Como Liz Truss, a ‘grande provocadora’, foi do céu ao inferno político em 45 dias; leia a análise


Aos 47 anos, ex-ministra das Relações Exteriores chegou ao poder com a promessa de retomar o crescimento, adotando cortes maciços de impostos, mas plano de corte sem financiamento claro afundou país em crise, da qual ela nunca se recuperou

Por Brigitte Dusseau
Atualização:

LONDRES ― Liz Truss um dia se apresentou como uma “grande provocadora” e admiradora de Margaret Thatcher. Mas será lembrada sobretudo por seus críticos como uma destruidora, durante sua breve passagem como primeira-ministra britânica.

Com sua renúncia nesta quinta-feira, 20, Truss se converteu na primeira-ministra mais efêmera da história contemporânea, com apenas 45 dias no poder, durante os quais agravou as dificuldades econômicas de milhões de britânicos, enfraqueceu a imagem de seu país no plano internacional e esgotou o que restava de unidade em um Partido Conservador fragilizado depois de 12 anos no poder.

Truss representa a ala mais à direita do Partido Conservador, assim como Thatcher ― apelidada de “dama de ferro” pela mão dura com que governou o Reino Unido de 1979 a 1990 ― e a quem sonhava imitar.

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Liz Truss entregou o cargo de primeira-ministra do Reino Unido nesta quinta-feira, 20, após 44 dias a frente do governo. Foto: Daniel Leal/ AFP

Aos 47 anos, essa ex-ministra das Relações Exteriores chegou ao poder com uma promessa simples: em um contexto difícil de forte inflação e de preços de energia em alta, ela queria retomar o crescimento, adotando cortes maciços de impostos.

Sua experiência em vários ministérios e sua visão otimista convenceram militantes conservadores que preferiam seu nome ao então secretário do Tesouro, Rishi Sunak, defensor da ortodoxia orçamentária.

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Mas seu ambicioso plano econômico anunciado em 23 de setembro pelo seu primeiro secretário do Tesouro, Kwasi Kwarteng, previa dezenas de bilhões em cortes de impostos sem financiamento claro.

Em resposta, os mercados reagiram violentamente: a libra caiu, os rendimentos dos títulos do Estado dispararam, e o Banco da Inglaterra teve de intervir. Liz Truss nunca se recuperou deste “mini orçamento” de principiante.

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Na realidade, ela controlou o poder apenas por alguns dias, entre o fim do luto nacional após a morte da rainha Elizabeth II, em 8 de setembro, e o fracasso de suas medidas econômicas.

No congresso do Partido Conservador, a atmosfera era densa. Em uma primeira tentativa, Liz Truss desistiu de cortar a alíquota dos mais ricos. Sua autoridade e seu controle do partido começaram a evaporar.

“Entendi, ouvi”, disse ela então.

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Ouvir talvez tenha ouvido. Mas entender, não verdadeiramente, afirmaram seus opositores diante dessa oradora limitada que repetia “crescimento, crescimento, crescimento” e parecia impermeável às críticas.

Em 14 de outubro, sob pressão de seu partido, cada vez mais inquieto, e como já circulavam nomes para substituí-la, ela demitiu seu secretário do Tesouro e convocou uma coletiva de imprensa.

Liz Truss reage durante sessão no Parlamento britânico na quarta-feira, 19; perda de apoio da base aliada foi fator determinante para queda. Foto: Jessica Taylor/ Parlamento do Reino Unido/ via AFP
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Na quarta-feira, 19, vaiada por deputados no Parlamento, ela afirmou: “Sou uma lutadora, não uma pessoa que desiste”. Imediatamente depois sofreu mais um revés: sua ministra do Interior, Suella Braverman, renunciou por divergir de Truss sobre a política migratória.

A situação é um beco sem saída: multiplicam-se os pedidos de renúncia, a oposição pede eleições antecipadas, e os conservadores estão desesperados diante das eleições catastróficas dois anos antes das eleições legislativas.

Nesta quinta-feira, Truss disse estar “absolutamente determinada” a continuar sua missão, após dizer que foi longe demais e muito rápido.

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Apenas oito minutos depois, renunciou.

Nascida em 26 de julho de 1975, casada e com duas filhas, seus amigos de infância e colegas na universidade em Oxford, onde se graduou em política e economia, lembram de uma estudante provocadora, mas discreta, que não aparentava uma futura primeira-ministra.

Truss entra para a História britânica contemporânea como a mais breve a ocupar o cargo. Foto: Henry Nicholls/ Reuters

Truss cresceu rodeada por esquerdistas e, em Oxford, liderou um grupo juvenil do centrista Partido Liberal Democrata, onde começou a demonstrar firmes opiniões políticas.

Truss chocou seus pais, um professor de matemática e uma defensora do desarmamento nuclear, os quais acompanhava em manifestações quando criança, ao entrar para o Partido Conservador e adotar posturas de direita.

Após uma década no setor privado, especialmente como diretora comercial de empresas como a Shell, foi vereadora no sudeste de Londres e, em 2010, deputada.

Em 2012, entrou para o governo e ocupou uma série de pastas: primeiro, como secretária de Estado de Educação e, depois, como ministra do Meio Ambiente, de 2014 a 2016. Também foi a primeira mulher ministra da Justiça e, em seguida, secretária-chefe do Tesouro.

Em 2016, votou contra o Brexit. Depois, no entanto, tornou-se sua defensora ferrenha e trabalhou para forjar novas alianças com acordos de livre-comércio com países como Japão e Austrália.

Nomeada em setembro de 2021 à frente das Relações Exteriores - uma forma de seu antecessor Boris Johnson tentar controlar suas ambições -, Truss foi intransigente contra a União Europeia e encarnou uma posição dura contra a Rússia após a invasão da Ucrânia./ AFP

LONDRES ― Liz Truss um dia se apresentou como uma “grande provocadora” e admiradora de Margaret Thatcher. Mas será lembrada sobretudo por seus críticos como uma destruidora, durante sua breve passagem como primeira-ministra britânica.

Com sua renúncia nesta quinta-feira, 20, Truss se converteu na primeira-ministra mais efêmera da história contemporânea, com apenas 45 dias no poder, durante os quais agravou as dificuldades econômicas de milhões de britânicos, enfraqueceu a imagem de seu país no plano internacional e esgotou o que restava de unidade em um Partido Conservador fragilizado depois de 12 anos no poder.

Truss representa a ala mais à direita do Partido Conservador, assim como Thatcher ― apelidada de “dama de ferro” pela mão dura com que governou o Reino Unido de 1979 a 1990 ― e a quem sonhava imitar.

Liz Truss entregou o cargo de primeira-ministra do Reino Unido nesta quinta-feira, 20, após 44 dias a frente do governo. Foto: Daniel Leal/ AFP

Aos 47 anos, essa ex-ministra das Relações Exteriores chegou ao poder com uma promessa simples: em um contexto difícil de forte inflação e de preços de energia em alta, ela queria retomar o crescimento, adotando cortes maciços de impostos.

Sua experiência em vários ministérios e sua visão otimista convenceram militantes conservadores que preferiam seu nome ao então secretário do Tesouro, Rishi Sunak, defensor da ortodoxia orçamentária.

Mas seu ambicioso plano econômico anunciado em 23 de setembro pelo seu primeiro secretário do Tesouro, Kwasi Kwarteng, previa dezenas de bilhões em cortes de impostos sem financiamento claro.

Em resposta, os mercados reagiram violentamente: a libra caiu, os rendimentos dos títulos do Estado dispararam, e o Banco da Inglaterra teve de intervir. Liz Truss nunca se recuperou deste “mini orçamento” de principiante.

Na realidade, ela controlou o poder apenas por alguns dias, entre o fim do luto nacional após a morte da rainha Elizabeth II, em 8 de setembro, e o fracasso de suas medidas econômicas.

No congresso do Partido Conservador, a atmosfera era densa. Em uma primeira tentativa, Liz Truss desistiu de cortar a alíquota dos mais ricos. Sua autoridade e seu controle do partido começaram a evaporar.

“Entendi, ouvi”, disse ela então.

Ouvir talvez tenha ouvido. Mas entender, não verdadeiramente, afirmaram seus opositores diante dessa oradora limitada que repetia “crescimento, crescimento, crescimento” e parecia impermeável às críticas.

Em 14 de outubro, sob pressão de seu partido, cada vez mais inquieto, e como já circulavam nomes para substituí-la, ela demitiu seu secretário do Tesouro e convocou uma coletiva de imprensa.

Liz Truss reage durante sessão no Parlamento britânico na quarta-feira, 19; perda de apoio da base aliada foi fator determinante para queda. Foto: Jessica Taylor/ Parlamento do Reino Unido/ via AFP

Na quarta-feira, 19, vaiada por deputados no Parlamento, ela afirmou: “Sou uma lutadora, não uma pessoa que desiste”. Imediatamente depois sofreu mais um revés: sua ministra do Interior, Suella Braverman, renunciou por divergir de Truss sobre a política migratória.

A situação é um beco sem saída: multiplicam-se os pedidos de renúncia, a oposição pede eleições antecipadas, e os conservadores estão desesperados diante das eleições catastróficas dois anos antes das eleições legislativas.

Nesta quinta-feira, Truss disse estar “absolutamente determinada” a continuar sua missão, após dizer que foi longe demais e muito rápido.

Apenas oito minutos depois, renunciou.

Nascida em 26 de julho de 1975, casada e com duas filhas, seus amigos de infância e colegas na universidade em Oxford, onde se graduou em política e economia, lembram de uma estudante provocadora, mas discreta, que não aparentava uma futura primeira-ministra.

Truss entra para a História britânica contemporânea como a mais breve a ocupar o cargo. Foto: Henry Nicholls/ Reuters

Truss cresceu rodeada por esquerdistas e, em Oxford, liderou um grupo juvenil do centrista Partido Liberal Democrata, onde começou a demonstrar firmes opiniões políticas.

Truss chocou seus pais, um professor de matemática e uma defensora do desarmamento nuclear, os quais acompanhava em manifestações quando criança, ao entrar para o Partido Conservador e adotar posturas de direita.

Após uma década no setor privado, especialmente como diretora comercial de empresas como a Shell, foi vereadora no sudeste de Londres e, em 2010, deputada.

Em 2012, entrou para o governo e ocupou uma série de pastas: primeiro, como secretária de Estado de Educação e, depois, como ministra do Meio Ambiente, de 2014 a 2016. Também foi a primeira mulher ministra da Justiça e, em seguida, secretária-chefe do Tesouro.

Em 2016, votou contra o Brexit. Depois, no entanto, tornou-se sua defensora ferrenha e trabalhou para forjar novas alianças com acordos de livre-comércio com países como Japão e Austrália.

Nomeada em setembro de 2021 à frente das Relações Exteriores - uma forma de seu antecessor Boris Johnson tentar controlar suas ambições -, Truss foi intransigente contra a União Europeia e encarnou uma posição dura contra a Rússia após a invasão da Ucrânia./ AFP

LONDRES ― Liz Truss um dia se apresentou como uma “grande provocadora” e admiradora de Margaret Thatcher. Mas será lembrada sobretudo por seus críticos como uma destruidora, durante sua breve passagem como primeira-ministra britânica.

Com sua renúncia nesta quinta-feira, 20, Truss se converteu na primeira-ministra mais efêmera da história contemporânea, com apenas 45 dias no poder, durante os quais agravou as dificuldades econômicas de milhões de britânicos, enfraqueceu a imagem de seu país no plano internacional e esgotou o que restava de unidade em um Partido Conservador fragilizado depois de 12 anos no poder.

Truss representa a ala mais à direita do Partido Conservador, assim como Thatcher ― apelidada de “dama de ferro” pela mão dura com que governou o Reino Unido de 1979 a 1990 ― e a quem sonhava imitar.

Liz Truss entregou o cargo de primeira-ministra do Reino Unido nesta quinta-feira, 20, após 44 dias a frente do governo. Foto: Daniel Leal/ AFP

Aos 47 anos, essa ex-ministra das Relações Exteriores chegou ao poder com uma promessa simples: em um contexto difícil de forte inflação e de preços de energia em alta, ela queria retomar o crescimento, adotando cortes maciços de impostos.

Sua experiência em vários ministérios e sua visão otimista convenceram militantes conservadores que preferiam seu nome ao então secretário do Tesouro, Rishi Sunak, defensor da ortodoxia orçamentária.

Mas seu ambicioso plano econômico anunciado em 23 de setembro pelo seu primeiro secretário do Tesouro, Kwasi Kwarteng, previa dezenas de bilhões em cortes de impostos sem financiamento claro.

Em resposta, os mercados reagiram violentamente: a libra caiu, os rendimentos dos títulos do Estado dispararam, e o Banco da Inglaterra teve de intervir. Liz Truss nunca se recuperou deste “mini orçamento” de principiante.

Na realidade, ela controlou o poder apenas por alguns dias, entre o fim do luto nacional após a morte da rainha Elizabeth II, em 8 de setembro, e o fracasso de suas medidas econômicas.

No congresso do Partido Conservador, a atmosfera era densa. Em uma primeira tentativa, Liz Truss desistiu de cortar a alíquota dos mais ricos. Sua autoridade e seu controle do partido começaram a evaporar.

“Entendi, ouvi”, disse ela então.

Ouvir talvez tenha ouvido. Mas entender, não verdadeiramente, afirmaram seus opositores diante dessa oradora limitada que repetia “crescimento, crescimento, crescimento” e parecia impermeável às críticas.

Em 14 de outubro, sob pressão de seu partido, cada vez mais inquieto, e como já circulavam nomes para substituí-la, ela demitiu seu secretário do Tesouro e convocou uma coletiva de imprensa.

Liz Truss reage durante sessão no Parlamento britânico na quarta-feira, 19; perda de apoio da base aliada foi fator determinante para queda. Foto: Jessica Taylor/ Parlamento do Reino Unido/ via AFP

Na quarta-feira, 19, vaiada por deputados no Parlamento, ela afirmou: “Sou uma lutadora, não uma pessoa que desiste”. Imediatamente depois sofreu mais um revés: sua ministra do Interior, Suella Braverman, renunciou por divergir de Truss sobre a política migratória.

A situação é um beco sem saída: multiplicam-se os pedidos de renúncia, a oposição pede eleições antecipadas, e os conservadores estão desesperados diante das eleições catastróficas dois anos antes das eleições legislativas.

Nesta quinta-feira, Truss disse estar “absolutamente determinada” a continuar sua missão, após dizer que foi longe demais e muito rápido.

Apenas oito minutos depois, renunciou.

Nascida em 26 de julho de 1975, casada e com duas filhas, seus amigos de infância e colegas na universidade em Oxford, onde se graduou em política e economia, lembram de uma estudante provocadora, mas discreta, que não aparentava uma futura primeira-ministra.

Truss entra para a História britânica contemporânea como a mais breve a ocupar o cargo. Foto: Henry Nicholls/ Reuters

Truss cresceu rodeada por esquerdistas e, em Oxford, liderou um grupo juvenil do centrista Partido Liberal Democrata, onde começou a demonstrar firmes opiniões políticas.

Truss chocou seus pais, um professor de matemática e uma defensora do desarmamento nuclear, os quais acompanhava em manifestações quando criança, ao entrar para o Partido Conservador e adotar posturas de direita.

Após uma década no setor privado, especialmente como diretora comercial de empresas como a Shell, foi vereadora no sudeste de Londres e, em 2010, deputada.

Em 2012, entrou para o governo e ocupou uma série de pastas: primeiro, como secretária de Estado de Educação e, depois, como ministra do Meio Ambiente, de 2014 a 2016. Também foi a primeira mulher ministra da Justiça e, em seguida, secretária-chefe do Tesouro.

Em 2016, votou contra o Brexit. Depois, no entanto, tornou-se sua defensora ferrenha e trabalhou para forjar novas alianças com acordos de livre-comércio com países como Japão e Austrália.

Nomeada em setembro de 2021 à frente das Relações Exteriores - uma forma de seu antecessor Boris Johnson tentar controlar suas ambições -, Truss foi intransigente contra a União Europeia e encarnou uma posição dura contra a Rússia após a invasão da Ucrânia./ AFP

LONDRES ― Liz Truss um dia se apresentou como uma “grande provocadora” e admiradora de Margaret Thatcher. Mas será lembrada sobretudo por seus críticos como uma destruidora, durante sua breve passagem como primeira-ministra britânica.

Com sua renúncia nesta quinta-feira, 20, Truss se converteu na primeira-ministra mais efêmera da história contemporânea, com apenas 45 dias no poder, durante os quais agravou as dificuldades econômicas de milhões de britânicos, enfraqueceu a imagem de seu país no plano internacional e esgotou o que restava de unidade em um Partido Conservador fragilizado depois de 12 anos no poder.

Truss representa a ala mais à direita do Partido Conservador, assim como Thatcher ― apelidada de “dama de ferro” pela mão dura com que governou o Reino Unido de 1979 a 1990 ― e a quem sonhava imitar.

Liz Truss entregou o cargo de primeira-ministra do Reino Unido nesta quinta-feira, 20, após 44 dias a frente do governo. Foto: Daniel Leal/ AFP

Aos 47 anos, essa ex-ministra das Relações Exteriores chegou ao poder com uma promessa simples: em um contexto difícil de forte inflação e de preços de energia em alta, ela queria retomar o crescimento, adotando cortes maciços de impostos.

Sua experiência em vários ministérios e sua visão otimista convenceram militantes conservadores que preferiam seu nome ao então secretário do Tesouro, Rishi Sunak, defensor da ortodoxia orçamentária.

Mas seu ambicioso plano econômico anunciado em 23 de setembro pelo seu primeiro secretário do Tesouro, Kwasi Kwarteng, previa dezenas de bilhões em cortes de impostos sem financiamento claro.

Em resposta, os mercados reagiram violentamente: a libra caiu, os rendimentos dos títulos do Estado dispararam, e o Banco da Inglaterra teve de intervir. Liz Truss nunca se recuperou deste “mini orçamento” de principiante.

Na realidade, ela controlou o poder apenas por alguns dias, entre o fim do luto nacional após a morte da rainha Elizabeth II, em 8 de setembro, e o fracasso de suas medidas econômicas.

No congresso do Partido Conservador, a atmosfera era densa. Em uma primeira tentativa, Liz Truss desistiu de cortar a alíquota dos mais ricos. Sua autoridade e seu controle do partido começaram a evaporar.

“Entendi, ouvi”, disse ela então.

Ouvir talvez tenha ouvido. Mas entender, não verdadeiramente, afirmaram seus opositores diante dessa oradora limitada que repetia “crescimento, crescimento, crescimento” e parecia impermeável às críticas.

Em 14 de outubro, sob pressão de seu partido, cada vez mais inquieto, e como já circulavam nomes para substituí-la, ela demitiu seu secretário do Tesouro e convocou uma coletiva de imprensa.

Liz Truss reage durante sessão no Parlamento britânico na quarta-feira, 19; perda de apoio da base aliada foi fator determinante para queda. Foto: Jessica Taylor/ Parlamento do Reino Unido/ via AFP

Na quarta-feira, 19, vaiada por deputados no Parlamento, ela afirmou: “Sou uma lutadora, não uma pessoa que desiste”. Imediatamente depois sofreu mais um revés: sua ministra do Interior, Suella Braverman, renunciou por divergir de Truss sobre a política migratória.

A situação é um beco sem saída: multiplicam-se os pedidos de renúncia, a oposição pede eleições antecipadas, e os conservadores estão desesperados diante das eleições catastróficas dois anos antes das eleições legislativas.

Nesta quinta-feira, Truss disse estar “absolutamente determinada” a continuar sua missão, após dizer que foi longe demais e muito rápido.

Apenas oito minutos depois, renunciou.

Nascida em 26 de julho de 1975, casada e com duas filhas, seus amigos de infância e colegas na universidade em Oxford, onde se graduou em política e economia, lembram de uma estudante provocadora, mas discreta, que não aparentava uma futura primeira-ministra.

Truss entra para a História britânica contemporânea como a mais breve a ocupar o cargo. Foto: Henry Nicholls/ Reuters

Truss cresceu rodeada por esquerdistas e, em Oxford, liderou um grupo juvenil do centrista Partido Liberal Democrata, onde começou a demonstrar firmes opiniões políticas.

Truss chocou seus pais, um professor de matemática e uma defensora do desarmamento nuclear, os quais acompanhava em manifestações quando criança, ao entrar para o Partido Conservador e adotar posturas de direita.

Após uma década no setor privado, especialmente como diretora comercial de empresas como a Shell, foi vereadora no sudeste de Londres e, em 2010, deputada.

Em 2012, entrou para o governo e ocupou uma série de pastas: primeiro, como secretária de Estado de Educação e, depois, como ministra do Meio Ambiente, de 2014 a 2016. Também foi a primeira mulher ministra da Justiça e, em seguida, secretária-chefe do Tesouro.

Em 2016, votou contra o Brexit. Depois, no entanto, tornou-se sua defensora ferrenha e trabalhou para forjar novas alianças com acordos de livre-comércio com países como Japão e Austrália.

Nomeada em setembro de 2021 à frente das Relações Exteriores - uma forma de seu antecessor Boris Johnson tentar controlar suas ambições -, Truss foi intransigente contra a União Europeia e encarnou uma posição dura contra a Rússia após a invasão da Ucrânia./ AFP

LONDRES ― Liz Truss um dia se apresentou como uma “grande provocadora” e admiradora de Margaret Thatcher. Mas será lembrada sobretudo por seus críticos como uma destruidora, durante sua breve passagem como primeira-ministra britânica.

Com sua renúncia nesta quinta-feira, 20, Truss se converteu na primeira-ministra mais efêmera da história contemporânea, com apenas 45 dias no poder, durante os quais agravou as dificuldades econômicas de milhões de britânicos, enfraqueceu a imagem de seu país no plano internacional e esgotou o que restava de unidade em um Partido Conservador fragilizado depois de 12 anos no poder.

Truss representa a ala mais à direita do Partido Conservador, assim como Thatcher ― apelidada de “dama de ferro” pela mão dura com que governou o Reino Unido de 1979 a 1990 ― e a quem sonhava imitar.

Liz Truss entregou o cargo de primeira-ministra do Reino Unido nesta quinta-feira, 20, após 44 dias a frente do governo. Foto: Daniel Leal/ AFP

Aos 47 anos, essa ex-ministra das Relações Exteriores chegou ao poder com uma promessa simples: em um contexto difícil de forte inflação e de preços de energia em alta, ela queria retomar o crescimento, adotando cortes maciços de impostos.

Sua experiência em vários ministérios e sua visão otimista convenceram militantes conservadores que preferiam seu nome ao então secretário do Tesouro, Rishi Sunak, defensor da ortodoxia orçamentária.

Mas seu ambicioso plano econômico anunciado em 23 de setembro pelo seu primeiro secretário do Tesouro, Kwasi Kwarteng, previa dezenas de bilhões em cortes de impostos sem financiamento claro.

Em resposta, os mercados reagiram violentamente: a libra caiu, os rendimentos dos títulos do Estado dispararam, e o Banco da Inglaterra teve de intervir. Liz Truss nunca se recuperou deste “mini orçamento” de principiante.

Na realidade, ela controlou o poder apenas por alguns dias, entre o fim do luto nacional após a morte da rainha Elizabeth II, em 8 de setembro, e o fracasso de suas medidas econômicas.

No congresso do Partido Conservador, a atmosfera era densa. Em uma primeira tentativa, Liz Truss desistiu de cortar a alíquota dos mais ricos. Sua autoridade e seu controle do partido começaram a evaporar.

“Entendi, ouvi”, disse ela então.

Ouvir talvez tenha ouvido. Mas entender, não verdadeiramente, afirmaram seus opositores diante dessa oradora limitada que repetia “crescimento, crescimento, crescimento” e parecia impermeável às críticas.

Em 14 de outubro, sob pressão de seu partido, cada vez mais inquieto, e como já circulavam nomes para substituí-la, ela demitiu seu secretário do Tesouro e convocou uma coletiva de imprensa.

Liz Truss reage durante sessão no Parlamento britânico na quarta-feira, 19; perda de apoio da base aliada foi fator determinante para queda. Foto: Jessica Taylor/ Parlamento do Reino Unido/ via AFP

Na quarta-feira, 19, vaiada por deputados no Parlamento, ela afirmou: “Sou uma lutadora, não uma pessoa que desiste”. Imediatamente depois sofreu mais um revés: sua ministra do Interior, Suella Braverman, renunciou por divergir de Truss sobre a política migratória.

A situação é um beco sem saída: multiplicam-se os pedidos de renúncia, a oposição pede eleições antecipadas, e os conservadores estão desesperados diante das eleições catastróficas dois anos antes das eleições legislativas.

Nesta quinta-feira, Truss disse estar “absolutamente determinada” a continuar sua missão, após dizer que foi longe demais e muito rápido.

Apenas oito minutos depois, renunciou.

Nascida em 26 de julho de 1975, casada e com duas filhas, seus amigos de infância e colegas na universidade em Oxford, onde se graduou em política e economia, lembram de uma estudante provocadora, mas discreta, que não aparentava uma futura primeira-ministra.

Truss entra para a História britânica contemporânea como a mais breve a ocupar o cargo. Foto: Henry Nicholls/ Reuters

Truss cresceu rodeada por esquerdistas e, em Oxford, liderou um grupo juvenil do centrista Partido Liberal Democrata, onde começou a demonstrar firmes opiniões políticas.

Truss chocou seus pais, um professor de matemática e uma defensora do desarmamento nuclear, os quais acompanhava em manifestações quando criança, ao entrar para o Partido Conservador e adotar posturas de direita.

Após uma década no setor privado, especialmente como diretora comercial de empresas como a Shell, foi vereadora no sudeste de Londres e, em 2010, deputada.

Em 2012, entrou para o governo e ocupou uma série de pastas: primeiro, como secretária de Estado de Educação e, depois, como ministra do Meio Ambiente, de 2014 a 2016. Também foi a primeira mulher ministra da Justiça e, em seguida, secretária-chefe do Tesouro.

Em 2016, votou contra o Brexit. Depois, no entanto, tornou-se sua defensora ferrenha e trabalhou para forjar novas alianças com acordos de livre-comércio com países como Japão e Austrália.

Nomeada em setembro de 2021 à frente das Relações Exteriores - uma forma de seu antecessor Boris Johnson tentar controlar suas ambições -, Truss foi intransigente contra a União Europeia e encarnou uma posição dura contra a Rússia após a invasão da Ucrânia./ AFP

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