Como projetos de incentivo ao voto podem ajudar Kamala a vencer na Carolina do Norte


Organizações da Carolina do Norte estão tentando rastrear novos eleitores que não votam no Estado; trabalho semelhante ajudou Joe Biden a vencer no Estado da Geórgia em 2020

Por Daniel Gateno

ENVIADO ESPECIAL A CONCORD, CAROLINA DO NORTE-A empresária e ativista democrata Aimy Steele concorreu em duas eleições seguidas para representar um disputado distrito da Carolina do Norte no Congresso estadual. Mas em ambas as eleições Aimy perdeu para candidatos do Partido Republicano por uma margem de 3 mil votos. Após a segunda derrota, a empresária sentiu que precisava mudar a abordagem.

“Na segunda vez que perdi eu descobri que outras 17 mulheres afro-americanas também tinham perdido em uma eleição que um milhão de afro-americanos elegíveis para votar simplesmente não fizeram isso”, apontou Aimy Steele, durante uma conversa com a reportagem do Estadão em um café na cidade de Concord, um dos locais que mais representam a transformação americana de zonas rurais para regiões de subúrbio.

continua após a publicidade

“O problema não é achar bons candidatos, mas fazer com que as pessoas votem”, destacou. A empresária criou o New North Carolina Project, entidade que tenta rastrear e registrar novos eleitores na Carolina do Norte, para preencher essas lacunas. Nos Estados Unidos, uma parcela considerável da população não vota nas eleições, porque não é obrigatório.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, discursa em um comício em Madison, Wisconsin  Foto: Morry Gash/AP

O serviço já se mostrou eficiente no último ciclo eleitoral. No Estado vizinho da Geórgia, a vitória de Joe Biden por apenas 12 mil votos em 2020 ocorreu por conta de um trabalho de rastreamento e registro de novos eleitores que foi capitalizado pela advogada e ativista Stacey Abrams. Entidades fundadas por Stacey registraram 200 mil votantes nas eleições para o governo da Geórgia em 2018 e 800 mil nas eleições presidenciais de 2020.

continua após a publicidade

Na Carolina do Norte, Aimy se inspira em Stacey Abrams para fazer o mesmo e ajudar os democratas na eleição presidencial no Estado. O partido não vence desde 2008, mas está confiante para o pleito de 2024 por conta de mudanças demográficas que tendem a favorecer os democratas e uma controversa disputa pelo governo do Estado, que conta com um polêmico candidato republicano.

Segundo a fundadora do New North Carolina Project, a entidade não inicia uma conversa com eleitores com pedidos de voto. “Nós conversamos sobre os problemas dessas pessoas em relação à economia, segurança e habitação. Essas conversas nos levam a falar de votos.”.

A empresária Aimy Steele fundou o New North Carolina Project, organização que tenta rastrear novos votantes na Carolina do Norte  Foto: Aimy Steele/Reprodução
continua após a publicidade

Dificuldades para afro-americanos

De acordo com Aimy, afro-americanos e outras minorias nos Estados Unidos passam por uma série de dificuldades logísticas na hora de votar, incluindo mudanças repentinas dos locais de votação e falta de transporte. Esta parcela da população também tem uma crença reduzida de que o governo pode fazer a diferença para eles.

“As vezes não temos nada para acreditar. Pessoas negras são mais marginalizadas em relação a economia, acesso a oportunidades, somos os mais pobres e temos a maior taxa de encarceramento. Por que deveríamos votar”, questiona a diretora do New North Carolina Project.

continua após a publicidade

Para sanar a questão logística, projetos como os de Aimy Steele facilitam meios de transporte para que as pessoas consigam votar e checam se os eleitores possuem todos os documentos necessários para realizar o ato do voto, como carteira de identidade e registro de motorista.

Apoiadores da vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participam de um comício democrata na Flórida  Foto: Rebecca Blackwell/AP

Integrantes do projeto foram a 48 mil casas e realizaram 136 mil ligações em 2023. Aimy espera que este trabalho de campo contribua para um aumento no comparecimento eleitoral.

continua após a publicidade

De acordo com o Censo americano, cerca de 2,1 milhões de afro-americanos vivem na Carolina do Norte, 21,1% da população total do Estado. Segundo analistas entrevistados pelo Estadão, os democratas precisam que a comunidade afro-americana componha cerca de 20% de todos os votos democratas para vencer em novembro.

Segundo um levantamento do Pew Research Center, o Estado possui 1,8 milhão de eleitores afro-americanos elegíveis para a votação.

Projetos nas áreas rurais

continua após a publicidade

Apesar de os democratas tradicionalmente conseguirem mais votos nas áreas urbanas do país, grupos de incentivo e registro de voto acreditam que é possível encontrar novos eleitores também nas áreas rurais, onde a população tende a ser mais conservadora e republicana.

Este rastreamento é ainda mais necessário por conta da demografia da Carolina do Norte, que está mudando, mas ainda é muito rural. Segundo um levantamento do governo do Estado, 80 dos 100 condados da Carolina do Norte são considerados rurais.

“A missão da nossa organização é ouvir jovens de 18 a 40 anos que sejam afro-americanos, latinos e indígenas americanos em comunidades rurais marginalizadas”, aponta Cynthia Wallace, fundadora do New Rural Project, em entrevista ao Estadão.

Cynthia Wallace fundou o New Rural Project, organização que tenta rastrear jovens afro-americanos e de outras minorias nas áreas rurais da Carolina do Norte Foto: Cynthia Wallace/Reprodução

O New Rural Project foca em sete condados específicos da Carolina do Norte, que têm os piores índices econômicos do Estado. Segundo dados da organização, 60 mil eleitores afro-americanos, latinos e indígenas desta região estavam registrados, mas não votaram em 2020, quando Donald Trump venceu na Carolina do Norte por uma diferença de 75 mil votos.

“Geralmente os candidatos progressistas acreditam que precisam focar apenas nas áreas urbanas, mas esses votos rurais podem determinar o resultado de uma eleição”, destaca Wallace. “É preciso acabar com o mito de que áreas rurais não são diversas”.

A fundadora do New Rural Project explica que em áreas mais pobres os locais de votação são mais restritos e a população não é bem informada sobre outras formas de votação, como o voto por correio. “O voto por correio é geralmente usado por pessoas mais velhas. A geração mais jovem raramente usa os correios para qualquer coisa, então muitos nem sabem como conseguem votar desta maneira”.

O governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, participa de uma coletiva de imprensa em Raleigh, Carolina do Norte  Foto: Gary D. Robertson/AP

Mudanças demográficas

Organizações como o New North Carolina Project e o New Rural Project também estão tentando encontrar novos eleitores que chegaram na Carolina do Norte nos últimos anos, em um processo de mudança demográfica que está trazendo afro-americanos para o sul dos Estados Unidos.

A Carolina do Norte era um dos Estados que aplicava as leis discriminatórias de Jim Crow, que determinavam a segregação racial no sul dos EUA, e vigoraram entre 1877 e 1964. Seis milhões de afro-americanos se mudaram do sul dos EUA entre 1910 e 1970 para escapar destas leis em um movimento chamado de “A Grande Migração”.

Segundo um estudo do demógrafo William Frey, do Instituto Brookings, 90% do total da população afro-americana morava no sul dos EUA em 1910. Em 1970, a porcentagem era de 53%.

Mas um movimento que já é chamado de “Nova Grande Migração” está aumentando o número de afro-americanos no sul dos EUA. Em 2024, 57% do total de afro-americanos mora no sul, de acordo com o Pew Research Center. Segundo analistas, a mudança acontece por conta de um ambiente mais favorável aos negócios e um custo de vida mais barato do que em cidades como Nova York e Chicago.

Republicanos

O fluxo migratório pode mudar o comportamento eleitoral de Estados que eram bastiões republicanos como Geórgia, Mississipi, Alabama e Carolina do Norte. O eleitorado afro-americano vota majoritariamente no Partido Democrata desde 1964, quando o então presidente Lyndon Johnson, um democrata, sancionou a Lei dos Direitos Civis.

Mas muitos republicanos reclamam desta tendência. A Geórgia, governada pelo republicano Brian Kemp, foi eleita o melhor Estado americano para se fazer negócios em 2023 pelo 10° ano consecutivo, segundo um ranking feito pela revista especializada Area Development.

“Esta é a área de maior desenvolvimento de negócios de minorias em todo o país”, aponta Jason Shepherd, um advogado republicano de Marietta, Geórgia, em entrevista ao Estadão. “Nós vemos muitos afro-americanos mudando para a Geórgia porque o Estado é bom para negócios, mas eles não votam nos republicanos que criaram estas oportunidades, eles esquecem que saíram de outros Estados em que os democratas aumentaram tanto os impostos que atrapalharam os empresários”, avalia o republicano.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Wilmington, Carolina do Norte  Foto: Anna Moneymaker/AFP

Apesar de uma pesquisa do Pew Research Center publicada em setembro sinalizar que 77% dos afro-americanos devem votar em Kamala, contra 13% de Trump, o republicano está ganhando terreno, especialmente com homens jovens afro-americanos.

Em abril, antes de Biden desistir da corrida presidencial, quatro pesquisas mostraram Trump com pelo menos 20% de apoio entre a comunidade negra no país, o que faria com que ele fosse o republicano com a maior votação da população afro-americana desde Richard Nixon, em 1960, que ocorreu antes da aprovação da Lei dos Direitos Civis. Com Kamala no topo da chapa democrata estes números são improváveis, mas um pequeno aumento no voto da comunidade negra pode fazer a diferença para o Partido Republicano.

Estrutura

As margens devem ser estreitas em Estados disputados como a Carolina do Norte. Quando Biden era o candidato democrata, as pesquisas indicavam uma grande vantagem de Trump. Contudo, com Kamala, algumas sondagens chegaram a mostrar a vice-presidente americana na liderança.

Segundo uma pesquisa do New York Times em parceria com a Siena College divulgada no dia 23 de setembro, o republicano está na liderança, mas com uma margem estreita de 49% contra 47% de Kamala.

De acordo com Cynthia Wallace, do New Rural Project, a Carolina do Norte possui uma estrutura de novos projetos de registro e rastreamento de voto que estão entusiasmando a base do Partido Democrata. “Temos uma estrutura mais organizada com grandes projetos como o New Rural Project e também o New Carolina Project. Acredito que estamos no caminho certo”.

ENVIADO ESPECIAL A CONCORD, CAROLINA DO NORTE-A empresária e ativista democrata Aimy Steele concorreu em duas eleições seguidas para representar um disputado distrito da Carolina do Norte no Congresso estadual. Mas em ambas as eleições Aimy perdeu para candidatos do Partido Republicano por uma margem de 3 mil votos. Após a segunda derrota, a empresária sentiu que precisava mudar a abordagem.

“Na segunda vez que perdi eu descobri que outras 17 mulheres afro-americanas também tinham perdido em uma eleição que um milhão de afro-americanos elegíveis para votar simplesmente não fizeram isso”, apontou Aimy Steele, durante uma conversa com a reportagem do Estadão em um café na cidade de Concord, um dos locais que mais representam a transformação americana de zonas rurais para regiões de subúrbio.

“O problema não é achar bons candidatos, mas fazer com que as pessoas votem”, destacou. A empresária criou o New North Carolina Project, entidade que tenta rastrear e registrar novos eleitores na Carolina do Norte, para preencher essas lacunas. Nos Estados Unidos, uma parcela considerável da população não vota nas eleições, porque não é obrigatório.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, discursa em um comício em Madison, Wisconsin  Foto: Morry Gash/AP

O serviço já se mostrou eficiente no último ciclo eleitoral. No Estado vizinho da Geórgia, a vitória de Joe Biden por apenas 12 mil votos em 2020 ocorreu por conta de um trabalho de rastreamento e registro de novos eleitores que foi capitalizado pela advogada e ativista Stacey Abrams. Entidades fundadas por Stacey registraram 200 mil votantes nas eleições para o governo da Geórgia em 2018 e 800 mil nas eleições presidenciais de 2020.

Na Carolina do Norte, Aimy se inspira em Stacey Abrams para fazer o mesmo e ajudar os democratas na eleição presidencial no Estado. O partido não vence desde 2008, mas está confiante para o pleito de 2024 por conta de mudanças demográficas que tendem a favorecer os democratas e uma controversa disputa pelo governo do Estado, que conta com um polêmico candidato republicano.

Segundo a fundadora do New North Carolina Project, a entidade não inicia uma conversa com eleitores com pedidos de voto. “Nós conversamos sobre os problemas dessas pessoas em relação à economia, segurança e habitação. Essas conversas nos levam a falar de votos.”.

A empresária Aimy Steele fundou o New North Carolina Project, organização que tenta rastrear novos votantes na Carolina do Norte  Foto: Aimy Steele/Reprodução

Dificuldades para afro-americanos

De acordo com Aimy, afro-americanos e outras minorias nos Estados Unidos passam por uma série de dificuldades logísticas na hora de votar, incluindo mudanças repentinas dos locais de votação e falta de transporte. Esta parcela da população também tem uma crença reduzida de que o governo pode fazer a diferença para eles.

“As vezes não temos nada para acreditar. Pessoas negras são mais marginalizadas em relação a economia, acesso a oportunidades, somos os mais pobres e temos a maior taxa de encarceramento. Por que deveríamos votar”, questiona a diretora do New North Carolina Project.

Para sanar a questão logística, projetos como os de Aimy Steele facilitam meios de transporte para que as pessoas consigam votar e checam se os eleitores possuem todos os documentos necessários para realizar o ato do voto, como carteira de identidade e registro de motorista.

Apoiadores da vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participam de um comício democrata na Flórida  Foto: Rebecca Blackwell/AP

Integrantes do projeto foram a 48 mil casas e realizaram 136 mil ligações em 2023. Aimy espera que este trabalho de campo contribua para um aumento no comparecimento eleitoral.

De acordo com o Censo americano, cerca de 2,1 milhões de afro-americanos vivem na Carolina do Norte, 21,1% da população total do Estado. Segundo analistas entrevistados pelo Estadão, os democratas precisam que a comunidade afro-americana componha cerca de 20% de todos os votos democratas para vencer em novembro.

Segundo um levantamento do Pew Research Center, o Estado possui 1,8 milhão de eleitores afro-americanos elegíveis para a votação.

Projetos nas áreas rurais

Apesar de os democratas tradicionalmente conseguirem mais votos nas áreas urbanas do país, grupos de incentivo e registro de voto acreditam que é possível encontrar novos eleitores também nas áreas rurais, onde a população tende a ser mais conservadora e republicana.

Este rastreamento é ainda mais necessário por conta da demografia da Carolina do Norte, que está mudando, mas ainda é muito rural. Segundo um levantamento do governo do Estado, 80 dos 100 condados da Carolina do Norte são considerados rurais.

“A missão da nossa organização é ouvir jovens de 18 a 40 anos que sejam afro-americanos, latinos e indígenas americanos em comunidades rurais marginalizadas”, aponta Cynthia Wallace, fundadora do New Rural Project, em entrevista ao Estadão.

Cynthia Wallace fundou o New Rural Project, organização que tenta rastrear jovens afro-americanos e de outras minorias nas áreas rurais da Carolina do Norte Foto: Cynthia Wallace/Reprodução

O New Rural Project foca em sete condados específicos da Carolina do Norte, que têm os piores índices econômicos do Estado. Segundo dados da organização, 60 mil eleitores afro-americanos, latinos e indígenas desta região estavam registrados, mas não votaram em 2020, quando Donald Trump venceu na Carolina do Norte por uma diferença de 75 mil votos.

“Geralmente os candidatos progressistas acreditam que precisam focar apenas nas áreas urbanas, mas esses votos rurais podem determinar o resultado de uma eleição”, destaca Wallace. “É preciso acabar com o mito de que áreas rurais não são diversas”.

A fundadora do New Rural Project explica que em áreas mais pobres os locais de votação são mais restritos e a população não é bem informada sobre outras formas de votação, como o voto por correio. “O voto por correio é geralmente usado por pessoas mais velhas. A geração mais jovem raramente usa os correios para qualquer coisa, então muitos nem sabem como conseguem votar desta maneira”.

O governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, participa de uma coletiva de imprensa em Raleigh, Carolina do Norte  Foto: Gary D. Robertson/AP

Mudanças demográficas

Organizações como o New North Carolina Project e o New Rural Project também estão tentando encontrar novos eleitores que chegaram na Carolina do Norte nos últimos anos, em um processo de mudança demográfica que está trazendo afro-americanos para o sul dos Estados Unidos.

A Carolina do Norte era um dos Estados que aplicava as leis discriminatórias de Jim Crow, que determinavam a segregação racial no sul dos EUA, e vigoraram entre 1877 e 1964. Seis milhões de afro-americanos se mudaram do sul dos EUA entre 1910 e 1970 para escapar destas leis em um movimento chamado de “A Grande Migração”.

Segundo um estudo do demógrafo William Frey, do Instituto Brookings, 90% do total da população afro-americana morava no sul dos EUA em 1910. Em 1970, a porcentagem era de 53%.

Mas um movimento que já é chamado de “Nova Grande Migração” está aumentando o número de afro-americanos no sul dos EUA. Em 2024, 57% do total de afro-americanos mora no sul, de acordo com o Pew Research Center. Segundo analistas, a mudança acontece por conta de um ambiente mais favorável aos negócios e um custo de vida mais barato do que em cidades como Nova York e Chicago.

Republicanos

O fluxo migratório pode mudar o comportamento eleitoral de Estados que eram bastiões republicanos como Geórgia, Mississipi, Alabama e Carolina do Norte. O eleitorado afro-americano vota majoritariamente no Partido Democrata desde 1964, quando o então presidente Lyndon Johnson, um democrata, sancionou a Lei dos Direitos Civis.

Mas muitos republicanos reclamam desta tendência. A Geórgia, governada pelo republicano Brian Kemp, foi eleita o melhor Estado americano para se fazer negócios em 2023 pelo 10° ano consecutivo, segundo um ranking feito pela revista especializada Area Development.

“Esta é a área de maior desenvolvimento de negócios de minorias em todo o país”, aponta Jason Shepherd, um advogado republicano de Marietta, Geórgia, em entrevista ao Estadão. “Nós vemos muitos afro-americanos mudando para a Geórgia porque o Estado é bom para negócios, mas eles não votam nos republicanos que criaram estas oportunidades, eles esquecem que saíram de outros Estados em que os democratas aumentaram tanto os impostos que atrapalharam os empresários”, avalia o republicano.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Wilmington, Carolina do Norte  Foto: Anna Moneymaker/AFP

Apesar de uma pesquisa do Pew Research Center publicada em setembro sinalizar que 77% dos afro-americanos devem votar em Kamala, contra 13% de Trump, o republicano está ganhando terreno, especialmente com homens jovens afro-americanos.

Em abril, antes de Biden desistir da corrida presidencial, quatro pesquisas mostraram Trump com pelo menos 20% de apoio entre a comunidade negra no país, o que faria com que ele fosse o republicano com a maior votação da população afro-americana desde Richard Nixon, em 1960, que ocorreu antes da aprovação da Lei dos Direitos Civis. Com Kamala no topo da chapa democrata estes números são improváveis, mas um pequeno aumento no voto da comunidade negra pode fazer a diferença para o Partido Republicano.

Estrutura

As margens devem ser estreitas em Estados disputados como a Carolina do Norte. Quando Biden era o candidato democrata, as pesquisas indicavam uma grande vantagem de Trump. Contudo, com Kamala, algumas sondagens chegaram a mostrar a vice-presidente americana na liderança.

Segundo uma pesquisa do New York Times em parceria com a Siena College divulgada no dia 23 de setembro, o republicano está na liderança, mas com uma margem estreita de 49% contra 47% de Kamala.

De acordo com Cynthia Wallace, do New Rural Project, a Carolina do Norte possui uma estrutura de novos projetos de registro e rastreamento de voto que estão entusiasmando a base do Partido Democrata. “Temos uma estrutura mais organizada com grandes projetos como o New Rural Project e também o New Carolina Project. Acredito que estamos no caminho certo”.

ENVIADO ESPECIAL A CONCORD, CAROLINA DO NORTE-A empresária e ativista democrata Aimy Steele concorreu em duas eleições seguidas para representar um disputado distrito da Carolina do Norte no Congresso estadual. Mas em ambas as eleições Aimy perdeu para candidatos do Partido Republicano por uma margem de 3 mil votos. Após a segunda derrota, a empresária sentiu que precisava mudar a abordagem.

“Na segunda vez que perdi eu descobri que outras 17 mulheres afro-americanas também tinham perdido em uma eleição que um milhão de afro-americanos elegíveis para votar simplesmente não fizeram isso”, apontou Aimy Steele, durante uma conversa com a reportagem do Estadão em um café na cidade de Concord, um dos locais que mais representam a transformação americana de zonas rurais para regiões de subúrbio.

“O problema não é achar bons candidatos, mas fazer com que as pessoas votem”, destacou. A empresária criou o New North Carolina Project, entidade que tenta rastrear e registrar novos eleitores na Carolina do Norte, para preencher essas lacunas. Nos Estados Unidos, uma parcela considerável da população não vota nas eleições, porque não é obrigatório.

A vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, discursa em um comício em Madison, Wisconsin  Foto: Morry Gash/AP

O serviço já se mostrou eficiente no último ciclo eleitoral. No Estado vizinho da Geórgia, a vitória de Joe Biden por apenas 12 mil votos em 2020 ocorreu por conta de um trabalho de rastreamento e registro de novos eleitores que foi capitalizado pela advogada e ativista Stacey Abrams. Entidades fundadas por Stacey registraram 200 mil votantes nas eleições para o governo da Geórgia em 2018 e 800 mil nas eleições presidenciais de 2020.

Na Carolina do Norte, Aimy se inspira em Stacey Abrams para fazer o mesmo e ajudar os democratas na eleição presidencial no Estado. O partido não vence desde 2008, mas está confiante para o pleito de 2024 por conta de mudanças demográficas que tendem a favorecer os democratas e uma controversa disputa pelo governo do Estado, que conta com um polêmico candidato republicano.

Segundo a fundadora do New North Carolina Project, a entidade não inicia uma conversa com eleitores com pedidos de voto. “Nós conversamos sobre os problemas dessas pessoas em relação à economia, segurança e habitação. Essas conversas nos levam a falar de votos.”.

A empresária Aimy Steele fundou o New North Carolina Project, organização que tenta rastrear novos votantes na Carolina do Norte  Foto: Aimy Steele/Reprodução

Dificuldades para afro-americanos

De acordo com Aimy, afro-americanos e outras minorias nos Estados Unidos passam por uma série de dificuldades logísticas na hora de votar, incluindo mudanças repentinas dos locais de votação e falta de transporte. Esta parcela da população também tem uma crença reduzida de que o governo pode fazer a diferença para eles.

“As vezes não temos nada para acreditar. Pessoas negras são mais marginalizadas em relação a economia, acesso a oportunidades, somos os mais pobres e temos a maior taxa de encarceramento. Por que deveríamos votar”, questiona a diretora do New North Carolina Project.

Para sanar a questão logística, projetos como os de Aimy Steele facilitam meios de transporte para que as pessoas consigam votar e checam se os eleitores possuem todos os documentos necessários para realizar o ato do voto, como carteira de identidade e registro de motorista.

Apoiadores da vice-presidente dos Estados Unidos e candidata presidencial democrata, Kamala Harris, participam de um comício democrata na Flórida  Foto: Rebecca Blackwell/AP

Integrantes do projeto foram a 48 mil casas e realizaram 136 mil ligações em 2023. Aimy espera que este trabalho de campo contribua para um aumento no comparecimento eleitoral.

De acordo com o Censo americano, cerca de 2,1 milhões de afro-americanos vivem na Carolina do Norte, 21,1% da população total do Estado. Segundo analistas entrevistados pelo Estadão, os democratas precisam que a comunidade afro-americana componha cerca de 20% de todos os votos democratas para vencer em novembro.

Segundo um levantamento do Pew Research Center, o Estado possui 1,8 milhão de eleitores afro-americanos elegíveis para a votação.

Projetos nas áreas rurais

Apesar de os democratas tradicionalmente conseguirem mais votos nas áreas urbanas do país, grupos de incentivo e registro de voto acreditam que é possível encontrar novos eleitores também nas áreas rurais, onde a população tende a ser mais conservadora e republicana.

Este rastreamento é ainda mais necessário por conta da demografia da Carolina do Norte, que está mudando, mas ainda é muito rural. Segundo um levantamento do governo do Estado, 80 dos 100 condados da Carolina do Norte são considerados rurais.

“A missão da nossa organização é ouvir jovens de 18 a 40 anos que sejam afro-americanos, latinos e indígenas americanos em comunidades rurais marginalizadas”, aponta Cynthia Wallace, fundadora do New Rural Project, em entrevista ao Estadão.

Cynthia Wallace fundou o New Rural Project, organização que tenta rastrear jovens afro-americanos e de outras minorias nas áreas rurais da Carolina do Norte Foto: Cynthia Wallace/Reprodução

O New Rural Project foca em sete condados específicos da Carolina do Norte, que têm os piores índices econômicos do Estado. Segundo dados da organização, 60 mil eleitores afro-americanos, latinos e indígenas desta região estavam registrados, mas não votaram em 2020, quando Donald Trump venceu na Carolina do Norte por uma diferença de 75 mil votos.

“Geralmente os candidatos progressistas acreditam que precisam focar apenas nas áreas urbanas, mas esses votos rurais podem determinar o resultado de uma eleição”, destaca Wallace. “É preciso acabar com o mito de que áreas rurais não são diversas”.

A fundadora do New Rural Project explica que em áreas mais pobres os locais de votação são mais restritos e a população não é bem informada sobre outras formas de votação, como o voto por correio. “O voto por correio é geralmente usado por pessoas mais velhas. A geração mais jovem raramente usa os correios para qualquer coisa, então muitos nem sabem como conseguem votar desta maneira”.

O governador da Carolina do Norte, Roy Cooper, participa de uma coletiva de imprensa em Raleigh, Carolina do Norte  Foto: Gary D. Robertson/AP

Mudanças demográficas

Organizações como o New North Carolina Project e o New Rural Project também estão tentando encontrar novos eleitores que chegaram na Carolina do Norte nos últimos anos, em um processo de mudança demográfica que está trazendo afro-americanos para o sul dos Estados Unidos.

A Carolina do Norte era um dos Estados que aplicava as leis discriminatórias de Jim Crow, que determinavam a segregação racial no sul dos EUA, e vigoraram entre 1877 e 1964. Seis milhões de afro-americanos se mudaram do sul dos EUA entre 1910 e 1970 para escapar destas leis em um movimento chamado de “A Grande Migração”.

Segundo um estudo do demógrafo William Frey, do Instituto Brookings, 90% do total da população afro-americana morava no sul dos EUA em 1910. Em 1970, a porcentagem era de 53%.

Mas um movimento que já é chamado de “Nova Grande Migração” está aumentando o número de afro-americanos no sul dos EUA. Em 2024, 57% do total de afro-americanos mora no sul, de acordo com o Pew Research Center. Segundo analistas, a mudança acontece por conta de um ambiente mais favorável aos negócios e um custo de vida mais barato do que em cidades como Nova York e Chicago.

Republicanos

O fluxo migratório pode mudar o comportamento eleitoral de Estados que eram bastiões republicanos como Geórgia, Mississipi, Alabama e Carolina do Norte. O eleitorado afro-americano vota majoritariamente no Partido Democrata desde 1964, quando o então presidente Lyndon Johnson, um democrata, sancionou a Lei dos Direitos Civis.

Mas muitos republicanos reclamam desta tendência. A Geórgia, governada pelo republicano Brian Kemp, foi eleita o melhor Estado americano para se fazer negócios em 2023 pelo 10° ano consecutivo, segundo um ranking feito pela revista especializada Area Development.

“Esta é a área de maior desenvolvimento de negócios de minorias em todo o país”, aponta Jason Shepherd, um advogado republicano de Marietta, Geórgia, em entrevista ao Estadão. “Nós vemos muitos afro-americanos mudando para a Geórgia porque o Estado é bom para negócios, mas eles não votam nos republicanos que criaram estas oportunidades, eles esquecem que saíram de outros Estados em que os democratas aumentaram tanto os impostos que atrapalharam os empresários”, avalia o republicano.

O ex-presidente dos Estados Unidos e candidato presidencial republicano, Donald Trump, participa de um comício em Wilmington, Carolina do Norte  Foto: Anna Moneymaker/AFP

Apesar de uma pesquisa do Pew Research Center publicada em setembro sinalizar que 77% dos afro-americanos devem votar em Kamala, contra 13% de Trump, o republicano está ganhando terreno, especialmente com homens jovens afro-americanos.

Em abril, antes de Biden desistir da corrida presidencial, quatro pesquisas mostraram Trump com pelo menos 20% de apoio entre a comunidade negra no país, o que faria com que ele fosse o republicano com a maior votação da população afro-americana desde Richard Nixon, em 1960, que ocorreu antes da aprovação da Lei dos Direitos Civis. Com Kamala no topo da chapa democrata estes números são improváveis, mas um pequeno aumento no voto da comunidade negra pode fazer a diferença para o Partido Republicano.

Estrutura

As margens devem ser estreitas em Estados disputados como a Carolina do Norte. Quando Biden era o candidato democrata, as pesquisas indicavam uma grande vantagem de Trump. Contudo, com Kamala, algumas sondagens chegaram a mostrar a vice-presidente americana na liderança.

Segundo uma pesquisa do New York Times em parceria com a Siena College divulgada no dia 23 de setembro, o republicano está na liderança, mas com uma margem estreita de 49% contra 47% de Kamala.

De acordo com Cynthia Wallace, do New Rural Project, a Carolina do Norte possui uma estrutura de novos projetos de registro e rastreamento de voto que estão entusiasmando a base do Partido Democrata. “Temos uma estrutura mais organizada com grandes projetos como o New Rural Project e também o New Carolina Project. Acredito que estamos no caminho certo”.

Atualizamos nossa política de cookies

Ao utilizar nossos serviços, você aceita a política de monitoramento de cookies.