Análise|Como os EUA planejam em três passos estabilizar Israel, Gaza e o Oriente Médio


Posicionamento forte em relação ao Irã, iniciativa diplomática para promover um Estado palestino e uma aliança de segurança com a Arábia Saudita seriam os eixos de um realinhamento estratégico

Por Thomas Friedman

Há duas coisas em que acredito sobre a ampliação da crise no Oriente Médio.

Nós estamos prestes a ver uma nova estratégia do governo Biden se desdobrar para lidar com esta guerra em múltiplas frentes envolvendo Gaza, Irã, Israel e a região — que, espero, será uma “Doutrina Biden” digna da seriedade e da complexidade deste perigoso momento.

E se nós não virmos uma doutrina grande e corajosa desse tipo, a crise na região se espalhará de maneiras que fortalecerão o Irã, isolarão Israel e despedaçarão a capacidade dos Estados Unidos de influenciar para o melhor os eventos por lá.

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Uma Doutrina Biden — como estou definindo uma convergência entre pensamento estratégico e planejamento detectada pela minha reportagem — teria três eixos.

O primeiro seria uma posição forte e resoluta em relação ao Irã, incluindo uma retaliação militar robusta contra aliados e agentes do Irã na região em resposta às mortes dos três soldados americanos em uma base na Jordânia, no ataque de um drone aparentemente lançado por uma milícia pró-Irã ativa no Iraque.

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O segundo eixo consistiria de uma iniciativa diplomática sem precedentes para promover um Estado palestino — AGORA — que envolveria alguma forma de reconhecimento dos EUA a um Estado palestino desmilitarizado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que passaria a existir somente uma vez que os palestinos tivessem desenvolvido um arcabouço de instituições definidas e críveis, assim como capacidades de garantir que esse Estado seja viável e eternamente incapaz de ameaçar Israel. Autoridades de Biden têm consultado especialistas dentro e fora do governo americano a respeito das diferentes formas que esse reconhecimento do estatuto de Estado dos palestinos pode assumir.

O terceiro eixo seria uma aliança de segurança vastamente expandida dos EUA com a Arábia Saudita que também envolveria a normalização das relações dos sauditas com Israel — se o governo israelense estiver preparado para aceitar um processo diplomático que leve a um Estado palestino desmilitarizado liderado por uma Autoridade Palestina transformada.

Onda de choque é vista quando artilharia autopropulsada de Israel dispara um tiro em direção à Faixa de Gaza. Foto: JACK GUEZ/AFP
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Se o governo for capaz de montar isso — que é uma enorme incerteza — uma Doutrina Biden poderia se tornar o maior realinhamento estratégico na região desde o tratado de 1979 em Camp David.

Mas para uma Doutrina Biden ser bem-sucedida é indispensável que esses três eixos estejam amarrados. E creio que as autoridades americanas entendem isso.

Porque de uma coisa eu tenho certeza: o 7 de Outubro está forçando uma reformulação fundamental a respeito do Oriente Médio dentro do governo Biden, em face ao selvagem ataque do Hamas contra Israel; à massiva retaliação israelense contra o Hamas, que matou milhares de civis palestinos inocentes em Gaza; à intensificação dos ataques contra israelenses e americanos na região; e à incapacidade do governo israelense de direita articular qualquer plano para governar Gaza na manhã seguinte ao fim da guerra com um parceiro palestino não pertencente ao Hamas.

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A reformulação que se opera sinaliza uma consciência de que nós não podemos mais permitir que o Irã tente nos expulsar da região, aniquilar Israel e intimidar nossos aliados árabes agindo por meio de seus aliados — o Hamas, o Hezbollah, os houthis e as milícias xiitas no Iraque — enquanto Teerã assiste a tudo despreocupadamente e não paga nenhum preço.

E simultaneamente essa reformulação sinaliza uma consciência de que os EUA jamais terão a legitimidade, os aliados da Otan e os aliados árabes e muçulmanos de que necessita para enfrentar o Irã de forma mais agressiva a não ser que nós paremos de permitir que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, mantenha nossa política refém e comecemos a construir uma Autoridade Palestina capaz de algum dia governar Gaza e a Cisjordânia eficazmente e como uma boa vizinha de Israel ao longo de fronteiras definitivas que as partes negociariam conjuntamente.

Fundador e CEO da firma de consultoria geopolítica Macro Advisory Partners e alto conselheiro do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, Nader Mousavizadeh descreve essa Doutrina Biden que emerge como uma “estratégia de duplo acerto de contas”.

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“Estrategicamente você expõe o blefe do Irã e, ao mesmo tempo, embarca numa iniciativa sem precedentes para pavimentar o caminho para um Estado palestino desmilitarizado de maneiras que os EUA nunca fizeram”, afirmou Mousavizadeh. “Todos os eixos precisam um do outro para ser bem-sucedidos. Todos os eixos impulsionam e justificam um ao outro. Reagir ao Irã e seus aliados de uma maneira incrementada e sustentada fortalece a segurança de Israel e dos nossos aliados árabes. Acoplar isso a um comprometimento autêntico e corajoso dos EUA com um Estado palestino nos confere legitimidade para agir contra o Irã, assim como os aliados que precisamos para sermos mais eficazes. Isso também isola o Irã militarmente e politicamente.”

Presidente dos EUA, Joe Biden com o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu, para discutir a guerra entre Israel e o Hamas, em outubro. Foto: Miriam Alster/Pool via AP, arquivo

Eu considero tudo isso perfeitamente correto. Já passou da hora faz tempo de os EUA exporem os blefes tanto do Irã quanto de Netanyahu.

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Netanyahu é o motivo de eu ter cunhado a seguinte regra de reportagem no Oriente Médio: “Qualquer coisa que lhe digam em inglês privadamente é irrelevante. A única coisa que importa é o que eles falam em público, na sua própria língua”.

Netanyahu tem sussurrado privadamente a Biden que poderia estar pronto para algum dia — talvez — considerar algum tipo de Estado palestino desmilitarizado, enquanto publicamente declara em hebraico exatamente o oposto.

Afortunadamente, Biden percorre esse caminho há tempo suficiente para saber que Netanyahu só está tentando enrolá-lo. Às vezes a idade é uma vantagem. É hora de pagar para ver os jogos de Netanyahu e dos aiatolás ao mesmo tempo. Uma Doutrina Biden é a melhor maneira para isso.

Nós toleramos o Irã destruindo todas as iniciativas construtivas que temos tentado erguer no Oriente Médio — contanto que Teerã continue respeitando o limite de não nos atacar diretamente. E ao mesmo tempo nós toleramos um governo Netanyahu que trabalha permanentemente para evitar qualquer forma de estatuto de Estado para os palestinos, chegando ao ponto até de instar o Hamas contra a Autoridade Palestina por muitos anos para garantir que não houvesse nenhum parceiro palestino unificado.

“O 7 de Outubro revelou que nossa política para o Irã estava falida e que nossa política para Israel-Palestina estava falida”, afirmou Mousavizadeh. “Essas políticas possibilitaram e deram poder para o Hamas atacar brutalmente Israel, possibilitaram e deram poder para os houthis paralisarem o frete marítimo global e possibilitaram a milícias pró-Irã expulsar da região forças dos EUA — acionadas naquele local para evitar o retorno do Estado Islâmico e ajudar a manter a região razoavelmente estável.”

Tudo isso sucedeu, acrescentou ele, sem ninguém cobrar o regime de Teerã pela maneira que “ele aciona seus venenosos e destrutivos atores não estatais em toda a região contra os objetivos construtivos dos nossos aliados”, que tentam compor uma região mais inclusiva.

É por todas essas razões que eu acredito, espero e rezo para que uma Doutrina Biden para o Oriente Médio esteja a caminho — e os israelenses deveriam fazer o mesmo.

Israel está perdendo neste momento em três frentes. Perdeu a guerra de narrativas sobre Gaza: ainda que o Hamas tenha assassinado e estuprado israelenses, foi Israel que acabou arrastado para a Corte Internacional de Justiça, em Haia, pelas baixas civis que provocou em Gaza enquanto tentava acabar com os combatentes do Hamas em convívio com os civis. Israel está perdendo a capacidade de manter o país seguro sem ser sobrecarregado no longo prazo — por invadir Gaza sem um plano para encontrar um parceiro palestino legítimo fora do Hamas para governar o enclave eficazmente, para que Israel possa se retirar. E está perdendo no front da estabilidade regional: Israel agora é alvo de uma ofensiva iraniana em quatro frentes — do Hamas, do Hezbollah, dos houthis e das milícias xiitas no Iraque — mas é incapaz de produzir os aliados árabes e da Otan que precisa para vencer esta guerra porque se recusa a fazer qualquer coisa para criar um parceiro palestino crível e legítimo.

Mousavizadeh concluiu que, se emergir, uma Doutrina Biden produzirá “boa geopolítica e boas políticas domésticas”. Essa estratégia poderia dissuadir o Irã tanto militarmente quanto politicamente — ao tirar a carta palestina de Teerã. Poderia promover o estatuto do Estado palestino em termos consistentes com a segurança israelense e, simultaneamente, criar condições para a normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita em termos que os palestinos possam aceitar. E é uma estratégia capaz de funcionar com árabes-americanos no Lago Michigan e aliados árabes no Golfo Pérsico, capaz de forçar acertos de contas dentro da política iraniana, dentro da política palestina e dentro da política israelense./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Há duas coisas em que acredito sobre a ampliação da crise no Oriente Médio.

Nós estamos prestes a ver uma nova estratégia do governo Biden se desdobrar para lidar com esta guerra em múltiplas frentes envolvendo Gaza, Irã, Israel e a região — que, espero, será uma “Doutrina Biden” digna da seriedade e da complexidade deste perigoso momento.

E se nós não virmos uma doutrina grande e corajosa desse tipo, a crise na região se espalhará de maneiras que fortalecerão o Irã, isolarão Israel e despedaçarão a capacidade dos Estados Unidos de influenciar para o melhor os eventos por lá.

Uma Doutrina Biden — como estou definindo uma convergência entre pensamento estratégico e planejamento detectada pela minha reportagem — teria três eixos.

O primeiro seria uma posição forte e resoluta em relação ao Irã, incluindo uma retaliação militar robusta contra aliados e agentes do Irã na região em resposta às mortes dos três soldados americanos em uma base na Jordânia, no ataque de um drone aparentemente lançado por uma milícia pró-Irã ativa no Iraque.

O segundo eixo consistiria de uma iniciativa diplomática sem precedentes para promover um Estado palestino — AGORA — que envolveria alguma forma de reconhecimento dos EUA a um Estado palestino desmilitarizado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que passaria a existir somente uma vez que os palestinos tivessem desenvolvido um arcabouço de instituições definidas e críveis, assim como capacidades de garantir que esse Estado seja viável e eternamente incapaz de ameaçar Israel. Autoridades de Biden têm consultado especialistas dentro e fora do governo americano a respeito das diferentes formas que esse reconhecimento do estatuto de Estado dos palestinos pode assumir.

O terceiro eixo seria uma aliança de segurança vastamente expandida dos EUA com a Arábia Saudita que também envolveria a normalização das relações dos sauditas com Israel — se o governo israelense estiver preparado para aceitar um processo diplomático que leve a um Estado palestino desmilitarizado liderado por uma Autoridade Palestina transformada.

Onda de choque é vista quando artilharia autopropulsada de Israel dispara um tiro em direção à Faixa de Gaza. Foto: JACK GUEZ/AFP

Se o governo for capaz de montar isso — que é uma enorme incerteza — uma Doutrina Biden poderia se tornar o maior realinhamento estratégico na região desde o tratado de 1979 em Camp David.

Mas para uma Doutrina Biden ser bem-sucedida é indispensável que esses três eixos estejam amarrados. E creio que as autoridades americanas entendem isso.

Porque de uma coisa eu tenho certeza: o 7 de Outubro está forçando uma reformulação fundamental a respeito do Oriente Médio dentro do governo Biden, em face ao selvagem ataque do Hamas contra Israel; à massiva retaliação israelense contra o Hamas, que matou milhares de civis palestinos inocentes em Gaza; à intensificação dos ataques contra israelenses e americanos na região; e à incapacidade do governo israelense de direita articular qualquer plano para governar Gaza na manhã seguinte ao fim da guerra com um parceiro palestino não pertencente ao Hamas.

A reformulação que se opera sinaliza uma consciência de que nós não podemos mais permitir que o Irã tente nos expulsar da região, aniquilar Israel e intimidar nossos aliados árabes agindo por meio de seus aliados — o Hamas, o Hezbollah, os houthis e as milícias xiitas no Iraque — enquanto Teerã assiste a tudo despreocupadamente e não paga nenhum preço.

E simultaneamente essa reformulação sinaliza uma consciência de que os EUA jamais terão a legitimidade, os aliados da Otan e os aliados árabes e muçulmanos de que necessita para enfrentar o Irã de forma mais agressiva a não ser que nós paremos de permitir que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, mantenha nossa política refém e comecemos a construir uma Autoridade Palestina capaz de algum dia governar Gaza e a Cisjordânia eficazmente e como uma boa vizinha de Israel ao longo de fronteiras definitivas que as partes negociariam conjuntamente.

Fundador e CEO da firma de consultoria geopolítica Macro Advisory Partners e alto conselheiro do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, Nader Mousavizadeh descreve essa Doutrina Biden que emerge como uma “estratégia de duplo acerto de contas”.

“Estrategicamente você expõe o blefe do Irã e, ao mesmo tempo, embarca numa iniciativa sem precedentes para pavimentar o caminho para um Estado palestino desmilitarizado de maneiras que os EUA nunca fizeram”, afirmou Mousavizadeh. “Todos os eixos precisam um do outro para ser bem-sucedidos. Todos os eixos impulsionam e justificam um ao outro. Reagir ao Irã e seus aliados de uma maneira incrementada e sustentada fortalece a segurança de Israel e dos nossos aliados árabes. Acoplar isso a um comprometimento autêntico e corajoso dos EUA com um Estado palestino nos confere legitimidade para agir contra o Irã, assim como os aliados que precisamos para sermos mais eficazes. Isso também isola o Irã militarmente e politicamente.”

Presidente dos EUA, Joe Biden com o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu, para discutir a guerra entre Israel e o Hamas, em outubro. Foto: Miriam Alster/Pool via AP, arquivo

Eu considero tudo isso perfeitamente correto. Já passou da hora faz tempo de os EUA exporem os blefes tanto do Irã quanto de Netanyahu.

Netanyahu é o motivo de eu ter cunhado a seguinte regra de reportagem no Oriente Médio: “Qualquer coisa que lhe digam em inglês privadamente é irrelevante. A única coisa que importa é o que eles falam em público, na sua própria língua”.

Netanyahu tem sussurrado privadamente a Biden que poderia estar pronto para algum dia — talvez — considerar algum tipo de Estado palestino desmilitarizado, enquanto publicamente declara em hebraico exatamente o oposto.

Afortunadamente, Biden percorre esse caminho há tempo suficiente para saber que Netanyahu só está tentando enrolá-lo. Às vezes a idade é uma vantagem. É hora de pagar para ver os jogos de Netanyahu e dos aiatolás ao mesmo tempo. Uma Doutrina Biden é a melhor maneira para isso.

Nós toleramos o Irã destruindo todas as iniciativas construtivas que temos tentado erguer no Oriente Médio — contanto que Teerã continue respeitando o limite de não nos atacar diretamente. E ao mesmo tempo nós toleramos um governo Netanyahu que trabalha permanentemente para evitar qualquer forma de estatuto de Estado para os palestinos, chegando ao ponto até de instar o Hamas contra a Autoridade Palestina por muitos anos para garantir que não houvesse nenhum parceiro palestino unificado.

“O 7 de Outubro revelou que nossa política para o Irã estava falida e que nossa política para Israel-Palestina estava falida”, afirmou Mousavizadeh. “Essas políticas possibilitaram e deram poder para o Hamas atacar brutalmente Israel, possibilitaram e deram poder para os houthis paralisarem o frete marítimo global e possibilitaram a milícias pró-Irã expulsar da região forças dos EUA — acionadas naquele local para evitar o retorno do Estado Islâmico e ajudar a manter a região razoavelmente estável.”

Tudo isso sucedeu, acrescentou ele, sem ninguém cobrar o regime de Teerã pela maneira que “ele aciona seus venenosos e destrutivos atores não estatais em toda a região contra os objetivos construtivos dos nossos aliados”, que tentam compor uma região mais inclusiva.

É por todas essas razões que eu acredito, espero e rezo para que uma Doutrina Biden para o Oriente Médio esteja a caminho — e os israelenses deveriam fazer o mesmo.

Israel está perdendo neste momento em três frentes. Perdeu a guerra de narrativas sobre Gaza: ainda que o Hamas tenha assassinado e estuprado israelenses, foi Israel que acabou arrastado para a Corte Internacional de Justiça, em Haia, pelas baixas civis que provocou em Gaza enquanto tentava acabar com os combatentes do Hamas em convívio com os civis. Israel está perdendo a capacidade de manter o país seguro sem ser sobrecarregado no longo prazo — por invadir Gaza sem um plano para encontrar um parceiro palestino legítimo fora do Hamas para governar o enclave eficazmente, para que Israel possa se retirar. E está perdendo no front da estabilidade regional: Israel agora é alvo de uma ofensiva iraniana em quatro frentes — do Hamas, do Hezbollah, dos houthis e das milícias xiitas no Iraque — mas é incapaz de produzir os aliados árabes e da Otan que precisa para vencer esta guerra porque se recusa a fazer qualquer coisa para criar um parceiro palestino crível e legítimo.

Mousavizadeh concluiu que, se emergir, uma Doutrina Biden produzirá “boa geopolítica e boas políticas domésticas”. Essa estratégia poderia dissuadir o Irã tanto militarmente quanto politicamente — ao tirar a carta palestina de Teerã. Poderia promover o estatuto do Estado palestino em termos consistentes com a segurança israelense e, simultaneamente, criar condições para a normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita em termos que os palestinos possam aceitar. E é uma estratégia capaz de funcionar com árabes-americanos no Lago Michigan e aliados árabes no Golfo Pérsico, capaz de forçar acertos de contas dentro da política iraniana, dentro da política palestina e dentro da política israelense./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Há duas coisas em que acredito sobre a ampliação da crise no Oriente Médio.

Nós estamos prestes a ver uma nova estratégia do governo Biden se desdobrar para lidar com esta guerra em múltiplas frentes envolvendo Gaza, Irã, Israel e a região — que, espero, será uma “Doutrina Biden” digna da seriedade e da complexidade deste perigoso momento.

E se nós não virmos uma doutrina grande e corajosa desse tipo, a crise na região se espalhará de maneiras que fortalecerão o Irã, isolarão Israel e despedaçarão a capacidade dos Estados Unidos de influenciar para o melhor os eventos por lá.

Uma Doutrina Biden — como estou definindo uma convergência entre pensamento estratégico e planejamento detectada pela minha reportagem — teria três eixos.

O primeiro seria uma posição forte e resoluta em relação ao Irã, incluindo uma retaliação militar robusta contra aliados e agentes do Irã na região em resposta às mortes dos três soldados americanos em uma base na Jordânia, no ataque de um drone aparentemente lançado por uma milícia pró-Irã ativa no Iraque.

O segundo eixo consistiria de uma iniciativa diplomática sem precedentes para promover um Estado palestino — AGORA — que envolveria alguma forma de reconhecimento dos EUA a um Estado palestino desmilitarizado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que passaria a existir somente uma vez que os palestinos tivessem desenvolvido um arcabouço de instituições definidas e críveis, assim como capacidades de garantir que esse Estado seja viável e eternamente incapaz de ameaçar Israel. Autoridades de Biden têm consultado especialistas dentro e fora do governo americano a respeito das diferentes formas que esse reconhecimento do estatuto de Estado dos palestinos pode assumir.

O terceiro eixo seria uma aliança de segurança vastamente expandida dos EUA com a Arábia Saudita que também envolveria a normalização das relações dos sauditas com Israel — se o governo israelense estiver preparado para aceitar um processo diplomático que leve a um Estado palestino desmilitarizado liderado por uma Autoridade Palestina transformada.

Onda de choque é vista quando artilharia autopropulsada de Israel dispara um tiro em direção à Faixa de Gaza. Foto: JACK GUEZ/AFP

Se o governo for capaz de montar isso — que é uma enorme incerteza — uma Doutrina Biden poderia se tornar o maior realinhamento estratégico na região desde o tratado de 1979 em Camp David.

Mas para uma Doutrina Biden ser bem-sucedida é indispensável que esses três eixos estejam amarrados. E creio que as autoridades americanas entendem isso.

Porque de uma coisa eu tenho certeza: o 7 de Outubro está forçando uma reformulação fundamental a respeito do Oriente Médio dentro do governo Biden, em face ao selvagem ataque do Hamas contra Israel; à massiva retaliação israelense contra o Hamas, que matou milhares de civis palestinos inocentes em Gaza; à intensificação dos ataques contra israelenses e americanos na região; e à incapacidade do governo israelense de direita articular qualquer plano para governar Gaza na manhã seguinte ao fim da guerra com um parceiro palestino não pertencente ao Hamas.

A reformulação que se opera sinaliza uma consciência de que nós não podemos mais permitir que o Irã tente nos expulsar da região, aniquilar Israel e intimidar nossos aliados árabes agindo por meio de seus aliados — o Hamas, o Hezbollah, os houthis e as milícias xiitas no Iraque — enquanto Teerã assiste a tudo despreocupadamente e não paga nenhum preço.

E simultaneamente essa reformulação sinaliza uma consciência de que os EUA jamais terão a legitimidade, os aliados da Otan e os aliados árabes e muçulmanos de que necessita para enfrentar o Irã de forma mais agressiva a não ser que nós paremos de permitir que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, mantenha nossa política refém e comecemos a construir uma Autoridade Palestina capaz de algum dia governar Gaza e a Cisjordânia eficazmente e como uma boa vizinha de Israel ao longo de fronteiras definitivas que as partes negociariam conjuntamente.

Fundador e CEO da firma de consultoria geopolítica Macro Advisory Partners e alto conselheiro do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, Nader Mousavizadeh descreve essa Doutrina Biden que emerge como uma “estratégia de duplo acerto de contas”.

“Estrategicamente você expõe o blefe do Irã e, ao mesmo tempo, embarca numa iniciativa sem precedentes para pavimentar o caminho para um Estado palestino desmilitarizado de maneiras que os EUA nunca fizeram”, afirmou Mousavizadeh. “Todos os eixos precisam um do outro para ser bem-sucedidos. Todos os eixos impulsionam e justificam um ao outro. Reagir ao Irã e seus aliados de uma maneira incrementada e sustentada fortalece a segurança de Israel e dos nossos aliados árabes. Acoplar isso a um comprometimento autêntico e corajoso dos EUA com um Estado palestino nos confere legitimidade para agir contra o Irã, assim como os aliados que precisamos para sermos mais eficazes. Isso também isola o Irã militarmente e politicamente.”

Presidente dos EUA, Joe Biden com o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu, para discutir a guerra entre Israel e o Hamas, em outubro. Foto: Miriam Alster/Pool via AP, arquivo

Eu considero tudo isso perfeitamente correto. Já passou da hora faz tempo de os EUA exporem os blefes tanto do Irã quanto de Netanyahu.

Netanyahu é o motivo de eu ter cunhado a seguinte regra de reportagem no Oriente Médio: “Qualquer coisa que lhe digam em inglês privadamente é irrelevante. A única coisa que importa é o que eles falam em público, na sua própria língua”.

Netanyahu tem sussurrado privadamente a Biden que poderia estar pronto para algum dia — talvez — considerar algum tipo de Estado palestino desmilitarizado, enquanto publicamente declara em hebraico exatamente o oposto.

Afortunadamente, Biden percorre esse caminho há tempo suficiente para saber que Netanyahu só está tentando enrolá-lo. Às vezes a idade é uma vantagem. É hora de pagar para ver os jogos de Netanyahu e dos aiatolás ao mesmo tempo. Uma Doutrina Biden é a melhor maneira para isso.

Nós toleramos o Irã destruindo todas as iniciativas construtivas que temos tentado erguer no Oriente Médio — contanto que Teerã continue respeitando o limite de não nos atacar diretamente. E ao mesmo tempo nós toleramos um governo Netanyahu que trabalha permanentemente para evitar qualquer forma de estatuto de Estado para os palestinos, chegando ao ponto até de instar o Hamas contra a Autoridade Palestina por muitos anos para garantir que não houvesse nenhum parceiro palestino unificado.

“O 7 de Outubro revelou que nossa política para o Irã estava falida e que nossa política para Israel-Palestina estava falida”, afirmou Mousavizadeh. “Essas políticas possibilitaram e deram poder para o Hamas atacar brutalmente Israel, possibilitaram e deram poder para os houthis paralisarem o frete marítimo global e possibilitaram a milícias pró-Irã expulsar da região forças dos EUA — acionadas naquele local para evitar o retorno do Estado Islâmico e ajudar a manter a região razoavelmente estável.”

Tudo isso sucedeu, acrescentou ele, sem ninguém cobrar o regime de Teerã pela maneira que “ele aciona seus venenosos e destrutivos atores não estatais em toda a região contra os objetivos construtivos dos nossos aliados”, que tentam compor uma região mais inclusiva.

É por todas essas razões que eu acredito, espero e rezo para que uma Doutrina Biden para o Oriente Médio esteja a caminho — e os israelenses deveriam fazer o mesmo.

Israel está perdendo neste momento em três frentes. Perdeu a guerra de narrativas sobre Gaza: ainda que o Hamas tenha assassinado e estuprado israelenses, foi Israel que acabou arrastado para a Corte Internacional de Justiça, em Haia, pelas baixas civis que provocou em Gaza enquanto tentava acabar com os combatentes do Hamas em convívio com os civis. Israel está perdendo a capacidade de manter o país seguro sem ser sobrecarregado no longo prazo — por invadir Gaza sem um plano para encontrar um parceiro palestino legítimo fora do Hamas para governar o enclave eficazmente, para que Israel possa se retirar. E está perdendo no front da estabilidade regional: Israel agora é alvo de uma ofensiva iraniana em quatro frentes — do Hamas, do Hezbollah, dos houthis e das milícias xiitas no Iraque — mas é incapaz de produzir os aliados árabes e da Otan que precisa para vencer esta guerra porque se recusa a fazer qualquer coisa para criar um parceiro palestino crível e legítimo.

Mousavizadeh concluiu que, se emergir, uma Doutrina Biden produzirá “boa geopolítica e boas políticas domésticas”. Essa estratégia poderia dissuadir o Irã tanto militarmente quanto politicamente — ao tirar a carta palestina de Teerã. Poderia promover o estatuto do Estado palestino em termos consistentes com a segurança israelense e, simultaneamente, criar condições para a normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita em termos que os palestinos possam aceitar. E é uma estratégia capaz de funcionar com árabes-americanos no Lago Michigan e aliados árabes no Golfo Pérsico, capaz de forçar acertos de contas dentro da política iraniana, dentro da política palestina e dentro da política israelense./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Há duas coisas em que acredito sobre a ampliação da crise no Oriente Médio.

Nós estamos prestes a ver uma nova estratégia do governo Biden se desdobrar para lidar com esta guerra em múltiplas frentes envolvendo Gaza, Irã, Israel e a região — que, espero, será uma “Doutrina Biden” digna da seriedade e da complexidade deste perigoso momento.

E se nós não virmos uma doutrina grande e corajosa desse tipo, a crise na região se espalhará de maneiras que fortalecerão o Irã, isolarão Israel e despedaçarão a capacidade dos Estados Unidos de influenciar para o melhor os eventos por lá.

Uma Doutrina Biden — como estou definindo uma convergência entre pensamento estratégico e planejamento detectada pela minha reportagem — teria três eixos.

O primeiro seria uma posição forte e resoluta em relação ao Irã, incluindo uma retaliação militar robusta contra aliados e agentes do Irã na região em resposta às mortes dos três soldados americanos em uma base na Jordânia, no ataque de um drone aparentemente lançado por uma milícia pró-Irã ativa no Iraque.

O segundo eixo consistiria de uma iniciativa diplomática sem precedentes para promover um Estado palestino — AGORA — que envolveria alguma forma de reconhecimento dos EUA a um Estado palestino desmilitarizado na Cisjordânia e na Faixa de Gaza, que passaria a existir somente uma vez que os palestinos tivessem desenvolvido um arcabouço de instituições definidas e críveis, assim como capacidades de garantir que esse Estado seja viável e eternamente incapaz de ameaçar Israel. Autoridades de Biden têm consultado especialistas dentro e fora do governo americano a respeito das diferentes formas que esse reconhecimento do estatuto de Estado dos palestinos pode assumir.

O terceiro eixo seria uma aliança de segurança vastamente expandida dos EUA com a Arábia Saudita que também envolveria a normalização das relações dos sauditas com Israel — se o governo israelense estiver preparado para aceitar um processo diplomático que leve a um Estado palestino desmilitarizado liderado por uma Autoridade Palestina transformada.

Onda de choque é vista quando artilharia autopropulsada de Israel dispara um tiro em direção à Faixa de Gaza. Foto: JACK GUEZ/AFP

Se o governo for capaz de montar isso — que é uma enorme incerteza — uma Doutrina Biden poderia se tornar o maior realinhamento estratégico na região desde o tratado de 1979 em Camp David.

Mas para uma Doutrina Biden ser bem-sucedida é indispensável que esses três eixos estejam amarrados. E creio que as autoridades americanas entendem isso.

Porque de uma coisa eu tenho certeza: o 7 de Outubro está forçando uma reformulação fundamental a respeito do Oriente Médio dentro do governo Biden, em face ao selvagem ataque do Hamas contra Israel; à massiva retaliação israelense contra o Hamas, que matou milhares de civis palestinos inocentes em Gaza; à intensificação dos ataques contra israelenses e americanos na região; e à incapacidade do governo israelense de direita articular qualquer plano para governar Gaza na manhã seguinte ao fim da guerra com um parceiro palestino não pertencente ao Hamas.

A reformulação que se opera sinaliza uma consciência de que nós não podemos mais permitir que o Irã tente nos expulsar da região, aniquilar Israel e intimidar nossos aliados árabes agindo por meio de seus aliados — o Hamas, o Hezbollah, os houthis e as milícias xiitas no Iraque — enquanto Teerã assiste a tudo despreocupadamente e não paga nenhum preço.

E simultaneamente essa reformulação sinaliza uma consciência de que os EUA jamais terão a legitimidade, os aliados da Otan e os aliados árabes e muçulmanos de que necessita para enfrentar o Irã de forma mais agressiva a não ser que nós paremos de permitir que o primeiro-ministro israelense, Binyamin Netanyahu, mantenha nossa política refém e comecemos a construir uma Autoridade Palestina capaz de algum dia governar Gaza e a Cisjordânia eficazmente e como uma boa vizinha de Israel ao longo de fronteiras definitivas que as partes negociariam conjuntamente.

Fundador e CEO da firma de consultoria geopolítica Macro Advisory Partners e alto conselheiro do ex-secretário-geral da ONU Kofi Annan, Nader Mousavizadeh descreve essa Doutrina Biden que emerge como uma “estratégia de duplo acerto de contas”.

“Estrategicamente você expõe o blefe do Irã e, ao mesmo tempo, embarca numa iniciativa sem precedentes para pavimentar o caminho para um Estado palestino desmilitarizado de maneiras que os EUA nunca fizeram”, afirmou Mousavizadeh. “Todos os eixos precisam um do outro para ser bem-sucedidos. Todos os eixos impulsionam e justificam um ao outro. Reagir ao Irã e seus aliados de uma maneira incrementada e sustentada fortalece a segurança de Israel e dos nossos aliados árabes. Acoplar isso a um comprometimento autêntico e corajoso dos EUA com um Estado palestino nos confere legitimidade para agir contra o Irã, assim como os aliados que precisamos para sermos mais eficazes. Isso também isola o Irã militarmente e politicamente.”

Presidente dos EUA, Joe Biden com o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu, para discutir a guerra entre Israel e o Hamas, em outubro. Foto: Miriam Alster/Pool via AP, arquivo

Eu considero tudo isso perfeitamente correto. Já passou da hora faz tempo de os EUA exporem os blefes tanto do Irã quanto de Netanyahu.

Netanyahu é o motivo de eu ter cunhado a seguinte regra de reportagem no Oriente Médio: “Qualquer coisa que lhe digam em inglês privadamente é irrelevante. A única coisa que importa é o que eles falam em público, na sua própria língua”.

Netanyahu tem sussurrado privadamente a Biden que poderia estar pronto para algum dia — talvez — considerar algum tipo de Estado palestino desmilitarizado, enquanto publicamente declara em hebraico exatamente o oposto.

Afortunadamente, Biden percorre esse caminho há tempo suficiente para saber que Netanyahu só está tentando enrolá-lo. Às vezes a idade é uma vantagem. É hora de pagar para ver os jogos de Netanyahu e dos aiatolás ao mesmo tempo. Uma Doutrina Biden é a melhor maneira para isso.

Nós toleramos o Irã destruindo todas as iniciativas construtivas que temos tentado erguer no Oriente Médio — contanto que Teerã continue respeitando o limite de não nos atacar diretamente. E ao mesmo tempo nós toleramos um governo Netanyahu que trabalha permanentemente para evitar qualquer forma de estatuto de Estado para os palestinos, chegando ao ponto até de instar o Hamas contra a Autoridade Palestina por muitos anos para garantir que não houvesse nenhum parceiro palestino unificado.

“O 7 de Outubro revelou que nossa política para o Irã estava falida e que nossa política para Israel-Palestina estava falida”, afirmou Mousavizadeh. “Essas políticas possibilitaram e deram poder para o Hamas atacar brutalmente Israel, possibilitaram e deram poder para os houthis paralisarem o frete marítimo global e possibilitaram a milícias pró-Irã expulsar da região forças dos EUA — acionadas naquele local para evitar o retorno do Estado Islâmico e ajudar a manter a região razoavelmente estável.”

Tudo isso sucedeu, acrescentou ele, sem ninguém cobrar o regime de Teerã pela maneira que “ele aciona seus venenosos e destrutivos atores não estatais em toda a região contra os objetivos construtivos dos nossos aliados”, que tentam compor uma região mais inclusiva.

É por todas essas razões que eu acredito, espero e rezo para que uma Doutrina Biden para o Oriente Médio esteja a caminho — e os israelenses deveriam fazer o mesmo.

Israel está perdendo neste momento em três frentes. Perdeu a guerra de narrativas sobre Gaza: ainda que o Hamas tenha assassinado e estuprado israelenses, foi Israel que acabou arrastado para a Corte Internacional de Justiça, em Haia, pelas baixas civis que provocou em Gaza enquanto tentava acabar com os combatentes do Hamas em convívio com os civis. Israel está perdendo a capacidade de manter o país seguro sem ser sobrecarregado no longo prazo — por invadir Gaza sem um plano para encontrar um parceiro palestino legítimo fora do Hamas para governar o enclave eficazmente, para que Israel possa se retirar. E está perdendo no front da estabilidade regional: Israel agora é alvo de uma ofensiva iraniana em quatro frentes — do Hamas, do Hezbollah, dos houthis e das milícias xiitas no Iraque — mas é incapaz de produzir os aliados árabes e da Otan que precisa para vencer esta guerra porque se recusa a fazer qualquer coisa para criar um parceiro palestino crível e legítimo.

Mousavizadeh concluiu que, se emergir, uma Doutrina Biden produzirá “boa geopolítica e boas políticas domésticas”. Essa estratégia poderia dissuadir o Irã tanto militarmente quanto politicamente — ao tirar a carta palestina de Teerã. Poderia promover o estatuto do Estado palestino em termos consistentes com a segurança israelense e, simultaneamente, criar condições para a normalização das relações entre Israel e Arábia Saudita em termos que os palestinos possam aceitar. E é uma estratégia capaz de funcionar com árabes-americanos no Lago Michigan e aliados árabes no Golfo Pérsico, capaz de forçar acertos de contas dentro da política iraniana, dentro da política palestina e dentro da política israelense./TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

Análise por Thomas Friedman

É ganhador do Pullitzer e colunista do NYT. Especialista em relações internacionais, escreveu 'De Beirute a Jerusalém'

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