Como Kamala e Trump se posicionam quando o assunto é a relação entre EUA e China?


A vice-presidente não faz nenhuma promessa de defender Taiwan; o rival dela se gaba de ser louco

Por The Economist

Ao longo de sua campanha, Kamala Harris tem se apegado à política externa do presidente Joe Biden. Mas há alguma diferença entre os dois em pelo menos uma área importante: as relações dos Estados Unidos com a China. A julgar por seus comentários limitados sobre o assunto, Kamala parece menos agressiva do que seu chefe. Ela reluta em tratar a China como um inimigo real ou potencial e, se eleita, espera manter um diálogo com seu líder, Xi Jinping. Ao contrário de seu rival, Donald Trump, ela não está interessada em uma guerra comercial. Essa impressão foi reforçada por um consultor sênior que disse à Economist: “Um conflito não é iminente. Nosso trabalho é garantir que não seja iminente”.

A evidência mais clara dessa postura envolve Taiwan, uma ilha democrática e autônoma com a qual a China prometeu “se reunificar” - pela força, se necessário. Biden disse quatro vezes durante sua presidência que os EUA defenderiam Taiwan se a China tentasse uma invasão. Mas, quando questionada a respeito disso em uma entrevista à CBS News neste mês, Kamala não repetiu a promessa de seu chefe: “Não vou entrar em hipóteses”.

continua após a publicidade
A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício em Clarkston, Geórgia  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

Kamala está deliberadamente voltando à política pré-Biden de “ambiguidade estratégica”, na qual os EUA não dizem se podem intervir em um conflito entre a China continental e Taiwan. Em um momento de crescente tensão militar no Estreito de Taiwan, quando cada declaração é analisada em busca de significado, esta é uma mudança marcante. Também contrasta com os comentários de Trump, que adotou um tipo totalmente diferente de ambiguidade — às vezes sugerindo que não vale a pena defender Taiwan, outras vezes sugerindo que ele ameaçaria Xi com tarifas punitivas para impedir uma invasão. Ele chegaria ao uso da força militar? “Eu não teria que fazer isso, porque ele me respeita e sabe que sou maluco”, disse Trump ao Wall Street Journal.

Fora do universo maluco, a ambiguidade estratégica está entrelaçada na Ata de Relações com Taiwan, uma lei aprovada em 1979 depois que os EUA mudaram o reconhecimento diplomático dos nacionalistas em Taiwan para os comunistas na China continental. Ela compromete os EUA a fornecer armas para Taiwan se defender, o que Kamala prometeu fazer; e a manter seu próprio poder “para resistir a qualquer recurso à força ou outras formas de coerção”. A posição não comprometida de Kamala é “consistente com a Ata de Relações com Taiwan”, diz o assessor dela. Por implicação, é Biden quem se desviou da norma. A vice-presidente talvez queira tranquilizar Xi de que os EUA não estão pressionando por uma guerra. O perigo é que ele interprete isso como um enfraquecimento da determinação americana.

continua após a publicidade
Americanos assistem ao debate entre Kamala Harris e Donald Trump no dia 10 de setembro em um bar em San Antonio, Texas  Foto: Eric Gay/AP

Kamala ofereceu outra pista intrigante em sua entrevista com a CBS News. Questionada sobre qual país era o maior adversário dos Estados Unidos, ela apontou para o Irã, que ela disse ter “sangue americano em suas mãos”. A maioria dos políticos em Washington provavelmente teria nomeado a China. A estratégia de segurança nacional de Biden identifica o país como “o único concorrente com a intenção de remodelar a ordem internacional e, cada vez mais, com o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para fazê-lo”.

Talvez Kamala tivesse o Irã em mente porque o país tinha acabado de disparar mais de 180 mísseis balísticos contra Israel. Seu conselheiro insiste que a vice-presidente é “clara” em relação à China, apontando para seus comentários na Convenção Nacional Democrata, quando ela prometeu garantir “que os EUA, e não a China, vençam a competição pelo século XXI; e que fortaleçamos nossa liderança global, e não abdiquemos dela”. Além disso, grande parte de sua experiência em política externa como vice-presidente tem envolvido lidar com aliados asiáticos alarmados com a belicosidade da China.

continua após a publicidade

Embora seus comentários e os de sua comitiva estejam alinhados principalmente com a política atual, o tom parece mais suave do que o de Biden ou Trump. Kamala fala em competição, mas não em dissuasão. Ela disse: “Devemos ser capazes de competir e vencer. Não devemos buscar conflito”. Ela enfatiza a necessidade de linhas de comunicação abertas. O único aviso para a China é que, como seu assessor coloca, “haverá consequências econômicas reais” se ela invadir Taiwan.

Kamala está reconhecidamente em apuros, lutando para emergir da sombra do presidente a quem ela ainda serve. As diferenças políticas parecem deslealdade ou um convite a acusações de inconstância. Kamala tampouco quer ser superada por Trump, a quem ela acusou de ser manso com Xi. Sua comitiva diz que ela abraça totalmente a “competição administrada de forma responsável” de Biden com a China. Do lado da competição, isso envolve política industrial em casa, restrições às exportações de alta tecnologia para a China e fortalecimento de alianças na Ásia. No lado da gestão responsável, apresenta cooperação com a China na restrição do contrabando de fentanil, diálogo a respeito da inteligência artificial, contatos com lideranças chinesas e comunicação reativada entre comandantes militares.

continua após a publicidade

A tensão aguda entre as duas potências, que levou a encontros perigosos no mar e no ar, diminuiu desde a cúpula Biden-Xi em novembro de 2023. Mas a cordialidade pode não durar, dadas as guerras que assolam a Ucrânia e o Oriente Médio, e o fato de que a China está trabalhando em parceria cada vez mais próxima com a Rússia, o Irã e a Coreia do Norte em um “eixo dos autocratas”. Em julho, uma comissão de ambos os partidos a respeito da estratégia de segurança nacional dos EUA, solicitada pelo Congresso, soou um aviso de que os EUA enfrentam “as ameaças mais sérias e desafiadoras” desde 1945, incluindo “o potencial para uma grande guerra no curto prazo”.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, acena antes de embarcar no Air Force Two, na Filadélfia, Pensilvânia  Foto: Matt Rourke/AP

O campo de Kamala parece não compartilhar esse medo e não mostra sinais de atender ao apelo da comissão por gastos muito maiores com defesa. Quanto ao eixo dos autocratas, “quanto mais eles cooperarem uns com os outros, mais poderemos atrair aliados para o nosso lado”, diz o assessor dela. Se eleita, a política de Kamala para a China dependerá do mundo que ela encontrar e das pessoas que nomear. Biden, com uma vida inteira de experiência em relações exteriores, surpreendeu muitas pessoas com o quão duro ele se mostrou diante da China.

continua após a publicidade

Jude Blanchette, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, diz que alguns no Partido Democrata acham que Biden foi longe demais e querem uma linha mais suave. De fato, alguns democratas veem a China como o membro mais dócil do eixo dos autocratas. Ela quer alguma forma de ordem mundial e coopera com os EUA em certas áreas. Além disso, acrescenta Ivan Kanapathy, um ex-funcionário da Casa Branca no governo Trump, “se temos duas guerras acontecendo sob sua supervisão e não vamos aumentar os gastos com defesa, temos que baixar a temperatura no Pacífico”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Ao longo de sua campanha, Kamala Harris tem se apegado à política externa do presidente Joe Biden. Mas há alguma diferença entre os dois em pelo menos uma área importante: as relações dos Estados Unidos com a China. A julgar por seus comentários limitados sobre o assunto, Kamala parece menos agressiva do que seu chefe. Ela reluta em tratar a China como um inimigo real ou potencial e, se eleita, espera manter um diálogo com seu líder, Xi Jinping. Ao contrário de seu rival, Donald Trump, ela não está interessada em uma guerra comercial. Essa impressão foi reforçada por um consultor sênior que disse à Economist: “Um conflito não é iminente. Nosso trabalho é garantir que não seja iminente”.

A evidência mais clara dessa postura envolve Taiwan, uma ilha democrática e autônoma com a qual a China prometeu “se reunificar” - pela força, se necessário. Biden disse quatro vezes durante sua presidência que os EUA defenderiam Taiwan se a China tentasse uma invasão. Mas, quando questionada a respeito disso em uma entrevista à CBS News neste mês, Kamala não repetiu a promessa de seu chefe: “Não vou entrar em hipóteses”.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício em Clarkston, Geórgia  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

Kamala está deliberadamente voltando à política pré-Biden de “ambiguidade estratégica”, na qual os EUA não dizem se podem intervir em um conflito entre a China continental e Taiwan. Em um momento de crescente tensão militar no Estreito de Taiwan, quando cada declaração é analisada em busca de significado, esta é uma mudança marcante. Também contrasta com os comentários de Trump, que adotou um tipo totalmente diferente de ambiguidade — às vezes sugerindo que não vale a pena defender Taiwan, outras vezes sugerindo que ele ameaçaria Xi com tarifas punitivas para impedir uma invasão. Ele chegaria ao uso da força militar? “Eu não teria que fazer isso, porque ele me respeita e sabe que sou maluco”, disse Trump ao Wall Street Journal.

Fora do universo maluco, a ambiguidade estratégica está entrelaçada na Ata de Relações com Taiwan, uma lei aprovada em 1979 depois que os EUA mudaram o reconhecimento diplomático dos nacionalistas em Taiwan para os comunistas na China continental. Ela compromete os EUA a fornecer armas para Taiwan se defender, o que Kamala prometeu fazer; e a manter seu próprio poder “para resistir a qualquer recurso à força ou outras formas de coerção”. A posição não comprometida de Kamala é “consistente com a Ata de Relações com Taiwan”, diz o assessor dela. Por implicação, é Biden quem se desviou da norma. A vice-presidente talvez queira tranquilizar Xi de que os EUA não estão pressionando por uma guerra. O perigo é que ele interprete isso como um enfraquecimento da determinação americana.

Americanos assistem ao debate entre Kamala Harris e Donald Trump no dia 10 de setembro em um bar em San Antonio, Texas  Foto: Eric Gay/AP

Kamala ofereceu outra pista intrigante em sua entrevista com a CBS News. Questionada sobre qual país era o maior adversário dos Estados Unidos, ela apontou para o Irã, que ela disse ter “sangue americano em suas mãos”. A maioria dos políticos em Washington provavelmente teria nomeado a China. A estratégia de segurança nacional de Biden identifica o país como “o único concorrente com a intenção de remodelar a ordem internacional e, cada vez mais, com o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para fazê-lo”.

Talvez Kamala tivesse o Irã em mente porque o país tinha acabado de disparar mais de 180 mísseis balísticos contra Israel. Seu conselheiro insiste que a vice-presidente é “clara” em relação à China, apontando para seus comentários na Convenção Nacional Democrata, quando ela prometeu garantir “que os EUA, e não a China, vençam a competição pelo século XXI; e que fortaleçamos nossa liderança global, e não abdiquemos dela”. Além disso, grande parte de sua experiência em política externa como vice-presidente tem envolvido lidar com aliados asiáticos alarmados com a belicosidade da China.

Embora seus comentários e os de sua comitiva estejam alinhados principalmente com a política atual, o tom parece mais suave do que o de Biden ou Trump. Kamala fala em competição, mas não em dissuasão. Ela disse: “Devemos ser capazes de competir e vencer. Não devemos buscar conflito”. Ela enfatiza a necessidade de linhas de comunicação abertas. O único aviso para a China é que, como seu assessor coloca, “haverá consequências econômicas reais” se ela invadir Taiwan.

Kamala está reconhecidamente em apuros, lutando para emergir da sombra do presidente a quem ela ainda serve. As diferenças políticas parecem deslealdade ou um convite a acusações de inconstância. Kamala tampouco quer ser superada por Trump, a quem ela acusou de ser manso com Xi. Sua comitiva diz que ela abraça totalmente a “competição administrada de forma responsável” de Biden com a China. Do lado da competição, isso envolve política industrial em casa, restrições às exportações de alta tecnologia para a China e fortalecimento de alianças na Ásia. No lado da gestão responsável, apresenta cooperação com a China na restrição do contrabando de fentanil, diálogo a respeito da inteligência artificial, contatos com lideranças chinesas e comunicação reativada entre comandantes militares.

A tensão aguda entre as duas potências, que levou a encontros perigosos no mar e no ar, diminuiu desde a cúpula Biden-Xi em novembro de 2023. Mas a cordialidade pode não durar, dadas as guerras que assolam a Ucrânia e o Oriente Médio, e o fato de que a China está trabalhando em parceria cada vez mais próxima com a Rússia, o Irã e a Coreia do Norte em um “eixo dos autocratas”. Em julho, uma comissão de ambos os partidos a respeito da estratégia de segurança nacional dos EUA, solicitada pelo Congresso, soou um aviso de que os EUA enfrentam “as ameaças mais sérias e desafiadoras” desde 1945, incluindo “o potencial para uma grande guerra no curto prazo”.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, acena antes de embarcar no Air Force Two, na Filadélfia, Pensilvânia  Foto: Matt Rourke/AP

O campo de Kamala parece não compartilhar esse medo e não mostra sinais de atender ao apelo da comissão por gastos muito maiores com defesa. Quanto ao eixo dos autocratas, “quanto mais eles cooperarem uns com os outros, mais poderemos atrair aliados para o nosso lado”, diz o assessor dela. Se eleita, a política de Kamala para a China dependerá do mundo que ela encontrar e das pessoas que nomear. Biden, com uma vida inteira de experiência em relações exteriores, surpreendeu muitas pessoas com o quão duro ele se mostrou diante da China.

Jude Blanchette, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, diz que alguns no Partido Democrata acham que Biden foi longe demais e querem uma linha mais suave. De fato, alguns democratas veem a China como o membro mais dócil do eixo dos autocratas. Ela quer alguma forma de ordem mundial e coopera com os EUA em certas áreas. Além disso, acrescenta Ivan Kanapathy, um ex-funcionário da Casa Branca no governo Trump, “se temos duas guerras acontecendo sob sua supervisão e não vamos aumentar os gastos com defesa, temos que baixar a temperatura no Pacífico”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Ao longo de sua campanha, Kamala Harris tem se apegado à política externa do presidente Joe Biden. Mas há alguma diferença entre os dois em pelo menos uma área importante: as relações dos Estados Unidos com a China. A julgar por seus comentários limitados sobre o assunto, Kamala parece menos agressiva do que seu chefe. Ela reluta em tratar a China como um inimigo real ou potencial e, se eleita, espera manter um diálogo com seu líder, Xi Jinping. Ao contrário de seu rival, Donald Trump, ela não está interessada em uma guerra comercial. Essa impressão foi reforçada por um consultor sênior que disse à Economist: “Um conflito não é iminente. Nosso trabalho é garantir que não seja iminente”.

A evidência mais clara dessa postura envolve Taiwan, uma ilha democrática e autônoma com a qual a China prometeu “se reunificar” - pela força, se necessário. Biden disse quatro vezes durante sua presidência que os EUA defenderiam Taiwan se a China tentasse uma invasão. Mas, quando questionada a respeito disso em uma entrevista à CBS News neste mês, Kamala não repetiu a promessa de seu chefe: “Não vou entrar em hipóteses”.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participa de um comício em Clarkston, Geórgia  Foto: Julia Demaree Nikhinson/AP

Kamala está deliberadamente voltando à política pré-Biden de “ambiguidade estratégica”, na qual os EUA não dizem se podem intervir em um conflito entre a China continental e Taiwan. Em um momento de crescente tensão militar no Estreito de Taiwan, quando cada declaração é analisada em busca de significado, esta é uma mudança marcante. Também contrasta com os comentários de Trump, que adotou um tipo totalmente diferente de ambiguidade — às vezes sugerindo que não vale a pena defender Taiwan, outras vezes sugerindo que ele ameaçaria Xi com tarifas punitivas para impedir uma invasão. Ele chegaria ao uso da força militar? “Eu não teria que fazer isso, porque ele me respeita e sabe que sou maluco”, disse Trump ao Wall Street Journal.

Fora do universo maluco, a ambiguidade estratégica está entrelaçada na Ata de Relações com Taiwan, uma lei aprovada em 1979 depois que os EUA mudaram o reconhecimento diplomático dos nacionalistas em Taiwan para os comunistas na China continental. Ela compromete os EUA a fornecer armas para Taiwan se defender, o que Kamala prometeu fazer; e a manter seu próprio poder “para resistir a qualquer recurso à força ou outras formas de coerção”. A posição não comprometida de Kamala é “consistente com a Ata de Relações com Taiwan”, diz o assessor dela. Por implicação, é Biden quem se desviou da norma. A vice-presidente talvez queira tranquilizar Xi de que os EUA não estão pressionando por uma guerra. O perigo é que ele interprete isso como um enfraquecimento da determinação americana.

Americanos assistem ao debate entre Kamala Harris e Donald Trump no dia 10 de setembro em um bar em San Antonio, Texas  Foto: Eric Gay/AP

Kamala ofereceu outra pista intrigante em sua entrevista com a CBS News. Questionada sobre qual país era o maior adversário dos Estados Unidos, ela apontou para o Irã, que ela disse ter “sangue americano em suas mãos”. A maioria dos políticos em Washington provavelmente teria nomeado a China. A estratégia de segurança nacional de Biden identifica o país como “o único concorrente com a intenção de remodelar a ordem internacional e, cada vez mais, com o poder econômico, diplomático, militar e tecnológico para fazê-lo”.

Talvez Kamala tivesse o Irã em mente porque o país tinha acabado de disparar mais de 180 mísseis balísticos contra Israel. Seu conselheiro insiste que a vice-presidente é “clara” em relação à China, apontando para seus comentários na Convenção Nacional Democrata, quando ela prometeu garantir “que os EUA, e não a China, vençam a competição pelo século XXI; e que fortaleçamos nossa liderança global, e não abdiquemos dela”. Além disso, grande parte de sua experiência em política externa como vice-presidente tem envolvido lidar com aliados asiáticos alarmados com a belicosidade da China.

Embora seus comentários e os de sua comitiva estejam alinhados principalmente com a política atual, o tom parece mais suave do que o de Biden ou Trump. Kamala fala em competição, mas não em dissuasão. Ela disse: “Devemos ser capazes de competir e vencer. Não devemos buscar conflito”. Ela enfatiza a necessidade de linhas de comunicação abertas. O único aviso para a China é que, como seu assessor coloca, “haverá consequências econômicas reais” se ela invadir Taiwan.

Kamala está reconhecidamente em apuros, lutando para emergir da sombra do presidente a quem ela ainda serve. As diferenças políticas parecem deslealdade ou um convite a acusações de inconstância. Kamala tampouco quer ser superada por Trump, a quem ela acusou de ser manso com Xi. Sua comitiva diz que ela abraça totalmente a “competição administrada de forma responsável” de Biden com a China. Do lado da competição, isso envolve política industrial em casa, restrições às exportações de alta tecnologia para a China e fortalecimento de alianças na Ásia. No lado da gestão responsável, apresenta cooperação com a China na restrição do contrabando de fentanil, diálogo a respeito da inteligência artificial, contatos com lideranças chinesas e comunicação reativada entre comandantes militares.

A tensão aguda entre as duas potências, que levou a encontros perigosos no mar e no ar, diminuiu desde a cúpula Biden-Xi em novembro de 2023. Mas a cordialidade pode não durar, dadas as guerras que assolam a Ucrânia e o Oriente Médio, e o fato de que a China está trabalhando em parceria cada vez mais próxima com a Rússia, o Irã e a Coreia do Norte em um “eixo dos autocratas”. Em julho, uma comissão de ambos os partidos a respeito da estratégia de segurança nacional dos EUA, solicitada pelo Congresso, soou um aviso de que os EUA enfrentam “as ameaças mais sérias e desafiadoras” desde 1945, incluindo “o potencial para uma grande guerra no curto prazo”.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, acena antes de embarcar no Air Force Two, na Filadélfia, Pensilvânia  Foto: Matt Rourke/AP

O campo de Kamala parece não compartilhar esse medo e não mostra sinais de atender ao apelo da comissão por gastos muito maiores com defesa. Quanto ao eixo dos autocratas, “quanto mais eles cooperarem uns com os outros, mais poderemos atrair aliados para o nosso lado”, diz o assessor dela. Se eleita, a política de Kamala para a China dependerá do mundo que ela encontrar e das pessoas que nomear. Biden, com uma vida inteira de experiência em relações exteriores, surpreendeu muitas pessoas com o quão duro ele se mostrou diante da China.

Jude Blanchette, do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais em Washington, diz que alguns no Partido Democrata acham que Biden foi longe demais e querem uma linha mais suave. De fato, alguns democratas veem a China como o membro mais dócil do eixo dos autocratas. Ela quer alguma forma de ordem mundial e coopera com os EUA em certas áreas. Além disso, acrescenta Ivan Kanapathy, um ex-funcionário da Casa Branca no governo Trump, “se temos duas guerras acontecendo sob sua supervisão e não vamos aumentar os gastos com defesa, temos que baixar a temperatura no Pacífico”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.