Como o Hezbollah e Israel tem calibrado seus ataques para evitar uma guerra mais ampla


Ambos os lados têm motivos próprios para calibrar seus ataques e evitar um conflito regional

Por Neil MacFarquhar, Hwaida Saad e Euan Ward

No ritmo de uma animada trilha sonora eletrônica, um videoclipe publicado recentemente mostra o que a milícia xiita radical libanesa Hezbollah afirmou ser um drone que dispara mísseis, um novo item de seu arsenal, à medida que o grupo intensifica seus ataques contra Israel.

Ostentar um novo armamento é o tipo de exibição de força que o esquivo líder da organização, Hassan Nasrallah, defende. “O que nos protege é nossa força, nossa coragem, nossos punhos, nossas armas, nossos mísseis e nossa presença em campo”, afirmou ele num discurso pronunciado anteriormente este ano.

Os ataques do Hezbollah, iniciados em outubro em solidariedade ao Hamas, em guerra na Faixa de Gaza, intensificaram-se gradualmente conforme o grupo libanês usa armamentos maiores e mais sofisticados para atacar com mais frequência e mais profundamente o território israelense. Israel também está atingindo alvos mais interiores no Líbano.

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Libaneses fazem luto em um funeral em Baalbeck, no Líbano, para um membro do Hezbollah que foi morto em um ataque israelense no sul do país  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

A maior escalada do Hezbollah ocorreu na semana passada, com uma série de ataques diários de drones da milícia atingindo alvos em Israel bem distantes da fronteira. Autoridades israelenses graduadas, a começar pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, responderam com ameaças retóricas contra o Hezbollah, sugerindo que o dia do acerto de contas se aproxima.

Mas sempre que o conflito escala, o Hezbollah e Israel parecem calibrar suas retaliações mútuas para que nenhum ataque ocasione um conflito maior. Ainda que as preocupações sobre uma guerra mais ampla sigam latentes, ambos os lados parecem amarrados por diferentes forças de comedimento.

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O videoclipe — lançado pelo escritório de comunicações militares do Hezbollah em maio — ilustra como, de muitas maneiras, o grupo é hoje mais forte do que jamais foi. Seu maior patrono, o Irã, tem lhe fornecido mísseis cada vez mais poderosos. Além disso, o Hezbollah obteve uma valiosa experiência de combate depois de anos acionando um contigente estimado em 2,5 mil soldados de forças especiais na Síria para ajudar a escorar o governo do presidente Bashar Assad.

Mas o Hezbollah não é somente uma força de combate. O grupo evoluiu, transformando-se em um movimento político mais amplo no Líbano — que tem de levar em conta as consequências de arrastar o país inteiro para outra guerra à medida que a população, avessa ao conflito, continua a sofrer com uma prolongada crise econômica.

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A violência na fronteira entre Israel e Líbano já custou bilhões de dólares oriundos do turismo e da   agricultura, de acordo com autoridades libanesas. A última guerra, em 2006, deixou um rastro de destruição em todo o Líbano, forçando o deslocamento de pelo menos 1 milhão de pessoas.

Estados árabes e o Irã ajudaram a pagar pela reconstrução. Não é claro se eles fariam isso novamente. E, desde então um número incontável de libaneses caiu na pobreza conforme o valor da libra libanesa despencou, de 1,5 mil por US$ 1 para 89 mil.

Um casal libanês observa a fumaça subir após um ataque aéreo em Tyre, no sul do Líbano, onde as trocas de disparos de mísseis na fronteira entre Israel e o Hezbollah se intensificaram  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times
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Centenas de milhares de deslocados

Desde outubro, cerca de 100 mil civis libaneses sofreram deslocamentos forçados ao longo da fronteira sul. Muitos são agricultores, que, com as safras abortadas, têm se sustentado com um subsídio mensal de US$ 200 fornecido pelo Hezbollah. Questionamentos sobre por que a guerra em Gaza deveria envolver o Líbano são onipresentes.

O agricultor Khodor Sirhal, de 60 anos, do vilarejo fronteiriço de Kafr Kila, vende azeite de oliva e sabão no Souk El Tayeb, um mercado frequentado aos sábados por hipsters de Beirute em busca de produtos orgânicos. Ele contou que, em outubro, colhia azeitonas com sua mulher quando intensas explosões ocorreram nas imediações, forçando-os a fugir para Beirute, onde o casal continua até hoje.

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“Se você me perguntar por que essa guerra aconteceu, eu não sei responder”, lamentou-se Sirhal. Ele não tem certeza se sua casa ou o café com o qual sonhou por tanto tempo e inaugurou no vilarejo uma semana antes dos combates eclodirem ainda estão de pé.

O oficial do Hezbollah Hashem Safieddine reza durante o funeral de Taleb Sami Abdullah, que foi morto por um bombardeio israelense no sul do Líbano  Foto: Bilal Hussein/AP

Um dono de um pequeno comércio forçado a abandonar cerca de 100 jarros de azeite de oliva, entre outros produtos, disse que as autoridades do Hezbollah que ele questionou não conseguiram lhe explicar por que o Líbano deveria se envolver. “Eles declamam poemas ou fazem previsões”, afirmou ele, que se recusou a informar seu nome por medo de retaliações. “Nem eles sabem a resposta.”

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Desde outubro, mais de 300 combatentes do Hezbollah e cerca de 80 civis libaneses morreram; do lado israelense, pelo menos 19 soldados e oito civis foram mortos.

A agitação comum à capital marítima de Tiro estava calada, o único ruído era o som abafado de explosões ao longe. Três escolas locais abrigavam famílias deslocadas.

Salwa, de 49 anos, relatou que abandonou sua casa e se abrigou em um pequeno recinto na escola, onde 25 famílias compartilham três banheiros e um chuveiro. Os moradores fazem visitas relâmpago para o sul com objetivo de contabilizar o que foi destruído, de casas arruinadas a móveis despedaçados por roedores. Um prefeito local estimou que 6 mil unidades habitacionais no sul do Líbano foram destruídas totalmente ou parcialmente.

Na visita mais recente à sua casa, Salwa, que se recusou a informar o sobrenome por medo de retaliações, soube que somente um gato, de seus 10 gatos e 15 cães, ainda estava vivo. “Eu me perguntei por que estamos nessa guerra”, afirmou ela. “Dizem que é por causa da Palestina, mas vai levar muito tempo para libertar a Palestina. Deus ajude os palestinos.”

Evitando uma guerra “irrestrita”

Israel também percebe uma série de fatores para se conter. Suas Forças Armadas já enfrentam dificuldades para cumprir o objetivo declarado de erradicar o Hamas de Gaza, enquanto Washington pede a Israel que evite inflamar um conflito mais amplo na região. O país também tem de considerar sua própria população.

Netanyahu lançou a ameaça de Israel repetir no Líbano, com uma guerra em escala total, a destruição em Gaza. Em resposta, o Hezbollah tem acionado armamentos cada vez mais sofisticados, como o exibido no vídeo.

“Os israelenses deixaram muito claro que atacariam irrestritamente, que esta operação seria massiva”, afirmou Mona Yacoubian, diretora do Centro para Oriente Médio e Norte da África, do Instituto da Paz dos Estados Unidos, em Washington. “Da mesma forma, o Hezbollah é muito mais poderoso hoje.”

“Trata-se de um conflito com potencial de atingir uma grande parte de Israel”, continuou ela. “Considero que isso é o que realmente está fazendo ambos os lados pensarem duas vezes. Esse conflito seria diferente de todos os que o precederam.”

Apesar de suas frustrações com seu deslocamento prolongado, os moradores da fronteira sul do Líbano com frequência relutam em criticar o Hezbollah, temendo seu aparato de segurança e ainda agradecidos à sua guerra de guerrilha que ajudou a pôr fim à ocupação de Israel, de 1982 e 2000.

Recorte de papelão retrata Abbas al-Musawi, cofundador e ex-líder do Hezbollah, em uma estrada perto de Baalbeck, no Líbano: Israel e o Hezbollah têm seus motivos para calibrar seus ataques a fim de evitar um conflito regional Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Alguns libaneses que não fugiram de suas casas no sul protestaram para evitar que o Hezbollah leve a guerra até eles. No início de abril, um grupo de homens no vilarejo de Rmeish, de maioria cristã, próximo à fronteira, soou o sino da igreja para alertar a população no momento em que combatentes do Hezbollah apareceram com um lançador de foguetes móvel e começaram a se preparar para disparar. Depois de serem confrontados, os combatentes deixaram a localidade.

A desnorteante miscelânea sectária da política libanesa reflete a ambivalência em campo. O conflito rendeu alguns novos aliados para o Hezbollah ao mesmo tempo que afastou outros. Alguns muçulmanos sunitas, que tradicionalmente apoiam a causa palestina, expressaram apoio aos ataques, por exemplo.

Lealdade ao Irã

Mas o Hezbollah atrai há muito a ira de outras facções por manter um exército próprio e ser leal ao Irã.

“O problema hoje é que o Estado do Líbano não controla nem o território do país, nem a decisão sobre guerra ou paz”, afirmou o parlamentar Samy Gemayel, líder de um partido político de direita majoritariamente cristão — e filho do ex-presidente libanês Amine Gemayel.

Nasrallah, do Hezbollah, tem afirmado repetidamente desde outubro que “a Frente de Resistência no Líbano” está alcançando seu objetivo de enfraquecer Israel. “A guerra de desgaste está carcomendo nos níveis humano, de segurança, econômico, espiritual, moral e psicológico”, afirmou ele em um discurso recente.

Israel retirou de suas casas cerca de 60 mil moradores do norte, e autoridades israelenses graduadas prometeram repetidamente estabelecer a segurança necessária para seu retorno, sem especificar de que maneira.

“É parte da agressividade do Hezbollah disparar com mais frequência e profundidade contra a linha de frente israelense”, afirmou o tenente-coronel Nadav Shoshani, porta-voz do Exército de Israel, em uma conferência de imprensa recente.

Dentro de Israel, a preocupação com uma versão no norte do ataque surpresa perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro tem gerado apoio a uma guerra preventiva.

Agências de segurança têm debatido os méritos da escalada, afirmou Sima Shine, ex-autoridade-sênior do Mossad, a agência de inteligência externa de Israel, onde ela trabalhou com foco sobre o Irã. “As pessoas não se sentem seguras em razão do que viram no sul”, afirmou ela. “E o Hezbollah é muito melhor que o Hamas.”

O debate dentro de Israel sobre uma possível guerra em escala total se intensificou juntamente com os ataques diários de drones. Enquanto anteriormente ataques desse tipo concentraram-se principalmente em alvos militares, desta vez o Hezbollah atingiu cidades que não tinham sido esvaziadas — incluindo Nahariya, na costa, e Katzrin, nas Colinas do Golã. O grupo também provocou incêndios florestais no norte israelense.

As Forças Armadas de Israel afirmaram que responderam atingindo posições do Hezbollah com fogo de artilharia e caças de combate.

Em última instância, as guerras nessa fronteira sempre se impregnaram pela questão maior a respeito de quem forjará a futura narrativa do Oriente Médio.

Uma visão, inaugurada décadas atrás por Egito e Jordânia, envolve aceitar Israel como vizinho, com a Arábia Saudita considerada o prêmio definitivo. O ataque sangrento do Hamas, aliado do Irã, tirou dos trilhos um trem que acelerava.

A alternativa é o chamado Eixo da Resistência liderado pelo Irã, uma aliança majoritariamente xiita de forças presentes no Líbano, no Iraque, na Síria e no Iêmen com intenção de combater Israel com armas. O Hezbollah é a força mais poderosa que o Irã já construiu com essa finalidade. “Eles estão contestando a liderança da região”, afirmou Randa Slim, pesquisadora-sênior do Middle East Institute, em Washington. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

No ritmo de uma animada trilha sonora eletrônica, um videoclipe publicado recentemente mostra o que a milícia xiita radical libanesa Hezbollah afirmou ser um drone que dispara mísseis, um novo item de seu arsenal, à medida que o grupo intensifica seus ataques contra Israel.

Ostentar um novo armamento é o tipo de exibição de força que o esquivo líder da organização, Hassan Nasrallah, defende. “O que nos protege é nossa força, nossa coragem, nossos punhos, nossas armas, nossos mísseis e nossa presença em campo”, afirmou ele num discurso pronunciado anteriormente este ano.

Os ataques do Hezbollah, iniciados em outubro em solidariedade ao Hamas, em guerra na Faixa de Gaza, intensificaram-se gradualmente conforme o grupo libanês usa armamentos maiores e mais sofisticados para atacar com mais frequência e mais profundamente o território israelense. Israel também está atingindo alvos mais interiores no Líbano.

Libaneses fazem luto em um funeral em Baalbeck, no Líbano, para um membro do Hezbollah que foi morto em um ataque israelense no sul do país  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

A maior escalada do Hezbollah ocorreu na semana passada, com uma série de ataques diários de drones da milícia atingindo alvos em Israel bem distantes da fronteira. Autoridades israelenses graduadas, a começar pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, responderam com ameaças retóricas contra o Hezbollah, sugerindo que o dia do acerto de contas se aproxima.

Mas sempre que o conflito escala, o Hezbollah e Israel parecem calibrar suas retaliações mútuas para que nenhum ataque ocasione um conflito maior. Ainda que as preocupações sobre uma guerra mais ampla sigam latentes, ambos os lados parecem amarrados por diferentes forças de comedimento.

O videoclipe — lançado pelo escritório de comunicações militares do Hezbollah em maio — ilustra como, de muitas maneiras, o grupo é hoje mais forte do que jamais foi. Seu maior patrono, o Irã, tem lhe fornecido mísseis cada vez mais poderosos. Além disso, o Hezbollah obteve uma valiosa experiência de combate depois de anos acionando um contigente estimado em 2,5 mil soldados de forças especiais na Síria para ajudar a escorar o governo do presidente Bashar Assad.

Mas o Hezbollah não é somente uma força de combate. O grupo evoluiu, transformando-se em um movimento político mais amplo no Líbano — que tem de levar em conta as consequências de arrastar o país inteiro para outra guerra à medida que a população, avessa ao conflito, continua a sofrer com uma prolongada crise econômica.

A violência na fronteira entre Israel e Líbano já custou bilhões de dólares oriundos do turismo e da   agricultura, de acordo com autoridades libanesas. A última guerra, em 2006, deixou um rastro de destruição em todo o Líbano, forçando o deslocamento de pelo menos 1 milhão de pessoas.

Estados árabes e o Irã ajudaram a pagar pela reconstrução. Não é claro se eles fariam isso novamente. E, desde então um número incontável de libaneses caiu na pobreza conforme o valor da libra libanesa despencou, de 1,5 mil por US$ 1 para 89 mil.

Um casal libanês observa a fumaça subir após um ataque aéreo em Tyre, no sul do Líbano, onde as trocas de disparos de mísseis na fronteira entre Israel e o Hezbollah se intensificaram  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Centenas de milhares de deslocados

Desde outubro, cerca de 100 mil civis libaneses sofreram deslocamentos forçados ao longo da fronteira sul. Muitos são agricultores, que, com as safras abortadas, têm se sustentado com um subsídio mensal de US$ 200 fornecido pelo Hezbollah. Questionamentos sobre por que a guerra em Gaza deveria envolver o Líbano são onipresentes.

O agricultor Khodor Sirhal, de 60 anos, do vilarejo fronteiriço de Kafr Kila, vende azeite de oliva e sabão no Souk El Tayeb, um mercado frequentado aos sábados por hipsters de Beirute em busca de produtos orgânicos. Ele contou que, em outubro, colhia azeitonas com sua mulher quando intensas explosões ocorreram nas imediações, forçando-os a fugir para Beirute, onde o casal continua até hoje.

“Se você me perguntar por que essa guerra aconteceu, eu não sei responder”, lamentou-se Sirhal. Ele não tem certeza se sua casa ou o café com o qual sonhou por tanto tempo e inaugurou no vilarejo uma semana antes dos combates eclodirem ainda estão de pé.

O oficial do Hezbollah Hashem Safieddine reza durante o funeral de Taleb Sami Abdullah, que foi morto por um bombardeio israelense no sul do Líbano  Foto: Bilal Hussein/AP

Um dono de um pequeno comércio forçado a abandonar cerca de 100 jarros de azeite de oliva, entre outros produtos, disse que as autoridades do Hezbollah que ele questionou não conseguiram lhe explicar por que o Líbano deveria se envolver. “Eles declamam poemas ou fazem previsões”, afirmou ele, que se recusou a informar seu nome por medo de retaliações. “Nem eles sabem a resposta.”

Desde outubro, mais de 300 combatentes do Hezbollah e cerca de 80 civis libaneses morreram; do lado israelense, pelo menos 19 soldados e oito civis foram mortos.

A agitação comum à capital marítima de Tiro estava calada, o único ruído era o som abafado de explosões ao longe. Três escolas locais abrigavam famílias deslocadas.

Salwa, de 49 anos, relatou que abandonou sua casa e se abrigou em um pequeno recinto na escola, onde 25 famílias compartilham três banheiros e um chuveiro. Os moradores fazem visitas relâmpago para o sul com objetivo de contabilizar o que foi destruído, de casas arruinadas a móveis despedaçados por roedores. Um prefeito local estimou que 6 mil unidades habitacionais no sul do Líbano foram destruídas totalmente ou parcialmente.

Na visita mais recente à sua casa, Salwa, que se recusou a informar o sobrenome por medo de retaliações, soube que somente um gato, de seus 10 gatos e 15 cães, ainda estava vivo. “Eu me perguntei por que estamos nessa guerra”, afirmou ela. “Dizem que é por causa da Palestina, mas vai levar muito tempo para libertar a Palestina. Deus ajude os palestinos.”

Evitando uma guerra “irrestrita”

Israel também percebe uma série de fatores para se conter. Suas Forças Armadas já enfrentam dificuldades para cumprir o objetivo declarado de erradicar o Hamas de Gaza, enquanto Washington pede a Israel que evite inflamar um conflito mais amplo na região. O país também tem de considerar sua própria população.

Netanyahu lançou a ameaça de Israel repetir no Líbano, com uma guerra em escala total, a destruição em Gaza. Em resposta, o Hezbollah tem acionado armamentos cada vez mais sofisticados, como o exibido no vídeo.

“Os israelenses deixaram muito claro que atacariam irrestritamente, que esta operação seria massiva”, afirmou Mona Yacoubian, diretora do Centro para Oriente Médio e Norte da África, do Instituto da Paz dos Estados Unidos, em Washington. “Da mesma forma, o Hezbollah é muito mais poderoso hoje.”

“Trata-se de um conflito com potencial de atingir uma grande parte de Israel”, continuou ela. “Considero que isso é o que realmente está fazendo ambos os lados pensarem duas vezes. Esse conflito seria diferente de todos os que o precederam.”

Apesar de suas frustrações com seu deslocamento prolongado, os moradores da fronteira sul do Líbano com frequência relutam em criticar o Hezbollah, temendo seu aparato de segurança e ainda agradecidos à sua guerra de guerrilha que ajudou a pôr fim à ocupação de Israel, de 1982 e 2000.

Recorte de papelão retrata Abbas al-Musawi, cofundador e ex-líder do Hezbollah, em uma estrada perto de Baalbeck, no Líbano: Israel e o Hezbollah têm seus motivos para calibrar seus ataques a fim de evitar um conflito regional Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Alguns libaneses que não fugiram de suas casas no sul protestaram para evitar que o Hezbollah leve a guerra até eles. No início de abril, um grupo de homens no vilarejo de Rmeish, de maioria cristã, próximo à fronteira, soou o sino da igreja para alertar a população no momento em que combatentes do Hezbollah apareceram com um lançador de foguetes móvel e começaram a se preparar para disparar. Depois de serem confrontados, os combatentes deixaram a localidade.

A desnorteante miscelânea sectária da política libanesa reflete a ambivalência em campo. O conflito rendeu alguns novos aliados para o Hezbollah ao mesmo tempo que afastou outros. Alguns muçulmanos sunitas, que tradicionalmente apoiam a causa palestina, expressaram apoio aos ataques, por exemplo.

Lealdade ao Irã

Mas o Hezbollah atrai há muito a ira de outras facções por manter um exército próprio e ser leal ao Irã.

“O problema hoje é que o Estado do Líbano não controla nem o território do país, nem a decisão sobre guerra ou paz”, afirmou o parlamentar Samy Gemayel, líder de um partido político de direita majoritariamente cristão — e filho do ex-presidente libanês Amine Gemayel.

Nasrallah, do Hezbollah, tem afirmado repetidamente desde outubro que “a Frente de Resistência no Líbano” está alcançando seu objetivo de enfraquecer Israel. “A guerra de desgaste está carcomendo nos níveis humano, de segurança, econômico, espiritual, moral e psicológico”, afirmou ele em um discurso recente.

Israel retirou de suas casas cerca de 60 mil moradores do norte, e autoridades israelenses graduadas prometeram repetidamente estabelecer a segurança necessária para seu retorno, sem especificar de que maneira.

“É parte da agressividade do Hezbollah disparar com mais frequência e profundidade contra a linha de frente israelense”, afirmou o tenente-coronel Nadav Shoshani, porta-voz do Exército de Israel, em uma conferência de imprensa recente.

Dentro de Israel, a preocupação com uma versão no norte do ataque surpresa perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro tem gerado apoio a uma guerra preventiva.

Agências de segurança têm debatido os méritos da escalada, afirmou Sima Shine, ex-autoridade-sênior do Mossad, a agência de inteligência externa de Israel, onde ela trabalhou com foco sobre o Irã. “As pessoas não se sentem seguras em razão do que viram no sul”, afirmou ela. “E o Hezbollah é muito melhor que o Hamas.”

O debate dentro de Israel sobre uma possível guerra em escala total se intensificou juntamente com os ataques diários de drones. Enquanto anteriormente ataques desse tipo concentraram-se principalmente em alvos militares, desta vez o Hezbollah atingiu cidades que não tinham sido esvaziadas — incluindo Nahariya, na costa, e Katzrin, nas Colinas do Golã. O grupo também provocou incêndios florestais no norte israelense.

As Forças Armadas de Israel afirmaram que responderam atingindo posições do Hezbollah com fogo de artilharia e caças de combate.

Em última instância, as guerras nessa fronteira sempre se impregnaram pela questão maior a respeito de quem forjará a futura narrativa do Oriente Médio.

Uma visão, inaugurada décadas atrás por Egito e Jordânia, envolve aceitar Israel como vizinho, com a Arábia Saudita considerada o prêmio definitivo. O ataque sangrento do Hamas, aliado do Irã, tirou dos trilhos um trem que acelerava.

A alternativa é o chamado Eixo da Resistência liderado pelo Irã, uma aliança majoritariamente xiita de forças presentes no Líbano, no Iraque, na Síria e no Iêmen com intenção de combater Israel com armas. O Hezbollah é a força mais poderosa que o Irã já construiu com essa finalidade. “Eles estão contestando a liderança da região”, afirmou Randa Slim, pesquisadora-sênior do Middle East Institute, em Washington. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

No ritmo de uma animada trilha sonora eletrônica, um videoclipe publicado recentemente mostra o que a milícia xiita radical libanesa Hezbollah afirmou ser um drone que dispara mísseis, um novo item de seu arsenal, à medida que o grupo intensifica seus ataques contra Israel.

Ostentar um novo armamento é o tipo de exibição de força que o esquivo líder da organização, Hassan Nasrallah, defende. “O que nos protege é nossa força, nossa coragem, nossos punhos, nossas armas, nossos mísseis e nossa presença em campo”, afirmou ele num discurso pronunciado anteriormente este ano.

Os ataques do Hezbollah, iniciados em outubro em solidariedade ao Hamas, em guerra na Faixa de Gaza, intensificaram-se gradualmente conforme o grupo libanês usa armamentos maiores e mais sofisticados para atacar com mais frequência e mais profundamente o território israelense. Israel também está atingindo alvos mais interiores no Líbano.

Libaneses fazem luto em um funeral em Baalbeck, no Líbano, para um membro do Hezbollah que foi morto em um ataque israelense no sul do país  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

A maior escalada do Hezbollah ocorreu na semana passada, com uma série de ataques diários de drones da milícia atingindo alvos em Israel bem distantes da fronteira. Autoridades israelenses graduadas, a começar pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, responderam com ameaças retóricas contra o Hezbollah, sugerindo que o dia do acerto de contas se aproxima.

Mas sempre que o conflito escala, o Hezbollah e Israel parecem calibrar suas retaliações mútuas para que nenhum ataque ocasione um conflito maior. Ainda que as preocupações sobre uma guerra mais ampla sigam latentes, ambos os lados parecem amarrados por diferentes forças de comedimento.

O videoclipe — lançado pelo escritório de comunicações militares do Hezbollah em maio — ilustra como, de muitas maneiras, o grupo é hoje mais forte do que jamais foi. Seu maior patrono, o Irã, tem lhe fornecido mísseis cada vez mais poderosos. Além disso, o Hezbollah obteve uma valiosa experiência de combate depois de anos acionando um contigente estimado em 2,5 mil soldados de forças especiais na Síria para ajudar a escorar o governo do presidente Bashar Assad.

Mas o Hezbollah não é somente uma força de combate. O grupo evoluiu, transformando-se em um movimento político mais amplo no Líbano — que tem de levar em conta as consequências de arrastar o país inteiro para outra guerra à medida que a população, avessa ao conflito, continua a sofrer com uma prolongada crise econômica.

A violência na fronteira entre Israel e Líbano já custou bilhões de dólares oriundos do turismo e da   agricultura, de acordo com autoridades libanesas. A última guerra, em 2006, deixou um rastro de destruição em todo o Líbano, forçando o deslocamento de pelo menos 1 milhão de pessoas.

Estados árabes e o Irã ajudaram a pagar pela reconstrução. Não é claro se eles fariam isso novamente. E, desde então um número incontável de libaneses caiu na pobreza conforme o valor da libra libanesa despencou, de 1,5 mil por US$ 1 para 89 mil.

Um casal libanês observa a fumaça subir após um ataque aéreo em Tyre, no sul do Líbano, onde as trocas de disparos de mísseis na fronteira entre Israel e o Hezbollah se intensificaram  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Centenas de milhares de deslocados

Desde outubro, cerca de 100 mil civis libaneses sofreram deslocamentos forçados ao longo da fronteira sul. Muitos são agricultores, que, com as safras abortadas, têm se sustentado com um subsídio mensal de US$ 200 fornecido pelo Hezbollah. Questionamentos sobre por que a guerra em Gaza deveria envolver o Líbano são onipresentes.

O agricultor Khodor Sirhal, de 60 anos, do vilarejo fronteiriço de Kafr Kila, vende azeite de oliva e sabão no Souk El Tayeb, um mercado frequentado aos sábados por hipsters de Beirute em busca de produtos orgânicos. Ele contou que, em outubro, colhia azeitonas com sua mulher quando intensas explosões ocorreram nas imediações, forçando-os a fugir para Beirute, onde o casal continua até hoje.

“Se você me perguntar por que essa guerra aconteceu, eu não sei responder”, lamentou-se Sirhal. Ele não tem certeza se sua casa ou o café com o qual sonhou por tanto tempo e inaugurou no vilarejo uma semana antes dos combates eclodirem ainda estão de pé.

O oficial do Hezbollah Hashem Safieddine reza durante o funeral de Taleb Sami Abdullah, que foi morto por um bombardeio israelense no sul do Líbano  Foto: Bilal Hussein/AP

Um dono de um pequeno comércio forçado a abandonar cerca de 100 jarros de azeite de oliva, entre outros produtos, disse que as autoridades do Hezbollah que ele questionou não conseguiram lhe explicar por que o Líbano deveria se envolver. “Eles declamam poemas ou fazem previsões”, afirmou ele, que se recusou a informar seu nome por medo de retaliações. “Nem eles sabem a resposta.”

Desde outubro, mais de 300 combatentes do Hezbollah e cerca de 80 civis libaneses morreram; do lado israelense, pelo menos 19 soldados e oito civis foram mortos.

A agitação comum à capital marítima de Tiro estava calada, o único ruído era o som abafado de explosões ao longe. Três escolas locais abrigavam famílias deslocadas.

Salwa, de 49 anos, relatou que abandonou sua casa e se abrigou em um pequeno recinto na escola, onde 25 famílias compartilham três banheiros e um chuveiro. Os moradores fazem visitas relâmpago para o sul com objetivo de contabilizar o que foi destruído, de casas arruinadas a móveis despedaçados por roedores. Um prefeito local estimou que 6 mil unidades habitacionais no sul do Líbano foram destruídas totalmente ou parcialmente.

Na visita mais recente à sua casa, Salwa, que se recusou a informar o sobrenome por medo de retaliações, soube que somente um gato, de seus 10 gatos e 15 cães, ainda estava vivo. “Eu me perguntei por que estamos nessa guerra”, afirmou ela. “Dizem que é por causa da Palestina, mas vai levar muito tempo para libertar a Palestina. Deus ajude os palestinos.”

Evitando uma guerra “irrestrita”

Israel também percebe uma série de fatores para se conter. Suas Forças Armadas já enfrentam dificuldades para cumprir o objetivo declarado de erradicar o Hamas de Gaza, enquanto Washington pede a Israel que evite inflamar um conflito mais amplo na região. O país também tem de considerar sua própria população.

Netanyahu lançou a ameaça de Israel repetir no Líbano, com uma guerra em escala total, a destruição em Gaza. Em resposta, o Hezbollah tem acionado armamentos cada vez mais sofisticados, como o exibido no vídeo.

“Os israelenses deixaram muito claro que atacariam irrestritamente, que esta operação seria massiva”, afirmou Mona Yacoubian, diretora do Centro para Oriente Médio e Norte da África, do Instituto da Paz dos Estados Unidos, em Washington. “Da mesma forma, o Hezbollah é muito mais poderoso hoje.”

“Trata-se de um conflito com potencial de atingir uma grande parte de Israel”, continuou ela. “Considero que isso é o que realmente está fazendo ambos os lados pensarem duas vezes. Esse conflito seria diferente de todos os que o precederam.”

Apesar de suas frustrações com seu deslocamento prolongado, os moradores da fronteira sul do Líbano com frequência relutam em criticar o Hezbollah, temendo seu aparato de segurança e ainda agradecidos à sua guerra de guerrilha que ajudou a pôr fim à ocupação de Israel, de 1982 e 2000.

Recorte de papelão retrata Abbas al-Musawi, cofundador e ex-líder do Hezbollah, em uma estrada perto de Baalbeck, no Líbano: Israel e o Hezbollah têm seus motivos para calibrar seus ataques a fim de evitar um conflito regional Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Alguns libaneses que não fugiram de suas casas no sul protestaram para evitar que o Hezbollah leve a guerra até eles. No início de abril, um grupo de homens no vilarejo de Rmeish, de maioria cristã, próximo à fronteira, soou o sino da igreja para alertar a população no momento em que combatentes do Hezbollah apareceram com um lançador de foguetes móvel e começaram a se preparar para disparar. Depois de serem confrontados, os combatentes deixaram a localidade.

A desnorteante miscelânea sectária da política libanesa reflete a ambivalência em campo. O conflito rendeu alguns novos aliados para o Hezbollah ao mesmo tempo que afastou outros. Alguns muçulmanos sunitas, que tradicionalmente apoiam a causa palestina, expressaram apoio aos ataques, por exemplo.

Lealdade ao Irã

Mas o Hezbollah atrai há muito a ira de outras facções por manter um exército próprio e ser leal ao Irã.

“O problema hoje é que o Estado do Líbano não controla nem o território do país, nem a decisão sobre guerra ou paz”, afirmou o parlamentar Samy Gemayel, líder de um partido político de direita majoritariamente cristão — e filho do ex-presidente libanês Amine Gemayel.

Nasrallah, do Hezbollah, tem afirmado repetidamente desde outubro que “a Frente de Resistência no Líbano” está alcançando seu objetivo de enfraquecer Israel. “A guerra de desgaste está carcomendo nos níveis humano, de segurança, econômico, espiritual, moral e psicológico”, afirmou ele em um discurso recente.

Israel retirou de suas casas cerca de 60 mil moradores do norte, e autoridades israelenses graduadas prometeram repetidamente estabelecer a segurança necessária para seu retorno, sem especificar de que maneira.

“É parte da agressividade do Hezbollah disparar com mais frequência e profundidade contra a linha de frente israelense”, afirmou o tenente-coronel Nadav Shoshani, porta-voz do Exército de Israel, em uma conferência de imprensa recente.

Dentro de Israel, a preocupação com uma versão no norte do ataque surpresa perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro tem gerado apoio a uma guerra preventiva.

Agências de segurança têm debatido os méritos da escalada, afirmou Sima Shine, ex-autoridade-sênior do Mossad, a agência de inteligência externa de Israel, onde ela trabalhou com foco sobre o Irã. “As pessoas não se sentem seguras em razão do que viram no sul”, afirmou ela. “E o Hezbollah é muito melhor que o Hamas.”

O debate dentro de Israel sobre uma possível guerra em escala total se intensificou juntamente com os ataques diários de drones. Enquanto anteriormente ataques desse tipo concentraram-se principalmente em alvos militares, desta vez o Hezbollah atingiu cidades que não tinham sido esvaziadas — incluindo Nahariya, na costa, e Katzrin, nas Colinas do Golã. O grupo também provocou incêndios florestais no norte israelense.

As Forças Armadas de Israel afirmaram que responderam atingindo posições do Hezbollah com fogo de artilharia e caças de combate.

Em última instância, as guerras nessa fronteira sempre se impregnaram pela questão maior a respeito de quem forjará a futura narrativa do Oriente Médio.

Uma visão, inaugurada décadas atrás por Egito e Jordânia, envolve aceitar Israel como vizinho, com a Arábia Saudita considerada o prêmio definitivo. O ataque sangrento do Hamas, aliado do Irã, tirou dos trilhos um trem que acelerava.

A alternativa é o chamado Eixo da Resistência liderado pelo Irã, uma aliança majoritariamente xiita de forças presentes no Líbano, no Iraque, na Síria e no Iêmen com intenção de combater Israel com armas. O Hezbollah é a força mais poderosa que o Irã já construiu com essa finalidade. “Eles estão contestando a liderança da região”, afirmou Randa Slim, pesquisadora-sênior do Middle East Institute, em Washington. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

No ritmo de uma animada trilha sonora eletrônica, um videoclipe publicado recentemente mostra o que a milícia xiita radical libanesa Hezbollah afirmou ser um drone que dispara mísseis, um novo item de seu arsenal, à medida que o grupo intensifica seus ataques contra Israel.

Ostentar um novo armamento é o tipo de exibição de força que o esquivo líder da organização, Hassan Nasrallah, defende. “O que nos protege é nossa força, nossa coragem, nossos punhos, nossas armas, nossos mísseis e nossa presença em campo”, afirmou ele num discurso pronunciado anteriormente este ano.

Os ataques do Hezbollah, iniciados em outubro em solidariedade ao Hamas, em guerra na Faixa de Gaza, intensificaram-se gradualmente conforme o grupo libanês usa armamentos maiores e mais sofisticados para atacar com mais frequência e mais profundamente o território israelense. Israel também está atingindo alvos mais interiores no Líbano.

Libaneses fazem luto em um funeral em Baalbeck, no Líbano, para um membro do Hezbollah que foi morto em um ataque israelense no sul do país  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

A maior escalada do Hezbollah ocorreu na semana passada, com uma série de ataques diários de drones da milícia atingindo alvos em Israel bem distantes da fronteira. Autoridades israelenses graduadas, a começar pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, responderam com ameaças retóricas contra o Hezbollah, sugerindo que o dia do acerto de contas se aproxima.

Mas sempre que o conflito escala, o Hezbollah e Israel parecem calibrar suas retaliações mútuas para que nenhum ataque ocasione um conflito maior. Ainda que as preocupações sobre uma guerra mais ampla sigam latentes, ambos os lados parecem amarrados por diferentes forças de comedimento.

O videoclipe — lançado pelo escritório de comunicações militares do Hezbollah em maio — ilustra como, de muitas maneiras, o grupo é hoje mais forte do que jamais foi. Seu maior patrono, o Irã, tem lhe fornecido mísseis cada vez mais poderosos. Além disso, o Hezbollah obteve uma valiosa experiência de combate depois de anos acionando um contigente estimado em 2,5 mil soldados de forças especiais na Síria para ajudar a escorar o governo do presidente Bashar Assad.

Mas o Hezbollah não é somente uma força de combate. O grupo evoluiu, transformando-se em um movimento político mais amplo no Líbano — que tem de levar em conta as consequências de arrastar o país inteiro para outra guerra à medida que a população, avessa ao conflito, continua a sofrer com uma prolongada crise econômica.

A violência na fronteira entre Israel e Líbano já custou bilhões de dólares oriundos do turismo e da   agricultura, de acordo com autoridades libanesas. A última guerra, em 2006, deixou um rastro de destruição em todo o Líbano, forçando o deslocamento de pelo menos 1 milhão de pessoas.

Estados árabes e o Irã ajudaram a pagar pela reconstrução. Não é claro se eles fariam isso novamente. E, desde então um número incontável de libaneses caiu na pobreza conforme o valor da libra libanesa despencou, de 1,5 mil por US$ 1 para 89 mil.

Um casal libanês observa a fumaça subir após um ataque aéreo em Tyre, no sul do Líbano, onde as trocas de disparos de mísseis na fronteira entre Israel e o Hezbollah se intensificaram  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Centenas de milhares de deslocados

Desde outubro, cerca de 100 mil civis libaneses sofreram deslocamentos forçados ao longo da fronteira sul. Muitos são agricultores, que, com as safras abortadas, têm se sustentado com um subsídio mensal de US$ 200 fornecido pelo Hezbollah. Questionamentos sobre por que a guerra em Gaza deveria envolver o Líbano são onipresentes.

O agricultor Khodor Sirhal, de 60 anos, do vilarejo fronteiriço de Kafr Kila, vende azeite de oliva e sabão no Souk El Tayeb, um mercado frequentado aos sábados por hipsters de Beirute em busca de produtos orgânicos. Ele contou que, em outubro, colhia azeitonas com sua mulher quando intensas explosões ocorreram nas imediações, forçando-os a fugir para Beirute, onde o casal continua até hoje.

“Se você me perguntar por que essa guerra aconteceu, eu não sei responder”, lamentou-se Sirhal. Ele não tem certeza se sua casa ou o café com o qual sonhou por tanto tempo e inaugurou no vilarejo uma semana antes dos combates eclodirem ainda estão de pé.

O oficial do Hezbollah Hashem Safieddine reza durante o funeral de Taleb Sami Abdullah, que foi morto por um bombardeio israelense no sul do Líbano  Foto: Bilal Hussein/AP

Um dono de um pequeno comércio forçado a abandonar cerca de 100 jarros de azeite de oliva, entre outros produtos, disse que as autoridades do Hezbollah que ele questionou não conseguiram lhe explicar por que o Líbano deveria se envolver. “Eles declamam poemas ou fazem previsões”, afirmou ele, que se recusou a informar seu nome por medo de retaliações. “Nem eles sabem a resposta.”

Desde outubro, mais de 300 combatentes do Hezbollah e cerca de 80 civis libaneses morreram; do lado israelense, pelo menos 19 soldados e oito civis foram mortos.

A agitação comum à capital marítima de Tiro estava calada, o único ruído era o som abafado de explosões ao longe. Três escolas locais abrigavam famílias deslocadas.

Salwa, de 49 anos, relatou que abandonou sua casa e se abrigou em um pequeno recinto na escola, onde 25 famílias compartilham três banheiros e um chuveiro. Os moradores fazem visitas relâmpago para o sul com objetivo de contabilizar o que foi destruído, de casas arruinadas a móveis despedaçados por roedores. Um prefeito local estimou que 6 mil unidades habitacionais no sul do Líbano foram destruídas totalmente ou parcialmente.

Na visita mais recente à sua casa, Salwa, que se recusou a informar o sobrenome por medo de retaliações, soube que somente um gato, de seus 10 gatos e 15 cães, ainda estava vivo. “Eu me perguntei por que estamos nessa guerra”, afirmou ela. “Dizem que é por causa da Palestina, mas vai levar muito tempo para libertar a Palestina. Deus ajude os palestinos.”

Evitando uma guerra “irrestrita”

Israel também percebe uma série de fatores para se conter. Suas Forças Armadas já enfrentam dificuldades para cumprir o objetivo declarado de erradicar o Hamas de Gaza, enquanto Washington pede a Israel que evite inflamar um conflito mais amplo na região. O país também tem de considerar sua própria população.

Netanyahu lançou a ameaça de Israel repetir no Líbano, com uma guerra em escala total, a destruição em Gaza. Em resposta, o Hezbollah tem acionado armamentos cada vez mais sofisticados, como o exibido no vídeo.

“Os israelenses deixaram muito claro que atacariam irrestritamente, que esta operação seria massiva”, afirmou Mona Yacoubian, diretora do Centro para Oriente Médio e Norte da África, do Instituto da Paz dos Estados Unidos, em Washington. “Da mesma forma, o Hezbollah é muito mais poderoso hoje.”

“Trata-se de um conflito com potencial de atingir uma grande parte de Israel”, continuou ela. “Considero que isso é o que realmente está fazendo ambos os lados pensarem duas vezes. Esse conflito seria diferente de todos os que o precederam.”

Apesar de suas frustrações com seu deslocamento prolongado, os moradores da fronteira sul do Líbano com frequência relutam em criticar o Hezbollah, temendo seu aparato de segurança e ainda agradecidos à sua guerra de guerrilha que ajudou a pôr fim à ocupação de Israel, de 1982 e 2000.

Recorte de papelão retrata Abbas al-Musawi, cofundador e ex-líder do Hezbollah, em uma estrada perto de Baalbeck, no Líbano: Israel e o Hezbollah têm seus motivos para calibrar seus ataques a fim de evitar um conflito regional Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Alguns libaneses que não fugiram de suas casas no sul protestaram para evitar que o Hezbollah leve a guerra até eles. No início de abril, um grupo de homens no vilarejo de Rmeish, de maioria cristã, próximo à fronteira, soou o sino da igreja para alertar a população no momento em que combatentes do Hezbollah apareceram com um lançador de foguetes móvel e começaram a se preparar para disparar. Depois de serem confrontados, os combatentes deixaram a localidade.

A desnorteante miscelânea sectária da política libanesa reflete a ambivalência em campo. O conflito rendeu alguns novos aliados para o Hezbollah ao mesmo tempo que afastou outros. Alguns muçulmanos sunitas, que tradicionalmente apoiam a causa palestina, expressaram apoio aos ataques, por exemplo.

Lealdade ao Irã

Mas o Hezbollah atrai há muito a ira de outras facções por manter um exército próprio e ser leal ao Irã.

“O problema hoje é que o Estado do Líbano não controla nem o território do país, nem a decisão sobre guerra ou paz”, afirmou o parlamentar Samy Gemayel, líder de um partido político de direita majoritariamente cristão — e filho do ex-presidente libanês Amine Gemayel.

Nasrallah, do Hezbollah, tem afirmado repetidamente desde outubro que “a Frente de Resistência no Líbano” está alcançando seu objetivo de enfraquecer Israel. “A guerra de desgaste está carcomendo nos níveis humano, de segurança, econômico, espiritual, moral e psicológico”, afirmou ele em um discurso recente.

Israel retirou de suas casas cerca de 60 mil moradores do norte, e autoridades israelenses graduadas prometeram repetidamente estabelecer a segurança necessária para seu retorno, sem especificar de que maneira.

“É parte da agressividade do Hezbollah disparar com mais frequência e profundidade contra a linha de frente israelense”, afirmou o tenente-coronel Nadav Shoshani, porta-voz do Exército de Israel, em uma conferência de imprensa recente.

Dentro de Israel, a preocupação com uma versão no norte do ataque surpresa perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro tem gerado apoio a uma guerra preventiva.

Agências de segurança têm debatido os méritos da escalada, afirmou Sima Shine, ex-autoridade-sênior do Mossad, a agência de inteligência externa de Israel, onde ela trabalhou com foco sobre o Irã. “As pessoas não se sentem seguras em razão do que viram no sul”, afirmou ela. “E o Hezbollah é muito melhor que o Hamas.”

O debate dentro de Israel sobre uma possível guerra em escala total se intensificou juntamente com os ataques diários de drones. Enquanto anteriormente ataques desse tipo concentraram-se principalmente em alvos militares, desta vez o Hezbollah atingiu cidades que não tinham sido esvaziadas — incluindo Nahariya, na costa, e Katzrin, nas Colinas do Golã. O grupo também provocou incêndios florestais no norte israelense.

As Forças Armadas de Israel afirmaram que responderam atingindo posições do Hezbollah com fogo de artilharia e caças de combate.

Em última instância, as guerras nessa fronteira sempre se impregnaram pela questão maior a respeito de quem forjará a futura narrativa do Oriente Médio.

Uma visão, inaugurada décadas atrás por Egito e Jordânia, envolve aceitar Israel como vizinho, com a Arábia Saudita considerada o prêmio definitivo. O ataque sangrento do Hamas, aliado do Irã, tirou dos trilhos um trem que acelerava.

A alternativa é o chamado Eixo da Resistência liderado pelo Irã, uma aliança majoritariamente xiita de forças presentes no Líbano, no Iraque, na Síria e no Iêmen com intenção de combater Israel com armas. O Hezbollah é a força mais poderosa que o Irã já construiu com essa finalidade. “Eles estão contestando a liderança da região”, afirmou Randa Slim, pesquisadora-sênior do Middle East Institute, em Washington. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

No ritmo de uma animada trilha sonora eletrônica, um videoclipe publicado recentemente mostra o que a milícia xiita radical libanesa Hezbollah afirmou ser um drone que dispara mísseis, um novo item de seu arsenal, à medida que o grupo intensifica seus ataques contra Israel.

Ostentar um novo armamento é o tipo de exibição de força que o esquivo líder da organização, Hassan Nasrallah, defende. “O que nos protege é nossa força, nossa coragem, nossos punhos, nossas armas, nossos mísseis e nossa presença em campo”, afirmou ele num discurso pronunciado anteriormente este ano.

Os ataques do Hezbollah, iniciados em outubro em solidariedade ao Hamas, em guerra na Faixa de Gaza, intensificaram-se gradualmente conforme o grupo libanês usa armamentos maiores e mais sofisticados para atacar com mais frequência e mais profundamente o território israelense. Israel também está atingindo alvos mais interiores no Líbano.

Libaneses fazem luto em um funeral em Baalbeck, no Líbano, para um membro do Hezbollah que foi morto em um ataque israelense no sul do país  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

A maior escalada do Hezbollah ocorreu na semana passada, com uma série de ataques diários de drones da milícia atingindo alvos em Israel bem distantes da fronteira. Autoridades israelenses graduadas, a começar pelo primeiro-ministro, Binyamin Netanyahu, responderam com ameaças retóricas contra o Hezbollah, sugerindo que o dia do acerto de contas se aproxima.

Mas sempre que o conflito escala, o Hezbollah e Israel parecem calibrar suas retaliações mútuas para que nenhum ataque ocasione um conflito maior. Ainda que as preocupações sobre uma guerra mais ampla sigam latentes, ambos os lados parecem amarrados por diferentes forças de comedimento.

O videoclipe — lançado pelo escritório de comunicações militares do Hezbollah em maio — ilustra como, de muitas maneiras, o grupo é hoje mais forte do que jamais foi. Seu maior patrono, o Irã, tem lhe fornecido mísseis cada vez mais poderosos. Além disso, o Hezbollah obteve uma valiosa experiência de combate depois de anos acionando um contigente estimado em 2,5 mil soldados de forças especiais na Síria para ajudar a escorar o governo do presidente Bashar Assad.

Mas o Hezbollah não é somente uma força de combate. O grupo evoluiu, transformando-se em um movimento político mais amplo no Líbano — que tem de levar em conta as consequências de arrastar o país inteiro para outra guerra à medida que a população, avessa ao conflito, continua a sofrer com uma prolongada crise econômica.

A violência na fronteira entre Israel e Líbano já custou bilhões de dólares oriundos do turismo e da   agricultura, de acordo com autoridades libanesas. A última guerra, em 2006, deixou um rastro de destruição em todo o Líbano, forçando o deslocamento de pelo menos 1 milhão de pessoas.

Estados árabes e o Irã ajudaram a pagar pela reconstrução. Não é claro se eles fariam isso novamente. E, desde então um número incontável de libaneses caiu na pobreza conforme o valor da libra libanesa despencou, de 1,5 mil por US$ 1 para 89 mil.

Um casal libanês observa a fumaça subir após um ataque aéreo em Tyre, no sul do Líbano, onde as trocas de disparos de mísseis na fronteira entre Israel e o Hezbollah se intensificaram  Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Centenas de milhares de deslocados

Desde outubro, cerca de 100 mil civis libaneses sofreram deslocamentos forçados ao longo da fronteira sul. Muitos são agricultores, que, com as safras abortadas, têm se sustentado com um subsídio mensal de US$ 200 fornecido pelo Hezbollah. Questionamentos sobre por que a guerra em Gaza deveria envolver o Líbano são onipresentes.

O agricultor Khodor Sirhal, de 60 anos, do vilarejo fronteiriço de Kafr Kila, vende azeite de oliva e sabão no Souk El Tayeb, um mercado frequentado aos sábados por hipsters de Beirute em busca de produtos orgânicos. Ele contou que, em outubro, colhia azeitonas com sua mulher quando intensas explosões ocorreram nas imediações, forçando-os a fugir para Beirute, onde o casal continua até hoje.

“Se você me perguntar por que essa guerra aconteceu, eu não sei responder”, lamentou-se Sirhal. Ele não tem certeza se sua casa ou o café com o qual sonhou por tanto tempo e inaugurou no vilarejo uma semana antes dos combates eclodirem ainda estão de pé.

O oficial do Hezbollah Hashem Safieddine reza durante o funeral de Taleb Sami Abdullah, que foi morto por um bombardeio israelense no sul do Líbano  Foto: Bilal Hussein/AP

Um dono de um pequeno comércio forçado a abandonar cerca de 100 jarros de azeite de oliva, entre outros produtos, disse que as autoridades do Hezbollah que ele questionou não conseguiram lhe explicar por que o Líbano deveria se envolver. “Eles declamam poemas ou fazem previsões”, afirmou ele, que se recusou a informar seu nome por medo de retaliações. “Nem eles sabem a resposta.”

Desde outubro, mais de 300 combatentes do Hezbollah e cerca de 80 civis libaneses morreram; do lado israelense, pelo menos 19 soldados e oito civis foram mortos.

A agitação comum à capital marítima de Tiro estava calada, o único ruído era o som abafado de explosões ao longe. Três escolas locais abrigavam famílias deslocadas.

Salwa, de 49 anos, relatou que abandonou sua casa e se abrigou em um pequeno recinto na escola, onde 25 famílias compartilham três banheiros e um chuveiro. Os moradores fazem visitas relâmpago para o sul com objetivo de contabilizar o que foi destruído, de casas arruinadas a móveis despedaçados por roedores. Um prefeito local estimou que 6 mil unidades habitacionais no sul do Líbano foram destruídas totalmente ou parcialmente.

Na visita mais recente à sua casa, Salwa, que se recusou a informar o sobrenome por medo de retaliações, soube que somente um gato, de seus 10 gatos e 15 cães, ainda estava vivo. “Eu me perguntei por que estamos nessa guerra”, afirmou ela. “Dizem que é por causa da Palestina, mas vai levar muito tempo para libertar a Palestina. Deus ajude os palestinos.”

Evitando uma guerra “irrestrita”

Israel também percebe uma série de fatores para se conter. Suas Forças Armadas já enfrentam dificuldades para cumprir o objetivo declarado de erradicar o Hamas de Gaza, enquanto Washington pede a Israel que evite inflamar um conflito mais amplo na região. O país também tem de considerar sua própria população.

Netanyahu lançou a ameaça de Israel repetir no Líbano, com uma guerra em escala total, a destruição em Gaza. Em resposta, o Hezbollah tem acionado armamentos cada vez mais sofisticados, como o exibido no vídeo.

“Os israelenses deixaram muito claro que atacariam irrestritamente, que esta operação seria massiva”, afirmou Mona Yacoubian, diretora do Centro para Oriente Médio e Norte da África, do Instituto da Paz dos Estados Unidos, em Washington. “Da mesma forma, o Hezbollah é muito mais poderoso hoje.”

“Trata-se de um conflito com potencial de atingir uma grande parte de Israel”, continuou ela. “Considero que isso é o que realmente está fazendo ambos os lados pensarem duas vezes. Esse conflito seria diferente de todos os que o precederam.”

Apesar de suas frustrações com seu deslocamento prolongado, os moradores da fronteira sul do Líbano com frequência relutam em criticar o Hezbollah, temendo seu aparato de segurança e ainda agradecidos à sua guerra de guerrilha que ajudou a pôr fim à ocupação de Israel, de 1982 e 2000.

Recorte de papelão retrata Abbas al-Musawi, cofundador e ex-líder do Hezbollah, em uma estrada perto de Baalbeck, no Líbano: Israel e o Hezbollah têm seus motivos para calibrar seus ataques a fim de evitar um conflito regional Foto: Diego Ibarra Sanchez/The New York Times

Alguns libaneses que não fugiram de suas casas no sul protestaram para evitar que o Hezbollah leve a guerra até eles. No início de abril, um grupo de homens no vilarejo de Rmeish, de maioria cristã, próximo à fronteira, soou o sino da igreja para alertar a população no momento em que combatentes do Hezbollah apareceram com um lançador de foguetes móvel e começaram a se preparar para disparar. Depois de serem confrontados, os combatentes deixaram a localidade.

A desnorteante miscelânea sectária da política libanesa reflete a ambivalência em campo. O conflito rendeu alguns novos aliados para o Hezbollah ao mesmo tempo que afastou outros. Alguns muçulmanos sunitas, que tradicionalmente apoiam a causa palestina, expressaram apoio aos ataques, por exemplo.

Lealdade ao Irã

Mas o Hezbollah atrai há muito a ira de outras facções por manter um exército próprio e ser leal ao Irã.

“O problema hoje é que o Estado do Líbano não controla nem o território do país, nem a decisão sobre guerra ou paz”, afirmou o parlamentar Samy Gemayel, líder de um partido político de direita majoritariamente cristão — e filho do ex-presidente libanês Amine Gemayel.

Nasrallah, do Hezbollah, tem afirmado repetidamente desde outubro que “a Frente de Resistência no Líbano” está alcançando seu objetivo de enfraquecer Israel. “A guerra de desgaste está carcomendo nos níveis humano, de segurança, econômico, espiritual, moral e psicológico”, afirmou ele em um discurso recente.

Israel retirou de suas casas cerca de 60 mil moradores do norte, e autoridades israelenses graduadas prometeram repetidamente estabelecer a segurança necessária para seu retorno, sem especificar de que maneira.

“É parte da agressividade do Hezbollah disparar com mais frequência e profundidade contra a linha de frente israelense”, afirmou o tenente-coronel Nadav Shoshani, porta-voz do Exército de Israel, em uma conferência de imprensa recente.

Dentro de Israel, a preocupação com uma versão no norte do ataque surpresa perpetrado pelo Hamas em 7 de outubro tem gerado apoio a uma guerra preventiva.

Agências de segurança têm debatido os méritos da escalada, afirmou Sima Shine, ex-autoridade-sênior do Mossad, a agência de inteligência externa de Israel, onde ela trabalhou com foco sobre o Irã. “As pessoas não se sentem seguras em razão do que viram no sul”, afirmou ela. “E o Hezbollah é muito melhor que o Hamas.”

O debate dentro de Israel sobre uma possível guerra em escala total se intensificou juntamente com os ataques diários de drones. Enquanto anteriormente ataques desse tipo concentraram-se principalmente em alvos militares, desta vez o Hezbollah atingiu cidades que não tinham sido esvaziadas — incluindo Nahariya, na costa, e Katzrin, nas Colinas do Golã. O grupo também provocou incêndios florestais no norte israelense.

As Forças Armadas de Israel afirmaram que responderam atingindo posições do Hezbollah com fogo de artilharia e caças de combate.

Em última instância, as guerras nessa fronteira sempre se impregnaram pela questão maior a respeito de quem forjará a futura narrativa do Oriente Médio.

Uma visão, inaugurada décadas atrás por Egito e Jordânia, envolve aceitar Israel como vizinho, com a Arábia Saudita considerada o prêmio definitivo. O ataque sangrento do Hamas, aliado do Irã, tirou dos trilhos um trem que acelerava.

A alternativa é o chamado Eixo da Resistência liderado pelo Irã, uma aliança majoritariamente xiita de forças presentes no Líbano, no Iraque, na Síria e no Iêmen com intenção de combater Israel com armas. O Hezbollah é a força mais poderosa que o Irã já construiu com essa finalidade. “Eles estão contestando a liderança da região”, afirmou Randa Slim, pesquisadora-sênior do Middle East Institute, em Washington. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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