THE NEW YORK TIMES - O progresso tecnológico vai levar ao desemprego em massa? As pessoas têm feito essa pergunta há dois séculos, e a resposta sempre acabou sendo não.
A tecnologia elimina alguns empregos, mas sempre gerou uma quantidade suficiente de outros novos para compensar essas perdas, e há muitas razões para acreditar que isso continuará assim no futuro próximo.
No entanto, o progresso não é indolor. Empresas e alguns economistas podem falar brilhantemente sobre as virtudes da “destruição criativa”, mas a transformação pode ser social e economicamente devastadora para aqueles que se encontram do lado destruído.
Isso é verdadeiro especialmente quando a mudança tecnológica acaba não apenas com trabalhadores, mas também com comunidades inteiras.
E isso não é uma proposição hipotética. É grande parte do que aconteceu no campo nos Estados Unidos.
Esse processo e seus efeitos são detalhados de forma devastadora, aterrorizante e desconcertante em “White Rural Rage: The Threat to American Democracy” [Raiva Rural Branca: A Ameaça à Democracia Americana], novo livro de Tom Schaller e Paul Waldman.
Digo “devastador” porque a dificuldade dos trabalhadores rurais americanos é real, “aterrorizante” porque a reação política a essa dificuldade representa um perigo claro e constante para nossa democracia, e “desconcertante” porque em algum nível eu ainda não entendo o lado político disso.
A tecnologia é o principal motor do declínio rural, argumentam Schaller e Waldman. De fato, as fazendas americanas produzem mais de cinco vezes mais do que há 75 anos, mas a força de trabalho rural diminuiu cerca de 70% no mesmo período, graças a máquinas, sementes melhoradas, fertilizantes e pesticidas.
A produção de carvão tem caído recentemente, mas, em parte graças a tecnologias como o método mountaintop removal, a mineração de carvão como modo de vida desapareceu há muito tempo, com o número de mineiros caindo 80% enquanto a produção quase dobrou.
O declínio da manufatura em pequenas cidades é um caso mais complicado, e as importações tiveram um papel importante nisso, mas também se trata principalmente de mudanças tecnológicas que favorecem áreas metropolitanas com grandes números de trabalhadores altamente qualificados.
A tecnologia, então, tornou o país como um todo mais rico, mas reduziu as oportunidades econômicas em áreas rurais. Então, por que os trabalhadores rurais não vão onde estão os empregos? Alguns foram.
No entanto, algumas cidades se tornaram caras, em parte por causa do zoneamento restritivo —uma coisa que os estados democratas fazem errado—, e muitos trabalhadores também relutam em deixar suas famílias e comunidades.
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Então, não deveríamos ajudar essas comunidades? Nós ajudamos. Programas federais estão disponíveis para todos os americanos, mas são financiados de forma desproporcional com impostos pagos por áreas urbanas ricas.
Como resultado, há enormes transferências de dinheiro de estados urbanos ricos como Nova Jersey para estados rurais relativamente pobres, como Virgínia Ocidental.
Embora essas transferências atenuem um pouco a dificuldade enfrentada pelo campo nos Estados Unidos, elas não restauram o senso de dignidade que foi perdido junto com os postos de trabalho rurais.
E talvez essa perda de dignidade explique a raiva rural branca e por que ela é tão mal direcionada —já que é bem claro que nestas eleições a maioria dos americanos brancos do campo votará novamente contra Joe Biden, que como presidente tem tentado gerar empregos em suas comunidades, e em favor de Donald Trump, um vigarista do Queens que oferece pouco além de validação para o ressentimento deles.
Esse sentimento de perda de dignidade pode ser agravado porque alguns americanos do campo há muito tempo se veem como mais trabalhadores, mais patrióticos e talvez até moralmente superiores aos habitantes das grandes cidades —uma atitude ainda expressa em artefatos culturais como a música de sucesso de Jason Aldean “Try That in a Small Town”.
No sentido mais grosseiro, o campo e as pequenas cidades dos Estados Unidos deveriam ser preenchidos por pessoas trabalhadoras que aderem a valores tradicionais, diferentes daquelas pessoas da cidade grande que vivem de assistência social, mas a realidade econômica e social não corresponde a essa autoimagem.
Homens em idade ativa fora das áreas metropolitanas têm substancialmente menos probabilidade do que seus colegas das cidades de estarem empregados —não porque são preguiçosos, mas porque os empregos simplesmente não estão nesses locais.
A diferença é muito menor para as mulheres, talvez porque os empregos apoiados por programas federais tendem a ser vistos como femininos, como os da área da saúde.
Muitos estados rurais também têm altas taxas de homicídio, suicídio e de bebês criados por mães solteiras —novamente, não porque os americanos do campo são pessoas ruins, mas porque a desordem social é, como o sociólogo William Julius Wilson argumentou há muito tempo sobre os problemas urbanos, o que acontece quando o trabalho vai embora.
Chame a atenção para alguns desses problemas e você será acusado de ser um elitista esnobe da cidade. Tenho certeza que os comentários nesta coluna serão interessantes.
O resultado —que em algum nível ainda acho difícil de entender— é que muitos eleitores brancos do campo apoiam políticos que lhes dizem mentiras que desejam ouvir.
Isso ajuda a explicar por que a narrativa Maga [’Make America Great Again’, slogan da campanha de Trump] retrata cidades relativamente seguras como Nova York como palcos da criminalidade enquanto as regiões rurais dos Estados Unidos são vítimas não da tecnologia, mas de imigrantes ilegais, “wokeness” e do estado profundo.
A essa altura, você provavelmente está esperando uma solução para essa situação política feia. Schaller e Waldman oferecem algumas sugestões. Mas a verdade é que, embora a raiva rural branca seja talvez a maior ameaça à democracia americana, não tenho boas ideias sobre como combatê-la.
* Paul Krugman é prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times
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