WASHINGTON - Temendo uma prisão na investigação por subornar a atriz pornô Stormy Daniels para ocultar um caso extraconjungal, o ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump mobilizou seus apoiadores no fim de semana para protestar contra um possível indiciamento no caso, que está a cargo da procuradoria federal em Nova York.
A investigação é uma das que podem prejudicar Trump politicamente atualmente em curso na Justiça dos Estados Unidos. Outras incluem a invasão do Capitólio e a manutenção de documentos ultrassecretos da presidência de maneira irregular.
Trump anunciou no fim do ano passado a intenção de voltar a disputar a presidência e, no momento, é o favorito nas primárias republicanas do ano que vem. Veja a seguir como os problemas do ex-presidente com a Justiça podem afetá-lo nos próximos meses:
‘Efeito teflon’e base de apoio fiel
Trump é considerado um dos políticos mais populares dos Estados Unidos, se não o mais popular. Desde que deixou o poder, mantém uma base de apoio considerável entre os americanos mais conservadores e mantém um razoável controle sobre a máquina do Partido Republicano, mesmo diante de vários problemas com a lei.
A invasão do Capitólio, em 6 de janeiro de 2021, e a operação do FBI em Mar-a-Lago, na Flórida, no ano passado, não impactaram significativamente a popularidade do republicano, que segue com índices de aprovação em torno dos 40%.
O chamado ‘efeito teflon’ - expressão conhecida para quando escândalos não costumam ‘grudar’ nos políticos - tem ajudado o ex-presidente. Ele ainda é o favorito nas primárias e supera qualquer rival dentro do partido. Além disso, o caso Stormy Daniels é conhecido do público americano, pelo menos, desde 2016.
Indiciado e candidato
De todo modo, os efeitos políticos de um indiciamento na pré-candidatura de Trump ainda são incertos, já que seria praticamente inédito na história recente americana. O caso Stormy Daniels é menos grave judicialmente do que os outros problemas de Trump na Justiça, mas no momento, é o mais próximo de um desfecho.
A investigação liderada pelo procurador distrital de Manhattan, Alvin Bragg, se concentra em um pagamento de US$ 130 mil feito duas semanas antes da eleição presidencial de 2016, vencida por Trump, a uma atriz pornô conhecida como Stormy Daniels.
O dinheiro era destinado, supostamente, a impedir Stormy, cujo verdadeiro nome é Stephanie Clifford, de revelar um relacionamento que diz ter tido com Trump alguns anos antes.
Para Entender
Cisão na base republicana?
Trump pode se beneficiar politicamente se os republicanos se unirem em sua defesa. Mas isso é um efeito de curto prazo. Muitos republicanos que rejeitam sua indicação à presidência podem avaliar, com o passar do tempo, que o ex-presidente traz problemas demais consigo e é melhor optar por outro candidato.
Isso aumenta os riscos negativos para sua candidatura, Uma coisa é reunir sua base, mesmo correndo o risco de cimentar a oposição a seu nome na eleição geral, quando você está com 55% de popularidade nas pesquisas. Isso é o suficiente para vencer as primárias.
Mas é muito diferente de uma popularidade em torno de 35%, como é o caso de Trump hoje. Esse indicador mostra que o ex-presidente não apenas corre o risco de não vencer as primárias, como também sugere que ele é uma aposta arriscada. Isso pode fechar seu caminho para a vitória. Hoje, Trump está na casa dos 40, entre 35% e 55%. Pode haver muito mais desvantagens do que vantagens para Trump. Uma fatia crucial de republicanos pode decidir que está pronta para seguir em frente e se afastar de seu líder.
Futuro incerto
A longo prazo, a situação ainda é obscura. Uma acusação traria o espectro de um julgamento e até mesmo a possibilidade de condenação e prisão para dentro da pré-campanha eleitoral. Isso traz a possibilidade de que Trump possa se comportar de maneiras imprevisíveis com consequências políticas incertas e arriscadas, como reunir manifestantes e o potencial de violência.
E Trump enfrenta outros riscos legais, incluindo aqueles que podem ser politicamente mais ameaçadores. O governador Ron DeSantis, da Flórida, que se espera ser seu principal oponente, pode atacá-lo com sucesso de maneiras que não poderia hoje./ NYT