Opinião|Como ficará a política externa americana se Donald Trump vencer as eleições nos EUA?


Volta de Trump potencializaria o risco de o Irã virar potência nuclear, de agravamento do conflito entre palestinos e israelenses, de derrota da Ucrânia e aumento da influência da China e da Rússia sobre o Sul Global

Por Lourival Sant'Anna
Atualização:

Uma eventual volta de Donald Trump à Casa Branca potencializaria o risco de o Irã se converter em potência nuclear, de agravamento do conflito entre palestinos e israelenses, de derrota da Ucrânia, de aumento da influência da China e da Rússia sobre o Sul Global, de uma guerra tarifária e consequente aumento da inflação mundial e de um aprofundamento da crise climática.

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O Irã estava sob o regime de inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica mais intrusivos da história quando Trump rompeu o acordo nuclear, em maio de 2018. O país escalou então o seu programa de enriquecimento de urânio, na época de apenas 3,67%, suficiente para a geração de energia, em direção aos mais de 90%, necessários para a produção de bombas nucleares.

O presidente Massud Pezeshkian se elegeu em julho prometendo firmar um novo acordo nuclear com o Ocidente. A janela de oportunidade se fecharia com a volta de Trump.

O ex-presidente Donald Trump participa de comício em Albuquerque, Novo México: aumento da tensão global em caso de vitória  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP
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O ex-presidente brindou Israel com apoio incondicional, e faria o mesmo em um segundo mandato. As restrições impostas por Joe Biden e Kamala Harris à condução da guerra na Faixa de Gaza e no Líbano pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu desapareceriam. As chances de negociação com o Hamas, e portanto de libertação dos reféns, ficariam ainda menores.

Os instintos de limpeza étnica representados pelos ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança, Itamar Ben Gvir, ambos líderes dos colonos judeus, que defendem abertamente a expulsão dos palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, ganhariam um selo de normalização. A situação dos palestinos se deterioraria ainda mais. O radicalismo e o terrorismo ganhariam força.

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Inspirada em Trump, parte da bancada republicana bloqueou a ajuda à Ucrânia por diversos meses na Câmara dos Deputados. Já no início de seu primeiro mandato, em uma ligação telefônica com o presidente Volodymyr Zelensky, Trump condicionou a liberação de ajuda militar à Ucrânia à investigação de possíveis irregularidades na atuação de Hunter Biden, filho de Joe Biden, no conselho da empresa ucraniana Barisma. Esse foi o motivo do primeiro impeachment aberto pela Câmara dos Deputados contra ele, em setembro de 2019.

Já na campanha de 2016, Vladimir Putin demonstrou sua preferência por Trump, com uma campanha no Facebook e o vazamento dos emails de Hillary Clinton e seus assessores, promovidos por hackers vinculados ao Kremlin. Já presidente, Trump se colocou ao lado de Putin e contra o FBI e a CIA, que investigavam a interferência russa nas eleições: “Não vejo razão para isso. O presidente Putin foi extremamente forte e poderoso em seu desmentido hoje”, disse Trump depois de reunião de cúpula com o autocrata russo em julho de 2018 em Helsinque.

Trump expressou inúmeras vezes sua admiração pela figura supostamente “forte” de Putin. O jornalista Bob Woodward revelou recentemente que, no auge da pandemia, Trump enviou secretamente a Putin um kit para teste de covid, que estava em falta nos Estados Unidos.

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Agora, ele diz que “acabaria” com a guerra na Ucrânia ainda como presidente eleito, sem esclarecer como. No debate do dia 10 de setembro, o moderador David Muir perguntou duas vezes se Trump queria a vitória da Ucrânia. “Eu quero que ela acabe”, respondeu apenas. Conectando todas essas informações, a conclusão óbvia é que ele retiraria o apoio e tentaria forçar a Ucrânia a ceder território.

Trump tem dito que seria um “ditador” desde o primeiro dia, e ao longo de sua carreira política iniciada em 2015 tem adotado inúmeras atitudes para atacar as instituições democráticas, que culminaram na invasão do Capitólio por seus seguidores para tentar impedir a certificação da vitória de Biden em janeiro de 2021.

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Essas atitudes têm abalado o prestígio dos Estados Unidos como líder do mundo democrático e normalizado as tentações autoritárias ao redor do mundo. Essa dinâmica favorece a posição da China, que procura legitimar sua ditadura de partido único como mais eficaz e coerente do que a democracia.

Trump pretende elevar as tarifas dos produtos chineses, como fez no primeiro mandato. A China retaliará contra os produtos americanos. Isso pressionará as cadeias de valores e causará inflação, não só nos dois países, mas ao redor do mundo.

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Logo que assumiu, Trump rompeu o Acordo de Paris. Ele condena os investimentos trilionários de Biden na transição energética. Um de seus lemas de campanha é perfurar poços de petróleo. Seu negacionismo climático incentivará outros países a abandonar suas metas e esforços para reduzir as emissões, e a humanidade estará ainda mais exposta à catástrofe climática.

Uma eventual volta de Donald Trump à Casa Branca potencializaria o risco de o Irã se converter em potência nuclear, de agravamento do conflito entre palestinos e israelenses, de derrota da Ucrânia, de aumento da influência da China e da Rússia sobre o Sul Global, de uma guerra tarifária e consequente aumento da inflação mundial e de um aprofundamento da crise climática.

O Irã estava sob o regime de inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica mais intrusivos da história quando Trump rompeu o acordo nuclear, em maio de 2018. O país escalou então o seu programa de enriquecimento de urânio, na época de apenas 3,67%, suficiente para a geração de energia, em direção aos mais de 90%, necessários para a produção de bombas nucleares.

O presidente Massud Pezeshkian se elegeu em julho prometendo firmar um novo acordo nuclear com o Ocidente. A janela de oportunidade se fecharia com a volta de Trump.

O ex-presidente Donald Trump participa de comício em Albuquerque, Novo México: aumento da tensão global em caso de vitória  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

O ex-presidente brindou Israel com apoio incondicional, e faria o mesmo em um segundo mandato. As restrições impostas por Joe Biden e Kamala Harris à condução da guerra na Faixa de Gaza e no Líbano pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu desapareceriam. As chances de negociação com o Hamas, e portanto de libertação dos reféns, ficariam ainda menores.

Os instintos de limpeza étnica representados pelos ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança, Itamar Ben Gvir, ambos líderes dos colonos judeus, que defendem abertamente a expulsão dos palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, ganhariam um selo de normalização. A situação dos palestinos se deterioraria ainda mais. O radicalismo e o terrorismo ganhariam força.

Inspirada em Trump, parte da bancada republicana bloqueou a ajuda à Ucrânia por diversos meses na Câmara dos Deputados. Já no início de seu primeiro mandato, em uma ligação telefônica com o presidente Volodymyr Zelensky, Trump condicionou a liberação de ajuda militar à Ucrânia à investigação de possíveis irregularidades na atuação de Hunter Biden, filho de Joe Biden, no conselho da empresa ucraniana Barisma. Esse foi o motivo do primeiro impeachment aberto pela Câmara dos Deputados contra ele, em setembro de 2019.

Já na campanha de 2016, Vladimir Putin demonstrou sua preferência por Trump, com uma campanha no Facebook e o vazamento dos emails de Hillary Clinton e seus assessores, promovidos por hackers vinculados ao Kremlin. Já presidente, Trump se colocou ao lado de Putin e contra o FBI e a CIA, que investigavam a interferência russa nas eleições: “Não vejo razão para isso. O presidente Putin foi extremamente forte e poderoso em seu desmentido hoje”, disse Trump depois de reunião de cúpula com o autocrata russo em julho de 2018 em Helsinque.

Trump expressou inúmeras vezes sua admiração pela figura supostamente “forte” de Putin. O jornalista Bob Woodward revelou recentemente que, no auge da pandemia, Trump enviou secretamente a Putin um kit para teste de covid, que estava em falta nos Estados Unidos.

Agora, ele diz que “acabaria” com a guerra na Ucrânia ainda como presidente eleito, sem esclarecer como. No debate do dia 10 de setembro, o moderador David Muir perguntou duas vezes se Trump queria a vitória da Ucrânia. “Eu quero que ela acabe”, respondeu apenas. Conectando todas essas informações, a conclusão óbvia é que ele retiraria o apoio e tentaria forçar a Ucrânia a ceder território.

Trump tem dito que seria um “ditador” desde o primeiro dia, e ao longo de sua carreira política iniciada em 2015 tem adotado inúmeras atitudes para atacar as instituições democráticas, que culminaram na invasão do Capitólio por seus seguidores para tentar impedir a certificação da vitória de Biden em janeiro de 2021.

Essas atitudes têm abalado o prestígio dos Estados Unidos como líder do mundo democrático e normalizado as tentações autoritárias ao redor do mundo. Essa dinâmica favorece a posição da China, que procura legitimar sua ditadura de partido único como mais eficaz e coerente do que a democracia.

Trump pretende elevar as tarifas dos produtos chineses, como fez no primeiro mandato. A China retaliará contra os produtos americanos. Isso pressionará as cadeias de valores e causará inflação, não só nos dois países, mas ao redor do mundo.

Logo que assumiu, Trump rompeu o Acordo de Paris. Ele condena os investimentos trilionários de Biden na transição energética. Um de seus lemas de campanha é perfurar poços de petróleo. Seu negacionismo climático incentivará outros países a abandonar suas metas e esforços para reduzir as emissões, e a humanidade estará ainda mais exposta à catástrofe climática.

Uma eventual volta de Donald Trump à Casa Branca potencializaria o risco de o Irã se converter em potência nuclear, de agravamento do conflito entre palestinos e israelenses, de derrota da Ucrânia, de aumento da influência da China e da Rússia sobre o Sul Global, de uma guerra tarifária e consequente aumento da inflação mundial e de um aprofundamento da crise climática.

O Irã estava sob o regime de inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica mais intrusivos da história quando Trump rompeu o acordo nuclear, em maio de 2018. O país escalou então o seu programa de enriquecimento de urânio, na época de apenas 3,67%, suficiente para a geração de energia, em direção aos mais de 90%, necessários para a produção de bombas nucleares.

O presidente Massud Pezeshkian se elegeu em julho prometendo firmar um novo acordo nuclear com o Ocidente. A janela de oportunidade se fecharia com a volta de Trump.

O ex-presidente Donald Trump participa de comício em Albuquerque, Novo México: aumento da tensão global em caso de vitória  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

O ex-presidente brindou Israel com apoio incondicional, e faria o mesmo em um segundo mandato. As restrições impostas por Joe Biden e Kamala Harris à condução da guerra na Faixa de Gaza e no Líbano pelo primeiro-ministro Binyamin Netanyahu desapareceriam. As chances de negociação com o Hamas, e portanto de libertação dos reféns, ficariam ainda menores.

Os instintos de limpeza étnica representados pelos ministros das Finanças, Bezalel Smotrich, e da Segurança, Itamar Ben Gvir, ambos líderes dos colonos judeus, que defendem abertamente a expulsão dos palestinos da Cisjordânia e da Faixa de Gaza, ganhariam um selo de normalização. A situação dos palestinos se deterioraria ainda mais. O radicalismo e o terrorismo ganhariam força.

Inspirada em Trump, parte da bancada republicana bloqueou a ajuda à Ucrânia por diversos meses na Câmara dos Deputados. Já no início de seu primeiro mandato, em uma ligação telefônica com o presidente Volodymyr Zelensky, Trump condicionou a liberação de ajuda militar à Ucrânia à investigação de possíveis irregularidades na atuação de Hunter Biden, filho de Joe Biden, no conselho da empresa ucraniana Barisma. Esse foi o motivo do primeiro impeachment aberto pela Câmara dos Deputados contra ele, em setembro de 2019.

Já na campanha de 2016, Vladimir Putin demonstrou sua preferência por Trump, com uma campanha no Facebook e o vazamento dos emails de Hillary Clinton e seus assessores, promovidos por hackers vinculados ao Kremlin. Já presidente, Trump se colocou ao lado de Putin e contra o FBI e a CIA, que investigavam a interferência russa nas eleições: “Não vejo razão para isso. O presidente Putin foi extremamente forte e poderoso em seu desmentido hoje”, disse Trump depois de reunião de cúpula com o autocrata russo em julho de 2018 em Helsinque.

Trump expressou inúmeras vezes sua admiração pela figura supostamente “forte” de Putin. O jornalista Bob Woodward revelou recentemente que, no auge da pandemia, Trump enviou secretamente a Putin um kit para teste de covid, que estava em falta nos Estados Unidos.

Agora, ele diz que “acabaria” com a guerra na Ucrânia ainda como presidente eleito, sem esclarecer como. No debate do dia 10 de setembro, o moderador David Muir perguntou duas vezes se Trump queria a vitória da Ucrânia. “Eu quero que ela acabe”, respondeu apenas. Conectando todas essas informações, a conclusão óbvia é que ele retiraria o apoio e tentaria forçar a Ucrânia a ceder território.

Trump tem dito que seria um “ditador” desde o primeiro dia, e ao longo de sua carreira política iniciada em 2015 tem adotado inúmeras atitudes para atacar as instituições democráticas, que culminaram na invasão do Capitólio por seus seguidores para tentar impedir a certificação da vitória de Biden em janeiro de 2021.

Essas atitudes têm abalado o prestígio dos Estados Unidos como líder do mundo democrático e normalizado as tentações autoritárias ao redor do mundo. Essa dinâmica favorece a posição da China, que procura legitimar sua ditadura de partido único como mais eficaz e coerente do que a democracia.

Trump pretende elevar as tarifas dos produtos chineses, como fez no primeiro mandato. A China retaliará contra os produtos americanos. Isso pressionará as cadeias de valores e causará inflação, não só nos dois países, mas ao redor do mundo.

Logo que assumiu, Trump rompeu o Acordo de Paris. Ele condena os investimentos trilionários de Biden na transição energética. Um de seus lemas de campanha é perfurar poços de petróleo. Seu negacionismo climático incentivará outros países a abandonar suas metas e esforços para reduzir as emissões, e a humanidade estará ainda mais exposta à catástrofe climática.

Opinião por Lourival Sant'Anna

É colunista do 'Estadão' e analista de assuntos internacionais

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