Como e por que Juan Guaidó declarou-se presidente interino da Venezuela


Após ter sido desmobilizada nas eleições de 2018, oposição venezuelana se rearticulou interna e externamente para tentar tirar o chavismo do poder

Por Luiz Raatz

É a terceira vez em cinco anos que a oposição venezuelana sai às ruas contra o presidente Nicolás Maduro. Em 2014 e 2017, após repressão e dezenas de mortes nas ruas, o chavismo conseguiu debelar as manifestações e desarticular a força política da oposição. Desta vez, sob nova liderança, a Mesa da Unidade Democrática (MUD) se reorganizou interna e externamente para tentar tirar o chavismo do poder. Mas como e por que isso está acontecendo agora? E quais as chances de, desta vez, a oposição sair vitoriosa?

Depois dos protestos de 2017, convocados para pressionar pela realização de um referendo revogatório do mandato de Maduro e que deixaram 165 mortos, a oposição ficou bastante enfraquecida e dividida. Os partidos que compõem a MUD -  que nunca foram coesos - se dividiram sob qual rumo tomar depoisque Maduro convocou uma Assembleia Nacional Constituinte para substituir, na prática, o Parlamento de maioria opositora. 

Manifestações de 23 de janeiro de 2019, quando se comemora o fim da ditadura Pérez Jimenez,foram convocadas por líderes da oposição chavista e por Nicolás Maduro Foto: Federico Parra/AFP
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Fortalecido pela desmobilização opositora, o chavismo ampliou a perseguição a líderes da MUD. Alguns, como Julio Borges e Antonio Ledezma e David Smolansky, deixaram a Venezuela. Leopoldo López seguiu preso. Henrique Capriles perdeu os direitos políticos. 

Agravamento da crise econômica

Ao mesmo tempo, no campo econômico, a crise se agravou com a imposição de sanções americanas às fontes de financiamento da Venezuela, o que, na prática, dificultou a exportação de petróleo e o refinanciamento e pagamento da dívida externa. Com isso, a hiperinflação saiu de controle, chegando em 2018 a 1 milhão por cento, segundo o FMI

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A escassez de alimentos e remédios ficou mais grave e se somou à deterioração da infraestrutura de serviços básicos, como água, luz e gás. Sem dinheiro em caixa para quase nada, o chavismo deixou às moscas a manutenção das empresas estatais que cuidam desses fornecimentos. 

O maior problema diário dos venezuelanos se transformou em comer. Segundo a FAO, a fome no país triplicou entre 2016 e 2018. Com dificuldade de ter dinheiro para comprar alimentos cada vez mais escassos, o governo criou uma alternativa: o Carnê de la Pátria (Clap).

Documento universal, usado para retirada de alimentos de cesta básica importados de países como a Turquia, o Clap também é usado para registrar eleitores em processos eleitorais, o que, segundo a oposição, configura um mecanismo de fraude eleitoral. 

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Dividida, MUD vê novas lideranças surgirem

Ao entrar em 2018, Maduro decidiu antecipar as eleições para o primeiro semestre, temendo que o agravamento da crise pudesse deteriorar ainda mais seu apoio nas bases chavistas. Com isso, o governo conseguiu dividir a MUD. Enquanto a maioria dos partidos optou por boicotar a votação - caso de Capriles, López e Maria Corina Machado- a oposição menos radical, do ex-presidente da Assembleia Nacional Henry Ramos Allup, e do chavista dissidente Henri Falcón optaram por participar do processo. Maduro foi reeleito em maio. 

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Na virada do ano, com as principais lideranças opositoras presas ou no exílio, coube a um nome desconhecido do grande público assumir o comando da Assembleia Nacional - que, até então continua existindo formalmente, mas sem poderes reais. Juan Guaidó, de 35 anos, é deputado do Voluntad Popular, partido de López. Coube a ele liderar um novo plano, gestado, segundo analistas, tanto fora quanto dentro da Venezuela. 

"Enquanto a oposição dentro da Venezuela é mais jovem e tenta encontrar canais para uma transição, a que está fora busca apoio internacional contra o chavismo", explica Luis Vicente León, do Instituto Datanalisis. 

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Dentro da Venezuela, Guaidó mudou o discurso tradicional  dos opositores tradicionais, centrado no antagonismo ao chavismo. Falou em transição pacífica e ofereceu anistia a chavistas descontentes com Maduro, tanto no Exército quanto na burocracia estatal. Com a crise, principalmente o baixo oficialato e funcionários de menor poder aquisitivo passaram a sofrer com a escassez e a falta de serviços básicos. 

Crise afeta as bases chavistas

Além disso, como nota o especialista em Venezuela do Washington Office on Latin American Affairs, David Smilde, a população tradicionalmente chavista começou a sentir para valer a crise. Não tanto pela falta de alimentos, subsidiada pelo Clap, mas com os cortes quase diários de luz, gás e água. 

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"O grande desafio de Guaidó é unir essa parcela da população à massa de classe média que tradicionalmente marcha com a oposição", diz Smilde.

Na avaliação de Rocio San Miguel, especialista em assuntos militares venezuelanos da ONG Control Ciudadano, sem o apoio de pelo menos uma parte do alto comando do Exército à oposição, dificilmente Maduro deixará o poder. Segundo ela, até agora sinais de sublevação surgiram apenas entre sargentos e soldados,apesar de haver crescente insatisfação nas camadas médias,  também afetadas pela crise. A cúpula, no entanto, segue jurando fidelidade a Maduro. 

Desde 2013, Maduro hipotecou grandes partes do Estado e da economia venezuelana. A participação de militares em ministérios, por exemplo, chegou a 47% antes do agravamento da crise, segundo San Miguel, hoje é de 25%. Hoje, eles trocaram cargos no governo por participação direta em ramos da economia que ainda dão dinheiro, como petróleo, mineração e distribuição de alimentos, também de acordo com a analista. 

Pressão diplomática no exterior

No front externo, os opositores no exílio aproveitaram a mudança de tom político na América Latina, com a chegada de governos conservadores a países como Colômbia, Chile e Brasil, e a diáspora de refugiados venezuelanos pelo continente para articular uma frente crítica a Maduro, personalizada no grupo de Lima, criado no ano passado para monitorar a crise venezuelana. 

A estratégia de reconhecer Guaidó como presidente, diz Smilde, tem como objetivo não apenas a pressão diplomática contra Maduro. No limite, países estrangeiros que reconheçam Guaidó podem transferir para a oposição ativos do Estado venezuelano. Com recursos, a MUD poderia tanto ter meios para mitigar a crise em prefeituras e governos que ainda controla, atraindo a atenção da opinião pública. 

Os Estados Unidos, por sua vez, deixaram claro que retaliarão Maduro se o chavismo decidir agir contra Guaidó ou a representação diplomática em Caracas. Sanções contra o petróleo e minerador venezuelano, que prejudicariam ainda mais tanto as finanças do Estado como as dos militares que controlam essas commodities, não estão descartadas e sua aplicação criariam motivos para um possível rompimento do alto comando militar com Maduro.

É a terceira vez em cinco anos que a oposição venezuelana sai às ruas contra o presidente Nicolás Maduro. Em 2014 e 2017, após repressão e dezenas de mortes nas ruas, o chavismo conseguiu debelar as manifestações e desarticular a força política da oposição. Desta vez, sob nova liderança, a Mesa da Unidade Democrática (MUD) se reorganizou interna e externamente para tentar tirar o chavismo do poder. Mas como e por que isso está acontecendo agora? E quais as chances de, desta vez, a oposição sair vitoriosa?

Depois dos protestos de 2017, convocados para pressionar pela realização de um referendo revogatório do mandato de Maduro e que deixaram 165 mortos, a oposição ficou bastante enfraquecida e dividida. Os partidos que compõem a MUD -  que nunca foram coesos - se dividiram sob qual rumo tomar depoisque Maduro convocou uma Assembleia Nacional Constituinte para substituir, na prática, o Parlamento de maioria opositora. 

Manifestações de 23 de janeiro de 2019, quando se comemora o fim da ditadura Pérez Jimenez,foram convocadas por líderes da oposição chavista e por Nicolás Maduro Foto: Federico Parra/AFP

Fortalecido pela desmobilização opositora, o chavismo ampliou a perseguição a líderes da MUD. Alguns, como Julio Borges e Antonio Ledezma e David Smolansky, deixaram a Venezuela. Leopoldo López seguiu preso. Henrique Capriles perdeu os direitos políticos. 

Agravamento da crise econômica

Ao mesmo tempo, no campo econômico, a crise se agravou com a imposição de sanções americanas às fontes de financiamento da Venezuela, o que, na prática, dificultou a exportação de petróleo e o refinanciamento e pagamento da dívida externa. Com isso, a hiperinflação saiu de controle, chegando em 2018 a 1 milhão por cento, segundo o FMI

A escassez de alimentos e remédios ficou mais grave e se somou à deterioração da infraestrutura de serviços básicos, como água, luz e gás. Sem dinheiro em caixa para quase nada, o chavismo deixou às moscas a manutenção das empresas estatais que cuidam desses fornecimentos. 

O maior problema diário dos venezuelanos se transformou em comer. Segundo a FAO, a fome no país triplicou entre 2016 e 2018. Com dificuldade de ter dinheiro para comprar alimentos cada vez mais escassos, o governo criou uma alternativa: o Carnê de la Pátria (Clap).

Documento universal, usado para retirada de alimentos de cesta básica importados de países como a Turquia, o Clap também é usado para registrar eleitores em processos eleitorais, o que, segundo a oposição, configura um mecanismo de fraude eleitoral. 

Dividida, MUD vê novas lideranças surgirem

Ao entrar em 2018, Maduro decidiu antecipar as eleições para o primeiro semestre, temendo que o agravamento da crise pudesse deteriorar ainda mais seu apoio nas bases chavistas. Com isso, o governo conseguiu dividir a MUD. Enquanto a maioria dos partidos optou por boicotar a votação - caso de Capriles, López e Maria Corina Machado- a oposição menos radical, do ex-presidente da Assembleia Nacional Henry Ramos Allup, e do chavista dissidente Henri Falcón optaram por participar do processo. Maduro foi reeleito em maio. 

Na virada do ano, com as principais lideranças opositoras presas ou no exílio, coube a um nome desconhecido do grande público assumir o comando da Assembleia Nacional - que, até então continua existindo formalmente, mas sem poderes reais. Juan Guaidó, de 35 anos, é deputado do Voluntad Popular, partido de López. Coube a ele liderar um novo plano, gestado, segundo analistas, tanto fora quanto dentro da Venezuela. 

"Enquanto a oposição dentro da Venezuela é mais jovem e tenta encontrar canais para uma transição, a que está fora busca apoio internacional contra o chavismo", explica Luis Vicente León, do Instituto Datanalisis. 

Dentro da Venezuela, Guaidó mudou o discurso tradicional  dos opositores tradicionais, centrado no antagonismo ao chavismo. Falou em transição pacífica e ofereceu anistia a chavistas descontentes com Maduro, tanto no Exército quanto na burocracia estatal. Com a crise, principalmente o baixo oficialato e funcionários de menor poder aquisitivo passaram a sofrer com a escassez e a falta de serviços básicos. 

Crise afeta as bases chavistas

Além disso, como nota o especialista em Venezuela do Washington Office on Latin American Affairs, David Smilde, a população tradicionalmente chavista começou a sentir para valer a crise. Não tanto pela falta de alimentos, subsidiada pelo Clap, mas com os cortes quase diários de luz, gás e água. 

"O grande desafio de Guaidó é unir essa parcela da população à massa de classe média que tradicionalmente marcha com a oposição", diz Smilde.

Na avaliação de Rocio San Miguel, especialista em assuntos militares venezuelanos da ONG Control Ciudadano, sem o apoio de pelo menos uma parte do alto comando do Exército à oposição, dificilmente Maduro deixará o poder. Segundo ela, até agora sinais de sublevação surgiram apenas entre sargentos e soldados,apesar de haver crescente insatisfação nas camadas médias,  também afetadas pela crise. A cúpula, no entanto, segue jurando fidelidade a Maduro. 

Desde 2013, Maduro hipotecou grandes partes do Estado e da economia venezuelana. A participação de militares em ministérios, por exemplo, chegou a 47% antes do agravamento da crise, segundo San Miguel, hoje é de 25%. Hoje, eles trocaram cargos no governo por participação direta em ramos da economia que ainda dão dinheiro, como petróleo, mineração e distribuição de alimentos, também de acordo com a analista. 

Pressão diplomática no exterior

No front externo, os opositores no exílio aproveitaram a mudança de tom político na América Latina, com a chegada de governos conservadores a países como Colômbia, Chile e Brasil, e a diáspora de refugiados venezuelanos pelo continente para articular uma frente crítica a Maduro, personalizada no grupo de Lima, criado no ano passado para monitorar a crise venezuelana. 

A estratégia de reconhecer Guaidó como presidente, diz Smilde, tem como objetivo não apenas a pressão diplomática contra Maduro. No limite, países estrangeiros que reconheçam Guaidó podem transferir para a oposição ativos do Estado venezuelano. Com recursos, a MUD poderia tanto ter meios para mitigar a crise em prefeituras e governos que ainda controla, atraindo a atenção da opinião pública. 

Os Estados Unidos, por sua vez, deixaram claro que retaliarão Maduro se o chavismo decidir agir contra Guaidó ou a representação diplomática em Caracas. Sanções contra o petróleo e minerador venezuelano, que prejudicariam ainda mais tanto as finanças do Estado como as dos militares que controlam essas commodities, não estão descartadas e sua aplicação criariam motivos para um possível rompimento do alto comando militar com Maduro.

É a terceira vez em cinco anos que a oposição venezuelana sai às ruas contra o presidente Nicolás Maduro. Em 2014 e 2017, após repressão e dezenas de mortes nas ruas, o chavismo conseguiu debelar as manifestações e desarticular a força política da oposição. Desta vez, sob nova liderança, a Mesa da Unidade Democrática (MUD) se reorganizou interna e externamente para tentar tirar o chavismo do poder. Mas como e por que isso está acontecendo agora? E quais as chances de, desta vez, a oposição sair vitoriosa?

Depois dos protestos de 2017, convocados para pressionar pela realização de um referendo revogatório do mandato de Maduro e que deixaram 165 mortos, a oposição ficou bastante enfraquecida e dividida. Os partidos que compõem a MUD -  que nunca foram coesos - se dividiram sob qual rumo tomar depoisque Maduro convocou uma Assembleia Nacional Constituinte para substituir, na prática, o Parlamento de maioria opositora. 

Manifestações de 23 de janeiro de 2019, quando se comemora o fim da ditadura Pérez Jimenez,foram convocadas por líderes da oposição chavista e por Nicolás Maduro Foto: Federico Parra/AFP

Fortalecido pela desmobilização opositora, o chavismo ampliou a perseguição a líderes da MUD. Alguns, como Julio Borges e Antonio Ledezma e David Smolansky, deixaram a Venezuela. Leopoldo López seguiu preso. Henrique Capriles perdeu os direitos políticos. 

Agravamento da crise econômica

Ao mesmo tempo, no campo econômico, a crise se agravou com a imposição de sanções americanas às fontes de financiamento da Venezuela, o que, na prática, dificultou a exportação de petróleo e o refinanciamento e pagamento da dívida externa. Com isso, a hiperinflação saiu de controle, chegando em 2018 a 1 milhão por cento, segundo o FMI

A escassez de alimentos e remédios ficou mais grave e se somou à deterioração da infraestrutura de serviços básicos, como água, luz e gás. Sem dinheiro em caixa para quase nada, o chavismo deixou às moscas a manutenção das empresas estatais que cuidam desses fornecimentos. 

O maior problema diário dos venezuelanos se transformou em comer. Segundo a FAO, a fome no país triplicou entre 2016 e 2018. Com dificuldade de ter dinheiro para comprar alimentos cada vez mais escassos, o governo criou uma alternativa: o Carnê de la Pátria (Clap).

Documento universal, usado para retirada de alimentos de cesta básica importados de países como a Turquia, o Clap também é usado para registrar eleitores em processos eleitorais, o que, segundo a oposição, configura um mecanismo de fraude eleitoral. 

Dividida, MUD vê novas lideranças surgirem

Ao entrar em 2018, Maduro decidiu antecipar as eleições para o primeiro semestre, temendo que o agravamento da crise pudesse deteriorar ainda mais seu apoio nas bases chavistas. Com isso, o governo conseguiu dividir a MUD. Enquanto a maioria dos partidos optou por boicotar a votação - caso de Capriles, López e Maria Corina Machado- a oposição menos radical, do ex-presidente da Assembleia Nacional Henry Ramos Allup, e do chavista dissidente Henri Falcón optaram por participar do processo. Maduro foi reeleito em maio. 

Na virada do ano, com as principais lideranças opositoras presas ou no exílio, coube a um nome desconhecido do grande público assumir o comando da Assembleia Nacional - que, até então continua existindo formalmente, mas sem poderes reais. Juan Guaidó, de 35 anos, é deputado do Voluntad Popular, partido de López. Coube a ele liderar um novo plano, gestado, segundo analistas, tanto fora quanto dentro da Venezuela. 

"Enquanto a oposição dentro da Venezuela é mais jovem e tenta encontrar canais para uma transição, a que está fora busca apoio internacional contra o chavismo", explica Luis Vicente León, do Instituto Datanalisis. 

Dentro da Venezuela, Guaidó mudou o discurso tradicional  dos opositores tradicionais, centrado no antagonismo ao chavismo. Falou em transição pacífica e ofereceu anistia a chavistas descontentes com Maduro, tanto no Exército quanto na burocracia estatal. Com a crise, principalmente o baixo oficialato e funcionários de menor poder aquisitivo passaram a sofrer com a escassez e a falta de serviços básicos. 

Crise afeta as bases chavistas

Além disso, como nota o especialista em Venezuela do Washington Office on Latin American Affairs, David Smilde, a população tradicionalmente chavista começou a sentir para valer a crise. Não tanto pela falta de alimentos, subsidiada pelo Clap, mas com os cortes quase diários de luz, gás e água. 

"O grande desafio de Guaidó é unir essa parcela da população à massa de classe média que tradicionalmente marcha com a oposição", diz Smilde.

Na avaliação de Rocio San Miguel, especialista em assuntos militares venezuelanos da ONG Control Ciudadano, sem o apoio de pelo menos uma parte do alto comando do Exército à oposição, dificilmente Maduro deixará o poder. Segundo ela, até agora sinais de sublevação surgiram apenas entre sargentos e soldados,apesar de haver crescente insatisfação nas camadas médias,  também afetadas pela crise. A cúpula, no entanto, segue jurando fidelidade a Maduro. 

Desde 2013, Maduro hipotecou grandes partes do Estado e da economia venezuelana. A participação de militares em ministérios, por exemplo, chegou a 47% antes do agravamento da crise, segundo San Miguel, hoje é de 25%. Hoje, eles trocaram cargos no governo por participação direta em ramos da economia que ainda dão dinheiro, como petróleo, mineração e distribuição de alimentos, também de acordo com a analista. 

Pressão diplomática no exterior

No front externo, os opositores no exílio aproveitaram a mudança de tom político na América Latina, com a chegada de governos conservadores a países como Colômbia, Chile e Brasil, e a diáspora de refugiados venezuelanos pelo continente para articular uma frente crítica a Maduro, personalizada no grupo de Lima, criado no ano passado para monitorar a crise venezuelana. 

A estratégia de reconhecer Guaidó como presidente, diz Smilde, tem como objetivo não apenas a pressão diplomática contra Maduro. No limite, países estrangeiros que reconheçam Guaidó podem transferir para a oposição ativos do Estado venezuelano. Com recursos, a MUD poderia tanto ter meios para mitigar a crise em prefeituras e governos que ainda controla, atraindo a atenção da opinião pública. 

Os Estados Unidos, por sua vez, deixaram claro que retaliarão Maduro se o chavismo decidir agir contra Guaidó ou a representação diplomática em Caracas. Sanções contra o petróleo e minerador venezuelano, que prejudicariam ainda mais tanto as finanças do Estado como as dos militares que controlam essas commodities, não estão descartadas e sua aplicação criariam motivos para um possível rompimento do alto comando militar com Maduro.

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