Como Moscou captura crianças ucranianas e as torna russas


Investigação revelou que milhares de jovens foram capturados pela Rússia em porões de cidades bombardeadas, como Mariupol, e de orfanatos nos territórios separatistas de Donbas

Por Sarah El Deeb, Anastasiia Shvets e Elizaveta Tilna

Olga Lopatkina dava voltas pelo porão como um animal enjaulado. Havia mais de uma semana que ela não tinha notícias de seus seis filhos adotivos retidos em Mariupol, e não sabia o que fazer.

A família acabaria sendo envolvida em uma das questões mais explosivas da guerra: o franco esforço da Rússia para capturar órfãos ucranianos e criá-los como russos.

continua após a publicidade

Uma investigação da Associated Press mostra que a estratégia russa está bem adiantada. Milhares de crianças foram recolhidas de porões em cidades bombardeadas, como Mariupol, e de orfanatos nos territórios separatistas de Donbas, que recebem apoio da Rússia. Entre elas estão crianças cujos pais foram mortos por bombardeios russos, e outras em instituições ou lares de acolhimento.

Olga Lopatkina abraça os filhos adotivos em Loue, na França. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

A Rússia alega que muitas dessas crianças não têm pais ou responsáveis, ou que estes não foram encontrados. Mas a AP descobriu que as autoridades deportaram crianças ucranianas para a Rússia ou para territórios sob controle russo sem consentimento, mentiram dizendo que seus pais não as queriam mais, e deram a elas famílias e cidadania russas.

continua após a publicidade

Esta é a investigação mais extensa até hoje sobre a captura de órfãos ucranianos, e a primeira a acompanhar o processo inteiro até aqueles que já estão crescendo na Rússia. Ela se baseou em dezenas de entrevistas com pais, crianças e autoridades na Ucrânia e na Rússia; e-mails e cartas; documentos e mídia estatal russos.

Criar os filhos da guerra em outro país ou cultura pode ser um indicador de genocídio, uma tentativa de apagar a própria identidade de um povo. Procuradores vinculam essa política diretamente ao presidente russo Vladimir Putin.

continua após a publicidade

“Não é algo que acontece no calor do momento no campo de batalha”, disse Stephen Rapp, ex-embaixador itinerante dos EUA para questões de crimes de guerra que atualmente assessora a Ucrânia nos processos judiciais.

A legislação russa proíbe a adoção de crianças estrangeiras. Em maio, porém, Putin emitiu um decreto acelerando a concessão de cidadania russa para crianças ucranianas sem cuidados parentais.

Crianças de diferentes orfanatos da região de Donetsk recebem refeição em um acampamento em Zolotaya Kosa, na região de Rostov, na Rússia. Foto: AP - 08/07/2022
continua após a publicidade

A Rússia preparou um cadastro de famílias russas adequadas para crianças ucranianas, e oferece substancial apoio financeiro. As adoções são retratadas como um ato de generosidade. A televisão estatal russa transmite cerimônias em que autoridades entregam passaportes para crianças ucranianas.

É difícil dizer quantas são. Autoridades ucranianas afirmam que aproximadamente 8.000 crianças foram deportadas para a Rússia.

A Rússia não forneceu uma estimativa do total. Em março, a ombudsman russa pelos direitos das crianças, Maria Lvova-Belova, disse que aproximadamente 1.000 crianças da Ucrânia estariam na Rússia. Desde então, muitas outras chegaram, incluindo mais de 230 no começo de outubro.

continua após a publicidade
Crianças ucranianas descansam em dormitório em Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

A própria Lvova-Belova acolheu uma adolescente de Mariupol e sofreu sanções do Departamento do Tesouro dos EUA, da União Europeia, do Canadá e da Austrália. Seu gabinete encaminhou à AP sua resposta em uma agência de notícias estatal, de que a Rússia estaria “ajudando as crianças para preservar seu direito de viver sob um céu pacífico e serem felizes”.

A AP visitou um arborizado acampamento à beira-mar perto de Taganrog, onde estavam abrigados centenas de órfãos ucranianos.

continua após a publicidade

Uma mãe de acolhimento profissional na região de Moscou disse que o serviço social da região entrou em contato com ela para acolher crianças ucranianas. Ela já estava cuidando de seis crianças russas, e pegou mais três de Mariupol. Depois de um processo judicial de tutela conduzido em Mariupol, agora ocupada, ela recebeu a guarda das crianças, que se tornaram cidadãs russas.

Diana, Lena e Sonya brincam no acampamento em Zolotaya Kosa, Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

As crianças contaram que, depois de serem deixadas em um bunker em Mariupol por sua mãe de acolhimento, os militares russos as tiraram de lá. Elas precisaram escolher entre a adoção por uma família russa e a vida em um orfanato russo.

Na casa com quintal e uma piscina inflável, a menina de 15 anos disse que está ansiosa para começar uma nova vida na Rússia – em parte porque sua escola na Ucrânia foi bombardeada, um de seus colegas morreu, e quase todos foram embora.

A Rússia também foi acusada de roubar crianças da Ucrânia em 2014, depois de anexar a Península da Crimeia. Naquela situação, a Ucrânia relatou ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos que mais de 80 crianças de Luhansk haviam sido sequestradas em um posto de controle e levadas para a Rússia. Separadamente, famílias russas adotaram pelo menos 30 crianças da Crimeia.

Desta vez, pelo menos 96 crianças foram devolvidas para a Ucrânia desde março após negociações, inclusive em altos escalões do governo.

Em Mariupol, os filhos de Lopatkina se esconderam por vários dias em um porão do resort onde estavam passando as férias. O filho de 17 anos, Timofei, cuidou dos irmãos mais novos – três deles com doenças crônicas ou deficiências.

Eles perderam contato com a mãe quando a energia acabou na cidade inteira. Então um médico de Mariupol conseguiu evacuá-los – mas eles tiveram que ser devolvidos às forças russas em um posto de controle. Eles terminaram em um hospital na região separatista controlada pela Rússia, a República Popular de Donetsk, RPD.

Quando Timofei conseguiu mandar uma mensagem para sua mãe, ela já estava fora do país. Ele ficou furioso.

Timofei toca a cabeça de Sasha, em Loue, oeste da França; aos 17 anos, Timofei virou o pai de todos os seus irmãos quando foram separados de seus pais durante a guerra. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP - 02/07/2022

Foram necessários alguns telefonemas para que Olga Lopatkina conseguisse explicar a Timofei o que havia acontecido.

Para a professora de artes e música que perdeu a mãe na adolescência e a casa durante os combates de 2014, o pesadelo envolvendo seus filhos foi a experiência mais difícil que já viveu. Quando a guerra estourou, tornou-se mortalmente perigoso chegar de sua casa em Vuhledar, na linha de frente, a Mariupol, a 100 quilômetros de distância. Sua filha biológica de 18 anos, Rada, ficou presa com o tio perto de Kharkiv, outra cidade da linha de frente.

Quando o bombardeio se aproximou, Lopatkina decidiu seguir para as fronteiras, e buscar sua filha no caminho. Elas chegaram até a França.

Olga Lopatkina serve um lanche para sua família no oeste da França; após dois meses de negociação e uma objeção inicial de um alto funcionário russo, as autoridades do DPR finalmente concordaram em permitir que um voluntário com poder de advogado de Lopatkina para recolher as crianças que foram retiradas de Mariupol. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

Ela fez campanha perante autoridades russas e ucranianas e procurou ativistas. As autoridades de Donetsk finalmente disseram que ela poderia recuperar seus filhos se fosse até a Rússia buscá-los. Ela temeu que fosse uma armadilha, e recusou.

Na RPD, as autoridades disseram a Timofei que um tribunal retiraria a guarda de Lopatkina e seu marido, e as crianças mais jovens acabariam com novas famílias na Rússia.

Então, finalmente, veio um avanço. Autoridades da RPD concordaram em permitir que um voluntário com procuração de Lopatkina buscasse as crianças.

Depois de três dias de viagem pela Rússia, as crianças encontraram o pai em Berlim e foram de carro para a França. “O peso da responsabilidade se foi”, disse Timofei. “Eu disse: ‘Mãe, tome o controle, só isso... Sou uma criança agora’.”/AP

Olga Lopatkina dava voltas pelo porão como um animal enjaulado. Havia mais de uma semana que ela não tinha notícias de seus seis filhos adotivos retidos em Mariupol, e não sabia o que fazer.

A família acabaria sendo envolvida em uma das questões mais explosivas da guerra: o franco esforço da Rússia para capturar órfãos ucranianos e criá-los como russos.

Uma investigação da Associated Press mostra que a estratégia russa está bem adiantada. Milhares de crianças foram recolhidas de porões em cidades bombardeadas, como Mariupol, e de orfanatos nos territórios separatistas de Donbas, que recebem apoio da Rússia. Entre elas estão crianças cujos pais foram mortos por bombardeios russos, e outras em instituições ou lares de acolhimento.

Olga Lopatkina abraça os filhos adotivos em Loue, na França. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

A Rússia alega que muitas dessas crianças não têm pais ou responsáveis, ou que estes não foram encontrados. Mas a AP descobriu que as autoridades deportaram crianças ucranianas para a Rússia ou para territórios sob controle russo sem consentimento, mentiram dizendo que seus pais não as queriam mais, e deram a elas famílias e cidadania russas.

Esta é a investigação mais extensa até hoje sobre a captura de órfãos ucranianos, e a primeira a acompanhar o processo inteiro até aqueles que já estão crescendo na Rússia. Ela se baseou em dezenas de entrevistas com pais, crianças e autoridades na Ucrânia e na Rússia; e-mails e cartas; documentos e mídia estatal russos.

Criar os filhos da guerra em outro país ou cultura pode ser um indicador de genocídio, uma tentativa de apagar a própria identidade de um povo. Procuradores vinculam essa política diretamente ao presidente russo Vladimir Putin.

“Não é algo que acontece no calor do momento no campo de batalha”, disse Stephen Rapp, ex-embaixador itinerante dos EUA para questões de crimes de guerra que atualmente assessora a Ucrânia nos processos judiciais.

A legislação russa proíbe a adoção de crianças estrangeiras. Em maio, porém, Putin emitiu um decreto acelerando a concessão de cidadania russa para crianças ucranianas sem cuidados parentais.

Crianças de diferentes orfanatos da região de Donetsk recebem refeição em um acampamento em Zolotaya Kosa, na região de Rostov, na Rússia. Foto: AP - 08/07/2022

A Rússia preparou um cadastro de famílias russas adequadas para crianças ucranianas, e oferece substancial apoio financeiro. As adoções são retratadas como um ato de generosidade. A televisão estatal russa transmite cerimônias em que autoridades entregam passaportes para crianças ucranianas.

É difícil dizer quantas são. Autoridades ucranianas afirmam que aproximadamente 8.000 crianças foram deportadas para a Rússia.

A Rússia não forneceu uma estimativa do total. Em março, a ombudsman russa pelos direitos das crianças, Maria Lvova-Belova, disse que aproximadamente 1.000 crianças da Ucrânia estariam na Rússia. Desde então, muitas outras chegaram, incluindo mais de 230 no começo de outubro.

Crianças ucranianas descansam em dormitório em Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

A própria Lvova-Belova acolheu uma adolescente de Mariupol e sofreu sanções do Departamento do Tesouro dos EUA, da União Europeia, do Canadá e da Austrália. Seu gabinete encaminhou à AP sua resposta em uma agência de notícias estatal, de que a Rússia estaria “ajudando as crianças para preservar seu direito de viver sob um céu pacífico e serem felizes”.

A AP visitou um arborizado acampamento à beira-mar perto de Taganrog, onde estavam abrigados centenas de órfãos ucranianos.

Uma mãe de acolhimento profissional na região de Moscou disse que o serviço social da região entrou em contato com ela para acolher crianças ucranianas. Ela já estava cuidando de seis crianças russas, e pegou mais três de Mariupol. Depois de um processo judicial de tutela conduzido em Mariupol, agora ocupada, ela recebeu a guarda das crianças, que se tornaram cidadãs russas.

Diana, Lena e Sonya brincam no acampamento em Zolotaya Kosa, Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

As crianças contaram que, depois de serem deixadas em um bunker em Mariupol por sua mãe de acolhimento, os militares russos as tiraram de lá. Elas precisaram escolher entre a adoção por uma família russa e a vida em um orfanato russo.

Na casa com quintal e uma piscina inflável, a menina de 15 anos disse que está ansiosa para começar uma nova vida na Rússia – em parte porque sua escola na Ucrânia foi bombardeada, um de seus colegas morreu, e quase todos foram embora.

A Rússia também foi acusada de roubar crianças da Ucrânia em 2014, depois de anexar a Península da Crimeia. Naquela situação, a Ucrânia relatou ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos que mais de 80 crianças de Luhansk haviam sido sequestradas em um posto de controle e levadas para a Rússia. Separadamente, famílias russas adotaram pelo menos 30 crianças da Crimeia.

Desta vez, pelo menos 96 crianças foram devolvidas para a Ucrânia desde março após negociações, inclusive em altos escalões do governo.

Em Mariupol, os filhos de Lopatkina se esconderam por vários dias em um porão do resort onde estavam passando as férias. O filho de 17 anos, Timofei, cuidou dos irmãos mais novos – três deles com doenças crônicas ou deficiências.

Eles perderam contato com a mãe quando a energia acabou na cidade inteira. Então um médico de Mariupol conseguiu evacuá-los – mas eles tiveram que ser devolvidos às forças russas em um posto de controle. Eles terminaram em um hospital na região separatista controlada pela Rússia, a República Popular de Donetsk, RPD.

Quando Timofei conseguiu mandar uma mensagem para sua mãe, ela já estava fora do país. Ele ficou furioso.

Timofei toca a cabeça de Sasha, em Loue, oeste da França; aos 17 anos, Timofei virou o pai de todos os seus irmãos quando foram separados de seus pais durante a guerra. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP - 02/07/2022

Foram necessários alguns telefonemas para que Olga Lopatkina conseguisse explicar a Timofei o que havia acontecido.

Para a professora de artes e música que perdeu a mãe na adolescência e a casa durante os combates de 2014, o pesadelo envolvendo seus filhos foi a experiência mais difícil que já viveu. Quando a guerra estourou, tornou-se mortalmente perigoso chegar de sua casa em Vuhledar, na linha de frente, a Mariupol, a 100 quilômetros de distância. Sua filha biológica de 18 anos, Rada, ficou presa com o tio perto de Kharkiv, outra cidade da linha de frente.

Quando o bombardeio se aproximou, Lopatkina decidiu seguir para as fronteiras, e buscar sua filha no caminho. Elas chegaram até a França.

Olga Lopatkina serve um lanche para sua família no oeste da França; após dois meses de negociação e uma objeção inicial de um alto funcionário russo, as autoridades do DPR finalmente concordaram em permitir que um voluntário com poder de advogado de Lopatkina para recolher as crianças que foram retiradas de Mariupol. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

Ela fez campanha perante autoridades russas e ucranianas e procurou ativistas. As autoridades de Donetsk finalmente disseram que ela poderia recuperar seus filhos se fosse até a Rússia buscá-los. Ela temeu que fosse uma armadilha, e recusou.

Na RPD, as autoridades disseram a Timofei que um tribunal retiraria a guarda de Lopatkina e seu marido, e as crianças mais jovens acabariam com novas famílias na Rússia.

Então, finalmente, veio um avanço. Autoridades da RPD concordaram em permitir que um voluntário com procuração de Lopatkina buscasse as crianças.

Depois de três dias de viagem pela Rússia, as crianças encontraram o pai em Berlim e foram de carro para a França. “O peso da responsabilidade se foi”, disse Timofei. “Eu disse: ‘Mãe, tome o controle, só isso... Sou uma criança agora’.”/AP

Olga Lopatkina dava voltas pelo porão como um animal enjaulado. Havia mais de uma semana que ela não tinha notícias de seus seis filhos adotivos retidos em Mariupol, e não sabia o que fazer.

A família acabaria sendo envolvida em uma das questões mais explosivas da guerra: o franco esforço da Rússia para capturar órfãos ucranianos e criá-los como russos.

Uma investigação da Associated Press mostra que a estratégia russa está bem adiantada. Milhares de crianças foram recolhidas de porões em cidades bombardeadas, como Mariupol, e de orfanatos nos territórios separatistas de Donbas, que recebem apoio da Rússia. Entre elas estão crianças cujos pais foram mortos por bombardeios russos, e outras em instituições ou lares de acolhimento.

Olga Lopatkina abraça os filhos adotivos em Loue, na França. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

A Rússia alega que muitas dessas crianças não têm pais ou responsáveis, ou que estes não foram encontrados. Mas a AP descobriu que as autoridades deportaram crianças ucranianas para a Rússia ou para territórios sob controle russo sem consentimento, mentiram dizendo que seus pais não as queriam mais, e deram a elas famílias e cidadania russas.

Esta é a investigação mais extensa até hoje sobre a captura de órfãos ucranianos, e a primeira a acompanhar o processo inteiro até aqueles que já estão crescendo na Rússia. Ela se baseou em dezenas de entrevistas com pais, crianças e autoridades na Ucrânia e na Rússia; e-mails e cartas; documentos e mídia estatal russos.

Criar os filhos da guerra em outro país ou cultura pode ser um indicador de genocídio, uma tentativa de apagar a própria identidade de um povo. Procuradores vinculam essa política diretamente ao presidente russo Vladimir Putin.

“Não é algo que acontece no calor do momento no campo de batalha”, disse Stephen Rapp, ex-embaixador itinerante dos EUA para questões de crimes de guerra que atualmente assessora a Ucrânia nos processos judiciais.

A legislação russa proíbe a adoção de crianças estrangeiras. Em maio, porém, Putin emitiu um decreto acelerando a concessão de cidadania russa para crianças ucranianas sem cuidados parentais.

Crianças de diferentes orfanatos da região de Donetsk recebem refeição em um acampamento em Zolotaya Kosa, na região de Rostov, na Rússia. Foto: AP - 08/07/2022

A Rússia preparou um cadastro de famílias russas adequadas para crianças ucranianas, e oferece substancial apoio financeiro. As adoções são retratadas como um ato de generosidade. A televisão estatal russa transmite cerimônias em que autoridades entregam passaportes para crianças ucranianas.

É difícil dizer quantas são. Autoridades ucranianas afirmam que aproximadamente 8.000 crianças foram deportadas para a Rússia.

A Rússia não forneceu uma estimativa do total. Em março, a ombudsman russa pelos direitos das crianças, Maria Lvova-Belova, disse que aproximadamente 1.000 crianças da Ucrânia estariam na Rússia. Desde então, muitas outras chegaram, incluindo mais de 230 no começo de outubro.

Crianças ucranianas descansam em dormitório em Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

A própria Lvova-Belova acolheu uma adolescente de Mariupol e sofreu sanções do Departamento do Tesouro dos EUA, da União Europeia, do Canadá e da Austrália. Seu gabinete encaminhou à AP sua resposta em uma agência de notícias estatal, de que a Rússia estaria “ajudando as crianças para preservar seu direito de viver sob um céu pacífico e serem felizes”.

A AP visitou um arborizado acampamento à beira-mar perto de Taganrog, onde estavam abrigados centenas de órfãos ucranianos.

Uma mãe de acolhimento profissional na região de Moscou disse que o serviço social da região entrou em contato com ela para acolher crianças ucranianas. Ela já estava cuidando de seis crianças russas, e pegou mais três de Mariupol. Depois de um processo judicial de tutela conduzido em Mariupol, agora ocupada, ela recebeu a guarda das crianças, que se tornaram cidadãs russas.

Diana, Lena e Sonya brincam no acampamento em Zolotaya Kosa, Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

As crianças contaram que, depois de serem deixadas em um bunker em Mariupol por sua mãe de acolhimento, os militares russos as tiraram de lá. Elas precisaram escolher entre a adoção por uma família russa e a vida em um orfanato russo.

Na casa com quintal e uma piscina inflável, a menina de 15 anos disse que está ansiosa para começar uma nova vida na Rússia – em parte porque sua escola na Ucrânia foi bombardeada, um de seus colegas morreu, e quase todos foram embora.

A Rússia também foi acusada de roubar crianças da Ucrânia em 2014, depois de anexar a Península da Crimeia. Naquela situação, a Ucrânia relatou ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos que mais de 80 crianças de Luhansk haviam sido sequestradas em um posto de controle e levadas para a Rússia. Separadamente, famílias russas adotaram pelo menos 30 crianças da Crimeia.

Desta vez, pelo menos 96 crianças foram devolvidas para a Ucrânia desde março após negociações, inclusive em altos escalões do governo.

Em Mariupol, os filhos de Lopatkina se esconderam por vários dias em um porão do resort onde estavam passando as férias. O filho de 17 anos, Timofei, cuidou dos irmãos mais novos – três deles com doenças crônicas ou deficiências.

Eles perderam contato com a mãe quando a energia acabou na cidade inteira. Então um médico de Mariupol conseguiu evacuá-los – mas eles tiveram que ser devolvidos às forças russas em um posto de controle. Eles terminaram em um hospital na região separatista controlada pela Rússia, a República Popular de Donetsk, RPD.

Quando Timofei conseguiu mandar uma mensagem para sua mãe, ela já estava fora do país. Ele ficou furioso.

Timofei toca a cabeça de Sasha, em Loue, oeste da França; aos 17 anos, Timofei virou o pai de todos os seus irmãos quando foram separados de seus pais durante a guerra. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP - 02/07/2022

Foram necessários alguns telefonemas para que Olga Lopatkina conseguisse explicar a Timofei o que havia acontecido.

Para a professora de artes e música que perdeu a mãe na adolescência e a casa durante os combates de 2014, o pesadelo envolvendo seus filhos foi a experiência mais difícil que já viveu. Quando a guerra estourou, tornou-se mortalmente perigoso chegar de sua casa em Vuhledar, na linha de frente, a Mariupol, a 100 quilômetros de distância. Sua filha biológica de 18 anos, Rada, ficou presa com o tio perto de Kharkiv, outra cidade da linha de frente.

Quando o bombardeio se aproximou, Lopatkina decidiu seguir para as fronteiras, e buscar sua filha no caminho. Elas chegaram até a França.

Olga Lopatkina serve um lanche para sua família no oeste da França; após dois meses de negociação e uma objeção inicial de um alto funcionário russo, as autoridades do DPR finalmente concordaram em permitir que um voluntário com poder de advogado de Lopatkina para recolher as crianças que foram retiradas de Mariupol. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

Ela fez campanha perante autoridades russas e ucranianas e procurou ativistas. As autoridades de Donetsk finalmente disseram que ela poderia recuperar seus filhos se fosse até a Rússia buscá-los. Ela temeu que fosse uma armadilha, e recusou.

Na RPD, as autoridades disseram a Timofei que um tribunal retiraria a guarda de Lopatkina e seu marido, e as crianças mais jovens acabariam com novas famílias na Rússia.

Então, finalmente, veio um avanço. Autoridades da RPD concordaram em permitir que um voluntário com procuração de Lopatkina buscasse as crianças.

Depois de três dias de viagem pela Rússia, as crianças encontraram o pai em Berlim e foram de carro para a França. “O peso da responsabilidade se foi”, disse Timofei. “Eu disse: ‘Mãe, tome o controle, só isso... Sou uma criança agora’.”/AP

Olga Lopatkina dava voltas pelo porão como um animal enjaulado. Havia mais de uma semana que ela não tinha notícias de seus seis filhos adotivos retidos em Mariupol, e não sabia o que fazer.

A família acabaria sendo envolvida em uma das questões mais explosivas da guerra: o franco esforço da Rússia para capturar órfãos ucranianos e criá-los como russos.

Uma investigação da Associated Press mostra que a estratégia russa está bem adiantada. Milhares de crianças foram recolhidas de porões em cidades bombardeadas, como Mariupol, e de orfanatos nos territórios separatistas de Donbas, que recebem apoio da Rússia. Entre elas estão crianças cujos pais foram mortos por bombardeios russos, e outras em instituições ou lares de acolhimento.

Olga Lopatkina abraça os filhos adotivos em Loue, na França. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

A Rússia alega que muitas dessas crianças não têm pais ou responsáveis, ou que estes não foram encontrados. Mas a AP descobriu que as autoridades deportaram crianças ucranianas para a Rússia ou para territórios sob controle russo sem consentimento, mentiram dizendo que seus pais não as queriam mais, e deram a elas famílias e cidadania russas.

Esta é a investigação mais extensa até hoje sobre a captura de órfãos ucranianos, e a primeira a acompanhar o processo inteiro até aqueles que já estão crescendo na Rússia. Ela se baseou em dezenas de entrevistas com pais, crianças e autoridades na Ucrânia e na Rússia; e-mails e cartas; documentos e mídia estatal russos.

Criar os filhos da guerra em outro país ou cultura pode ser um indicador de genocídio, uma tentativa de apagar a própria identidade de um povo. Procuradores vinculam essa política diretamente ao presidente russo Vladimir Putin.

“Não é algo que acontece no calor do momento no campo de batalha”, disse Stephen Rapp, ex-embaixador itinerante dos EUA para questões de crimes de guerra que atualmente assessora a Ucrânia nos processos judiciais.

A legislação russa proíbe a adoção de crianças estrangeiras. Em maio, porém, Putin emitiu um decreto acelerando a concessão de cidadania russa para crianças ucranianas sem cuidados parentais.

Crianças de diferentes orfanatos da região de Donetsk recebem refeição em um acampamento em Zolotaya Kosa, na região de Rostov, na Rússia. Foto: AP - 08/07/2022

A Rússia preparou um cadastro de famílias russas adequadas para crianças ucranianas, e oferece substancial apoio financeiro. As adoções são retratadas como um ato de generosidade. A televisão estatal russa transmite cerimônias em que autoridades entregam passaportes para crianças ucranianas.

É difícil dizer quantas são. Autoridades ucranianas afirmam que aproximadamente 8.000 crianças foram deportadas para a Rússia.

A Rússia não forneceu uma estimativa do total. Em março, a ombudsman russa pelos direitos das crianças, Maria Lvova-Belova, disse que aproximadamente 1.000 crianças da Ucrânia estariam na Rússia. Desde então, muitas outras chegaram, incluindo mais de 230 no começo de outubro.

Crianças ucranianas descansam em dormitório em Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

A própria Lvova-Belova acolheu uma adolescente de Mariupol e sofreu sanções do Departamento do Tesouro dos EUA, da União Europeia, do Canadá e da Austrália. Seu gabinete encaminhou à AP sua resposta em uma agência de notícias estatal, de que a Rússia estaria “ajudando as crianças para preservar seu direito de viver sob um céu pacífico e serem felizes”.

A AP visitou um arborizado acampamento à beira-mar perto de Taganrog, onde estavam abrigados centenas de órfãos ucranianos.

Uma mãe de acolhimento profissional na região de Moscou disse que o serviço social da região entrou em contato com ela para acolher crianças ucranianas. Ela já estava cuidando de seis crianças russas, e pegou mais três de Mariupol. Depois de um processo judicial de tutela conduzido em Mariupol, agora ocupada, ela recebeu a guarda das crianças, que se tornaram cidadãs russas.

Diana, Lena e Sonya brincam no acampamento em Zolotaya Kosa, Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

As crianças contaram que, depois de serem deixadas em um bunker em Mariupol por sua mãe de acolhimento, os militares russos as tiraram de lá. Elas precisaram escolher entre a adoção por uma família russa e a vida em um orfanato russo.

Na casa com quintal e uma piscina inflável, a menina de 15 anos disse que está ansiosa para começar uma nova vida na Rússia – em parte porque sua escola na Ucrânia foi bombardeada, um de seus colegas morreu, e quase todos foram embora.

A Rússia também foi acusada de roubar crianças da Ucrânia em 2014, depois de anexar a Península da Crimeia. Naquela situação, a Ucrânia relatou ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos que mais de 80 crianças de Luhansk haviam sido sequestradas em um posto de controle e levadas para a Rússia. Separadamente, famílias russas adotaram pelo menos 30 crianças da Crimeia.

Desta vez, pelo menos 96 crianças foram devolvidas para a Ucrânia desde março após negociações, inclusive em altos escalões do governo.

Em Mariupol, os filhos de Lopatkina se esconderam por vários dias em um porão do resort onde estavam passando as férias. O filho de 17 anos, Timofei, cuidou dos irmãos mais novos – três deles com doenças crônicas ou deficiências.

Eles perderam contato com a mãe quando a energia acabou na cidade inteira. Então um médico de Mariupol conseguiu evacuá-los – mas eles tiveram que ser devolvidos às forças russas em um posto de controle. Eles terminaram em um hospital na região separatista controlada pela Rússia, a República Popular de Donetsk, RPD.

Quando Timofei conseguiu mandar uma mensagem para sua mãe, ela já estava fora do país. Ele ficou furioso.

Timofei toca a cabeça de Sasha, em Loue, oeste da França; aos 17 anos, Timofei virou o pai de todos os seus irmãos quando foram separados de seus pais durante a guerra. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP - 02/07/2022

Foram necessários alguns telefonemas para que Olga Lopatkina conseguisse explicar a Timofei o que havia acontecido.

Para a professora de artes e música que perdeu a mãe na adolescência e a casa durante os combates de 2014, o pesadelo envolvendo seus filhos foi a experiência mais difícil que já viveu. Quando a guerra estourou, tornou-se mortalmente perigoso chegar de sua casa em Vuhledar, na linha de frente, a Mariupol, a 100 quilômetros de distância. Sua filha biológica de 18 anos, Rada, ficou presa com o tio perto de Kharkiv, outra cidade da linha de frente.

Quando o bombardeio se aproximou, Lopatkina decidiu seguir para as fronteiras, e buscar sua filha no caminho. Elas chegaram até a França.

Olga Lopatkina serve um lanche para sua família no oeste da França; após dois meses de negociação e uma objeção inicial de um alto funcionário russo, as autoridades do DPR finalmente concordaram em permitir que um voluntário com poder de advogado de Lopatkina para recolher as crianças que foram retiradas de Mariupol. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

Ela fez campanha perante autoridades russas e ucranianas e procurou ativistas. As autoridades de Donetsk finalmente disseram que ela poderia recuperar seus filhos se fosse até a Rússia buscá-los. Ela temeu que fosse uma armadilha, e recusou.

Na RPD, as autoridades disseram a Timofei que um tribunal retiraria a guarda de Lopatkina e seu marido, e as crianças mais jovens acabariam com novas famílias na Rússia.

Então, finalmente, veio um avanço. Autoridades da RPD concordaram em permitir que um voluntário com procuração de Lopatkina buscasse as crianças.

Depois de três dias de viagem pela Rússia, as crianças encontraram o pai em Berlim e foram de carro para a França. “O peso da responsabilidade se foi”, disse Timofei. “Eu disse: ‘Mãe, tome o controle, só isso... Sou uma criança agora’.”/AP

Olga Lopatkina dava voltas pelo porão como um animal enjaulado. Havia mais de uma semana que ela não tinha notícias de seus seis filhos adotivos retidos em Mariupol, e não sabia o que fazer.

A família acabaria sendo envolvida em uma das questões mais explosivas da guerra: o franco esforço da Rússia para capturar órfãos ucranianos e criá-los como russos.

Uma investigação da Associated Press mostra que a estratégia russa está bem adiantada. Milhares de crianças foram recolhidas de porões em cidades bombardeadas, como Mariupol, e de orfanatos nos territórios separatistas de Donbas, que recebem apoio da Rússia. Entre elas estão crianças cujos pais foram mortos por bombardeios russos, e outras em instituições ou lares de acolhimento.

Olga Lopatkina abraça os filhos adotivos em Loue, na França. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

A Rússia alega que muitas dessas crianças não têm pais ou responsáveis, ou que estes não foram encontrados. Mas a AP descobriu que as autoridades deportaram crianças ucranianas para a Rússia ou para territórios sob controle russo sem consentimento, mentiram dizendo que seus pais não as queriam mais, e deram a elas famílias e cidadania russas.

Esta é a investigação mais extensa até hoje sobre a captura de órfãos ucranianos, e a primeira a acompanhar o processo inteiro até aqueles que já estão crescendo na Rússia. Ela se baseou em dezenas de entrevistas com pais, crianças e autoridades na Ucrânia e na Rússia; e-mails e cartas; documentos e mídia estatal russos.

Criar os filhos da guerra em outro país ou cultura pode ser um indicador de genocídio, uma tentativa de apagar a própria identidade de um povo. Procuradores vinculam essa política diretamente ao presidente russo Vladimir Putin.

“Não é algo que acontece no calor do momento no campo de batalha”, disse Stephen Rapp, ex-embaixador itinerante dos EUA para questões de crimes de guerra que atualmente assessora a Ucrânia nos processos judiciais.

A legislação russa proíbe a adoção de crianças estrangeiras. Em maio, porém, Putin emitiu um decreto acelerando a concessão de cidadania russa para crianças ucranianas sem cuidados parentais.

Crianças de diferentes orfanatos da região de Donetsk recebem refeição em um acampamento em Zolotaya Kosa, na região de Rostov, na Rússia. Foto: AP - 08/07/2022

A Rússia preparou um cadastro de famílias russas adequadas para crianças ucranianas, e oferece substancial apoio financeiro. As adoções são retratadas como um ato de generosidade. A televisão estatal russa transmite cerimônias em que autoridades entregam passaportes para crianças ucranianas.

É difícil dizer quantas são. Autoridades ucranianas afirmam que aproximadamente 8.000 crianças foram deportadas para a Rússia.

A Rússia não forneceu uma estimativa do total. Em março, a ombudsman russa pelos direitos das crianças, Maria Lvova-Belova, disse que aproximadamente 1.000 crianças da Ucrânia estariam na Rússia. Desde então, muitas outras chegaram, incluindo mais de 230 no começo de outubro.

Crianças ucranianas descansam em dormitório em Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

A própria Lvova-Belova acolheu uma adolescente de Mariupol e sofreu sanções do Departamento do Tesouro dos EUA, da União Europeia, do Canadá e da Austrália. Seu gabinete encaminhou à AP sua resposta em uma agência de notícias estatal, de que a Rússia estaria “ajudando as crianças para preservar seu direito de viver sob um céu pacífico e serem felizes”.

A AP visitou um arborizado acampamento à beira-mar perto de Taganrog, onde estavam abrigados centenas de órfãos ucranianos.

Uma mãe de acolhimento profissional na região de Moscou disse que o serviço social da região entrou em contato com ela para acolher crianças ucranianas. Ela já estava cuidando de seis crianças russas, e pegou mais três de Mariupol. Depois de um processo judicial de tutela conduzido em Mariupol, agora ocupada, ela recebeu a guarda das crianças, que se tornaram cidadãs russas.

Diana, Lena e Sonya brincam no acampamento em Zolotaya Kosa, Rostov. Foto: AP - 08/07/2022

As crianças contaram que, depois de serem deixadas em um bunker em Mariupol por sua mãe de acolhimento, os militares russos as tiraram de lá. Elas precisaram escolher entre a adoção por uma família russa e a vida em um orfanato russo.

Na casa com quintal e uma piscina inflável, a menina de 15 anos disse que está ansiosa para começar uma nova vida na Rússia – em parte porque sua escola na Ucrânia foi bombardeada, um de seus colegas morreu, e quase todos foram embora.

A Rússia também foi acusada de roubar crianças da Ucrânia em 2014, depois de anexar a Península da Crimeia. Naquela situação, a Ucrânia relatou ao Tribunal Europeu de Direitos Humanos que mais de 80 crianças de Luhansk haviam sido sequestradas em um posto de controle e levadas para a Rússia. Separadamente, famílias russas adotaram pelo menos 30 crianças da Crimeia.

Desta vez, pelo menos 96 crianças foram devolvidas para a Ucrânia desde março após negociações, inclusive em altos escalões do governo.

Em Mariupol, os filhos de Lopatkina se esconderam por vários dias em um porão do resort onde estavam passando as férias. O filho de 17 anos, Timofei, cuidou dos irmãos mais novos – três deles com doenças crônicas ou deficiências.

Eles perderam contato com a mãe quando a energia acabou na cidade inteira. Então um médico de Mariupol conseguiu evacuá-los – mas eles tiveram que ser devolvidos às forças russas em um posto de controle. Eles terminaram em um hospital na região separatista controlada pela Rússia, a República Popular de Donetsk, RPD.

Quando Timofei conseguiu mandar uma mensagem para sua mãe, ela já estava fora do país. Ele ficou furioso.

Timofei toca a cabeça de Sasha, em Loue, oeste da França; aos 17 anos, Timofei virou o pai de todos os seus irmãos quando foram separados de seus pais durante a guerra. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP - 02/07/2022

Foram necessários alguns telefonemas para que Olga Lopatkina conseguisse explicar a Timofei o que havia acontecido.

Para a professora de artes e música que perdeu a mãe na adolescência e a casa durante os combates de 2014, o pesadelo envolvendo seus filhos foi a experiência mais difícil que já viveu. Quando a guerra estourou, tornou-se mortalmente perigoso chegar de sua casa em Vuhledar, na linha de frente, a Mariupol, a 100 quilômetros de distância. Sua filha biológica de 18 anos, Rada, ficou presa com o tio perto de Kharkiv, outra cidade da linha de frente.

Quando o bombardeio se aproximou, Lopatkina decidiu seguir para as fronteiras, e buscar sua filha no caminho. Elas chegaram até a França.

Olga Lopatkina serve um lanche para sua família no oeste da França; após dois meses de negociação e uma objeção inicial de um alto funcionário russo, as autoridades do DPR finalmente concordaram em permitir que um voluntário com poder de advogado de Lopatkina para recolher as crianças que foram retiradas de Mariupol. Foto: Jeremias Gonzalez/ AP

Ela fez campanha perante autoridades russas e ucranianas e procurou ativistas. As autoridades de Donetsk finalmente disseram que ela poderia recuperar seus filhos se fosse até a Rússia buscá-los. Ela temeu que fosse uma armadilha, e recusou.

Na RPD, as autoridades disseram a Timofei que um tribunal retiraria a guarda de Lopatkina e seu marido, e as crianças mais jovens acabariam com novas famílias na Rússia.

Então, finalmente, veio um avanço. Autoridades da RPD concordaram em permitir que um voluntário com procuração de Lopatkina buscasse as crianças.

Depois de três dias de viagem pela Rússia, as crianças encontraram o pai em Berlim e foram de carro para a França. “O peso da responsabilidade se foi”, disse Timofei. “Eu disse: ‘Mãe, tome o controle, só isso... Sou uma criança agora’.”/AP

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.