Na guerra dos drones, Rússia usa sabotagem para colocar a Ucrânia na defensiva


Os drones se tornaram uma arma essencial para ambos os lados, mas a falta de coordenação entre as tropas colocou a Ucrânia em desvantagem.

Por Thomas Gibbons-Neff e Yurii Shyvala

KIEV - O soldado ucraniano disse um palavrão e desprendeu seu visor da cabeça. O monitor tinha primeiro desfocado, a paisagem de árvores despedaçadas e crateras abertas por explosões de projéteis mal era visível, até que desapareceu completamente. Os russos tinham embaralhado o sinal do drone que ele pilotava nas imediações da cidade de Kreminna, no leste da Ucrânia.

“Alguns dias vai tudo bem, em outros o equipamento quebra. Os drones são frágeis, e tem o embaralhamento”, afirmou o soldado, que se identificou por seu codinome, DJ, falando de seu posto subterrâneo, a alguns quilômetros da linha de frente.

Por um período, os ucranianos desfrutaram de uma lua de mel com seus drones kamikaze, que eram usados como mísseis caseiros. As armas pareceram uma alternativa eficaz aos projéteis de artilharia para atacar as forças russas.

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Agora, os dias ruins estão começando a superar os bons: contramedidas eletrônicas tornaram-se uma das armas mais formidáveis dos militares russos, depois de anos aprimorando suas capacidades.

Soldado opera drone com ponto vista em primeira pessoa (FPV) usando óculos de imersão. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

O contra-ataque cibernético russo

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A guerra eletrônica continua uma mão em grande parte invisível do confronto e, da mesma forma que em relação à desvantagem da Ucrânia em números de soldados e estoques de munição, os ucranianos sofrem nessa área — e também em comparação à Rússia. A Rússia tem mais equipamentos de embaralhamento capazes de obstruir sinais ucranianos transmitindo nas mesmas frequências com mais potência. E também demonstra coordenação melhor entre suas unidades.

Com a ajuda militar do Ocidente parecendo bastante incerta e os estoques munições de artilharia diminuindo, a pressão sobre a capacidade aérea não tripulada da Ucrânia apenas cresceu, deixando as forças de Kiev numa posição cada vez mais perigosa.

Entrevistas com soldados, comandantes e analistas militares ucranianos revelam que as capacidades de embaralhamento de sinal da Rússia estão pressionando os estoques limitados da Ucrânia de drones customizados e ameaçando escantear um componente-chave do arsenal ucraniano à medida que o Kremlin fabrica massivamente sua própria frota de drones.

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Os soldados ucranianos descrevem uma dança de idas e vindas, em que um lado desenvolve mudanças tecnológicas — como usar diferentes frequências ou embaralhar componentes de drones — e o outro o alcança em questão de semanas ou meses, cortando do oponente qualquer vantagem breve.

“Há uma corrida armamentista constante”, afirmou o sargento Babay, que comanda um pelotão de pilotos de drones no front leste e que, como DJ e outros entrevistados para a elaboração desta reportagem, se identificou por seu codinome, atendendo ao protocolo militar. “Nós estamos melhorando nossa tecnologia para enfrentar essas novas realidades no campo de batalha, e daqui a algum tempo os russos terão que inventar novamente algo novo para ser capazes de se defender dos nossos ataques.”

Casa destruída é usada para montar e armar drones na linha de frente em Donetsk  Foto: David Guttenfelder/The New York Times
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A guerra dos drones

O uso de drones pequenos e baratos têm sido comum no conflito na Ucrânia desde 2014, quando separatistas apoiados pela Rússia atacaram o leste ucraniano. Mas em 2022, quando a Rússia lançou sua invasão em escala total, o uso dos veículos aéreos não tripulados (vants) sobre os campos de batalha explodiu.

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Em 2023, a Ucrânia ficou em vantagem na guerra de drones acionando vants de corrida compactos, conhecidos como drones com ponto vista em primeira pessoa (FPV), em grandes quantidades.

“FPVs desempenham um papel crítico para nós, já que esses brinquedos são essencialmente projéteis de artilharia móvel, que compensam nossa falta de munição de artilharia”, afirmou o piloto de drones Diadia, que integra a 63.ª Brigada Mecanizada. “Nós trabalhamos à mesma distância que os morteiros, mas nossa precisão é muito maior.”

A força da artilharia com frequência decorre de sua imprecisão. Ao cobrir amplas áreas com explosivos potentes e munições de fragmentação, sistemas de artilharia são capazes de interromper rapidamente operações de batalha mutilando soldados e destruindo veículos. É uma tática quase impossível de replicar com um ou dois drones.

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Conforme os estoques ucranianos de munição de artilharia diminuíram no outono e no inverno (Hemisfério Norte), os FPVs, usados como projéteis guiados, foram eficazes em eliminar e importunar trincheiras e veículos russos. As preciosas munições de artilharia foram reservadas para repelir ataques terrestres da Rússia.

Soldados ucranianos fabricam drones em pequena cozinha em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas desde então o Exército russo melhorou suas capacidades de embaralhamento de sinal e também tem tirado vantagem do tempo ruim avançando sob neblina e chuva, condições em que os drones voam com dificuldade.

“Ambos os lados alcançaram rapidamente os principais desenvolvimentos e táticas em FPVs”, afirmou Samuel Bendett, especialista em drones militares russos do Centro de Análises Navais, uma organização de pesquisa sediada em Virgínia. “E agora essas tecnologias estão amadurecendo muito rapidamente em ambos os lados.”

Anteriormente este mês, a pequena equipe de DJ, parte de uma unidade de guarda nacional conhecida como Brigada Burevii, montou um posto de controle de drones entre as ruínas de uma casa rural, na linha de frente nas proximidades de Kreminna. Os soldados levaram os equipamentos essenciais para transmitir vídeos e comandos dos pilotos para quadricópteros FPV baratos, de fabricação chinesa: antenas, amplificadores de frequência, internet Starlink via satélite e um laptop.

Nas duas primeiras missões, o monitor de DJ mostrou a estepe ucraniana abaixo do drone, que atravessava a região silvestre a mais de 100 quilômetros por hora carregado com cerca de 1,3 quilo de explosivos potentes e destinado a destruir veículos russos. Mas logo o sinal foi perdido, embaralhado pelos russos.

Soldado que atende pelo codinome DJ, à esquerda, e outro soldado chamado Tomas montaram posto avançado de drones nas ruínas de uma casa em Kreminna, no leste da Ucrânia. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A terceira missão, mirando um lançador de granadas em uma linha de trincheiras da Rússia, foi parcialmente bem-sucedida: o drone de US$ 500 explodiu em uma árvore acima da trincheira, mas tinha tido o sinal embaralhado a cerca de 10 metros do local da detonação.

Apesar de potentes, as capacidades da Rússia de embaralhamento de sinal são distribuídas de forma irregular ao longo da linha de frente de mil quilômetros, e seus veículos blindados são com frequência alvos fáceis porque normalmente não possuem sistemas de embaralhamento de sinal instalados, afirmaram soldados ucranianos.

A estratégia ucraniana de drones e guerra eletrônica tem sido financiada e equipada em parte por diferentes grupos internos das Forças Armadas, incluindo o bem-conhecido setor de TI do país. Cada unidade de drone no campo de batalha serve como um tipo de laboratório de testes para novas tecnologias, aquisições e missões de combate.

A estratégia russa é muito mais hierarquizada, com um pesado controle militar. Isso tornou a frota de drones da Rússia mais previsível, com menos variações em táticas e tipos. Mas também permitiu aos militares russos embaralhar sinais de drones ucranianos no campo de batalha sem ter de embaralhar seus próprios sinais, coordenando entre rotas de voo e os equipamentos de embaralhamento.

“Não existe nada assim no lado ucraniano”, afirmou um piloto de drones que defende a Ucrânia.

Soldado ucraniano monta drones em Donetsk.  Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A falta de uma estrutura de comando maior, que seja capaz de coordenar unidades drones na linha de frente, com frequência provoca confusões entre os soldados ucranianos. Pilotos de drones podem em certas ocasiões perder conexão com suas aeronaves e acabar olhando através da câmera de outro drone.

Drones FPV voam em frequência analógica, e, já que muitos são comprados em lojas, os equipamentos saem das caixas sintonizados em uma mesma frequência. Unidades ucranianas de drones costumam precisar de soldados com capacidades de programação para mudar a frequência dos softwares dos drones.

Dev, um mecânico de drones ucraniano, afirmou que esse tema é o segundo mais significativo para as capacidades de embaralhamento de sinal dos russos.

“Há muitos grupos de FPVs operando no front. O front está saturado de grupos de FPVs, e não restam mais canais de frequência”, afirmou ele.

No mês passado, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, estabeleceu as Forças de Sistemas Não Tripulados, um novo setor militar que, entre outras coisas, deverá melhorar a interação das unidades de FPVs.

Soldado da 63ª brigada teste drone armado com bomba falsa em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas a capacidade russa de fabricar em massa seus drones em escala industrial também é um problema premente. Soldados ucranianos afirmaram que com frequência são forçados a suplicar por seus drones, apesar de promessas do governo de fabricá-los aos milhares.

Chef, um diretor de empresa de drones no leste da Ucrânia afirmou que sua unidade realiza entre 20 e 30 missões com drones FPV diariamente dependendo da disponibilidade das aeronaves, que vêm quase inteiramente de doações voluntárias. O governo abasteceu insuficientemente sua unidade, afirmou ele. Em julho, seus soldados receberam alguns equipamentos e depois novamente em dezembro.

“Nós lançamos tantos quanto produzimos”, afirmou ele. Mas “não podemos usar apenas FPVs para vencer esta guerra.”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

KIEV - O soldado ucraniano disse um palavrão e desprendeu seu visor da cabeça. O monitor tinha primeiro desfocado, a paisagem de árvores despedaçadas e crateras abertas por explosões de projéteis mal era visível, até que desapareceu completamente. Os russos tinham embaralhado o sinal do drone que ele pilotava nas imediações da cidade de Kreminna, no leste da Ucrânia.

“Alguns dias vai tudo bem, em outros o equipamento quebra. Os drones são frágeis, e tem o embaralhamento”, afirmou o soldado, que se identificou por seu codinome, DJ, falando de seu posto subterrâneo, a alguns quilômetros da linha de frente.

Por um período, os ucranianos desfrutaram de uma lua de mel com seus drones kamikaze, que eram usados como mísseis caseiros. As armas pareceram uma alternativa eficaz aos projéteis de artilharia para atacar as forças russas.

Agora, os dias ruins estão começando a superar os bons: contramedidas eletrônicas tornaram-se uma das armas mais formidáveis dos militares russos, depois de anos aprimorando suas capacidades.

Soldado opera drone com ponto vista em primeira pessoa (FPV) usando óculos de imersão. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

O contra-ataque cibernético russo

A guerra eletrônica continua uma mão em grande parte invisível do confronto e, da mesma forma que em relação à desvantagem da Ucrânia em números de soldados e estoques de munição, os ucranianos sofrem nessa área — e também em comparação à Rússia. A Rússia tem mais equipamentos de embaralhamento capazes de obstruir sinais ucranianos transmitindo nas mesmas frequências com mais potência. E também demonstra coordenação melhor entre suas unidades.

Com a ajuda militar do Ocidente parecendo bastante incerta e os estoques munições de artilharia diminuindo, a pressão sobre a capacidade aérea não tripulada da Ucrânia apenas cresceu, deixando as forças de Kiev numa posição cada vez mais perigosa.

Entrevistas com soldados, comandantes e analistas militares ucranianos revelam que as capacidades de embaralhamento de sinal da Rússia estão pressionando os estoques limitados da Ucrânia de drones customizados e ameaçando escantear um componente-chave do arsenal ucraniano à medida que o Kremlin fabrica massivamente sua própria frota de drones.

Os soldados ucranianos descrevem uma dança de idas e vindas, em que um lado desenvolve mudanças tecnológicas — como usar diferentes frequências ou embaralhar componentes de drones — e o outro o alcança em questão de semanas ou meses, cortando do oponente qualquer vantagem breve.

“Há uma corrida armamentista constante”, afirmou o sargento Babay, que comanda um pelotão de pilotos de drones no front leste e que, como DJ e outros entrevistados para a elaboração desta reportagem, se identificou por seu codinome, atendendo ao protocolo militar. “Nós estamos melhorando nossa tecnologia para enfrentar essas novas realidades no campo de batalha, e daqui a algum tempo os russos terão que inventar novamente algo novo para ser capazes de se defender dos nossos ataques.”

Casa destruída é usada para montar e armar drones na linha de frente em Donetsk  Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A guerra dos drones

O uso de drones pequenos e baratos têm sido comum no conflito na Ucrânia desde 2014, quando separatistas apoiados pela Rússia atacaram o leste ucraniano. Mas em 2022, quando a Rússia lançou sua invasão em escala total, o uso dos veículos aéreos não tripulados (vants) sobre os campos de batalha explodiu.

Em 2023, a Ucrânia ficou em vantagem na guerra de drones acionando vants de corrida compactos, conhecidos como drones com ponto vista em primeira pessoa (FPV), em grandes quantidades.

“FPVs desempenham um papel crítico para nós, já que esses brinquedos são essencialmente projéteis de artilharia móvel, que compensam nossa falta de munição de artilharia”, afirmou o piloto de drones Diadia, que integra a 63.ª Brigada Mecanizada. “Nós trabalhamos à mesma distância que os morteiros, mas nossa precisão é muito maior.”

A força da artilharia com frequência decorre de sua imprecisão. Ao cobrir amplas áreas com explosivos potentes e munições de fragmentação, sistemas de artilharia são capazes de interromper rapidamente operações de batalha mutilando soldados e destruindo veículos. É uma tática quase impossível de replicar com um ou dois drones.

Conforme os estoques ucranianos de munição de artilharia diminuíram no outono e no inverno (Hemisfério Norte), os FPVs, usados como projéteis guiados, foram eficazes em eliminar e importunar trincheiras e veículos russos. As preciosas munições de artilharia foram reservadas para repelir ataques terrestres da Rússia.

Soldados ucranianos fabricam drones em pequena cozinha em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas desde então o Exército russo melhorou suas capacidades de embaralhamento de sinal e também tem tirado vantagem do tempo ruim avançando sob neblina e chuva, condições em que os drones voam com dificuldade.

“Ambos os lados alcançaram rapidamente os principais desenvolvimentos e táticas em FPVs”, afirmou Samuel Bendett, especialista em drones militares russos do Centro de Análises Navais, uma organização de pesquisa sediada em Virgínia. “E agora essas tecnologias estão amadurecendo muito rapidamente em ambos os lados.”

Anteriormente este mês, a pequena equipe de DJ, parte de uma unidade de guarda nacional conhecida como Brigada Burevii, montou um posto de controle de drones entre as ruínas de uma casa rural, na linha de frente nas proximidades de Kreminna. Os soldados levaram os equipamentos essenciais para transmitir vídeos e comandos dos pilotos para quadricópteros FPV baratos, de fabricação chinesa: antenas, amplificadores de frequência, internet Starlink via satélite e um laptop.

Nas duas primeiras missões, o monitor de DJ mostrou a estepe ucraniana abaixo do drone, que atravessava a região silvestre a mais de 100 quilômetros por hora carregado com cerca de 1,3 quilo de explosivos potentes e destinado a destruir veículos russos. Mas logo o sinal foi perdido, embaralhado pelos russos.

Soldado que atende pelo codinome DJ, à esquerda, e outro soldado chamado Tomas montaram posto avançado de drones nas ruínas de uma casa em Kreminna, no leste da Ucrânia. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A terceira missão, mirando um lançador de granadas em uma linha de trincheiras da Rússia, foi parcialmente bem-sucedida: o drone de US$ 500 explodiu em uma árvore acima da trincheira, mas tinha tido o sinal embaralhado a cerca de 10 metros do local da detonação.

Apesar de potentes, as capacidades da Rússia de embaralhamento de sinal são distribuídas de forma irregular ao longo da linha de frente de mil quilômetros, e seus veículos blindados são com frequência alvos fáceis porque normalmente não possuem sistemas de embaralhamento de sinal instalados, afirmaram soldados ucranianos.

A estratégia ucraniana de drones e guerra eletrônica tem sido financiada e equipada em parte por diferentes grupos internos das Forças Armadas, incluindo o bem-conhecido setor de TI do país. Cada unidade de drone no campo de batalha serve como um tipo de laboratório de testes para novas tecnologias, aquisições e missões de combate.

A estratégia russa é muito mais hierarquizada, com um pesado controle militar. Isso tornou a frota de drones da Rússia mais previsível, com menos variações em táticas e tipos. Mas também permitiu aos militares russos embaralhar sinais de drones ucranianos no campo de batalha sem ter de embaralhar seus próprios sinais, coordenando entre rotas de voo e os equipamentos de embaralhamento.

“Não existe nada assim no lado ucraniano”, afirmou um piloto de drones que defende a Ucrânia.

Soldado ucraniano monta drones em Donetsk.  Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A falta de uma estrutura de comando maior, que seja capaz de coordenar unidades drones na linha de frente, com frequência provoca confusões entre os soldados ucranianos. Pilotos de drones podem em certas ocasiões perder conexão com suas aeronaves e acabar olhando através da câmera de outro drone.

Drones FPV voam em frequência analógica, e, já que muitos são comprados em lojas, os equipamentos saem das caixas sintonizados em uma mesma frequência. Unidades ucranianas de drones costumam precisar de soldados com capacidades de programação para mudar a frequência dos softwares dos drones.

Dev, um mecânico de drones ucraniano, afirmou que esse tema é o segundo mais significativo para as capacidades de embaralhamento de sinal dos russos.

“Há muitos grupos de FPVs operando no front. O front está saturado de grupos de FPVs, e não restam mais canais de frequência”, afirmou ele.

No mês passado, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, estabeleceu as Forças de Sistemas Não Tripulados, um novo setor militar que, entre outras coisas, deverá melhorar a interação das unidades de FPVs.

Soldado da 63ª brigada teste drone armado com bomba falsa em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas a capacidade russa de fabricar em massa seus drones em escala industrial também é um problema premente. Soldados ucranianos afirmaram que com frequência são forçados a suplicar por seus drones, apesar de promessas do governo de fabricá-los aos milhares.

Chef, um diretor de empresa de drones no leste da Ucrânia afirmou que sua unidade realiza entre 20 e 30 missões com drones FPV diariamente dependendo da disponibilidade das aeronaves, que vêm quase inteiramente de doações voluntárias. O governo abasteceu insuficientemente sua unidade, afirmou ele. Em julho, seus soldados receberam alguns equipamentos e depois novamente em dezembro.

“Nós lançamos tantos quanto produzimos”, afirmou ele. Mas “não podemos usar apenas FPVs para vencer esta guerra.”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

KIEV - O soldado ucraniano disse um palavrão e desprendeu seu visor da cabeça. O monitor tinha primeiro desfocado, a paisagem de árvores despedaçadas e crateras abertas por explosões de projéteis mal era visível, até que desapareceu completamente. Os russos tinham embaralhado o sinal do drone que ele pilotava nas imediações da cidade de Kreminna, no leste da Ucrânia.

“Alguns dias vai tudo bem, em outros o equipamento quebra. Os drones são frágeis, e tem o embaralhamento”, afirmou o soldado, que se identificou por seu codinome, DJ, falando de seu posto subterrâneo, a alguns quilômetros da linha de frente.

Por um período, os ucranianos desfrutaram de uma lua de mel com seus drones kamikaze, que eram usados como mísseis caseiros. As armas pareceram uma alternativa eficaz aos projéteis de artilharia para atacar as forças russas.

Agora, os dias ruins estão começando a superar os bons: contramedidas eletrônicas tornaram-se uma das armas mais formidáveis dos militares russos, depois de anos aprimorando suas capacidades.

Soldado opera drone com ponto vista em primeira pessoa (FPV) usando óculos de imersão. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

O contra-ataque cibernético russo

A guerra eletrônica continua uma mão em grande parte invisível do confronto e, da mesma forma que em relação à desvantagem da Ucrânia em números de soldados e estoques de munição, os ucranianos sofrem nessa área — e também em comparação à Rússia. A Rússia tem mais equipamentos de embaralhamento capazes de obstruir sinais ucranianos transmitindo nas mesmas frequências com mais potência. E também demonstra coordenação melhor entre suas unidades.

Com a ajuda militar do Ocidente parecendo bastante incerta e os estoques munições de artilharia diminuindo, a pressão sobre a capacidade aérea não tripulada da Ucrânia apenas cresceu, deixando as forças de Kiev numa posição cada vez mais perigosa.

Entrevistas com soldados, comandantes e analistas militares ucranianos revelam que as capacidades de embaralhamento de sinal da Rússia estão pressionando os estoques limitados da Ucrânia de drones customizados e ameaçando escantear um componente-chave do arsenal ucraniano à medida que o Kremlin fabrica massivamente sua própria frota de drones.

Os soldados ucranianos descrevem uma dança de idas e vindas, em que um lado desenvolve mudanças tecnológicas — como usar diferentes frequências ou embaralhar componentes de drones — e o outro o alcança em questão de semanas ou meses, cortando do oponente qualquer vantagem breve.

“Há uma corrida armamentista constante”, afirmou o sargento Babay, que comanda um pelotão de pilotos de drones no front leste e que, como DJ e outros entrevistados para a elaboração desta reportagem, se identificou por seu codinome, atendendo ao protocolo militar. “Nós estamos melhorando nossa tecnologia para enfrentar essas novas realidades no campo de batalha, e daqui a algum tempo os russos terão que inventar novamente algo novo para ser capazes de se defender dos nossos ataques.”

Casa destruída é usada para montar e armar drones na linha de frente em Donetsk  Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A guerra dos drones

O uso de drones pequenos e baratos têm sido comum no conflito na Ucrânia desde 2014, quando separatistas apoiados pela Rússia atacaram o leste ucraniano. Mas em 2022, quando a Rússia lançou sua invasão em escala total, o uso dos veículos aéreos não tripulados (vants) sobre os campos de batalha explodiu.

Em 2023, a Ucrânia ficou em vantagem na guerra de drones acionando vants de corrida compactos, conhecidos como drones com ponto vista em primeira pessoa (FPV), em grandes quantidades.

“FPVs desempenham um papel crítico para nós, já que esses brinquedos são essencialmente projéteis de artilharia móvel, que compensam nossa falta de munição de artilharia”, afirmou o piloto de drones Diadia, que integra a 63.ª Brigada Mecanizada. “Nós trabalhamos à mesma distância que os morteiros, mas nossa precisão é muito maior.”

A força da artilharia com frequência decorre de sua imprecisão. Ao cobrir amplas áreas com explosivos potentes e munições de fragmentação, sistemas de artilharia são capazes de interromper rapidamente operações de batalha mutilando soldados e destruindo veículos. É uma tática quase impossível de replicar com um ou dois drones.

Conforme os estoques ucranianos de munição de artilharia diminuíram no outono e no inverno (Hemisfério Norte), os FPVs, usados como projéteis guiados, foram eficazes em eliminar e importunar trincheiras e veículos russos. As preciosas munições de artilharia foram reservadas para repelir ataques terrestres da Rússia.

Soldados ucranianos fabricam drones em pequena cozinha em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas desde então o Exército russo melhorou suas capacidades de embaralhamento de sinal e também tem tirado vantagem do tempo ruim avançando sob neblina e chuva, condições em que os drones voam com dificuldade.

“Ambos os lados alcançaram rapidamente os principais desenvolvimentos e táticas em FPVs”, afirmou Samuel Bendett, especialista em drones militares russos do Centro de Análises Navais, uma organização de pesquisa sediada em Virgínia. “E agora essas tecnologias estão amadurecendo muito rapidamente em ambos os lados.”

Anteriormente este mês, a pequena equipe de DJ, parte de uma unidade de guarda nacional conhecida como Brigada Burevii, montou um posto de controle de drones entre as ruínas de uma casa rural, na linha de frente nas proximidades de Kreminna. Os soldados levaram os equipamentos essenciais para transmitir vídeos e comandos dos pilotos para quadricópteros FPV baratos, de fabricação chinesa: antenas, amplificadores de frequência, internet Starlink via satélite e um laptop.

Nas duas primeiras missões, o monitor de DJ mostrou a estepe ucraniana abaixo do drone, que atravessava a região silvestre a mais de 100 quilômetros por hora carregado com cerca de 1,3 quilo de explosivos potentes e destinado a destruir veículos russos. Mas logo o sinal foi perdido, embaralhado pelos russos.

Soldado que atende pelo codinome DJ, à esquerda, e outro soldado chamado Tomas montaram posto avançado de drones nas ruínas de uma casa em Kreminna, no leste da Ucrânia. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A terceira missão, mirando um lançador de granadas em uma linha de trincheiras da Rússia, foi parcialmente bem-sucedida: o drone de US$ 500 explodiu em uma árvore acima da trincheira, mas tinha tido o sinal embaralhado a cerca de 10 metros do local da detonação.

Apesar de potentes, as capacidades da Rússia de embaralhamento de sinal são distribuídas de forma irregular ao longo da linha de frente de mil quilômetros, e seus veículos blindados são com frequência alvos fáceis porque normalmente não possuem sistemas de embaralhamento de sinal instalados, afirmaram soldados ucranianos.

A estratégia ucraniana de drones e guerra eletrônica tem sido financiada e equipada em parte por diferentes grupos internos das Forças Armadas, incluindo o bem-conhecido setor de TI do país. Cada unidade de drone no campo de batalha serve como um tipo de laboratório de testes para novas tecnologias, aquisições e missões de combate.

A estratégia russa é muito mais hierarquizada, com um pesado controle militar. Isso tornou a frota de drones da Rússia mais previsível, com menos variações em táticas e tipos. Mas também permitiu aos militares russos embaralhar sinais de drones ucranianos no campo de batalha sem ter de embaralhar seus próprios sinais, coordenando entre rotas de voo e os equipamentos de embaralhamento.

“Não existe nada assim no lado ucraniano”, afirmou um piloto de drones que defende a Ucrânia.

Soldado ucraniano monta drones em Donetsk.  Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A falta de uma estrutura de comando maior, que seja capaz de coordenar unidades drones na linha de frente, com frequência provoca confusões entre os soldados ucranianos. Pilotos de drones podem em certas ocasiões perder conexão com suas aeronaves e acabar olhando através da câmera de outro drone.

Drones FPV voam em frequência analógica, e, já que muitos são comprados em lojas, os equipamentos saem das caixas sintonizados em uma mesma frequência. Unidades ucranianas de drones costumam precisar de soldados com capacidades de programação para mudar a frequência dos softwares dos drones.

Dev, um mecânico de drones ucraniano, afirmou que esse tema é o segundo mais significativo para as capacidades de embaralhamento de sinal dos russos.

“Há muitos grupos de FPVs operando no front. O front está saturado de grupos de FPVs, e não restam mais canais de frequência”, afirmou ele.

No mês passado, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, estabeleceu as Forças de Sistemas Não Tripulados, um novo setor militar que, entre outras coisas, deverá melhorar a interação das unidades de FPVs.

Soldado da 63ª brigada teste drone armado com bomba falsa em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas a capacidade russa de fabricar em massa seus drones em escala industrial também é um problema premente. Soldados ucranianos afirmaram que com frequência são forçados a suplicar por seus drones, apesar de promessas do governo de fabricá-los aos milhares.

Chef, um diretor de empresa de drones no leste da Ucrânia afirmou que sua unidade realiza entre 20 e 30 missões com drones FPV diariamente dependendo da disponibilidade das aeronaves, que vêm quase inteiramente de doações voluntárias. O governo abasteceu insuficientemente sua unidade, afirmou ele. Em julho, seus soldados receberam alguns equipamentos e depois novamente em dezembro.

“Nós lançamos tantos quanto produzimos”, afirmou ele. Mas “não podemos usar apenas FPVs para vencer esta guerra.”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

KIEV - O soldado ucraniano disse um palavrão e desprendeu seu visor da cabeça. O monitor tinha primeiro desfocado, a paisagem de árvores despedaçadas e crateras abertas por explosões de projéteis mal era visível, até que desapareceu completamente. Os russos tinham embaralhado o sinal do drone que ele pilotava nas imediações da cidade de Kreminna, no leste da Ucrânia.

“Alguns dias vai tudo bem, em outros o equipamento quebra. Os drones são frágeis, e tem o embaralhamento”, afirmou o soldado, que se identificou por seu codinome, DJ, falando de seu posto subterrâneo, a alguns quilômetros da linha de frente.

Por um período, os ucranianos desfrutaram de uma lua de mel com seus drones kamikaze, que eram usados como mísseis caseiros. As armas pareceram uma alternativa eficaz aos projéteis de artilharia para atacar as forças russas.

Agora, os dias ruins estão começando a superar os bons: contramedidas eletrônicas tornaram-se uma das armas mais formidáveis dos militares russos, depois de anos aprimorando suas capacidades.

Soldado opera drone com ponto vista em primeira pessoa (FPV) usando óculos de imersão. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

O contra-ataque cibernético russo

A guerra eletrônica continua uma mão em grande parte invisível do confronto e, da mesma forma que em relação à desvantagem da Ucrânia em números de soldados e estoques de munição, os ucranianos sofrem nessa área — e também em comparação à Rússia. A Rússia tem mais equipamentos de embaralhamento capazes de obstruir sinais ucranianos transmitindo nas mesmas frequências com mais potência. E também demonstra coordenação melhor entre suas unidades.

Com a ajuda militar do Ocidente parecendo bastante incerta e os estoques munições de artilharia diminuindo, a pressão sobre a capacidade aérea não tripulada da Ucrânia apenas cresceu, deixando as forças de Kiev numa posição cada vez mais perigosa.

Entrevistas com soldados, comandantes e analistas militares ucranianos revelam que as capacidades de embaralhamento de sinal da Rússia estão pressionando os estoques limitados da Ucrânia de drones customizados e ameaçando escantear um componente-chave do arsenal ucraniano à medida que o Kremlin fabrica massivamente sua própria frota de drones.

Os soldados ucranianos descrevem uma dança de idas e vindas, em que um lado desenvolve mudanças tecnológicas — como usar diferentes frequências ou embaralhar componentes de drones — e o outro o alcança em questão de semanas ou meses, cortando do oponente qualquer vantagem breve.

“Há uma corrida armamentista constante”, afirmou o sargento Babay, que comanda um pelotão de pilotos de drones no front leste e que, como DJ e outros entrevistados para a elaboração desta reportagem, se identificou por seu codinome, atendendo ao protocolo militar. “Nós estamos melhorando nossa tecnologia para enfrentar essas novas realidades no campo de batalha, e daqui a algum tempo os russos terão que inventar novamente algo novo para ser capazes de se defender dos nossos ataques.”

Casa destruída é usada para montar e armar drones na linha de frente em Donetsk  Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A guerra dos drones

O uso de drones pequenos e baratos têm sido comum no conflito na Ucrânia desde 2014, quando separatistas apoiados pela Rússia atacaram o leste ucraniano. Mas em 2022, quando a Rússia lançou sua invasão em escala total, o uso dos veículos aéreos não tripulados (vants) sobre os campos de batalha explodiu.

Em 2023, a Ucrânia ficou em vantagem na guerra de drones acionando vants de corrida compactos, conhecidos como drones com ponto vista em primeira pessoa (FPV), em grandes quantidades.

“FPVs desempenham um papel crítico para nós, já que esses brinquedos são essencialmente projéteis de artilharia móvel, que compensam nossa falta de munição de artilharia”, afirmou o piloto de drones Diadia, que integra a 63.ª Brigada Mecanizada. “Nós trabalhamos à mesma distância que os morteiros, mas nossa precisão é muito maior.”

A força da artilharia com frequência decorre de sua imprecisão. Ao cobrir amplas áreas com explosivos potentes e munições de fragmentação, sistemas de artilharia são capazes de interromper rapidamente operações de batalha mutilando soldados e destruindo veículos. É uma tática quase impossível de replicar com um ou dois drones.

Conforme os estoques ucranianos de munição de artilharia diminuíram no outono e no inverno (Hemisfério Norte), os FPVs, usados como projéteis guiados, foram eficazes em eliminar e importunar trincheiras e veículos russos. As preciosas munições de artilharia foram reservadas para repelir ataques terrestres da Rússia.

Soldados ucranianos fabricam drones em pequena cozinha em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas desde então o Exército russo melhorou suas capacidades de embaralhamento de sinal e também tem tirado vantagem do tempo ruim avançando sob neblina e chuva, condições em que os drones voam com dificuldade.

“Ambos os lados alcançaram rapidamente os principais desenvolvimentos e táticas em FPVs”, afirmou Samuel Bendett, especialista em drones militares russos do Centro de Análises Navais, uma organização de pesquisa sediada em Virgínia. “E agora essas tecnologias estão amadurecendo muito rapidamente em ambos os lados.”

Anteriormente este mês, a pequena equipe de DJ, parte de uma unidade de guarda nacional conhecida como Brigada Burevii, montou um posto de controle de drones entre as ruínas de uma casa rural, na linha de frente nas proximidades de Kreminna. Os soldados levaram os equipamentos essenciais para transmitir vídeos e comandos dos pilotos para quadricópteros FPV baratos, de fabricação chinesa: antenas, amplificadores de frequência, internet Starlink via satélite e um laptop.

Nas duas primeiras missões, o monitor de DJ mostrou a estepe ucraniana abaixo do drone, que atravessava a região silvestre a mais de 100 quilômetros por hora carregado com cerca de 1,3 quilo de explosivos potentes e destinado a destruir veículos russos. Mas logo o sinal foi perdido, embaralhado pelos russos.

Soldado que atende pelo codinome DJ, à esquerda, e outro soldado chamado Tomas montaram posto avançado de drones nas ruínas de uma casa em Kreminna, no leste da Ucrânia. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A terceira missão, mirando um lançador de granadas em uma linha de trincheiras da Rússia, foi parcialmente bem-sucedida: o drone de US$ 500 explodiu em uma árvore acima da trincheira, mas tinha tido o sinal embaralhado a cerca de 10 metros do local da detonação.

Apesar de potentes, as capacidades da Rússia de embaralhamento de sinal são distribuídas de forma irregular ao longo da linha de frente de mil quilômetros, e seus veículos blindados são com frequência alvos fáceis porque normalmente não possuem sistemas de embaralhamento de sinal instalados, afirmaram soldados ucranianos.

A estratégia ucraniana de drones e guerra eletrônica tem sido financiada e equipada em parte por diferentes grupos internos das Forças Armadas, incluindo o bem-conhecido setor de TI do país. Cada unidade de drone no campo de batalha serve como um tipo de laboratório de testes para novas tecnologias, aquisições e missões de combate.

A estratégia russa é muito mais hierarquizada, com um pesado controle militar. Isso tornou a frota de drones da Rússia mais previsível, com menos variações em táticas e tipos. Mas também permitiu aos militares russos embaralhar sinais de drones ucranianos no campo de batalha sem ter de embaralhar seus próprios sinais, coordenando entre rotas de voo e os equipamentos de embaralhamento.

“Não existe nada assim no lado ucraniano”, afirmou um piloto de drones que defende a Ucrânia.

Soldado ucraniano monta drones em Donetsk.  Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A falta de uma estrutura de comando maior, que seja capaz de coordenar unidades drones na linha de frente, com frequência provoca confusões entre os soldados ucranianos. Pilotos de drones podem em certas ocasiões perder conexão com suas aeronaves e acabar olhando através da câmera de outro drone.

Drones FPV voam em frequência analógica, e, já que muitos são comprados em lojas, os equipamentos saem das caixas sintonizados em uma mesma frequência. Unidades ucranianas de drones costumam precisar de soldados com capacidades de programação para mudar a frequência dos softwares dos drones.

Dev, um mecânico de drones ucraniano, afirmou que esse tema é o segundo mais significativo para as capacidades de embaralhamento de sinal dos russos.

“Há muitos grupos de FPVs operando no front. O front está saturado de grupos de FPVs, e não restam mais canais de frequência”, afirmou ele.

No mês passado, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, estabeleceu as Forças de Sistemas Não Tripulados, um novo setor militar que, entre outras coisas, deverá melhorar a interação das unidades de FPVs.

Soldado da 63ª brigada teste drone armado com bomba falsa em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas a capacidade russa de fabricar em massa seus drones em escala industrial também é um problema premente. Soldados ucranianos afirmaram que com frequência são forçados a suplicar por seus drones, apesar de promessas do governo de fabricá-los aos milhares.

Chef, um diretor de empresa de drones no leste da Ucrânia afirmou que sua unidade realiza entre 20 e 30 missões com drones FPV diariamente dependendo da disponibilidade das aeronaves, que vêm quase inteiramente de doações voluntárias. O governo abasteceu insuficientemente sua unidade, afirmou ele. Em julho, seus soldados receberam alguns equipamentos e depois novamente em dezembro.

“Nós lançamos tantos quanto produzimos”, afirmou ele. Mas “não podemos usar apenas FPVs para vencer esta guerra.”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

KIEV - O soldado ucraniano disse um palavrão e desprendeu seu visor da cabeça. O monitor tinha primeiro desfocado, a paisagem de árvores despedaçadas e crateras abertas por explosões de projéteis mal era visível, até que desapareceu completamente. Os russos tinham embaralhado o sinal do drone que ele pilotava nas imediações da cidade de Kreminna, no leste da Ucrânia.

“Alguns dias vai tudo bem, em outros o equipamento quebra. Os drones são frágeis, e tem o embaralhamento”, afirmou o soldado, que se identificou por seu codinome, DJ, falando de seu posto subterrâneo, a alguns quilômetros da linha de frente.

Por um período, os ucranianos desfrutaram de uma lua de mel com seus drones kamikaze, que eram usados como mísseis caseiros. As armas pareceram uma alternativa eficaz aos projéteis de artilharia para atacar as forças russas.

Agora, os dias ruins estão começando a superar os bons: contramedidas eletrônicas tornaram-se uma das armas mais formidáveis dos militares russos, depois de anos aprimorando suas capacidades.

Soldado opera drone com ponto vista em primeira pessoa (FPV) usando óculos de imersão. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

O contra-ataque cibernético russo

A guerra eletrônica continua uma mão em grande parte invisível do confronto e, da mesma forma que em relação à desvantagem da Ucrânia em números de soldados e estoques de munição, os ucranianos sofrem nessa área — e também em comparação à Rússia. A Rússia tem mais equipamentos de embaralhamento capazes de obstruir sinais ucranianos transmitindo nas mesmas frequências com mais potência. E também demonstra coordenação melhor entre suas unidades.

Com a ajuda militar do Ocidente parecendo bastante incerta e os estoques munições de artilharia diminuindo, a pressão sobre a capacidade aérea não tripulada da Ucrânia apenas cresceu, deixando as forças de Kiev numa posição cada vez mais perigosa.

Entrevistas com soldados, comandantes e analistas militares ucranianos revelam que as capacidades de embaralhamento de sinal da Rússia estão pressionando os estoques limitados da Ucrânia de drones customizados e ameaçando escantear um componente-chave do arsenal ucraniano à medida que o Kremlin fabrica massivamente sua própria frota de drones.

Os soldados ucranianos descrevem uma dança de idas e vindas, em que um lado desenvolve mudanças tecnológicas — como usar diferentes frequências ou embaralhar componentes de drones — e o outro o alcança em questão de semanas ou meses, cortando do oponente qualquer vantagem breve.

“Há uma corrida armamentista constante”, afirmou o sargento Babay, que comanda um pelotão de pilotos de drones no front leste e que, como DJ e outros entrevistados para a elaboração desta reportagem, se identificou por seu codinome, atendendo ao protocolo militar. “Nós estamos melhorando nossa tecnologia para enfrentar essas novas realidades no campo de batalha, e daqui a algum tempo os russos terão que inventar novamente algo novo para ser capazes de se defender dos nossos ataques.”

Casa destruída é usada para montar e armar drones na linha de frente em Donetsk  Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A guerra dos drones

O uso de drones pequenos e baratos têm sido comum no conflito na Ucrânia desde 2014, quando separatistas apoiados pela Rússia atacaram o leste ucraniano. Mas em 2022, quando a Rússia lançou sua invasão em escala total, o uso dos veículos aéreos não tripulados (vants) sobre os campos de batalha explodiu.

Em 2023, a Ucrânia ficou em vantagem na guerra de drones acionando vants de corrida compactos, conhecidos como drones com ponto vista em primeira pessoa (FPV), em grandes quantidades.

“FPVs desempenham um papel crítico para nós, já que esses brinquedos são essencialmente projéteis de artilharia móvel, que compensam nossa falta de munição de artilharia”, afirmou o piloto de drones Diadia, que integra a 63.ª Brigada Mecanizada. “Nós trabalhamos à mesma distância que os morteiros, mas nossa precisão é muito maior.”

A força da artilharia com frequência decorre de sua imprecisão. Ao cobrir amplas áreas com explosivos potentes e munições de fragmentação, sistemas de artilharia são capazes de interromper rapidamente operações de batalha mutilando soldados e destruindo veículos. É uma tática quase impossível de replicar com um ou dois drones.

Conforme os estoques ucranianos de munição de artilharia diminuíram no outono e no inverno (Hemisfério Norte), os FPVs, usados como projéteis guiados, foram eficazes em eliminar e importunar trincheiras e veículos russos. As preciosas munições de artilharia foram reservadas para repelir ataques terrestres da Rússia.

Soldados ucranianos fabricam drones em pequena cozinha em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas desde então o Exército russo melhorou suas capacidades de embaralhamento de sinal e também tem tirado vantagem do tempo ruim avançando sob neblina e chuva, condições em que os drones voam com dificuldade.

“Ambos os lados alcançaram rapidamente os principais desenvolvimentos e táticas em FPVs”, afirmou Samuel Bendett, especialista em drones militares russos do Centro de Análises Navais, uma organização de pesquisa sediada em Virgínia. “E agora essas tecnologias estão amadurecendo muito rapidamente em ambos os lados.”

Anteriormente este mês, a pequena equipe de DJ, parte de uma unidade de guarda nacional conhecida como Brigada Burevii, montou um posto de controle de drones entre as ruínas de uma casa rural, na linha de frente nas proximidades de Kreminna. Os soldados levaram os equipamentos essenciais para transmitir vídeos e comandos dos pilotos para quadricópteros FPV baratos, de fabricação chinesa: antenas, amplificadores de frequência, internet Starlink via satélite e um laptop.

Nas duas primeiras missões, o monitor de DJ mostrou a estepe ucraniana abaixo do drone, que atravessava a região silvestre a mais de 100 quilômetros por hora carregado com cerca de 1,3 quilo de explosivos potentes e destinado a destruir veículos russos. Mas logo o sinal foi perdido, embaralhado pelos russos.

Soldado que atende pelo codinome DJ, à esquerda, e outro soldado chamado Tomas montaram posto avançado de drones nas ruínas de uma casa em Kreminna, no leste da Ucrânia. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A terceira missão, mirando um lançador de granadas em uma linha de trincheiras da Rússia, foi parcialmente bem-sucedida: o drone de US$ 500 explodiu em uma árvore acima da trincheira, mas tinha tido o sinal embaralhado a cerca de 10 metros do local da detonação.

Apesar de potentes, as capacidades da Rússia de embaralhamento de sinal são distribuídas de forma irregular ao longo da linha de frente de mil quilômetros, e seus veículos blindados são com frequência alvos fáceis porque normalmente não possuem sistemas de embaralhamento de sinal instalados, afirmaram soldados ucranianos.

A estratégia ucraniana de drones e guerra eletrônica tem sido financiada e equipada em parte por diferentes grupos internos das Forças Armadas, incluindo o bem-conhecido setor de TI do país. Cada unidade de drone no campo de batalha serve como um tipo de laboratório de testes para novas tecnologias, aquisições e missões de combate.

A estratégia russa é muito mais hierarquizada, com um pesado controle militar. Isso tornou a frota de drones da Rússia mais previsível, com menos variações em táticas e tipos. Mas também permitiu aos militares russos embaralhar sinais de drones ucranianos no campo de batalha sem ter de embaralhar seus próprios sinais, coordenando entre rotas de voo e os equipamentos de embaralhamento.

“Não existe nada assim no lado ucraniano”, afirmou um piloto de drones que defende a Ucrânia.

Soldado ucraniano monta drones em Donetsk.  Foto: David Guttenfelder/The New York Times

A falta de uma estrutura de comando maior, que seja capaz de coordenar unidades drones na linha de frente, com frequência provoca confusões entre os soldados ucranianos. Pilotos de drones podem em certas ocasiões perder conexão com suas aeronaves e acabar olhando através da câmera de outro drone.

Drones FPV voam em frequência analógica, e, já que muitos são comprados em lojas, os equipamentos saem das caixas sintonizados em uma mesma frequência. Unidades ucranianas de drones costumam precisar de soldados com capacidades de programação para mudar a frequência dos softwares dos drones.

Dev, um mecânico de drones ucraniano, afirmou que esse tema é o segundo mais significativo para as capacidades de embaralhamento de sinal dos russos.

“Há muitos grupos de FPVs operando no front. O front está saturado de grupos de FPVs, e não restam mais canais de frequência”, afirmou ele.

No mês passado, o presidente ucraniano, Volodmir Zelenski, estabeleceu as Forças de Sistemas Não Tripulados, um novo setor militar que, entre outras coisas, deverá melhorar a interação das unidades de FPVs.

Soldado da 63ª brigada teste drone armado com bomba falsa em Kreminna. Foto: David Guttenfelder/The New York Times

Mas a capacidade russa de fabricar em massa seus drones em escala industrial também é um problema premente. Soldados ucranianos afirmaram que com frequência são forçados a suplicar por seus drones, apesar de promessas do governo de fabricá-los aos milhares.

Chef, um diretor de empresa de drones no leste da Ucrânia afirmou que sua unidade realiza entre 20 e 30 missões com drones FPV diariamente dependendo da disponibilidade das aeronaves, que vêm quase inteiramente de doações voluntárias. O governo abasteceu insuficientemente sua unidade, afirmou ele. Em julho, seus soldados receberam alguns equipamentos e depois novamente em dezembro.

“Nós lançamos tantos quanto produzimos”, afirmou ele. Mas “não podemos usar apenas FPVs para vencer esta guerra.”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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