“Preciso de você e Mike em casa”, disse o presidente Joe Biden no final da tarde de sábado, 20. Biden estava ao telefone de sua casa de férias em Rehoboth Beach, no estado de Delaware, com Steve Ricchetti, um de seus assessores mais próximos. O presidente estava se referindo a Mike Donilon, seu estrategista-chefe. Logo, os dois homens estavam em Rehoboth, mantendo o distanciamento social do presidente, que estava se recuperando da Covid.
A partir daquela tarde e até fim da noite de ontem, os três trabalharam em uma das cartas mais importantes e históricas da presidência de Biden - sua decisão de se retirar da campanha de reeleição depois que os principais democratas, doadores, aliados próximos e amigos o pressionaram incansavelmente para sair.
Ele finalizou a decisão apenas na manhã de domingo, 21, e, em seguida, fez ligações separadas para três pessoas para informá-las: A vice-presidente Kamala Harris; Jeffrey D. Zients, chefe de equipe da Casa Branca; e Jen O’Malley Dillon, presidente da campanha. Ele não informou a maioria de sua equipe até um minuto antes de fazer seu anúncio ao mundo nas redes sociais no domingo, através de uma publicação no X (antigo Twitter) e no Instagram.
Leia carta de desistência de Biden
Biden tomou sua decisão, disse um alto funcionário do governo familiarizado com seu pensamento, em parte porque ele tentou por semanas desviar a atenção de seu desempenho apático e, às vezes, incoerente no debate do mês passado para seu oponente republicano, o ex-presidente Donald J. Trump.
Mas, no final, disse a autoridade, Biden “não conseguiu chegar lá”.
O presidente tomou o que pode ser a decisão política mais difícil de sua carreira, talvez com o menor dos círculos. Com ele em Rehoboth Beach no fim de semana estavam o Sr. Ricchetti e dois outros assessores: Annie Tomasini, sua vice-chefe de gabinete, e Anthony Bernal, chefe de gabinete da primeira-dama, Jill Biden. O Sr. Donilon não estava em Rehoboth Beach quando recebeu o telefonema e teve que correr para a praia.
Ainda doente e com a voz rouca, o presidente optou por anunciar sua decisão por carta, em vez de ser filmado, e trabalhou na redação da carta com o Sr. Donilon, o autor de muitas das palavras públicas do presidente, enquanto o Sr. Ricchetti se concentrava nos próximos passos, como quando informar a equipe, como fazê-lo e quem mais precisaria ser notificado.
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Às 13h45 de domingo - um minuto antes de Biden publicar sua carta de desistência - o presidente informou seus assessores mais graduados da Casa Branca e da campanha em uma chamada de vídeo, incluindo Anita Dunn, que gerencia a estratégia de comunicação na ala oeste. Ele leu a carta para eles e agradeceu à sua equipe pelo serviço prestado. “Venha até mim com o trabalho e vamos realizá-lo”, disse o presidente a eles. A postagem foi colocada on-line às 13h46min.
Zients, então, fez uma ligação com outros funcionários da Casa Branca para confirmar que era verdade e agradecê-los por todo o trabalho árduo, seguida de uma ligação semelhante com o gabinete, que não estava ciente até que a postagem fosse publicada on-line. Alguns assessores de Biden estavam em lágrimas, muitos em choque, mas muitos também aliviados.
Biden passou parte do resto do dia fazendo ligações telefônicas para líderes do Congresso e outros aliados. Anunciar o fim de sua candidatura on-line deu a ele a capacidade de fazer isso “do seu jeito”, disse o funcionário, evitando as intrigas e os vazamentos que atormentaram sua campanha nas últimas semanas.