Como a Finlândia usou aulas de matemática e história para derrotar as fake news


Aulas de matemática ensinam, por exemplo, como estatísticas podem ser distorcidas; em história, os professores explicam como o uso de determinados elementos são usados para influenciar uma população

Por Luiz Henrique Gomes
Atualização:

Quando a Rússia anexou a Crimeia em 2014, a Finlândia, país vizinho e que fez parte do território russo até 1917, passou a conviver com uma onda de desinformação sem precedentes no país. Notícias falsas começaram a surgir nos diversos sites finlandeses e nas redes sociais para influenciar o debate público, levando o governo finlandês a agir para evitar que mentiras se espalhassem. A resposta foi encontrada na educação e, em 2016, a alfabetização midiática foi incluída no currículo escolar.

Como resultado, o país passou a ser considerado o mais resistente à desinformação entre as nações da Europa pelo estudo anual do instituto Open Society e virou uma referência mundial no combate às fake news. Enquanto países como Brasil e Estados Unidos passaram a sofrer com a disseminação das notícias falsas, a Finlândia se manteve resistente, com índices de confiança no governo de 71%, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em comparação, a média de confiança do estudo é de 41% (o Brasil não foi incluído no relatório).

No plano finlandês, a educação midiática passou a ser tratada em todas as disciplinas no ensino básico para desenvolver o pensamento crítico dos alunos. As aulas de matemática ensinam, por exemplo, como estatísticas podem ser distorcidas; em história, campanhas de propaganda são mostradas e os professores explicam como o uso de determinados elementos - palavras, imagens, metáforas - são usados para influenciar uma população.

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Estudantes escutam professora durante lições de matemática na escola de Hakunila, em Vantaa, norte de Helsinki; Índices altos de educação do país facilitam implementação de políticas públicas contra desinformação Foto: Agnieszka Flak / Reuters

Os alunos também são desafiados constantemente a pesquisar sobre determinados temas e apresentar fontes sólidas, na intenção de se tornarem “detetives digitais”. Há exercícios para que eles examinem alegações encontradas em vídeos de YouTube e em postagens veiculadas em redes sociais, compare o viés da mídia em uma série de notícias “clickbait” e investigue como a desinformação ataca as emoções dos leitores. Outra proposta é que os alunos tentem escrever notícias falsas.

Em uma entrevista concedida em 2020 ao jornal inglês The Guardian, o então diretor da escola franco-finlandesa em Helsinque, Kari Kivinen, afirmou que o objetivo do governo finlandês ao implementar a educação midiática foi criar cidadãos e eleitores críticos, proativos e responsáveis. “Pensar criticamente, verificar, interpretar e avaliar todas as informações que você recebe, onde quer que elas apareçam, é crucial. Fizemos disso uma parte central do que ensinamos, em todos os assuntos”, explicou.

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A implementação das políticas é facilitada pelo histórico da educação na Finlândia, com os índices do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) sendo os mais altos da União Europeia. “Isto (os índices educacionais) constitui uma base particularmente boa para o desenvolvimento e a aplicação deste tipo de iniciativa em larga escala contra a desinformação e a desinformação”, declarou a pesquisadora de notícias falsas e teorias da conspiração da Universidade de Helsinki, Gwenaelle Bauvois.

A inclusão da educação midiática aconteceu em todos o período escolar básico, começando com as crianças e indo até os adolescentes. O objetivo não é fazer que todos os finlandeses desacreditem em tudo que é dito pela Rússia ou acreditem em tudo o que o governo finlandês diz, mas fazer com que a sociedade não aceite todas as informações de forma passiva.

Segundo Kivinen, hoje membro do grupo de combate à desinformação e promoção à educação digital da Comissão Europeia, que desenvolve políticas para toda a União Europeia nesta área desde outubro de 2021, o objetivo é que os alunos se perguntem: quem produziu a notícia? e por quê? há provas do que é dito ou se trata apenas de uma opinião? “Queremos que nossos alunos pensem duas vezes antes de compartilhar uma notícia”, resumiu.

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Crianças pegam livros em escola em Helsinki, na Finlândia: matemática para combater a desinformação  Foto: Jussi Nukari/Lehtikuva

Em 2014, as propagandas russas na Finlândia estavam relacionadas a questões como imigração, União Europeia e a adesão do país à Otan. De acordo com o diretor de comunicações do Centro Nacional de Segurança Cibernética da Finlândia, Jussi Toivanen, os danos não se restringiam ao governo finlandês, mas a toda sociedade. “Então passou a ser uma tarefa de todos, desde o professor do primário até as autoridades do alto escalão, defender a democracia”, disse.

Além da educação, outro pilar no combate à desinformação é a Agência Nacional de Suprimentos de Emergência. Neste ano, a agência criou um centro de pesquisa que foca na “resiliência da informação” para desenvolver, junto com empresas privadas e ONGs, estratégias de verificação de fatos e informações sobre campanhas de desinformação inovadoras.

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O centro é um projeto piloto que vai seguir até 2024. Segundo Gwenaelle Bauvois, as novas estratégias visam, por exemplo, combater a desinformação veiculadas em jogos online. “O principal objetivo desta iniciativa é oferecer ferramentas e procedimentos ao público, às autoridades e aos meios de comunicação para enfrentar e combater a desinformação agora e no futuro”, declarou.

O centro foi criado depois que a agência identificou que a abordagem finlandesa para lidar com as notícias falsas também precisa se dar através de diversas cooperações para desenvolver competências de empresas, autoridades e organizações de comunicação social. O país conta com parcerias entre o governo, empresas privadas e ONGs para auxiliar no combate à desinformação, em trabalhos semelhantes aos desenvolvidos no Brasil pelas agências de checagem.

A mais conhecida delas, a Faktabaari, também realiza projetos na área educacional, produzindo kits de alfabetização midiática para escolas e o público em geral com propostas de exercícios.

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Outra organização relevante no país é a Mediametka, que atua com alfabetização midiática desde 1950, quando os fundadores passaram a alertar sobre os riscos que os quadrinhos podiam causar em crianças. Hoje, a organização também tem projetos na área de inclusão, processo criativo e diversidade cultural para que as crianças e adolescentes do país conheçam os processos midiáticos e saibam como eles funcionam na totalidade.

Essa estrutura, aliada a outras políticas de segurança nacional, como a segurança digital, criam um ambiente que visam reduzir a longo prazo os impactos da desinformação veiculada inclusive nas redes sociais, que funcionam na Finlândia com as mesmas regras de todo o mundo.

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As plataformas são as responsáveis por regular e sinalizar potenciais conteúdos falsos e aumentaram a atenção dedicada à desinformação após a pandemia de covid-19, mas essa mediação é vista muitas vezes como falha. Em muitas ocasiões, os conteúdos falsos são removidos somente após viralizar e os danos já terem sido causados.

“É por isso que a abordagem governamental finlandesa que integre segurança na Internet, literacia digital e mediática e a manutenção de uma forte confiança institucional ajuda, a longo prazo, a travar as notícias falsas e a reduzir o seu impacto”, declarou Bauvois.

Quando a Rússia anexou a Crimeia em 2014, a Finlândia, país vizinho e que fez parte do território russo até 1917, passou a conviver com uma onda de desinformação sem precedentes no país. Notícias falsas começaram a surgir nos diversos sites finlandeses e nas redes sociais para influenciar o debate público, levando o governo finlandês a agir para evitar que mentiras se espalhassem. A resposta foi encontrada na educação e, em 2016, a alfabetização midiática foi incluída no currículo escolar.

Como resultado, o país passou a ser considerado o mais resistente à desinformação entre as nações da Europa pelo estudo anual do instituto Open Society e virou uma referência mundial no combate às fake news. Enquanto países como Brasil e Estados Unidos passaram a sofrer com a disseminação das notícias falsas, a Finlândia se manteve resistente, com índices de confiança no governo de 71%, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em comparação, a média de confiança do estudo é de 41% (o Brasil não foi incluído no relatório).

No plano finlandês, a educação midiática passou a ser tratada em todas as disciplinas no ensino básico para desenvolver o pensamento crítico dos alunos. As aulas de matemática ensinam, por exemplo, como estatísticas podem ser distorcidas; em história, campanhas de propaganda são mostradas e os professores explicam como o uso de determinados elementos - palavras, imagens, metáforas - são usados para influenciar uma população.

Estudantes escutam professora durante lições de matemática na escola de Hakunila, em Vantaa, norte de Helsinki; Índices altos de educação do país facilitam implementação de políticas públicas contra desinformação Foto: Agnieszka Flak / Reuters

Os alunos também são desafiados constantemente a pesquisar sobre determinados temas e apresentar fontes sólidas, na intenção de se tornarem “detetives digitais”. Há exercícios para que eles examinem alegações encontradas em vídeos de YouTube e em postagens veiculadas em redes sociais, compare o viés da mídia em uma série de notícias “clickbait” e investigue como a desinformação ataca as emoções dos leitores. Outra proposta é que os alunos tentem escrever notícias falsas.

Em uma entrevista concedida em 2020 ao jornal inglês The Guardian, o então diretor da escola franco-finlandesa em Helsinque, Kari Kivinen, afirmou que o objetivo do governo finlandês ao implementar a educação midiática foi criar cidadãos e eleitores críticos, proativos e responsáveis. “Pensar criticamente, verificar, interpretar e avaliar todas as informações que você recebe, onde quer que elas apareçam, é crucial. Fizemos disso uma parte central do que ensinamos, em todos os assuntos”, explicou.

A implementação das políticas é facilitada pelo histórico da educação na Finlândia, com os índices do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) sendo os mais altos da União Europeia. “Isto (os índices educacionais) constitui uma base particularmente boa para o desenvolvimento e a aplicação deste tipo de iniciativa em larga escala contra a desinformação e a desinformação”, declarou a pesquisadora de notícias falsas e teorias da conspiração da Universidade de Helsinki, Gwenaelle Bauvois.

A inclusão da educação midiática aconteceu em todos o período escolar básico, começando com as crianças e indo até os adolescentes. O objetivo não é fazer que todos os finlandeses desacreditem em tudo que é dito pela Rússia ou acreditem em tudo o que o governo finlandês diz, mas fazer com que a sociedade não aceite todas as informações de forma passiva.

Segundo Kivinen, hoje membro do grupo de combate à desinformação e promoção à educação digital da Comissão Europeia, que desenvolve políticas para toda a União Europeia nesta área desde outubro de 2021, o objetivo é que os alunos se perguntem: quem produziu a notícia? e por quê? há provas do que é dito ou se trata apenas de uma opinião? “Queremos que nossos alunos pensem duas vezes antes de compartilhar uma notícia”, resumiu.

Crianças pegam livros em escola em Helsinki, na Finlândia: matemática para combater a desinformação  Foto: Jussi Nukari/Lehtikuva

Em 2014, as propagandas russas na Finlândia estavam relacionadas a questões como imigração, União Europeia e a adesão do país à Otan. De acordo com o diretor de comunicações do Centro Nacional de Segurança Cibernética da Finlândia, Jussi Toivanen, os danos não se restringiam ao governo finlandês, mas a toda sociedade. “Então passou a ser uma tarefa de todos, desde o professor do primário até as autoridades do alto escalão, defender a democracia”, disse.

Além da educação, outro pilar no combate à desinformação é a Agência Nacional de Suprimentos de Emergência. Neste ano, a agência criou um centro de pesquisa que foca na “resiliência da informação” para desenvolver, junto com empresas privadas e ONGs, estratégias de verificação de fatos e informações sobre campanhas de desinformação inovadoras.

O centro é um projeto piloto que vai seguir até 2024. Segundo Gwenaelle Bauvois, as novas estratégias visam, por exemplo, combater a desinformação veiculadas em jogos online. “O principal objetivo desta iniciativa é oferecer ferramentas e procedimentos ao público, às autoridades e aos meios de comunicação para enfrentar e combater a desinformação agora e no futuro”, declarou.

O centro foi criado depois que a agência identificou que a abordagem finlandesa para lidar com as notícias falsas também precisa se dar através de diversas cooperações para desenvolver competências de empresas, autoridades e organizações de comunicação social. O país conta com parcerias entre o governo, empresas privadas e ONGs para auxiliar no combate à desinformação, em trabalhos semelhantes aos desenvolvidos no Brasil pelas agências de checagem.

A mais conhecida delas, a Faktabaari, também realiza projetos na área educacional, produzindo kits de alfabetização midiática para escolas e o público em geral com propostas de exercícios.

Outra organização relevante no país é a Mediametka, que atua com alfabetização midiática desde 1950, quando os fundadores passaram a alertar sobre os riscos que os quadrinhos podiam causar em crianças. Hoje, a organização também tem projetos na área de inclusão, processo criativo e diversidade cultural para que as crianças e adolescentes do país conheçam os processos midiáticos e saibam como eles funcionam na totalidade.

Essa estrutura, aliada a outras políticas de segurança nacional, como a segurança digital, criam um ambiente que visam reduzir a longo prazo os impactos da desinformação veiculada inclusive nas redes sociais, que funcionam na Finlândia com as mesmas regras de todo o mundo.

As plataformas são as responsáveis por regular e sinalizar potenciais conteúdos falsos e aumentaram a atenção dedicada à desinformação após a pandemia de covid-19, mas essa mediação é vista muitas vezes como falha. Em muitas ocasiões, os conteúdos falsos são removidos somente após viralizar e os danos já terem sido causados.

“É por isso que a abordagem governamental finlandesa que integre segurança na Internet, literacia digital e mediática e a manutenção de uma forte confiança institucional ajuda, a longo prazo, a travar as notícias falsas e a reduzir o seu impacto”, declarou Bauvois.

Quando a Rússia anexou a Crimeia em 2014, a Finlândia, país vizinho e que fez parte do território russo até 1917, passou a conviver com uma onda de desinformação sem precedentes no país. Notícias falsas começaram a surgir nos diversos sites finlandeses e nas redes sociais para influenciar o debate público, levando o governo finlandês a agir para evitar que mentiras se espalhassem. A resposta foi encontrada na educação e, em 2016, a alfabetização midiática foi incluída no currículo escolar.

Como resultado, o país passou a ser considerado o mais resistente à desinformação entre as nações da Europa pelo estudo anual do instituto Open Society e virou uma referência mundial no combate às fake news. Enquanto países como Brasil e Estados Unidos passaram a sofrer com a disseminação das notícias falsas, a Finlândia se manteve resistente, com índices de confiança no governo de 71%, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em comparação, a média de confiança do estudo é de 41% (o Brasil não foi incluído no relatório).

No plano finlandês, a educação midiática passou a ser tratada em todas as disciplinas no ensino básico para desenvolver o pensamento crítico dos alunos. As aulas de matemática ensinam, por exemplo, como estatísticas podem ser distorcidas; em história, campanhas de propaganda são mostradas e os professores explicam como o uso de determinados elementos - palavras, imagens, metáforas - são usados para influenciar uma população.

Estudantes escutam professora durante lições de matemática na escola de Hakunila, em Vantaa, norte de Helsinki; Índices altos de educação do país facilitam implementação de políticas públicas contra desinformação Foto: Agnieszka Flak / Reuters

Os alunos também são desafiados constantemente a pesquisar sobre determinados temas e apresentar fontes sólidas, na intenção de se tornarem “detetives digitais”. Há exercícios para que eles examinem alegações encontradas em vídeos de YouTube e em postagens veiculadas em redes sociais, compare o viés da mídia em uma série de notícias “clickbait” e investigue como a desinformação ataca as emoções dos leitores. Outra proposta é que os alunos tentem escrever notícias falsas.

Em uma entrevista concedida em 2020 ao jornal inglês The Guardian, o então diretor da escola franco-finlandesa em Helsinque, Kari Kivinen, afirmou que o objetivo do governo finlandês ao implementar a educação midiática foi criar cidadãos e eleitores críticos, proativos e responsáveis. “Pensar criticamente, verificar, interpretar e avaliar todas as informações que você recebe, onde quer que elas apareçam, é crucial. Fizemos disso uma parte central do que ensinamos, em todos os assuntos”, explicou.

A implementação das políticas é facilitada pelo histórico da educação na Finlândia, com os índices do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) sendo os mais altos da União Europeia. “Isto (os índices educacionais) constitui uma base particularmente boa para o desenvolvimento e a aplicação deste tipo de iniciativa em larga escala contra a desinformação e a desinformação”, declarou a pesquisadora de notícias falsas e teorias da conspiração da Universidade de Helsinki, Gwenaelle Bauvois.

A inclusão da educação midiática aconteceu em todos o período escolar básico, começando com as crianças e indo até os adolescentes. O objetivo não é fazer que todos os finlandeses desacreditem em tudo que é dito pela Rússia ou acreditem em tudo o que o governo finlandês diz, mas fazer com que a sociedade não aceite todas as informações de forma passiva.

Segundo Kivinen, hoje membro do grupo de combate à desinformação e promoção à educação digital da Comissão Europeia, que desenvolve políticas para toda a União Europeia nesta área desde outubro de 2021, o objetivo é que os alunos se perguntem: quem produziu a notícia? e por quê? há provas do que é dito ou se trata apenas de uma opinião? “Queremos que nossos alunos pensem duas vezes antes de compartilhar uma notícia”, resumiu.

Crianças pegam livros em escola em Helsinki, na Finlândia: matemática para combater a desinformação  Foto: Jussi Nukari/Lehtikuva

Em 2014, as propagandas russas na Finlândia estavam relacionadas a questões como imigração, União Europeia e a adesão do país à Otan. De acordo com o diretor de comunicações do Centro Nacional de Segurança Cibernética da Finlândia, Jussi Toivanen, os danos não se restringiam ao governo finlandês, mas a toda sociedade. “Então passou a ser uma tarefa de todos, desde o professor do primário até as autoridades do alto escalão, defender a democracia”, disse.

Além da educação, outro pilar no combate à desinformação é a Agência Nacional de Suprimentos de Emergência. Neste ano, a agência criou um centro de pesquisa que foca na “resiliência da informação” para desenvolver, junto com empresas privadas e ONGs, estratégias de verificação de fatos e informações sobre campanhas de desinformação inovadoras.

O centro é um projeto piloto que vai seguir até 2024. Segundo Gwenaelle Bauvois, as novas estratégias visam, por exemplo, combater a desinformação veiculadas em jogos online. “O principal objetivo desta iniciativa é oferecer ferramentas e procedimentos ao público, às autoridades e aos meios de comunicação para enfrentar e combater a desinformação agora e no futuro”, declarou.

O centro foi criado depois que a agência identificou que a abordagem finlandesa para lidar com as notícias falsas também precisa se dar através de diversas cooperações para desenvolver competências de empresas, autoridades e organizações de comunicação social. O país conta com parcerias entre o governo, empresas privadas e ONGs para auxiliar no combate à desinformação, em trabalhos semelhantes aos desenvolvidos no Brasil pelas agências de checagem.

A mais conhecida delas, a Faktabaari, também realiza projetos na área educacional, produzindo kits de alfabetização midiática para escolas e o público em geral com propostas de exercícios.

Outra organização relevante no país é a Mediametka, que atua com alfabetização midiática desde 1950, quando os fundadores passaram a alertar sobre os riscos que os quadrinhos podiam causar em crianças. Hoje, a organização também tem projetos na área de inclusão, processo criativo e diversidade cultural para que as crianças e adolescentes do país conheçam os processos midiáticos e saibam como eles funcionam na totalidade.

Essa estrutura, aliada a outras políticas de segurança nacional, como a segurança digital, criam um ambiente que visam reduzir a longo prazo os impactos da desinformação veiculada inclusive nas redes sociais, que funcionam na Finlândia com as mesmas regras de todo o mundo.

As plataformas são as responsáveis por regular e sinalizar potenciais conteúdos falsos e aumentaram a atenção dedicada à desinformação após a pandemia de covid-19, mas essa mediação é vista muitas vezes como falha. Em muitas ocasiões, os conteúdos falsos são removidos somente após viralizar e os danos já terem sido causados.

“É por isso que a abordagem governamental finlandesa que integre segurança na Internet, literacia digital e mediática e a manutenção de uma forte confiança institucional ajuda, a longo prazo, a travar as notícias falsas e a reduzir o seu impacto”, declarou Bauvois.

Quando a Rússia anexou a Crimeia em 2014, a Finlândia, país vizinho e que fez parte do território russo até 1917, passou a conviver com uma onda de desinformação sem precedentes no país. Notícias falsas começaram a surgir nos diversos sites finlandeses e nas redes sociais para influenciar o debate público, levando o governo finlandês a agir para evitar que mentiras se espalhassem. A resposta foi encontrada na educação e, em 2016, a alfabetização midiática foi incluída no currículo escolar.

Como resultado, o país passou a ser considerado o mais resistente à desinformação entre as nações da Europa pelo estudo anual do instituto Open Society e virou uma referência mundial no combate às fake news. Enquanto países como Brasil e Estados Unidos passaram a sofrer com a disseminação das notícias falsas, a Finlândia se manteve resistente, com índices de confiança no governo de 71%, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em comparação, a média de confiança do estudo é de 41% (o Brasil não foi incluído no relatório).

No plano finlandês, a educação midiática passou a ser tratada em todas as disciplinas no ensino básico para desenvolver o pensamento crítico dos alunos. As aulas de matemática ensinam, por exemplo, como estatísticas podem ser distorcidas; em história, campanhas de propaganda são mostradas e os professores explicam como o uso de determinados elementos - palavras, imagens, metáforas - são usados para influenciar uma população.

Estudantes escutam professora durante lições de matemática na escola de Hakunila, em Vantaa, norte de Helsinki; Índices altos de educação do país facilitam implementação de políticas públicas contra desinformação Foto: Agnieszka Flak / Reuters

Os alunos também são desafiados constantemente a pesquisar sobre determinados temas e apresentar fontes sólidas, na intenção de se tornarem “detetives digitais”. Há exercícios para que eles examinem alegações encontradas em vídeos de YouTube e em postagens veiculadas em redes sociais, compare o viés da mídia em uma série de notícias “clickbait” e investigue como a desinformação ataca as emoções dos leitores. Outra proposta é que os alunos tentem escrever notícias falsas.

Em uma entrevista concedida em 2020 ao jornal inglês The Guardian, o então diretor da escola franco-finlandesa em Helsinque, Kari Kivinen, afirmou que o objetivo do governo finlandês ao implementar a educação midiática foi criar cidadãos e eleitores críticos, proativos e responsáveis. “Pensar criticamente, verificar, interpretar e avaliar todas as informações que você recebe, onde quer que elas apareçam, é crucial. Fizemos disso uma parte central do que ensinamos, em todos os assuntos”, explicou.

A implementação das políticas é facilitada pelo histórico da educação na Finlândia, com os índices do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) sendo os mais altos da União Europeia. “Isto (os índices educacionais) constitui uma base particularmente boa para o desenvolvimento e a aplicação deste tipo de iniciativa em larga escala contra a desinformação e a desinformação”, declarou a pesquisadora de notícias falsas e teorias da conspiração da Universidade de Helsinki, Gwenaelle Bauvois.

A inclusão da educação midiática aconteceu em todos o período escolar básico, começando com as crianças e indo até os adolescentes. O objetivo não é fazer que todos os finlandeses desacreditem em tudo que é dito pela Rússia ou acreditem em tudo o que o governo finlandês diz, mas fazer com que a sociedade não aceite todas as informações de forma passiva.

Segundo Kivinen, hoje membro do grupo de combate à desinformação e promoção à educação digital da Comissão Europeia, que desenvolve políticas para toda a União Europeia nesta área desde outubro de 2021, o objetivo é que os alunos se perguntem: quem produziu a notícia? e por quê? há provas do que é dito ou se trata apenas de uma opinião? “Queremos que nossos alunos pensem duas vezes antes de compartilhar uma notícia”, resumiu.

Crianças pegam livros em escola em Helsinki, na Finlândia: matemática para combater a desinformação  Foto: Jussi Nukari/Lehtikuva

Em 2014, as propagandas russas na Finlândia estavam relacionadas a questões como imigração, União Europeia e a adesão do país à Otan. De acordo com o diretor de comunicações do Centro Nacional de Segurança Cibernética da Finlândia, Jussi Toivanen, os danos não se restringiam ao governo finlandês, mas a toda sociedade. “Então passou a ser uma tarefa de todos, desde o professor do primário até as autoridades do alto escalão, defender a democracia”, disse.

Além da educação, outro pilar no combate à desinformação é a Agência Nacional de Suprimentos de Emergência. Neste ano, a agência criou um centro de pesquisa que foca na “resiliência da informação” para desenvolver, junto com empresas privadas e ONGs, estratégias de verificação de fatos e informações sobre campanhas de desinformação inovadoras.

O centro é um projeto piloto que vai seguir até 2024. Segundo Gwenaelle Bauvois, as novas estratégias visam, por exemplo, combater a desinformação veiculadas em jogos online. “O principal objetivo desta iniciativa é oferecer ferramentas e procedimentos ao público, às autoridades e aos meios de comunicação para enfrentar e combater a desinformação agora e no futuro”, declarou.

O centro foi criado depois que a agência identificou que a abordagem finlandesa para lidar com as notícias falsas também precisa se dar através de diversas cooperações para desenvolver competências de empresas, autoridades e organizações de comunicação social. O país conta com parcerias entre o governo, empresas privadas e ONGs para auxiliar no combate à desinformação, em trabalhos semelhantes aos desenvolvidos no Brasil pelas agências de checagem.

A mais conhecida delas, a Faktabaari, também realiza projetos na área educacional, produzindo kits de alfabetização midiática para escolas e o público em geral com propostas de exercícios.

Outra organização relevante no país é a Mediametka, que atua com alfabetização midiática desde 1950, quando os fundadores passaram a alertar sobre os riscos que os quadrinhos podiam causar em crianças. Hoje, a organização também tem projetos na área de inclusão, processo criativo e diversidade cultural para que as crianças e adolescentes do país conheçam os processos midiáticos e saibam como eles funcionam na totalidade.

Essa estrutura, aliada a outras políticas de segurança nacional, como a segurança digital, criam um ambiente que visam reduzir a longo prazo os impactos da desinformação veiculada inclusive nas redes sociais, que funcionam na Finlândia com as mesmas regras de todo o mundo.

As plataformas são as responsáveis por regular e sinalizar potenciais conteúdos falsos e aumentaram a atenção dedicada à desinformação após a pandemia de covid-19, mas essa mediação é vista muitas vezes como falha. Em muitas ocasiões, os conteúdos falsos são removidos somente após viralizar e os danos já terem sido causados.

“É por isso que a abordagem governamental finlandesa que integre segurança na Internet, literacia digital e mediática e a manutenção de uma forte confiança institucional ajuda, a longo prazo, a travar as notícias falsas e a reduzir o seu impacto”, declarou Bauvois.

Quando a Rússia anexou a Crimeia em 2014, a Finlândia, país vizinho e que fez parte do território russo até 1917, passou a conviver com uma onda de desinformação sem precedentes no país. Notícias falsas começaram a surgir nos diversos sites finlandeses e nas redes sociais para influenciar o debate público, levando o governo finlandês a agir para evitar que mentiras se espalhassem. A resposta foi encontrada na educação e, em 2016, a alfabetização midiática foi incluída no currículo escolar.

Como resultado, o país passou a ser considerado o mais resistente à desinformação entre as nações da Europa pelo estudo anual do instituto Open Society e virou uma referência mundial no combate às fake news. Enquanto países como Brasil e Estados Unidos passaram a sofrer com a disseminação das notícias falsas, a Finlândia se manteve resistente, com índices de confiança no governo de 71%, de acordo com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Em comparação, a média de confiança do estudo é de 41% (o Brasil não foi incluído no relatório).

No plano finlandês, a educação midiática passou a ser tratada em todas as disciplinas no ensino básico para desenvolver o pensamento crítico dos alunos. As aulas de matemática ensinam, por exemplo, como estatísticas podem ser distorcidas; em história, campanhas de propaganda são mostradas e os professores explicam como o uso de determinados elementos - palavras, imagens, metáforas - são usados para influenciar uma população.

Estudantes escutam professora durante lições de matemática na escola de Hakunila, em Vantaa, norte de Helsinki; Índices altos de educação do país facilitam implementação de políticas públicas contra desinformação Foto: Agnieszka Flak / Reuters

Os alunos também são desafiados constantemente a pesquisar sobre determinados temas e apresentar fontes sólidas, na intenção de se tornarem “detetives digitais”. Há exercícios para que eles examinem alegações encontradas em vídeos de YouTube e em postagens veiculadas em redes sociais, compare o viés da mídia em uma série de notícias “clickbait” e investigue como a desinformação ataca as emoções dos leitores. Outra proposta é que os alunos tentem escrever notícias falsas.

Em uma entrevista concedida em 2020 ao jornal inglês The Guardian, o então diretor da escola franco-finlandesa em Helsinque, Kari Kivinen, afirmou que o objetivo do governo finlandês ao implementar a educação midiática foi criar cidadãos e eleitores críticos, proativos e responsáveis. “Pensar criticamente, verificar, interpretar e avaliar todas as informações que você recebe, onde quer que elas apareçam, é crucial. Fizemos disso uma parte central do que ensinamos, em todos os assuntos”, explicou.

A implementação das políticas é facilitada pelo histórico da educação na Finlândia, com os índices do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) sendo os mais altos da União Europeia. “Isto (os índices educacionais) constitui uma base particularmente boa para o desenvolvimento e a aplicação deste tipo de iniciativa em larga escala contra a desinformação e a desinformação”, declarou a pesquisadora de notícias falsas e teorias da conspiração da Universidade de Helsinki, Gwenaelle Bauvois.

A inclusão da educação midiática aconteceu em todos o período escolar básico, começando com as crianças e indo até os adolescentes. O objetivo não é fazer que todos os finlandeses desacreditem em tudo que é dito pela Rússia ou acreditem em tudo o que o governo finlandês diz, mas fazer com que a sociedade não aceite todas as informações de forma passiva.

Segundo Kivinen, hoje membro do grupo de combate à desinformação e promoção à educação digital da Comissão Europeia, que desenvolve políticas para toda a União Europeia nesta área desde outubro de 2021, o objetivo é que os alunos se perguntem: quem produziu a notícia? e por quê? há provas do que é dito ou se trata apenas de uma opinião? “Queremos que nossos alunos pensem duas vezes antes de compartilhar uma notícia”, resumiu.

Crianças pegam livros em escola em Helsinki, na Finlândia: matemática para combater a desinformação  Foto: Jussi Nukari/Lehtikuva

Em 2014, as propagandas russas na Finlândia estavam relacionadas a questões como imigração, União Europeia e a adesão do país à Otan. De acordo com o diretor de comunicações do Centro Nacional de Segurança Cibernética da Finlândia, Jussi Toivanen, os danos não se restringiam ao governo finlandês, mas a toda sociedade. “Então passou a ser uma tarefa de todos, desde o professor do primário até as autoridades do alto escalão, defender a democracia”, disse.

Além da educação, outro pilar no combate à desinformação é a Agência Nacional de Suprimentos de Emergência. Neste ano, a agência criou um centro de pesquisa que foca na “resiliência da informação” para desenvolver, junto com empresas privadas e ONGs, estratégias de verificação de fatos e informações sobre campanhas de desinformação inovadoras.

O centro é um projeto piloto que vai seguir até 2024. Segundo Gwenaelle Bauvois, as novas estratégias visam, por exemplo, combater a desinformação veiculadas em jogos online. “O principal objetivo desta iniciativa é oferecer ferramentas e procedimentos ao público, às autoridades e aos meios de comunicação para enfrentar e combater a desinformação agora e no futuro”, declarou.

O centro foi criado depois que a agência identificou que a abordagem finlandesa para lidar com as notícias falsas também precisa se dar através de diversas cooperações para desenvolver competências de empresas, autoridades e organizações de comunicação social. O país conta com parcerias entre o governo, empresas privadas e ONGs para auxiliar no combate à desinformação, em trabalhos semelhantes aos desenvolvidos no Brasil pelas agências de checagem.

A mais conhecida delas, a Faktabaari, também realiza projetos na área educacional, produzindo kits de alfabetização midiática para escolas e o público em geral com propostas de exercícios.

Outra organização relevante no país é a Mediametka, que atua com alfabetização midiática desde 1950, quando os fundadores passaram a alertar sobre os riscos que os quadrinhos podiam causar em crianças. Hoje, a organização também tem projetos na área de inclusão, processo criativo e diversidade cultural para que as crianças e adolescentes do país conheçam os processos midiáticos e saibam como eles funcionam na totalidade.

Essa estrutura, aliada a outras políticas de segurança nacional, como a segurança digital, criam um ambiente que visam reduzir a longo prazo os impactos da desinformação veiculada inclusive nas redes sociais, que funcionam na Finlândia com as mesmas regras de todo o mundo.

As plataformas são as responsáveis por regular e sinalizar potenciais conteúdos falsos e aumentaram a atenção dedicada à desinformação após a pandemia de covid-19, mas essa mediação é vista muitas vezes como falha. Em muitas ocasiões, os conteúdos falsos são removidos somente após viralizar e os danos já terem sido causados.

“É por isso que a abordagem governamental finlandesa que integre segurança na Internet, literacia digital e mediática e a manutenção de uma forte confiança institucional ajuda, a longo prazo, a travar as notícias falsas e a reduzir o seu impacto”, declarou Bauvois.

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