Como a guerra na Ucrânia tem dificultado o combate às mudanças climáticas


Conflito deixa governantes mais interessados em baixar os preços do petróleo e do gás do que reduzir imediatamente as emissões de seus países

Por Redação

BERLIM — A invasão russa à Ucrânia pareceu uma oportunidade inesperada para os ambientalistas, que tinham dificuldades em voltar a atenção do mundo para a magnitude da independência energética que as fontes renováveis são capazes de oferecer. Com o Ocidente tentando se livrar do petróleo e do gás natural produzidos pela Rússia, o argumento pelas fontes de energia solar e eólica pareceu mais forte que nunca.

Mas passados quatro meses de guerra, a correria para substituir combustíveis fósseis desencadeou exatamente o contrário. Enquanto os líderes do Grupo dos 7 países industrializados se encontraram nos Alpes Bávaros em uma cúpula que deveria cimentar seu compromisso com a luta contra as mudanças climáticas, os combustíveis fósseis testemunham uma ressurgência de tempo de guerra, com governantes mais interessados em baixar os preços do petróleo e do gás do que reduzir imediatamente as emissões de seus países.

Nações estão revertendo planos de banir queima de carvão. Eles estão buscando mais petróleo e comprometendo bilhões na construção de terminais para gás natural liquefeito (GNL).

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Usina de carvão em funcionamento em Nochten, na Alemanha; país ampliou uso de energias fósseis Foto: Matthias Rietschel/ Reuters

Empresas de combustíveis fósseis, havia muito na defensiva, estão capitalizando sobre as ansiedades relativas à segurança energética e fazendo lobby pesado para investimentos de longo prazo em infraestrutura, o que arrisca tirar dos trilhos metas climáticas acordadas no ano passado.

Uma guerra dentro da guerra

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“Esta é a nossa batalha neste momento”, afirmou Jennifer Morgan, embaixadora-itinerante para mudanças climáticas no Ministério de Relações Exteriores da Alemanha e ex-presidente da ONG Greenpeace International. “Estamos em um momento de enorme perturbação por causa da invasão, que pode representar tanto um risco enorme quanto uma abertura enorme para o meio ambiente.”

Os líderes dos países do G-7, incluindo Estados Unidos e Alemanha, viram-se encurralados entre suas ambiciosas metas para se livrar dos combustíveis fósseis e as pressões políticas e econômicas ocasionadas pela guerra. Líderes buscam maneiras de aliviar a alta nos custos da energia produzida pela guerra, que contribuiu rapidamente para a inflação global, e de garantir o fornecimento no futuro imediato.

Guerra na Ucrânia: Kharkiv tenta se reerguer enquanto teme nova invasão russa

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Foto: Stefan Weichert/Estadão
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A volta do carvão

Em uma evidente reviravolta, a Alemanha passou a fazer lobby sobre seus colegas do G-7 para cancelar um comprometimento conjunto do grupo em banir investimentos públicos em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano. Se os países-membros aceitarem, isso não apenas tornará mais difícil persuadir o restante do mundo a diminuir as emissões e investir em energia renovável, mas também colocará em risco a meta declarada de limitar o aquecimento global a 1,5º Celsius, alertam analistas.

Outra proposta que ganhou tração nos dias recentes e deverá ser discutida na cúpula é um teto de preço para o petróleo russo, permitindo aos países europeus importar o insumo, mas sob a condição de pagar um preço artificialmente baixo. Isso colaboraria para baixar os preços do petróleo e da gasolina em todo o mundo e reduziria o lucro com exportações que permite ao presidente Vladimir Putin seus esforços de guerra na Ucrânia. E também poderia estimular um aumento na produção de petróleo na Rússia.

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Uma saída contra a recessão

Uma das arquitetas da ideia, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, tem afirmado privadamente a líderes mundiais que impor o chamado teto de preço sobre as exportações de petróleo russo para a Europa seria a melhor coisa que os governantes poderiam fazer neste momento para minimizar as chances de recessão global, de acordo com pessoas familiarizadas com as conversas.

Na véspera da cúpula, seu anfitrião, o chanceler alemão, Olaf Scholz, insistiu que enfrentar a crise energética a curto prazo ocasionada pela guerra da Rússia não deve tirar dos trilhos metas climáticas a longo prazo.

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“É importante discutirmos a situação hoje e, ao mesmo tempo, garantir que ponhamos um fim às mudanças climáticas decorrentes da atividade humana”, afirmou ele em um vídeo postado no sábado. “Por que é isso o que temos de fazer, nos afastar dos combustíveis fósseis no longo prazo.”

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Imagens gravadas com uma GoPro mostram o momento em que um grupo de jornalistas é atacado e ferido por bombardeios russos enquanto cobriam o conflito em Luhansk

Revolta ambientalista

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Ambientalistas, muitos deles nas ruas da Baviera protestando durante a cúpula, não compram essa narrativa.

“Em vez de uma ressureição massiva das fontes renováveis, estamos testemunhando um retrocesso massivo para os combustíveis fósseis”, afirmou Luisa Neubauer, a ativista mais proeminente do movimento internacional Fridays for Future. “A Alemanha é um dos países que lidera esse retrocesso aos combustíveis fósseis por meio da nossa política doméstica e externa.”

Antes da invasão russa, em fevereiro, os países do G7 tinham estabelecido vários compromissos ambientais: livrar-se do carvão até 2030; descarbonizar a eletricidade que consomem até 2035; aumentar o investimento público em fontes renováveis de energia; e pôr fim a qualquer financiamento público em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano.

Mas conforme as brigas evolvendo energia entre Rússia e Europa escalaram, o tom mudou.

Neste mês, a Rússia cortou em 60% a quantidade de gás que fornece para os europeus por meio do gasoduto Nord Stream 1, que é crucial para o abastecimento da Alemanha e de outros países. Isso fez com que governos europeus ativassem usinas a carvão que haviam sido fechadas ou eram desativadas gradualmente.

A Alemanha está subsidiando os preços da gasolina e prolongando a vida dos geradores de eletricidade movidos a carvão. As usinas holandesas a carvão, que funcionavam a 35% de sua capacidade, foram autorizadas a aumentar a produção para 100% até 2024. A Áustria está reativando uma usina a carvão que não funcionava desde abril de 2020. A Itália está se preparando para permitir que seis usinas de eletricidade movidas a carvão aumentem a produção.

Meta de aquecimento em risco

Mais preocupante, afirmam analistas, é a atual afobação por fontes de gás envolvendo investimentos a longo prazo em infraestrutura, que tornaria quase impossível limitar o aquecimento global a no máximo 1,5º Celsius, segundo a meta estabelecida.

A Alemanha aprovou uma legislação autorizando a construção de 12 terminais de GNL e já encomendou quatro terminais flutuantes para recebimento do insumo.

Críticos atacam a medida afirmando que a construção dos 12 terminais produziria um excesso de capacidade. Mas mesmo a construção da metade dos equipamentos produziria três quartos das emissões permitidas à Alemanha segundo os pactos internacionais, de acordo com um relatório recente publicado por uma entidade alemã de monitoramento ambiental. Os terminas permaneceriam em uso até 2043, impossibilitando a meta de descarbonização total da Alemanha prometida para 2045 pelo governo de Scholz.

Acima de tudo, alertam ativistas, os países ricos precisam resistir à tentação de reagir à escassez de curto prazo de energia apostando novamente em infraestrutura para combustíveis fósseis.

“Todos os argumentos estão sobre a mesa neste momento”, afirmou Neubauer, a ativista da Fridays for Future. “Sabemos exatamente o que os combustíveis fósseis fazem com o clima. Também sabemos muito bem que Putin não é o único autocrata no mundo. E sabemos que nenhuma democracia é capaz de ser verdadeiramente livre e segura enquanto depender de importações de combustíveis fósseis.” / NYT, TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

BERLIM — A invasão russa à Ucrânia pareceu uma oportunidade inesperada para os ambientalistas, que tinham dificuldades em voltar a atenção do mundo para a magnitude da independência energética que as fontes renováveis são capazes de oferecer. Com o Ocidente tentando se livrar do petróleo e do gás natural produzidos pela Rússia, o argumento pelas fontes de energia solar e eólica pareceu mais forte que nunca.

Mas passados quatro meses de guerra, a correria para substituir combustíveis fósseis desencadeou exatamente o contrário. Enquanto os líderes do Grupo dos 7 países industrializados se encontraram nos Alpes Bávaros em uma cúpula que deveria cimentar seu compromisso com a luta contra as mudanças climáticas, os combustíveis fósseis testemunham uma ressurgência de tempo de guerra, com governantes mais interessados em baixar os preços do petróleo e do gás do que reduzir imediatamente as emissões de seus países.

Nações estão revertendo planos de banir queima de carvão. Eles estão buscando mais petróleo e comprometendo bilhões na construção de terminais para gás natural liquefeito (GNL).

Usina de carvão em funcionamento em Nochten, na Alemanha; país ampliou uso de energias fósseis Foto: Matthias Rietschel/ Reuters

Empresas de combustíveis fósseis, havia muito na defensiva, estão capitalizando sobre as ansiedades relativas à segurança energética e fazendo lobby pesado para investimentos de longo prazo em infraestrutura, o que arrisca tirar dos trilhos metas climáticas acordadas no ano passado.

Uma guerra dentro da guerra

“Esta é a nossa batalha neste momento”, afirmou Jennifer Morgan, embaixadora-itinerante para mudanças climáticas no Ministério de Relações Exteriores da Alemanha e ex-presidente da ONG Greenpeace International. “Estamos em um momento de enorme perturbação por causa da invasão, que pode representar tanto um risco enorme quanto uma abertura enorme para o meio ambiente.”

Os líderes dos países do G-7, incluindo Estados Unidos e Alemanha, viram-se encurralados entre suas ambiciosas metas para se livrar dos combustíveis fósseis e as pressões políticas e econômicas ocasionadas pela guerra. Líderes buscam maneiras de aliviar a alta nos custos da energia produzida pela guerra, que contribuiu rapidamente para a inflação global, e de garantir o fornecimento no futuro imediato.

Guerra na Ucrânia: Kharkiv tenta se reerguer enquanto teme nova invasão russa

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A volta do carvão

Em uma evidente reviravolta, a Alemanha passou a fazer lobby sobre seus colegas do G-7 para cancelar um comprometimento conjunto do grupo em banir investimentos públicos em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano. Se os países-membros aceitarem, isso não apenas tornará mais difícil persuadir o restante do mundo a diminuir as emissões e investir em energia renovável, mas também colocará em risco a meta declarada de limitar o aquecimento global a 1,5º Celsius, alertam analistas.

Outra proposta que ganhou tração nos dias recentes e deverá ser discutida na cúpula é um teto de preço para o petróleo russo, permitindo aos países europeus importar o insumo, mas sob a condição de pagar um preço artificialmente baixo. Isso colaboraria para baixar os preços do petróleo e da gasolina em todo o mundo e reduziria o lucro com exportações que permite ao presidente Vladimir Putin seus esforços de guerra na Ucrânia. E também poderia estimular um aumento na produção de petróleo na Rússia.

Uma saída contra a recessão

Uma das arquitetas da ideia, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, tem afirmado privadamente a líderes mundiais que impor o chamado teto de preço sobre as exportações de petróleo russo para a Europa seria a melhor coisa que os governantes poderiam fazer neste momento para minimizar as chances de recessão global, de acordo com pessoas familiarizadas com as conversas.

Na véspera da cúpula, seu anfitrião, o chanceler alemão, Olaf Scholz, insistiu que enfrentar a crise energética a curto prazo ocasionada pela guerra da Rússia não deve tirar dos trilhos metas climáticas a longo prazo.

“É importante discutirmos a situação hoje e, ao mesmo tempo, garantir que ponhamos um fim às mudanças climáticas decorrentes da atividade humana”, afirmou ele em um vídeo postado no sábado. “Por que é isso o que temos de fazer, nos afastar dos combustíveis fósseis no longo prazo.”

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Imagens gravadas com uma GoPro mostram o momento em que um grupo de jornalistas é atacado e ferido por bombardeios russos enquanto cobriam o conflito em Luhansk

Revolta ambientalista

Ambientalistas, muitos deles nas ruas da Baviera protestando durante a cúpula, não compram essa narrativa.

“Em vez de uma ressureição massiva das fontes renováveis, estamos testemunhando um retrocesso massivo para os combustíveis fósseis”, afirmou Luisa Neubauer, a ativista mais proeminente do movimento internacional Fridays for Future. “A Alemanha é um dos países que lidera esse retrocesso aos combustíveis fósseis por meio da nossa política doméstica e externa.”

Antes da invasão russa, em fevereiro, os países do G7 tinham estabelecido vários compromissos ambientais: livrar-se do carvão até 2030; descarbonizar a eletricidade que consomem até 2035; aumentar o investimento público em fontes renováveis de energia; e pôr fim a qualquer financiamento público em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano.

Mas conforme as brigas evolvendo energia entre Rússia e Europa escalaram, o tom mudou.

Neste mês, a Rússia cortou em 60% a quantidade de gás que fornece para os europeus por meio do gasoduto Nord Stream 1, que é crucial para o abastecimento da Alemanha e de outros países. Isso fez com que governos europeus ativassem usinas a carvão que haviam sido fechadas ou eram desativadas gradualmente.

A Alemanha está subsidiando os preços da gasolina e prolongando a vida dos geradores de eletricidade movidos a carvão. As usinas holandesas a carvão, que funcionavam a 35% de sua capacidade, foram autorizadas a aumentar a produção para 100% até 2024. A Áustria está reativando uma usina a carvão que não funcionava desde abril de 2020. A Itália está se preparando para permitir que seis usinas de eletricidade movidas a carvão aumentem a produção.

Meta de aquecimento em risco

Mais preocupante, afirmam analistas, é a atual afobação por fontes de gás envolvendo investimentos a longo prazo em infraestrutura, que tornaria quase impossível limitar o aquecimento global a no máximo 1,5º Celsius, segundo a meta estabelecida.

A Alemanha aprovou uma legislação autorizando a construção de 12 terminais de GNL e já encomendou quatro terminais flutuantes para recebimento do insumo.

Críticos atacam a medida afirmando que a construção dos 12 terminais produziria um excesso de capacidade. Mas mesmo a construção da metade dos equipamentos produziria três quartos das emissões permitidas à Alemanha segundo os pactos internacionais, de acordo com um relatório recente publicado por uma entidade alemã de monitoramento ambiental. Os terminas permaneceriam em uso até 2043, impossibilitando a meta de descarbonização total da Alemanha prometida para 2045 pelo governo de Scholz.

Acima de tudo, alertam ativistas, os países ricos precisam resistir à tentação de reagir à escassez de curto prazo de energia apostando novamente em infraestrutura para combustíveis fósseis.

“Todos os argumentos estão sobre a mesa neste momento”, afirmou Neubauer, a ativista da Fridays for Future. “Sabemos exatamente o que os combustíveis fósseis fazem com o clima. Também sabemos muito bem que Putin não é o único autocrata no mundo. E sabemos que nenhuma democracia é capaz de ser verdadeiramente livre e segura enquanto depender de importações de combustíveis fósseis.” / NYT, TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

BERLIM — A invasão russa à Ucrânia pareceu uma oportunidade inesperada para os ambientalistas, que tinham dificuldades em voltar a atenção do mundo para a magnitude da independência energética que as fontes renováveis são capazes de oferecer. Com o Ocidente tentando se livrar do petróleo e do gás natural produzidos pela Rússia, o argumento pelas fontes de energia solar e eólica pareceu mais forte que nunca.

Mas passados quatro meses de guerra, a correria para substituir combustíveis fósseis desencadeou exatamente o contrário. Enquanto os líderes do Grupo dos 7 países industrializados se encontraram nos Alpes Bávaros em uma cúpula que deveria cimentar seu compromisso com a luta contra as mudanças climáticas, os combustíveis fósseis testemunham uma ressurgência de tempo de guerra, com governantes mais interessados em baixar os preços do petróleo e do gás do que reduzir imediatamente as emissões de seus países.

Nações estão revertendo planos de banir queima de carvão. Eles estão buscando mais petróleo e comprometendo bilhões na construção de terminais para gás natural liquefeito (GNL).

Usina de carvão em funcionamento em Nochten, na Alemanha; país ampliou uso de energias fósseis Foto: Matthias Rietschel/ Reuters

Empresas de combustíveis fósseis, havia muito na defensiva, estão capitalizando sobre as ansiedades relativas à segurança energética e fazendo lobby pesado para investimentos de longo prazo em infraestrutura, o que arrisca tirar dos trilhos metas climáticas acordadas no ano passado.

Uma guerra dentro da guerra

“Esta é a nossa batalha neste momento”, afirmou Jennifer Morgan, embaixadora-itinerante para mudanças climáticas no Ministério de Relações Exteriores da Alemanha e ex-presidente da ONG Greenpeace International. “Estamos em um momento de enorme perturbação por causa da invasão, que pode representar tanto um risco enorme quanto uma abertura enorme para o meio ambiente.”

Os líderes dos países do G-7, incluindo Estados Unidos e Alemanha, viram-se encurralados entre suas ambiciosas metas para se livrar dos combustíveis fósseis e as pressões políticas e econômicas ocasionadas pela guerra. Líderes buscam maneiras de aliviar a alta nos custos da energia produzida pela guerra, que contribuiu rapidamente para a inflação global, e de garantir o fornecimento no futuro imediato.

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A volta do carvão

Em uma evidente reviravolta, a Alemanha passou a fazer lobby sobre seus colegas do G-7 para cancelar um comprometimento conjunto do grupo em banir investimentos públicos em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano. Se os países-membros aceitarem, isso não apenas tornará mais difícil persuadir o restante do mundo a diminuir as emissões e investir em energia renovável, mas também colocará em risco a meta declarada de limitar o aquecimento global a 1,5º Celsius, alertam analistas.

Outra proposta que ganhou tração nos dias recentes e deverá ser discutida na cúpula é um teto de preço para o petróleo russo, permitindo aos países europeus importar o insumo, mas sob a condição de pagar um preço artificialmente baixo. Isso colaboraria para baixar os preços do petróleo e da gasolina em todo o mundo e reduziria o lucro com exportações que permite ao presidente Vladimir Putin seus esforços de guerra na Ucrânia. E também poderia estimular um aumento na produção de petróleo na Rússia.

Uma saída contra a recessão

Uma das arquitetas da ideia, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, tem afirmado privadamente a líderes mundiais que impor o chamado teto de preço sobre as exportações de petróleo russo para a Europa seria a melhor coisa que os governantes poderiam fazer neste momento para minimizar as chances de recessão global, de acordo com pessoas familiarizadas com as conversas.

Na véspera da cúpula, seu anfitrião, o chanceler alemão, Olaf Scholz, insistiu que enfrentar a crise energética a curto prazo ocasionada pela guerra da Rússia não deve tirar dos trilhos metas climáticas a longo prazo.

“É importante discutirmos a situação hoje e, ao mesmo tempo, garantir que ponhamos um fim às mudanças climáticas decorrentes da atividade humana”, afirmou ele em um vídeo postado no sábado. “Por que é isso o que temos de fazer, nos afastar dos combustíveis fósseis no longo prazo.”

Seu navegador não suporta esse video.

Imagens gravadas com uma GoPro mostram o momento em que um grupo de jornalistas é atacado e ferido por bombardeios russos enquanto cobriam o conflito em Luhansk

Revolta ambientalista

Ambientalistas, muitos deles nas ruas da Baviera protestando durante a cúpula, não compram essa narrativa.

“Em vez de uma ressureição massiva das fontes renováveis, estamos testemunhando um retrocesso massivo para os combustíveis fósseis”, afirmou Luisa Neubauer, a ativista mais proeminente do movimento internacional Fridays for Future. “A Alemanha é um dos países que lidera esse retrocesso aos combustíveis fósseis por meio da nossa política doméstica e externa.”

Antes da invasão russa, em fevereiro, os países do G7 tinham estabelecido vários compromissos ambientais: livrar-se do carvão até 2030; descarbonizar a eletricidade que consomem até 2035; aumentar o investimento público em fontes renováveis de energia; e pôr fim a qualquer financiamento público em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano.

Mas conforme as brigas evolvendo energia entre Rússia e Europa escalaram, o tom mudou.

Neste mês, a Rússia cortou em 60% a quantidade de gás que fornece para os europeus por meio do gasoduto Nord Stream 1, que é crucial para o abastecimento da Alemanha e de outros países. Isso fez com que governos europeus ativassem usinas a carvão que haviam sido fechadas ou eram desativadas gradualmente.

A Alemanha está subsidiando os preços da gasolina e prolongando a vida dos geradores de eletricidade movidos a carvão. As usinas holandesas a carvão, que funcionavam a 35% de sua capacidade, foram autorizadas a aumentar a produção para 100% até 2024. A Áustria está reativando uma usina a carvão que não funcionava desde abril de 2020. A Itália está se preparando para permitir que seis usinas de eletricidade movidas a carvão aumentem a produção.

Meta de aquecimento em risco

Mais preocupante, afirmam analistas, é a atual afobação por fontes de gás envolvendo investimentos a longo prazo em infraestrutura, que tornaria quase impossível limitar o aquecimento global a no máximo 1,5º Celsius, segundo a meta estabelecida.

A Alemanha aprovou uma legislação autorizando a construção de 12 terminais de GNL e já encomendou quatro terminais flutuantes para recebimento do insumo.

Críticos atacam a medida afirmando que a construção dos 12 terminais produziria um excesso de capacidade. Mas mesmo a construção da metade dos equipamentos produziria três quartos das emissões permitidas à Alemanha segundo os pactos internacionais, de acordo com um relatório recente publicado por uma entidade alemã de monitoramento ambiental. Os terminas permaneceriam em uso até 2043, impossibilitando a meta de descarbonização total da Alemanha prometida para 2045 pelo governo de Scholz.

Acima de tudo, alertam ativistas, os países ricos precisam resistir à tentação de reagir à escassez de curto prazo de energia apostando novamente em infraestrutura para combustíveis fósseis.

“Todos os argumentos estão sobre a mesa neste momento”, afirmou Neubauer, a ativista da Fridays for Future. “Sabemos exatamente o que os combustíveis fósseis fazem com o clima. Também sabemos muito bem que Putin não é o único autocrata no mundo. E sabemos que nenhuma democracia é capaz de ser verdadeiramente livre e segura enquanto depender de importações de combustíveis fósseis.” / NYT, TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

BERLIM — A invasão russa à Ucrânia pareceu uma oportunidade inesperada para os ambientalistas, que tinham dificuldades em voltar a atenção do mundo para a magnitude da independência energética que as fontes renováveis são capazes de oferecer. Com o Ocidente tentando se livrar do petróleo e do gás natural produzidos pela Rússia, o argumento pelas fontes de energia solar e eólica pareceu mais forte que nunca.

Mas passados quatro meses de guerra, a correria para substituir combustíveis fósseis desencadeou exatamente o contrário. Enquanto os líderes do Grupo dos 7 países industrializados se encontraram nos Alpes Bávaros em uma cúpula que deveria cimentar seu compromisso com a luta contra as mudanças climáticas, os combustíveis fósseis testemunham uma ressurgência de tempo de guerra, com governantes mais interessados em baixar os preços do petróleo e do gás do que reduzir imediatamente as emissões de seus países.

Nações estão revertendo planos de banir queima de carvão. Eles estão buscando mais petróleo e comprometendo bilhões na construção de terminais para gás natural liquefeito (GNL).

Usina de carvão em funcionamento em Nochten, na Alemanha; país ampliou uso de energias fósseis Foto: Matthias Rietschel/ Reuters

Empresas de combustíveis fósseis, havia muito na defensiva, estão capitalizando sobre as ansiedades relativas à segurança energética e fazendo lobby pesado para investimentos de longo prazo em infraestrutura, o que arrisca tirar dos trilhos metas climáticas acordadas no ano passado.

Uma guerra dentro da guerra

“Esta é a nossa batalha neste momento”, afirmou Jennifer Morgan, embaixadora-itinerante para mudanças climáticas no Ministério de Relações Exteriores da Alemanha e ex-presidente da ONG Greenpeace International. “Estamos em um momento de enorme perturbação por causa da invasão, que pode representar tanto um risco enorme quanto uma abertura enorme para o meio ambiente.”

Os líderes dos países do G-7, incluindo Estados Unidos e Alemanha, viram-se encurralados entre suas ambiciosas metas para se livrar dos combustíveis fósseis e as pressões políticas e econômicas ocasionadas pela guerra. Líderes buscam maneiras de aliviar a alta nos custos da energia produzida pela guerra, que contribuiu rapidamente para a inflação global, e de garantir o fornecimento no futuro imediato.

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A volta do carvão

Em uma evidente reviravolta, a Alemanha passou a fazer lobby sobre seus colegas do G-7 para cancelar um comprometimento conjunto do grupo em banir investimentos públicos em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano. Se os países-membros aceitarem, isso não apenas tornará mais difícil persuadir o restante do mundo a diminuir as emissões e investir em energia renovável, mas também colocará em risco a meta declarada de limitar o aquecimento global a 1,5º Celsius, alertam analistas.

Outra proposta que ganhou tração nos dias recentes e deverá ser discutida na cúpula é um teto de preço para o petróleo russo, permitindo aos países europeus importar o insumo, mas sob a condição de pagar um preço artificialmente baixo. Isso colaboraria para baixar os preços do petróleo e da gasolina em todo o mundo e reduziria o lucro com exportações que permite ao presidente Vladimir Putin seus esforços de guerra na Ucrânia. E também poderia estimular um aumento na produção de petróleo na Rússia.

Uma saída contra a recessão

Uma das arquitetas da ideia, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, tem afirmado privadamente a líderes mundiais que impor o chamado teto de preço sobre as exportações de petróleo russo para a Europa seria a melhor coisa que os governantes poderiam fazer neste momento para minimizar as chances de recessão global, de acordo com pessoas familiarizadas com as conversas.

Na véspera da cúpula, seu anfitrião, o chanceler alemão, Olaf Scholz, insistiu que enfrentar a crise energética a curto prazo ocasionada pela guerra da Rússia não deve tirar dos trilhos metas climáticas a longo prazo.

“É importante discutirmos a situação hoje e, ao mesmo tempo, garantir que ponhamos um fim às mudanças climáticas decorrentes da atividade humana”, afirmou ele em um vídeo postado no sábado. “Por que é isso o que temos de fazer, nos afastar dos combustíveis fósseis no longo prazo.”

Seu navegador não suporta esse video.

Imagens gravadas com uma GoPro mostram o momento em que um grupo de jornalistas é atacado e ferido por bombardeios russos enquanto cobriam o conflito em Luhansk

Revolta ambientalista

Ambientalistas, muitos deles nas ruas da Baviera protestando durante a cúpula, não compram essa narrativa.

“Em vez de uma ressureição massiva das fontes renováveis, estamos testemunhando um retrocesso massivo para os combustíveis fósseis”, afirmou Luisa Neubauer, a ativista mais proeminente do movimento internacional Fridays for Future. “A Alemanha é um dos países que lidera esse retrocesso aos combustíveis fósseis por meio da nossa política doméstica e externa.”

Antes da invasão russa, em fevereiro, os países do G7 tinham estabelecido vários compromissos ambientais: livrar-se do carvão até 2030; descarbonizar a eletricidade que consomem até 2035; aumentar o investimento público em fontes renováveis de energia; e pôr fim a qualquer financiamento público em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano.

Mas conforme as brigas evolvendo energia entre Rússia e Europa escalaram, o tom mudou.

Neste mês, a Rússia cortou em 60% a quantidade de gás que fornece para os europeus por meio do gasoduto Nord Stream 1, que é crucial para o abastecimento da Alemanha e de outros países. Isso fez com que governos europeus ativassem usinas a carvão que haviam sido fechadas ou eram desativadas gradualmente.

A Alemanha está subsidiando os preços da gasolina e prolongando a vida dos geradores de eletricidade movidos a carvão. As usinas holandesas a carvão, que funcionavam a 35% de sua capacidade, foram autorizadas a aumentar a produção para 100% até 2024. A Áustria está reativando uma usina a carvão que não funcionava desde abril de 2020. A Itália está se preparando para permitir que seis usinas de eletricidade movidas a carvão aumentem a produção.

Meta de aquecimento em risco

Mais preocupante, afirmam analistas, é a atual afobação por fontes de gás envolvendo investimentos a longo prazo em infraestrutura, que tornaria quase impossível limitar o aquecimento global a no máximo 1,5º Celsius, segundo a meta estabelecida.

A Alemanha aprovou uma legislação autorizando a construção de 12 terminais de GNL e já encomendou quatro terminais flutuantes para recebimento do insumo.

Críticos atacam a medida afirmando que a construção dos 12 terminais produziria um excesso de capacidade. Mas mesmo a construção da metade dos equipamentos produziria três quartos das emissões permitidas à Alemanha segundo os pactos internacionais, de acordo com um relatório recente publicado por uma entidade alemã de monitoramento ambiental. Os terminas permaneceriam em uso até 2043, impossibilitando a meta de descarbonização total da Alemanha prometida para 2045 pelo governo de Scholz.

Acima de tudo, alertam ativistas, os países ricos precisam resistir à tentação de reagir à escassez de curto prazo de energia apostando novamente em infraestrutura para combustíveis fósseis.

“Todos os argumentos estão sobre a mesa neste momento”, afirmou Neubauer, a ativista da Fridays for Future. “Sabemos exatamente o que os combustíveis fósseis fazem com o clima. Também sabemos muito bem que Putin não é o único autocrata no mundo. E sabemos que nenhuma democracia é capaz de ser verdadeiramente livre e segura enquanto depender de importações de combustíveis fósseis.” / NYT, TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

BERLIM — A invasão russa à Ucrânia pareceu uma oportunidade inesperada para os ambientalistas, que tinham dificuldades em voltar a atenção do mundo para a magnitude da independência energética que as fontes renováveis são capazes de oferecer. Com o Ocidente tentando se livrar do petróleo e do gás natural produzidos pela Rússia, o argumento pelas fontes de energia solar e eólica pareceu mais forte que nunca.

Mas passados quatro meses de guerra, a correria para substituir combustíveis fósseis desencadeou exatamente o contrário. Enquanto os líderes do Grupo dos 7 países industrializados se encontraram nos Alpes Bávaros em uma cúpula que deveria cimentar seu compromisso com a luta contra as mudanças climáticas, os combustíveis fósseis testemunham uma ressurgência de tempo de guerra, com governantes mais interessados em baixar os preços do petróleo e do gás do que reduzir imediatamente as emissões de seus países.

Nações estão revertendo planos de banir queima de carvão. Eles estão buscando mais petróleo e comprometendo bilhões na construção de terminais para gás natural liquefeito (GNL).

Usina de carvão em funcionamento em Nochten, na Alemanha; país ampliou uso de energias fósseis Foto: Matthias Rietschel/ Reuters

Empresas de combustíveis fósseis, havia muito na defensiva, estão capitalizando sobre as ansiedades relativas à segurança energética e fazendo lobby pesado para investimentos de longo prazo em infraestrutura, o que arrisca tirar dos trilhos metas climáticas acordadas no ano passado.

Uma guerra dentro da guerra

“Esta é a nossa batalha neste momento”, afirmou Jennifer Morgan, embaixadora-itinerante para mudanças climáticas no Ministério de Relações Exteriores da Alemanha e ex-presidente da ONG Greenpeace International. “Estamos em um momento de enorme perturbação por causa da invasão, que pode representar tanto um risco enorme quanto uma abertura enorme para o meio ambiente.”

Os líderes dos países do G-7, incluindo Estados Unidos e Alemanha, viram-se encurralados entre suas ambiciosas metas para se livrar dos combustíveis fósseis e as pressões políticas e econômicas ocasionadas pela guerra. Líderes buscam maneiras de aliviar a alta nos custos da energia produzida pela guerra, que contribuiu rapidamente para a inflação global, e de garantir o fornecimento no futuro imediato.

Guerra na Ucrânia: Kharkiv tenta se reerguer enquanto teme nova invasão russa

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A volta do carvão

Em uma evidente reviravolta, a Alemanha passou a fazer lobby sobre seus colegas do G-7 para cancelar um comprometimento conjunto do grupo em banir investimentos públicos em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano. Se os países-membros aceitarem, isso não apenas tornará mais difícil persuadir o restante do mundo a diminuir as emissões e investir em energia renovável, mas também colocará em risco a meta declarada de limitar o aquecimento global a 1,5º Celsius, alertam analistas.

Outra proposta que ganhou tração nos dias recentes e deverá ser discutida na cúpula é um teto de preço para o petróleo russo, permitindo aos países europeus importar o insumo, mas sob a condição de pagar um preço artificialmente baixo. Isso colaboraria para baixar os preços do petróleo e da gasolina em todo o mundo e reduziria o lucro com exportações que permite ao presidente Vladimir Putin seus esforços de guerra na Ucrânia. E também poderia estimular um aumento na produção de petróleo na Rússia.

Uma saída contra a recessão

Uma das arquitetas da ideia, a secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, tem afirmado privadamente a líderes mundiais que impor o chamado teto de preço sobre as exportações de petróleo russo para a Europa seria a melhor coisa que os governantes poderiam fazer neste momento para minimizar as chances de recessão global, de acordo com pessoas familiarizadas com as conversas.

Na véspera da cúpula, seu anfitrião, o chanceler alemão, Olaf Scholz, insistiu que enfrentar a crise energética a curto prazo ocasionada pela guerra da Rússia não deve tirar dos trilhos metas climáticas a longo prazo.

“É importante discutirmos a situação hoje e, ao mesmo tempo, garantir que ponhamos um fim às mudanças climáticas decorrentes da atividade humana”, afirmou ele em um vídeo postado no sábado. “Por que é isso o que temos de fazer, nos afastar dos combustíveis fósseis no longo prazo.”

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Imagens gravadas com uma GoPro mostram o momento em que um grupo de jornalistas é atacado e ferido por bombardeios russos enquanto cobriam o conflito em Luhansk

Revolta ambientalista

Ambientalistas, muitos deles nas ruas da Baviera protestando durante a cúpula, não compram essa narrativa.

“Em vez de uma ressureição massiva das fontes renováveis, estamos testemunhando um retrocesso massivo para os combustíveis fósseis”, afirmou Luisa Neubauer, a ativista mais proeminente do movimento internacional Fridays for Future. “A Alemanha é um dos países que lidera esse retrocesso aos combustíveis fósseis por meio da nossa política doméstica e externa.”

Antes da invasão russa, em fevereiro, os países do G7 tinham estabelecido vários compromissos ambientais: livrar-se do carvão até 2030; descarbonizar a eletricidade que consomem até 2035; aumentar o investimento público em fontes renováveis de energia; e pôr fim a qualquer financiamento público em projetos de produção de combustíveis fósseis no exterior até o fim deste ano.

Mas conforme as brigas evolvendo energia entre Rússia e Europa escalaram, o tom mudou.

Neste mês, a Rússia cortou em 60% a quantidade de gás que fornece para os europeus por meio do gasoduto Nord Stream 1, que é crucial para o abastecimento da Alemanha e de outros países. Isso fez com que governos europeus ativassem usinas a carvão que haviam sido fechadas ou eram desativadas gradualmente.

A Alemanha está subsidiando os preços da gasolina e prolongando a vida dos geradores de eletricidade movidos a carvão. As usinas holandesas a carvão, que funcionavam a 35% de sua capacidade, foram autorizadas a aumentar a produção para 100% até 2024. A Áustria está reativando uma usina a carvão que não funcionava desde abril de 2020. A Itália está se preparando para permitir que seis usinas de eletricidade movidas a carvão aumentem a produção.

Meta de aquecimento em risco

Mais preocupante, afirmam analistas, é a atual afobação por fontes de gás envolvendo investimentos a longo prazo em infraestrutura, que tornaria quase impossível limitar o aquecimento global a no máximo 1,5º Celsius, segundo a meta estabelecida.

A Alemanha aprovou uma legislação autorizando a construção de 12 terminais de GNL e já encomendou quatro terminais flutuantes para recebimento do insumo.

Críticos atacam a medida afirmando que a construção dos 12 terminais produziria um excesso de capacidade. Mas mesmo a construção da metade dos equipamentos produziria três quartos das emissões permitidas à Alemanha segundo os pactos internacionais, de acordo com um relatório recente publicado por uma entidade alemã de monitoramento ambiental. Os terminas permaneceriam em uso até 2043, impossibilitando a meta de descarbonização total da Alemanha prometida para 2045 pelo governo de Scholz.

Acima de tudo, alertam ativistas, os países ricos precisam resistir à tentação de reagir à escassez de curto prazo de energia apostando novamente em infraestrutura para combustíveis fósseis.

“Todos os argumentos estão sobre a mesa neste momento”, afirmou Neubauer, a ativista da Fridays for Future. “Sabemos exatamente o que os combustíveis fósseis fazem com o clima. Também sabemos muito bem que Putin não é o único autocrata no mundo. E sabemos que nenhuma democracia é capaz de ser verdadeiramente livre e segura enquanto depender de importações de combustíveis fósseis.” / NYT, TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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