CUAUTLA, México — Os tiros começaram pouco antes das 10h. Um motoqueiro passou acelerando diante de um modesto edifício, nos fundos de uma antiga estação ferroviária daqui, e disparou três vezes. Minutos depois, o atirador abriu fogo contra um estabelecimento comercial, a 600 metros de lá, e feriu um adolescente.
O criminoso era da gangue Los Acapulcos, concluíram posteriormente as autoridades — que descende de uma gangue de tráfico de heroína. Mas os alvos naquela manhã de novembro não eram traficantes rivais nem informantes da polícia.
Eram lojas de tortilhas.
Pequenos comércios que vendem tortilhas quentinhas são onipresentes nos bairros mexicanos. Agora, milhares desses estabelecimentos estão sendo ameaçados por grupos armados, parte de uma transformação no crime organizado que reverbera por toda a América Latina. Os cartéis vêm desempenhando funções crescentes nas economias da região, expandindo suas operações para portos marítimos ou extorquindo pequenos negócios — e ganhando cada vez mais poder político.
As gangues de tráfico de drogas expandiram-se tão rapidamente que quase todas as nações continentais na América Latina tornaram-se produtoras ou corredores de trânsito de cocaína, de acordo com o Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime. Mas os grupos criminosos também estão se ramificando para outras atividades ilegais. No México, estão extorquindo pescadores, negociantes de frango, construtoras, empresas de transporte rodoviário, postos de gasolina e uma série de outros negócios, incluindo os produtores do alimento mais comum no país: a tortilha de milho.
Pelo menos 15% das tortillerías — cerca de 20 mil pequenos estabelecimentos — são extorquidas regularmente, de acordo com o Conselho Nacional da Tortilha, um grupo que representa o setor. Uma década atrás, afirmou a entidade, apenas uma pequena porcentagem sofria ameaças. Em todo o país, de vilarejos rurais a cidades que abrigam resorts, como Zihuatanejo, as lojas de tortilha que se recusam a pagar propina são incendiadas ou alvo de disparos de armas de fogo.
“Estamos praticamente em um ponto em que os criminosos determinam o preço das tortilhas”, afirmou o diretor do conselho, Homero López.
O presidente mexicano em fim de mandato, Andrés Manuel López Obrador, crítico de longa data da “guerra às drogas” pregada pelos Estados Unidos, definiu suas políticas de segurança em torno de programas sociais, evitando tiroteios espetaculares com narcotraficantes. O índice de homicídios baixou 9% durante seus quatro primeiros anos de presidência, de acordo com os dados mais recentes. Mas entidades empresariais e grupos de defesa dos direitos humanos, entre outros, afirmam que um fenômeno mais pernicioso está se espalhando.
Anteriormente dedicadas ao mercado de drogas nos EUA, as gangues mexicanas voltaram o olhar para seu próprio país em busca de territórios que possam explorar financeiramente.
Os cartéis do México estão se inserindo em governos locais para maximizar esse controle — o que tornou as eleições no país crescentemente violentas. Centenas de candidatos nas eleições de 2 de junho abandonaram as disputas depois de sofrer ameaças. Pelo menos 34 postulantes a cargos eletivos foram mortos, de acordo com a consultoria Integralia.
Os grupos criminosos “tornaram-se os governantes de facto” em algumas comunidades, afirmou Sandra Ley, coordenadora do programa de segurança da México Evalúa, uma organização de pesquisa.
Os cartéis mexicanos começaram a diversificar suas operações para extorsão, tráfico de migrantes e outros crimes mais de uma década atrás, conforme se fragmentaram em grupos menores sob pressão das forças de segurança. As novas gangues buscaram novas fontes de renda.
Agora, estão inseridas em setores inteiros da economia.
Cerca de 70% da produção de madeira no México é ilícita, segundo o Ministério do Meio Ambiente — com um montante significativo nas mãos de facções de crime organizado. Pelo menos 30% dos combustíveis vendidos no México são roubados ou contrabandeados, estima a Onexpo, um grupo que representa nacionalmente os postos de gasolina. Um a cada cinco cigarros vem do mercado clandestino.
Nas fazendas mexicanas, criminosos “taxam” de tudo, de batatas aos abacates destinados aos guacamoles dos americanos. As extorsões foram responsáveis por aproximadamente um quarto do aumento de 6% nos preços dos itens agrícolas no ano passado, de acordo com o economista José Ignacio Martínez, da Universidade Nacional Autônoma do México.
Ainda que dados concretos sejam escassos, o lucro dessas atividades ilícitas poderia se rivalizar com os estimados US$ 12 bilhões que os cartéis fazem todos os anos com a venda de drogas. Somente em um setor — combustíveis roubados ou contrabandeados — o governo estima que está perdendo cerca de US$ 5 bilhões por ano.
O crescente controle criminoso sobre a economia do México começa a se refletir na fronteira com os EUA. O número de detenções de mexicanos no lado americano — incluindo solicitantes de asilo — triplicou desde 2019, chegando a cerca de 717 mil no ano passado. As pessoas deixam o país por muitas razões, incluindo a busca por empregos mais bem pagos. Mas uma porcentagem cada vez mais alta de migrantes mexicanos tem afirmado que foge da violência e das extorsões.
Numa pesquisa encomendada no outono passado (Hemisfério Norte) pelo Departamento de Estado americano, revelada com exclusividade pela reportagem, 39% dos mexicanos entrevistados afirmaram que estariam dispostos a emigrar irregularmente para os EUA nos próximos meses — um aumento de quatro vezes em relação ao início de 2022.
Medo e ultraje
Numa manhã recente, Antonio Vázquez atravessava com sua picape o trânsito congestionado ao sul da cidade de Cuernavaca, a caminho de um local secreto. Um colega fabricante de tortilha estava em apuros.
Vázquez, de 55 anos, um homem pensativo, de cabelos grisalhos, lidera a associação de tortillerías em Morelos, um pequeno Estado ao sul da Cidade do México. Recentemente, ele virou semicelebridade denunciando em noticiários da TV a ameaça às tortillerías do Estado. Cerca de 30 lojas em Morelos fecharam no ano passado por causa das extorsões.
Sua mulher tem lhe pedido que seja mais discreto. Mas Vázquez, treinado pelo trabalho de advogado, não pode conter seu ultraje.
“Alguém tem que denunciar”, afirmou ele.
Vázquez virou em uma rua calma, de casas pintadas em tons pastéis, e entrou numa propriedade murada. Sentou-se sob uma árvore gigante ao lado de um homem aparentando ter quase 40 anos, corpulento, que suava. O homem, que pediu para não ser identificado por razões de segurança, tinha se recusado a pagar a quantia exigida na extorsão. Uma gangue tinha retaliado ateando fogo à sua casa.
“Tenho de encontrar outra maneira de sobreviver”, disse ele, afirmando que havia apenas uma chance: mudar-se para os EUA. Vázquez disse que o ajudaria a abrir uma tortillería por lá. “Mas eu não consigo o visto”, reclamou o homem. Ele disse que poderia ter de atravessar a fronteira ilegalmente.
Vázquez ouviu em silêncio, dando goles em um refrigerante gelado e tentando espantar as moscas que circulavam pelo ar quente e parado.
Tudo que ele podia oferecer era seu ombro amigo.
Mais de duas décadas atrás, Vázquez deixou sua firma de advocacia para entrar no negócio de tortilhas de sua família, inaugurando várias lojas em Cuernavaca. A região parecia ideal. A cidade era popular entre moradores da Cidade do México em busca de descanso, com temperaturas amenas, piscinas e vibrantes buganvílias cor de rosa e laranja transbordando dos muros cobertos de argamassa.
Quando a primeira gangue apareceu, cerca de três anos atrás, pedindo US$ 10 por semana para “proteger a vizinhança”, as tortillerías pagaram. A facção criminosa acabou rapidamente com roubos e furtos menores.
Cinco meses depois, durante um surto de violência, uma nova gangue assumiu, e as taxas por proteção começaram a aumentar. “Esses duraram um ano”, recordou Vázquez. “Também foram mortos.”
Agora, as gangues na região de Cuernavaca chegam a cobrar US$ 900 por mês das tortillerías.
Na semana anterior à entrevista concedida por Vázquez, homens mascarados e armados tinham aparecido em uma de suas lojas e lhe entregado um telefone celular. “Fique com o aparelho”, disse um deles. “O chefe vai te ligar.”
Vázquez entregou o telefone para as autoridades — que lhe pediu para convencer seus colegas do ramo das tortilhas a fornecer toda a informação possível: os nomes dos chantagistas, seus apelidos, as placas e os modelos de seus carros. Mas ele estava hesitante.
“Até eu tenho medo.”
Disputa por território
Analistas mexicanos ainda estão intrigados a respeito do que ocasionou a ascensão da nova economia do crime. Mas um dos eventos seminais ocorreu pouco mais de 3 quilômetros ao norte da tortillería de Vázquez no centro de Cuernavaca, em um bairro verdejante conhecido como Lomas de la Selva.
Na noite de 16 de dezembro de 2009, unidades da Marinha mexicana invadiram um luxuoso condomínio, e um tiroteio se iniciou. Quatro horas depois, o corpo de Arturo Beltrán Leyva foi encontrado na porta de um banheiro tingido de sangue.
O governo Obama classificou a operação como “um golpe significativo contra os cartéis de drogas”. Beltrán Leyva, o “chefão dos chefões”, foi o primeiro de uma série de patrões do narcotráfico a ser capturado ou morto pelas forças de segurança mexicanas com o auxílio de agentes americanos.
Mas os cartéis não foram extintos. Eles se fragmentaram. Hoje, há no México dois cartéis com presença nacional (Sinaloa e Jalisco), além de centenas de grupos menores. Nos últimos quatro anos, a empresa de segurança Lantia Consultores identificou pelo menos 87 facções armadas regionais e outras 586 gangues.
“A fragmentação ocasiona muito mais competição por território”, afirmou o cientista político Eduardo Moncada, da Faculdade Barnard, que estuda criminalidade na América Latina. “E portanto essas facções criminosas estão se voltando para a extorsão como uma maneira de gerar renda, para conseguir travar essas guerras.”
Saiba mais
Essa tendência é evidente também em outras partes da América Latina. No Equador, o número de casos denunciados de extorsão aumentou quase 15 vezes entre 2021 e 2023, chegando a 21.811, de acordo com o Observatório Equatoriano de Crime Organizado. Na Colômbia, empresas como fazendas de café e multinacionais de mineração são forçadas a pagar por proteção. As gangues latino-americanas também expandiram suas operações para tráfico de migrantes e crimes ambientais, como extração ilegal de madeira e garimpos clandestinos.
“Essas atividades ilícitas são menos lucrativas que o tráfico de drogas, mas tornaram-se crescentemente atrativas porque geram rendas relativamente estáveis sob um risco menor”, notou um relatório do International Crisis Group publicado no ano passado.
A ascensão dos minicartéis é evidente em Cuautla, uma ensolarada cidade de 150 mil habitantes aninhada entre campos de cana de açúcar, 48 quilômetros a sudeste de Cuernavaca. Um parque no centro tem uma estátua enorme de Emiliano Zapata, o insurgente que atacou a cidade famosamente durante a Revolução Mexicana.
Atualmente, ocorre um outro tipo de batalha. Quatro grupos criminosos buscam o poder, de acordo com autoridades policiais. A União Tepito, da Cidade do México, e três facções menores — incluindo Los Acapulcos — que se separaram de grandes cartéis de narcotráfico.
Os grupos extorquem quase todos na cidade: açougues, salões de manicure, hamburguerias, até consultórios odontológicos. Certa vez, os criminosos exigiram participação no dinheiro arrecadado pela Igreja Católica na festa anual de São José — o que forçou o cancelamento do evento.
“Vocês não conseguem imaginar o medo das pessoas”, afirmou o bispo de Morelos, Ramón Castro, aos fiéis numa recente missa dominical, depois de visitar Cuautla. As gangues estavam exigindo que as tortillerías pagassem mais de 50 mil pesos por proteção — cerca de US$ 3 mil, três vezes mais do que em Cuernavaca. Caminhões carregados de cana de açúcar tinham de pagar a mesma quantia para entrar na usina local.
“Cinquenta mil!”, exclamou o bispo. Os agricultores “vão acabar trabalhando para eles”.
O sermão chegou às manchetes dos jornais nacionais. É raro que qualquer um fale essas coisas publicamente.
No dia seguinte, o coordenador dos caminhoneiros da usina de açúcar de Cuautla foi morto a tiros. Duas semanas depois, um proeminente açougueiro também foi assassinado, após denunciar as extorsões para autoridades locais.
Participação nos lucros
As tortillerías são especialmente vulneráveis à extorsão. Os estabelecimentos vendem muito; em média um mexicano come anualmente 74,8 quilos de tortilhas. Quase todos os clientes pagam em dinheiro.
Mas a ameaça do crime não para nas minúsculas lojas de tortilhas. Quase todo o processo de produção das tortilhas é assolado por criminosos.
O Estado de Sinaloa, no noroeste mexicano, é famoso pelo cartel liderado no passado por Joaquín “El Chapo” Guzmán. A região também é uma potência agrícola, que produz o melhor milho branco para a produção das tortilhas.
Facções criminosas se infiltraram no sistema de abastecimento de água de Sinaloa, impondo a nomeação de seus membros para integrar escritórios que coordenam a irrigação, de acordo com dois líderes agricultores no Estado, que falaram sob condição de anonimato citando temores sobre sua segurança. Fazendeiros aliados do cartel pagam pouco ou nada pela água, afirmaram os líderes. Outros clientes têm de pagar um “imposto” extra.
“Eles perceberam como pode ser bom esse negócio, especialmente depois do preço das drogas despencar”, afirmou um dos líderes agricultores.
A Comissão Nacional da Água do México afirmou que a distribuição de água para irrigação é gerida por uma concessionária local, não pelo governo. O presidente da associação estadual que administra a concessionária, Emilio González Gastélum, classificou as alegações como “apenas rumores”. Ele afirmou que as taxas sobre a água são estabelecidas por um painel de governança juntamente com os fazendeiros.
Quando o milho é carregado em caminhões e trens, outros grupos de crime organizado cobram propinas. As gangues, muitas armadas com fuzis semiautomáticos, roubaram cerca de 70 mil caminhões que transportavam itens manufaturados e produtos agrícolas em rodovias mexicanas nos últimos cinco anos, de acordo com a Confederação de Câmaras Industriais do México.
Os grandes cartéis consideram roubos desse tipo mais uma fonte de renda, afirmou o consultor de segurança no transporte Héctor Manuel Romero Sánchez. “Eles buscam levantar fundos para investir em seus maiores negócios: tráfico de migrantes, armas e, obviamente, drogas.”
Em algumas regiões, facções criminosas também estão tomando conta da distribuição do milho. No Estado de Guerrero, fronteiriço a Morelos, os cartéis forçam os fazendeiros a lhes vender seu milho e então forçam as tortillerías a comprá-lo. As gangues chegam a inspecionar os estoques das lojas para garantir que os estabelecimentos não comprem de outros fornecedores.
“Se você tem milho de outros, eles te espancam”, afirmou um funcionário de tortillería na cidade de Taxco, historicamente dedicada à mineração de prata.
Raras condenações
Depois de assumir a presidência, em 2018, López Obrador declarou o fim da “guerra às drogas”, que, segundo o presidente, tinha transformado o México em um campo de batalha sem reduzir o fluxo de narcóticos. Ele diminuiu a cooperação com a Administração de Fiscalização de Drogas (DEA) dos EUA e pediu uma renegociação da Iniciativa Mérida, um plano de uma década sob o qual o governo americano tinha fornecido ao México mais de US$ 3 bilhões em equipamentos de segurança e treinamento.
“Não funcionou”, disse o presidente.
López Obrador desmantelou a Polícia Federal e cortou o financiamento de forças de segurança locais amplamente consideradas corruptas. O presidente determinou uma estratégia em duas frentes: confiar nas Forças Armadas e formar uma nova Guarda Nacional com 130 mil agentes para manter a paz, ao mesmo tempo que oferece bolsas de estudo e programas de capacitação profissional para evitar que os jovens entrem no crime.
O líder mexicano defende suas políticas de “abraços, não balas” notando a redução nos homicídios e um declínio em outros crimes graves, como sequestros. Em janeiro, López Obrador anunciou que a porcentagem de mexicanos que disseram se sentir “inseguros” em suas cidades tinha caído para o nível mais baixo em uma década. “As pessoas sentem que as coisas estão melhorando”, afirmou ele. Ainda assim, 59% dos moradores das cidades mexicanas afirmaram se sentir inseguros.
A ministra da Segurança, Rosa Icela Rodríguez, recusou um pedido de entrevista.
O cientista político Sergio Aguayo afirmou que o presidente não ofereceu “nenhuma evidência de que esses programas sociais estejam diminuindo a força do crime organizado”.
O economista Luis de la Calle, que escreveu um livro sobre extorsão, afirmou que o corte de investimento nas forças de segurança locais foi prejudicial. “Quando o Estado é ausente”, afirmou ele, “alguém ocupa o lugar”.
Muitos analistas apontam para o fraco sistema Judiciário do México e os baixos investimentos em segurança no país como causas estruturais da expansão do crime organizado. Somente 1,3% dos crimes praticados no México são registrados e solucionados, de acordo com a ONG Impunidade Zero. Poucos chantagistas são condenados.
O procurador-geral de Morelos, Uriel Carmona, afirmou em entrevista que é difícil para o Judiciário funcionar quando os cidadãos não confiam o suficiente nas autoridades para denunciar extorsões. E o problema não é apenas a ausência de policiais locais, afirmou ele; os agentes em serviço ganham salários miseráveis. “Eles acabam seduzidos pela corrupção.”
Quando prenderam um grupo de chantagistas em Cuautla, em abril, os investigadores de Carmona descobriram que um dos criminosos era ex-policial. Uma investigação à gangue Los Acapulcos, em 2022, produziu evidências de que a facção criminosa era protegida por agentes da polícia de Cuautla, de acordo com a Procuradoria-Geral.
Mas a economia do crime não prospera apenas em razão dos policiais corruptos. Em muitos casos, as gangues têm cobertura de políticos. “Os traficantes de drogas estão totalmente envolvidos nas eleições”, afirmou Castro, o bispo.
Em janeiro de 2022, o jornal Sol de México publicou fotos do governador de Morelos, Cuauhtémoc Blanco, com os líderes de três grupos criminosos. Membro do partido Morena, do presidente mexicano, Blanco disse a repórteres que não sabia que aquelas pessoas eram gângsters. “Eu tiro foto com todo mundo”, afirmou ele.
O caso está sob investigação.
Numa visita recente a Morelos, López Obrador elogiou Blanco qualificando-o como um “grande homem”. Seu partido indicou o governador em fim de mandato para um assento parlamentar.
Aparecendo na fronteira fronteira americana
As eleições locais têm ficado cada vez mais violentas à medida que as facções criminosas buscam tomar o controle de gabinetes de prefeituras.
Um projeto de pesquisa chamado “Votando em meio ao tiroteio” registrou 836 ataques contra autoridades eleitas, candidatos a cargos elegíveis, funcionários do governo e correligionários de partidos nos últimos seis anos. É quase o triplo do número registrado no mandato de seis anos de Felipe Calderón, que terminou em 2012.
Grupos criminosos forçaram dezenas de milhares de mexicanos a fugir de suas comunidades nos anos recentes, de acordo com a agência de refugiados da ONU e ONGs.
Cada vez mais pessoas deslocadas aparecem na fronteira americana.
A Iniciativa Kino para a Fronteira, uma organização de assistência a migrantes na cidade mexicana de Nogales, constatou que 88% dos migrantes mexicanos entrevistados no ano passado citaram a violência como o motivo para deixar suas casas. Oito anos antes, essa razão foi apontada por apenas 6%.
Muitos migrantes afirmaram que não conseguiam mais tolerar as exigências das extorsões, afirmou o diretor de advocacy da organização, Pedro De Velasco. “Fica impossível fazer esses pagamentos.”
Juan de Dios Navarrete entende por que as pessoas migram quando os chantagistas atacam. Ele é dono da tortillería de Cuautla atacada em novembro. O adolescente de 15 anos ferido no tiroteio é seu filho, que trabalhava no balcão.
Em pânico, a família de Navarrete tentou convencê-lo a deixar o país.
Mas ele já fez isso. Passou dois anos infelizes no Bronx, nos anos 90, trabalhando em um supermercado e um restaurante antes de voltar para seu país com uma ideia: inaugurar uma cadeia de tortillerías.
Após sobreviver ao ataque a tiros contra sua loja no centro da cidade, Navarrete ficou cada vez mais furioso. Decidiu que não fugiria. E que não ficaria calado.
Ele acionou um jornalista local, que fazia um hit no Facebook.
“Nós, cidadãos, temos de fazer barulho”, afirmou ele a uma câmera de celular, agitando os braços. “Temos de nos unir.”
Em quem mais os cidadãos poderiam confiar? Não na polícia. Nem no Exército.
“Vamos nos unir e limpar a nossa cidade”, afirmou ele, gaguejando em frustração. “Por favor, me apoiem.” Navarrete esperava que alguém se juntasse a ele. E ficou esperando.
Finalmente, ele foi para casa. Depois de alguns dias, reabriu suas lojas. Os clientes voltaram, entregando aos vendedores seus panos de algodão branco. Atrás de novas barreiras metálicas, sob o olhar de câmeras de segurança, seus empregados recheavam os panos com tortilhas quentinhas. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO