagem de Xi de comando ostentoso e emergem talvez como o desafio mais continuado e espinhoso para sua agenda em mais de uma década no poder.

“É um momento de grande incerteza e, pode-se argumentar, o momento de menor confiança em torno do governo de Xi”, afirmou em entrevista o pesquisador Neil Thomas, do Centro para Análise de China da Asia Society. “Quanto pior forem as coisas para a economia chinesa, mais provável será que Xi Jinping tenha de corrigir o curso de alguma maneira.”

O Presidente da China, Xi Jinping (C), observa a sessão plenária durante a Cimeira dos BRICS de 2023 no Centro de Convenções de Sandton, em Joanesburgo, a 23 de agosto de 2023. Foto: GIANLUIGI GUERCIA / AFP

Anteriormente este ano, Xi iniciou seu terceiro mandato como presidente chinês com ar de invencível. Ele tinha se desvencilhado de três anos de dolorosos lockdowns pandêmicos e estava confiante de que as empresas se recuperariam, comprometido em domar o setor imobiliário carregado de dívidas mesmo enquanto as vendas de residências diminuíam. E contava com um novo secto de líderes leais no Partido Comunista posicionados para fazer avançar seus planos de crescimento.

Agora o governo de Xi confronta um emaranhado de escolhas difíceis. De um lado, o presidente chinês pode ter de dar mais liberdade a empresas privadas e apoio financeiro a governos locais amarrados a dívidas. De outro, ele pode ter dedicar mais de seu poder a adotar medidas dolorosas que, afirmam alguns especialistas, são necessárias para consertar a economia e as finanças do Estado, como a introdução de novos impostos.

A queda nas vendas de residências é o cerne dos problemas econômicos do país e se deve, ao menos parcialmente, ao desfecho das escolhas de Xi.

O setor imobiliário foi um dos principais impulsionadores do crescimento chinês por mais de duas décadas, mas as construtoras produziram níveis assustadores de dívida, e Xi coibiu empréstimos excessivos  concedidos pelas empresas. Agora, à medida que a crise no setor imobiliário reverbera na macroeconomia, as autoridades aliviaram restrições sobre vendas de residências e podem dar passos maiores.

Uma vista mostra edifícios residenciais em construção em Pequim, China, a 6 de setembro de 2023.  Foto: Tingshu Wang / Reuters

Nos anos recentes, Xi buscou controlar o capital privado por meio de regulações punitivas, punições a grandes empresas de tecnologia por abusos aos consumidores e alertando contra “a expansão desordenada do capital”. Agora, para estimular o crescimento, Pequim poderá ter de abrir novos setores para empreendedores privados e investidores, que com frequência desconfiam de promessas de mais apoio do governo.

A crise do setor imobiliário chinês também pressiona folhas de pagamento de governos locais, que dependeram por muito tempo de rendimentos com vendas de terras. Alguns especialistas afirmam que o governo central poderá ser forçado a escolher entre dar aos governo locais mais fontes de renda ou assumir parte de seus gastos.

“Xi Jinping gosta de estar no controle, mas muitas dessas mudanças significam abrir mão de parte do controle”, afirmou Dave Rank, ex-subchefe de missão da Embaixada dos Estados Unidos em Pequim, que hoje atua como conselheiro sênior do Cohen Group. E sob a altamente centralizada liderança de Xi, acrescentou ele, “o círculo de indivíduos que tomarão decisões a respeito de como sair deste período tão, tão desafiador é muito pequeno”.

Construção descontinuada num parque de diversões em Nantong, China, 19 de agosto de 2023. (Qilai Shen/The New York Times) Foto: Qilai Shen / NYT

O partido tem argumentado que os crescentes desafios econômicos do país são administráveis e que novos impulsionadores de crescimento, incluindo veículos elétricos e energia limpa, surgem adiante. De fato, nem todos os observadores acreditam que a economia chinesa se encontre numa espiral descendente aguda.

Mas os percalços recentes colocaram em foco problemas antigos e alimentaram um debate doméstico notavelmente franco a respeito da direção da política econômica sob Xi, especialmente sua expansão do controle do Estado sobre a economia. Mesmo conforme o crescimento diminui, Xi tem se dedicado a fortalecer a segurança nacional contra o que percebe como ameaças do Ocidente.

Defensores do setor privado têm argumentado com urgência renovada, argumentando que essas políticas estatizantes estão levando a China para um beco sem saída. Usuários de internet chineses circularam um ensaio de um empresário aposentado de  Hong Kong, Lew Mon-hung, que culpa Xi implicitamente pelos problemas econômicos da China declarando: “O problema é a economia, a raiz encontra-se na política”.

FILE Ñ A solar farm in Beijing, Oct. 25, 2022. The economic slowdown is posing perhaps the most sustained challenge to President Xi JinpingÕs agenda in over a decade in power. (Gilles SabriŽ/The New York Times) Foto: NYT / NYT

“Os modos antigos de alcançar crescimento estável não estão funcionando”, afirmou o economista Liu Shijin, que no passado exerceu uma função graduada no governo chinês, em um discurso pronunciado no mês passado que também foi compartilhado por muitos usuários de redes sociais. “As expectativas de instabilidade dos empreendedores e sua falta de confiança estão limitando novas atividades e o crescimento de novas indústrias de ponta.”

Hu Xingdou, um incisivo acadêmico radicado em Pequim, fez um chamado mais ousado à mudança, instando Xi a encerrar o beligerante estilo “Lobo Guerreiro” de diplomacia, que tem alimentado tensões com muitos países, e reafirmar a importância do livre mercado.

Por enquanto, pelo menos, Xi não parece inclinado a adotar nenhuma grande mudança em sua estratégia maior. E Pequim também tem evitado aplicar um grande plano de resgate para as construtoras e os governo locais.

A liderança da China não quer encorajar uma percepção de que o governo central será o salvador, afirmou Alicia García, economista-chefe para Ásia-Pacífico do banco Natixis.

“É como uma panela de pressão — uma maneira de lhes mostrar que ele quer que eles assumam a responsabilidade por seus próprios problemas”, afirmou ela.

Esta fotografia, tirada a 19 de agosto de 2023, mostra pessoas a participar numa feira de emprego em Pequim. Milhões de licenciados estão a entrar no mercado de trabalho da China numa altura em que o desemprego juvenil está a aumentar. Recentemente, o número atingiu um recorde todos os meses, com 21,3% das pessoas com idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos sem emprego em junho de 2023.  Foto: JADE GAO / AFP

Mas uma abordagem distanciada pode não se sustentar. O governo central controla a maioria dos tributos na China e posteriormente transfere a maioria desses recursos para os governos locais. Mas esse montante é muito menos do que vários condados, vilarejos e cidades precisam para atender demandas de gerar crescimento e implementar políticas de Pequim, o que pressiona os governos locais a contrair dívidas.

Os governos locais, especialmente em muitas regiões mais pobres, podem precisar que o governo central se apresente para absorver parte de suas dívidas destinando-lhes uma  fatia maior das receitas tributárias ou arcando com mais custos de serviços sociais em expansão.

“A maior prioridade eu diria que é reformar o sistema fiscal”, afirmou Bert Hofman, diretor do Instituto de Leste Asiático da Universidade Nacional de Cingapura, a respeito das prioridades da China em política econômica. “Grande parte da desfuncionalidade do sistema decorre de um sistema fiscal que não atende mais ao seu propósito.”

Mas restaurar as finanças do governo ao mesmo tempo tranquilizando investidores privados conforma um dilema assustador em políticas, até mesmo para Xi.

Cortes de impostos pagos pelas empresas já enfraqueceram finanças do governo em anos recentes, especialmente em cidades menores, onde pequenos negócios são responsáveis por grande parte da base da renda. A China poderá precisar restabelecer esses impostos aos níveis anteriores e, por fim, até aplicar novas taxas, incluindo um longamente debatido e longamente postergado imposto sobre propriedade, afirmam alguns especialistas. Mudanças desse tipo poderiam ser profundamente contenciosas, especialmente em tempos difíceis para a economia, e testariam as alegações de Xi de que ele ousaria mudanças que líderes anteriores evitariam.

“Uma reforma fiscal na China requererá de Xi poderes quase absolutos para alcançar o que precisa ser feito”, afirmou García, a economista. “É irônico que o critiquemos por ser poderoso demais, mas de certa maneira ele precisa de ainda mais poder para conseguir operar essa mudança.”

O Presidente chinês Xi Jinping e o Primeiro-Ministro Li Keqiang saem no final da sessão de encerramento do Congresso Nacional do Povo (CNP) no Grande Salão do Povo em Pequim, China, a 11 de março de 2022.  Foto: Carlos Garcia Rawlins / Reuters

Muitos aguardam as reuniões do Partido Comunista nos próximos meses para observar como Xi buscará restaurar a confiança em sua agenda econômica. Em 2013, Xi usou uma reunião do Comitê Central — chamada de “Terceiro Plenário” em razão de sua posição no ciclo quinquenal de reuniões do organismo — para revelar um ambicioso programa de 60 pontos que prometia conceder ao mercado um papel expandido na economia. Muitos dos objetivos ainda não foram alcançados.

Algumas ex-autoridades e economistas chineses alertaram que o tempo pode estar se esgotando para o país empreender mudanças difíceis.

“O mercado imobiliário também atingiu um máximo, o consumo já atingiu um pico”, afirmou o ex-ministro das Finanças Lou Jiwei, numa entrevista recente em vídeo, à revista chinesa Caixin, especializada em negócios, na qual ele defendeu reduções amplas às barreiras oficiais para chineses oriundos de regiões se estabelecerem permanentemente nas cidades. “Nós estamos empacados institucionalmente e, se não resolvermos isso, não há como crescer mais.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Na estratégia de Xi Jinping para assegurar o crescimento da China, o Partido Comunista mantém um controle firme sobre a economia, conduzindo-a de uma era antiga, dependente do mercado imobiliário e de indústrias obsoletas, para um novo período orientado por inovação e gastos em consumo. Mas à medida que essa estratégia é pressionada, Xi poderá ter de abrir mão de parte desse controle.

Os consumidores estão letárgicos. O investimento privado anda devagar. Uma grande firma imobiliária está à beira do colapso. Governos locais administram dívidas incapacitantes. O desemprego entre os jovens continua a aumentar. Reveses econômicos erodem a imagem de Xi de comando ostentoso e emergem talvez como o desafio mais continuado e espinhoso para sua agenda em mais de uma década no poder.

“É um momento de grande incerteza e, pode-se argumentar, o momento de menor confiança em torno do governo de Xi”, afirmou em entrevista o pesquisador Neil Thomas, do Centro para Análise de China da Asia Society. “Quanto pior forem as coisas para a economia chinesa, mais provável será que Xi Jinping tenha de corrigir o curso de alguma maneira.”

O Presidente da China, Xi Jinping (C), observa a sessão plenária durante a Cimeira dos BRICS de 2023 no Centro de Convenções de Sandton, em Joanesburgo, a 23 de agosto de 2023. Foto: GIANLUIGI GUERCIA / AFP

Anteriormente este ano, Xi iniciou seu terceiro mandato como presidente chinês com ar de invencível. Ele tinha se desvencilhado de três anos de dolorosos lockdowns pandêmicos e estava confiante de que as empresas se recuperariam, comprometido em domar o setor imobiliário carregado de dívidas mesmo enquanto as vendas de residências diminuíam. E contava com um novo secto de líderes leais no Partido Comunista posicionados para fazer avançar seus planos de crescimento.

Agora o governo de Xi confronta um emaranhado de escolhas difíceis. De um lado, o presidente chinês pode ter de dar mais liberdade a empresas privadas e apoio financeiro a governos locais amarrados a dívidas. De outro, ele pode ter dedicar mais de seu poder a adotar medidas dolorosas que, afirmam alguns especialistas, são necessárias para consertar a economia e as finanças do Estado, como a introdução de novos impostos.

A queda nas vendas de residências é o cerne dos problemas econômicos do país e se deve, ao menos parcialmente, ao desfecho das escolhas de Xi.

O setor imobiliário foi um dos principais impulsionadores do crescimento chinês por mais de duas décadas, mas as construtoras produziram níveis assustadores de dívida, e Xi coibiu empréstimos excessivos  concedidos pelas empresas. Agora, à medida que a crise no setor imobiliário reverbera na macroeconomia, as autoridades aliviaram restrições sobre vendas de residências e podem dar passos maiores.

Uma vista mostra edifícios residenciais em construção em Pequim, China, a 6 de setembro de 2023.  Foto: Tingshu Wang / Reuters

Nos anos recentes, Xi buscou controlar o capital privado por meio de regulações punitivas, punições a grandes empresas de tecnologia por abusos aos consumidores e alertando contra “a expansão desordenada do capital”. Agora, para estimular o crescimento, Pequim poderá ter de abrir novos setores para empreendedores privados e investidores, que com frequência desconfiam de promessas de mais apoio do governo.

A crise do setor imobiliário chinês também pressiona folhas de pagamento de governos locais, que dependeram por muito tempo de rendimentos com vendas de terras. Alguns especialistas afirmam que o governo central poderá ser forçado a escolher entre dar aos governo locais mais fontes de renda ou assumir parte de seus gastos.

“Xi Jinping gosta de estar no controle, mas muitas dessas mudanças significam abrir mão de parte do controle”, afirmou Dave Rank, ex-subchefe de missão da Embaixada dos Estados Unidos em Pequim, que hoje atua como conselheiro sênior do Cohen Group. E sob a altamente centralizada liderança de Xi, acrescentou ele, “o círculo de indivíduos que tomarão decisões a respeito de como sair deste período tão, tão desafiador é muito pequeno”.

Construção descontinuada num parque de diversões em Nantong, China, 19 de agosto de 2023. (Qilai Shen/The New York Times) Foto: Qilai Shen / NYT

O partido tem argumentado que os crescentes desafios econômicos do país são administráveis e que novos impulsionadores de crescimento, incluindo veículos elétricos e energia limpa, surgem adiante. De fato, nem todos os observadores acreditam que a economia chinesa se encontre numa espiral descendente aguda.

Mas os percalços recentes colocaram em foco problemas antigos e alimentaram um debate doméstico notavelmente franco a respeito da direção da política econômica sob Xi, especialmente sua expansão do controle do Estado sobre a economia. Mesmo conforme o crescimento diminui, Xi tem se dedicado a fortalecer a segurança nacional contra o que percebe como ameaças do Ocidente.

Defensores do setor privado têm argumentado com urgência renovada, argumentando que essas políticas estatizantes estão levando a China para um beco sem saída. Usuários de internet chineses circularam um ensaio de um empresário aposentado de  Hong Kong, Lew Mon-hung, que culpa Xi implicitamente pelos problemas econômicos da China declarando: “O problema é a economia, a raiz encontra-se na política”.

FILE Ñ A solar farm in Beijing, Oct. 25, 2022. The economic slowdown is posing perhaps the most sustained challenge to President Xi JinpingÕs agenda in over a decade in power. (Gilles SabriŽ/The New York Times) Foto: NYT / NYT

“Os modos antigos de alcançar crescimento estável não estão funcionando”, afirmou o economista Liu Shijin, que no passado exerceu uma função graduada no governo chinês, em um discurso pronunciado no mês passado que também foi compartilhado por muitos usuários de redes sociais. “As expectativas de instabilidade dos empreendedores e sua falta de confiança estão limitando novas atividades e o crescimento de novas indústrias de ponta.”

Hu Xingdou, um incisivo acadêmico radicado em Pequim, fez um chamado mais ousado à mudança, instando Xi a encerrar o beligerante estilo “Lobo Guerreiro” de diplomacia, que tem alimentado tensões com muitos países, e reafirmar a importância do livre mercado.

Por enquanto, pelo menos, Xi não parece inclinado a adotar nenhuma grande mudança em sua estratégia maior. E Pequim também tem evitado aplicar um grande plano de resgate para as construtoras e os governo locais.

A liderança da China não quer encorajar uma percepção de que o governo central será o salvador, afirmou Alicia García, economista-chefe para Ásia-Pacífico do banco Natixis.

“É como uma panela de pressão — uma maneira de lhes mostrar que ele quer que eles assumam a responsabilidade por seus próprios problemas”, afirmou ela.

Esta fotografia, tirada a 19 de agosto de 2023, mostra pessoas a participar numa feira de emprego em Pequim. Milhões de licenciados estão a entrar no mercado de trabalho da China numa altura em que o desemprego juvenil está a aumentar. Recentemente, o número atingiu um recorde todos os meses, com 21,3% das pessoas com idades compreendidas entre os 16 e os 24 anos sem emprego em junho de 2023.  Foto: JADE GAO / AFP

Mas uma abordagem distanciada pode não se sustentar. O governo central controla a maioria dos tributos na China e posteriormente transfere a maioria desses recursos para os governos locais. Mas esse montante é muito menos do que vários condados, vilarejos e cidades precisam para atender demandas de gerar crescimento e implementar políticas de Pequim, o que pressiona os governos locais a contrair dívidas.

Os governos locais, especialmente em muitas regiões mais pobres, podem precisar que o governo central se apresente para absorver parte de suas dívidas destinando-lhes uma  fatia maior das receitas tributárias ou arcando com mais custos de serviços sociais em expansão.

“A maior prioridade eu diria que é reformar o sistema fiscal”, afirmou Bert Hofman, diretor do Instituto de Leste Asiático da Universidade Nacional de Cingapura, a respeito das prioridades da China em política econômica. “Grande parte da desfuncionalidade do sistema decorre de um sistema fiscal que não atende mais ao seu propósito.”

Mas restaurar as finanças do governo ao mesmo tempo tranquilizando investidores privados conforma um dilema assustador em políticas, até mesmo para Xi.

Cortes de impostos pagos pelas empresas já enfraqueceram finanças do governo em anos recentes, especialmente em cidades menores, onde pequenos negócios são responsáveis por grande parte da base da renda. A China poderá precisar restabelecer esses impostos aos níveis anteriores e, por fim, até aplicar novas taxas, incluindo um longamente debatido e longamente postergado imposto sobre propriedade, afirmam alguns especialistas. Mudanças desse tipo poderiam ser profundamente contenciosas, especialmente em tempos difíceis para a economia, e testariam as alegações de Xi de que ele ousaria mudanças que líderes anteriores evitariam.

“Uma reforma fiscal na China requererá de Xi poderes quase absolutos para alcançar o que precisa ser feito”, afirmou García, a economista. “É irônico que o critiquemos por ser poderoso demais, mas de certa maneira ele precisa de ainda mais poder para conseguir operar essa mudança.”

O Presidente chinês Xi Jinping e o Primeiro-Ministro Li Keqiang saem no final da sessão de encerramento do Congresso Nacional do Povo (CNP) no Grande Salão do Povo em Pequim, China, a 11 de março de 2022.  Foto: Carlos Garcia Rawlins / Reuters

Muitos aguardam as reuniões do Partido Comunista nos próximos meses para observar como Xi buscará restaurar a confiança em sua agenda econômica. Em 2013, Xi usou uma reunião do Comitê Central — chamada de “Terceiro Plenário” em razão de sua posição no ciclo quinquenal de reuniões do organismo — para revelar um ambicioso programa de 60 pontos que prometia conceder ao mercado um papel expandido na economia. Muitos dos objetivos ainda não foram alcançados.

Algumas ex-autoridades e economistas chineses alertaram que o tempo pode estar se esgotando para o país empreender mudanças difíceis.

“O mercado imobiliário também atingiu um máximo, o consumo já atingiu um pico”, afirmou o ex-ministro das Finanças Lou Jiwei, numa entrevista recente em vídeo, à revista chinesa Caixin, especializada em negócios, na qual ele defendeu reduções amplas às barreiras oficiais para chineses oriundos de regiões se estabelecerem permanentemente nas cidades. “Nós estamos empacados institucionalmente e, se não resolvermos isso, não há como crescer mais.” / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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