Como um ‘erro’ em livro reacendeu as discussões sobre racismo na família real britânica


A publicação de ‘Endgame’ causou um escândalo depois que uma suposta tradução errada revelou nomes de membros da família real que teriam questionado a cor da pele do filho de Harry e Meghan

Por Mark Landler

THE NEW YORK TIMES, LONDRES - No que diz respeito ao lançamento de livros, o último de Omid Scobie sobre a família real britânica, “Endgame“ (Fim de jogo), tem sido um furor - espalhafatoso, tentador, mas no final das contas um pouco contido - o que é o mesmo que dizer que foi normal para um suposto relato revelador da família mais coberta e menos decodificada do mundo.

A parte mais envolvente traz uma não confirmada e totalmente radioativa história que apareceu na edição holandesa do livro de Scobie, publicada na terça-feira, 29: a identidade de dois membros da família real que certa vez expressaram preocupações sobre a cor da pele do filho ainda não nascido do Príncipe Harry e sua esposa, Meghan.

O editor holandês de Scobie, Xander, retirou rapidamente o livro das prateleiras e sites on-line na Holanda a pedido do autor e de seu agente, citando um “erro” não especificado que, segundo a empresa, seria corrigido a tempo de o livro voltar à venda em 8 de dezembro. Os membros da família não são identificados nem nas edições britânicas nem nas americanas, que foram publicadas pelos selos da HarperCollins.

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Cópia da versão britânica do livro 'Endgame' do jornalista e escritor Omid Scobie Foto: Neil Hall/EPA/EFE

Mas a versão não corrigida de “Endgame” ficou disponível por tempo suficiente em Amsterdã e outras cidades para que os leitores a comprassem e para que um nome circulasse amplamente nas redes sociais (o segundo nome real apareceu em outras partes do livro, embora estivesse menos diretamente ligado ao incidente relatado). Tudo isso levou a uma chuva de chamadas escondidas nos tabloides de Londres na quarta-feira.

“Livro nomeia ‘racistas reais’”, disse o Daily Mirror. “Livro de Scobie é retirado de circulação por nomear ‘racistas reais’ por engano”, acrescentou o Daily Mail. “A realeza unida contra ‘travessuras e difamações’”, proclamou o Daily Express, acrescentando de forma útil uma foto do rei Charles III e de seu filho mais velho e herdeiro, o príncipe William.

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Nenhum dos jornais britânicos publicou inicialmente o nome, referindo-se apenas a um “sênior da realeza”. Mas qualquer pessoa equipada com um celular e o Google poderia descobrir isso em menos de 30 segundos. Na noite de quarta-feira, o locutor Piers Morgan finalmente revelou em seu programa apropriadamente chamado, “Piers Morgan Uncensored” (Piers Morgan em censura). A realeza em questão, disse ele, eram Charles e Kate, Princesa de Gales.

Kate, príncipe William, rei Charles III e rainha-consorte Camilla durante evento em julho Foto: Andrew Milligan/Reuters

Morgan disse que os contribuintes britânicos, que mantêm a família real, mereciam saber o que os leitores holandeses sabiam, expressando esperança de que a sua divulgação provocasse “um debate mais aberto sobre toda esta bagunça”. Morgan, cuja antipatia por Meghan está bem documentada e voltou a ficar evidente nesta quarta-feira, disse não acreditar que “quaisquer comentários racistas tenham sido feitos por qualquer membro da família real”.

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Na tarde de quinta-feira, o The Guardian se tornou o primeiro jornal britânico a publicar os nomes no seu site. O fato de a imprensa britânica ter sido tão relutante, apesar dos nomes serem difundidos na televisão e em toda a Internet, atesta tanto as rigorosas leis de difamação e privacidade do Reino Unido quanto a influência que a família real exerce sobre a imprensa. O Mail disse em sua primeira página nesta quinta-feira, 30, que a revelação de Morgan causaria “indignação”.

O Palácio de Buckingham não quis comentar, assim como o Palácio de Kensington, onde William e Kate, sua esposa, têm seus escritórios.

A tempestade é uma revelação da imprensa, mas é também a cauda longa de um psicodrama familiar que remonta à bombástica entrevista de Harry e Meghan à Oprah Winfrey em março de 2021. Nela, Meghan, uma ex-atriz americana multirracial, disse que Harry esteve em conversas sobre seu futuro filho, Archie, nas quais membros da família expressaram preocupações sobre “quão escura sua pele poderia ser quando ele nascesse”.

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Meghan se recusou a dizer quem, embora Winfrey mais tarde tenha descartado a rainha Elizabeth II e seu marido, o príncipe Philip. Numa resposta cuidadosamente redigida na época, o palácio disse que “as recordações podem variar” e prometeu abordar as preocupações de Meghan em privado.

Entrevista do príncipe Harry e Meghan Markle a Oprah Winfrey em março de 2021 Foto: Harpo Productions/Joe Pugliese via Reuters

O casal parece ansioso para minimizar o episódio desde então. Não foi mencionado no documentário de seis partes da Netflix, “Harry & Meghan “, que explanou muitas outras roupas sujas. Harry evitou o tema em “Spare”, seu implacável livro de memórias, e negou sugestões de racismo em sua família. Há uma diferença, disse ele numa entrevista em janeiro passado, “entre racismo e preconceito inconsciente”.

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Esta última erupção captura um dos estranhos paradoxos da cobertura real na era das redes sociais. Embora Harry e William tenham atacado a cobertura implacável, muitas vezes imprecisa, da imprensa tablóide, alguns dos episódios mais podres sobre a Casa de Windsor nunca aparecem nos jornais. Eles se escondem nas profundezas obscuras do Facebook ou X, anteriormente conhecido como Twitter, amplamente compartilhados e facilmente acessíveis, sem a aprovação da Fleet Street (rua de Londres que concentrava a imprensa) que a família real tanto detesta quanto cobiça.

Nesse caso, a história é ainda mais complicada por vir de Scobie, cujo livro anterior, “Finding Freedom” (Encontrando liberdade), que ele co-escreveu com Carolyn Durand, lhe rendeu a reputação de ser muito próximo de Harry e Meghan. Meghan, descobriu-se mais tarde, autorizou um assessor a informá-lo sobre o lado dela sobre a amarga ruptura do casal com a família.

Em “Endgame”, Scobie se autodenomina um lobo solitário que opera fora do que ele chama de “bando autorregulado de jornalistas, que, assim como a equipe de imprensa da Casa Branca, acompanham a família em seus vários empreendimentos”. Ele acrescentou: “Partes deste livro vão queimar minhas pontes para sempre”, o que parece uma boa aposta.

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Scobie não respondeu a dois pedidos de comentários.

Capa da versão holandesa do livro 'Endgame' que trouxe nomes de membros da família real que teriam questionado o tom de pele do filho de Harry e Meghan Foto: Piroschka van de Wouw/Reuters

Numa entrevista à televisão holandesa, ele disse que não identificou membros da família fazendo comentários sobre a cor da pele e não tinha ideia de como os nomes terminaram na tradução holandesa. O livro refere-se a cartas entre Meghan e Charles, então Príncipe de Gales, nas quais os dois discutiram o assunto, e que, segundo Scobie, fez com que o casal não levantasse o assunto novamente.

A publicação dos nomes foi revelada por Rick Evers, um repórter real holandês, que disse tê-los encontrado enquanto lia o livro. Ele postou uma captura de tela de uma página, junto com uma tradução para o inglês, em sua conta X, que se refere a cartas entre Meghan e Charles. Uma referência posterior ao envolvimento da Princesa de Gales em conversas sobre Archie é menos específica.

A diretora-chefe da editora, Anke Roelen, disse que iria investigar como os nomes foram parar no livro. “Foi um processo extremamente preciso que levou meses”, disse ela. “Portanto, tomamos muito cuidado ao tirar quaisquer conclusões.”

Os executivos das editoras holandesas eram céticos quanto à possibilidade de um tradutor acrescentar os nomes. “A única coisa que posso imaginar que poderia ter acontecido é que o tradutor traduziu uma versão inicial” do manuscrito, disse Willem Bisseling, agente literário da Sebes & Bisseling. “Mas isso é apenas um palpite.”

Alguns especularam que as leis de difamação haviam algemado Scobie com tanta força quanto a imprensa. Daniel Taylor, advogado de mídia do escritório londrino Taylor Hampton, disse que o autor e seu editor corriam o risco de um processo por difamação se as pessoas que fizeram os comentários “foram consideradas racistas ao colocarem a questão” sobre a cor da pele da criança.

“Se os nomes foram incluídos no livro por engano, sem provas suficientes para apoiar quem fez a alegação ou as circunstâncias em que foi feita”, acrescentou Taylor, “isso pode ter levado à decisão de retirar as cópias”.

Riscos legais à parte, o rebuliço causado por Scobie é o sonho de qualquer literário, especialmente depois que seu livro recebeu uma recepção medíocre da crítica.

“Os leitores que esperam um golpe final de fofoca ficarão desapontados”, disse o The New York Times em sua crítica . “Já ouvimos muito sobre isso antes. De Fergie, de Diana, de Charles, de Harry, de Harry, de Harry novamente.”

THE NEW YORK TIMES, LONDRES - No que diz respeito ao lançamento de livros, o último de Omid Scobie sobre a família real britânica, “Endgame“ (Fim de jogo), tem sido um furor - espalhafatoso, tentador, mas no final das contas um pouco contido - o que é o mesmo que dizer que foi normal para um suposto relato revelador da família mais coberta e menos decodificada do mundo.

A parte mais envolvente traz uma não confirmada e totalmente radioativa história que apareceu na edição holandesa do livro de Scobie, publicada na terça-feira, 29: a identidade de dois membros da família real que certa vez expressaram preocupações sobre a cor da pele do filho ainda não nascido do Príncipe Harry e sua esposa, Meghan.

O editor holandês de Scobie, Xander, retirou rapidamente o livro das prateleiras e sites on-line na Holanda a pedido do autor e de seu agente, citando um “erro” não especificado que, segundo a empresa, seria corrigido a tempo de o livro voltar à venda em 8 de dezembro. Os membros da família não são identificados nem nas edições britânicas nem nas americanas, que foram publicadas pelos selos da HarperCollins.

Cópia da versão britânica do livro 'Endgame' do jornalista e escritor Omid Scobie Foto: Neil Hall/EPA/EFE

Mas a versão não corrigida de “Endgame” ficou disponível por tempo suficiente em Amsterdã e outras cidades para que os leitores a comprassem e para que um nome circulasse amplamente nas redes sociais (o segundo nome real apareceu em outras partes do livro, embora estivesse menos diretamente ligado ao incidente relatado). Tudo isso levou a uma chuva de chamadas escondidas nos tabloides de Londres na quarta-feira.

“Livro nomeia ‘racistas reais’”, disse o Daily Mirror. “Livro de Scobie é retirado de circulação por nomear ‘racistas reais’ por engano”, acrescentou o Daily Mail. “A realeza unida contra ‘travessuras e difamações’”, proclamou o Daily Express, acrescentando de forma útil uma foto do rei Charles III e de seu filho mais velho e herdeiro, o príncipe William.

Nenhum dos jornais britânicos publicou inicialmente o nome, referindo-se apenas a um “sênior da realeza”. Mas qualquer pessoa equipada com um celular e o Google poderia descobrir isso em menos de 30 segundos. Na noite de quarta-feira, o locutor Piers Morgan finalmente revelou em seu programa apropriadamente chamado, “Piers Morgan Uncensored” (Piers Morgan em censura). A realeza em questão, disse ele, eram Charles e Kate, Princesa de Gales.

Kate, príncipe William, rei Charles III e rainha-consorte Camilla durante evento em julho Foto: Andrew Milligan/Reuters

Morgan disse que os contribuintes britânicos, que mantêm a família real, mereciam saber o que os leitores holandeses sabiam, expressando esperança de que a sua divulgação provocasse “um debate mais aberto sobre toda esta bagunça”. Morgan, cuja antipatia por Meghan está bem documentada e voltou a ficar evidente nesta quarta-feira, disse não acreditar que “quaisquer comentários racistas tenham sido feitos por qualquer membro da família real”.

Na tarde de quinta-feira, o The Guardian se tornou o primeiro jornal britânico a publicar os nomes no seu site. O fato de a imprensa britânica ter sido tão relutante, apesar dos nomes serem difundidos na televisão e em toda a Internet, atesta tanto as rigorosas leis de difamação e privacidade do Reino Unido quanto a influência que a família real exerce sobre a imprensa. O Mail disse em sua primeira página nesta quinta-feira, 30, que a revelação de Morgan causaria “indignação”.

O Palácio de Buckingham não quis comentar, assim como o Palácio de Kensington, onde William e Kate, sua esposa, têm seus escritórios.

A tempestade é uma revelação da imprensa, mas é também a cauda longa de um psicodrama familiar que remonta à bombástica entrevista de Harry e Meghan à Oprah Winfrey em março de 2021. Nela, Meghan, uma ex-atriz americana multirracial, disse que Harry esteve em conversas sobre seu futuro filho, Archie, nas quais membros da família expressaram preocupações sobre “quão escura sua pele poderia ser quando ele nascesse”.

Meghan se recusou a dizer quem, embora Winfrey mais tarde tenha descartado a rainha Elizabeth II e seu marido, o príncipe Philip. Numa resposta cuidadosamente redigida na época, o palácio disse que “as recordações podem variar” e prometeu abordar as preocupações de Meghan em privado.

Entrevista do príncipe Harry e Meghan Markle a Oprah Winfrey em março de 2021 Foto: Harpo Productions/Joe Pugliese via Reuters

O casal parece ansioso para minimizar o episódio desde então. Não foi mencionado no documentário de seis partes da Netflix, “Harry & Meghan “, que explanou muitas outras roupas sujas. Harry evitou o tema em “Spare”, seu implacável livro de memórias, e negou sugestões de racismo em sua família. Há uma diferença, disse ele numa entrevista em janeiro passado, “entre racismo e preconceito inconsciente”.

Esta última erupção captura um dos estranhos paradoxos da cobertura real na era das redes sociais. Embora Harry e William tenham atacado a cobertura implacável, muitas vezes imprecisa, da imprensa tablóide, alguns dos episódios mais podres sobre a Casa de Windsor nunca aparecem nos jornais. Eles se escondem nas profundezas obscuras do Facebook ou X, anteriormente conhecido como Twitter, amplamente compartilhados e facilmente acessíveis, sem a aprovação da Fleet Street (rua de Londres que concentrava a imprensa) que a família real tanto detesta quanto cobiça.

Nesse caso, a história é ainda mais complicada por vir de Scobie, cujo livro anterior, “Finding Freedom” (Encontrando liberdade), que ele co-escreveu com Carolyn Durand, lhe rendeu a reputação de ser muito próximo de Harry e Meghan. Meghan, descobriu-se mais tarde, autorizou um assessor a informá-lo sobre o lado dela sobre a amarga ruptura do casal com a família.

Em “Endgame”, Scobie se autodenomina um lobo solitário que opera fora do que ele chama de “bando autorregulado de jornalistas, que, assim como a equipe de imprensa da Casa Branca, acompanham a família em seus vários empreendimentos”. Ele acrescentou: “Partes deste livro vão queimar minhas pontes para sempre”, o que parece uma boa aposta.

Scobie não respondeu a dois pedidos de comentários.

Capa da versão holandesa do livro 'Endgame' que trouxe nomes de membros da família real que teriam questionado o tom de pele do filho de Harry e Meghan Foto: Piroschka van de Wouw/Reuters

Numa entrevista à televisão holandesa, ele disse que não identificou membros da família fazendo comentários sobre a cor da pele e não tinha ideia de como os nomes terminaram na tradução holandesa. O livro refere-se a cartas entre Meghan e Charles, então Príncipe de Gales, nas quais os dois discutiram o assunto, e que, segundo Scobie, fez com que o casal não levantasse o assunto novamente.

A publicação dos nomes foi revelada por Rick Evers, um repórter real holandês, que disse tê-los encontrado enquanto lia o livro. Ele postou uma captura de tela de uma página, junto com uma tradução para o inglês, em sua conta X, que se refere a cartas entre Meghan e Charles. Uma referência posterior ao envolvimento da Princesa de Gales em conversas sobre Archie é menos específica.

A diretora-chefe da editora, Anke Roelen, disse que iria investigar como os nomes foram parar no livro. “Foi um processo extremamente preciso que levou meses”, disse ela. “Portanto, tomamos muito cuidado ao tirar quaisquer conclusões.”

Os executivos das editoras holandesas eram céticos quanto à possibilidade de um tradutor acrescentar os nomes. “A única coisa que posso imaginar que poderia ter acontecido é que o tradutor traduziu uma versão inicial” do manuscrito, disse Willem Bisseling, agente literário da Sebes & Bisseling. “Mas isso é apenas um palpite.”

Alguns especularam que as leis de difamação haviam algemado Scobie com tanta força quanto a imprensa. Daniel Taylor, advogado de mídia do escritório londrino Taylor Hampton, disse que o autor e seu editor corriam o risco de um processo por difamação se as pessoas que fizeram os comentários “foram consideradas racistas ao colocarem a questão” sobre a cor da pele da criança.

“Se os nomes foram incluídos no livro por engano, sem provas suficientes para apoiar quem fez a alegação ou as circunstâncias em que foi feita”, acrescentou Taylor, “isso pode ter levado à decisão de retirar as cópias”.

Riscos legais à parte, o rebuliço causado por Scobie é o sonho de qualquer literário, especialmente depois que seu livro recebeu uma recepção medíocre da crítica.

“Os leitores que esperam um golpe final de fofoca ficarão desapontados”, disse o The New York Times em sua crítica . “Já ouvimos muito sobre isso antes. De Fergie, de Diana, de Charles, de Harry, de Harry, de Harry novamente.”

THE NEW YORK TIMES, LONDRES - No que diz respeito ao lançamento de livros, o último de Omid Scobie sobre a família real britânica, “Endgame“ (Fim de jogo), tem sido um furor - espalhafatoso, tentador, mas no final das contas um pouco contido - o que é o mesmo que dizer que foi normal para um suposto relato revelador da família mais coberta e menos decodificada do mundo.

A parte mais envolvente traz uma não confirmada e totalmente radioativa história que apareceu na edição holandesa do livro de Scobie, publicada na terça-feira, 29: a identidade de dois membros da família real que certa vez expressaram preocupações sobre a cor da pele do filho ainda não nascido do Príncipe Harry e sua esposa, Meghan.

O editor holandês de Scobie, Xander, retirou rapidamente o livro das prateleiras e sites on-line na Holanda a pedido do autor e de seu agente, citando um “erro” não especificado que, segundo a empresa, seria corrigido a tempo de o livro voltar à venda em 8 de dezembro. Os membros da família não são identificados nem nas edições britânicas nem nas americanas, que foram publicadas pelos selos da HarperCollins.

Cópia da versão britânica do livro 'Endgame' do jornalista e escritor Omid Scobie Foto: Neil Hall/EPA/EFE

Mas a versão não corrigida de “Endgame” ficou disponível por tempo suficiente em Amsterdã e outras cidades para que os leitores a comprassem e para que um nome circulasse amplamente nas redes sociais (o segundo nome real apareceu em outras partes do livro, embora estivesse menos diretamente ligado ao incidente relatado). Tudo isso levou a uma chuva de chamadas escondidas nos tabloides de Londres na quarta-feira.

“Livro nomeia ‘racistas reais’”, disse o Daily Mirror. “Livro de Scobie é retirado de circulação por nomear ‘racistas reais’ por engano”, acrescentou o Daily Mail. “A realeza unida contra ‘travessuras e difamações’”, proclamou o Daily Express, acrescentando de forma útil uma foto do rei Charles III e de seu filho mais velho e herdeiro, o príncipe William.

Nenhum dos jornais britânicos publicou inicialmente o nome, referindo-se apenas a um “sênior da realeza”. Mas qualquer pessoa equipada com um celular e o Google poderia descobrir isso em menos de 30 segundos. Na noite de quarta-feira, o locutor Piers Morgan finalmente revelou em seu programa apropriadamente chamado, “Piers Morgan Uncensored” (Piers Morgan em censura). A realeza em questão, disse ele, eram Charles e Kate, Princesa de Gales.

Kate, príncipe William, rei Charles III e rainha-consorte Camilla durante evento em julho Foto: Andrew Milligan/Reuters

Morgan disse que os contribuintes britânicos, que mantêm a família real, mereciam saber o que os leitores holandeses sabiam, expressando esperança de que a sua divulgação provocasse “um debate mais aberto sobre toda esta bagunça”. Morgan, cuja antipatia por Meghan está bem documentada e voltou a ficar evidente nesta quarta-feira, disse não acreditar que “quaisquer comentários racistas tenham sido feitos por qualquer membro da família real”.

Na tarde de quinta-feira, o The Guardian se tornou o primeiro jornal britânico a publicar os nomes no seu site. O fato de a imprensa britânica ter sido tão relutante, apesar dos nomes serem difundidos na televisão e em toda a Internet, atesta tanto as rigorosas leis de difamação e privacidade do Reino Unido quanto a influência que a família real exerce sobre a imprensa. O Mail disse em sua primeira página nesta quinta-feira, 30, que a revelação de Morgan causaria “indignação”.

O Palácio de Buckingham não quis comentar, assim como o Palácio de Kensington, onde William e Kate, sua esposa, têm seus escritórios.

A tempestade é uma revelação da imprensa, mas é também a cauda longa de um psicodrama familiar que remonta à bombástica entrevista de Harry e Meghan à Oprah Winfrey em março de 2021. Nela, Meghan, uma ex-atriz americana multirracial, disse que Harry esteve em conversas sobre seu futuro filho, Archie, nas quais membros da família expressaram preocupações sobre “quão escura sua pele poderia ser quando ele nascesse”.

Meghan se recusou a dizer quem, embora Winfrey mais tarde tenha descartado a rainha Elizabeth II e seu marido, o príncipe Philip. Numa resposta cuidadosamente redigida na época, o palácio disse que “as recordações podem variar” e prometeu abordar as preocupações de Meghan em privado.

Entrevista do príncipe Harry e Meghan Markle a Oprah Winfrey em março de 2021 Foto: Harpo Productions/Joe Pugliese via Reuters

O casal parece ansioso para minimizar o episódio desde então. Não foi mencionado no documentário de seis partes da Netflix, “Harry & Meghan “, que explanou muitas outras roupas sujas. Harry evitou o tema em “Spare”, seu implacável livro de memórias, e negou sugestões de racismo em sua família. Há uma diferença, disse ele numa entrevista em janeiro passado, “entre racismo e preconceito inconsciente”.

Esta última erupção captura um dos estranhos paradoxos da cobertura real na era das redes sociais. Embora Harry e William tenham atacado a cobertura implacável, muitas vezes imprecisa, da imprensa tablóide, alguns dos episódios mais podres sobre a Casa de Windsor nunca aparecem nos jornais. Eles se escondem nas profundezas obscuras do Facebook ou X, anteriormente conhecido como Twitter, amplamente compartilhados e facilmente acessíveis, sem a aprovação da Fleet Street (rua de Londres que concentrava a imprensa) que a família real tanto detesta quanto cobiça.

Nesse caso, a história é ainda mais complicada por vir de Scobie, cujo livro anterior, “Finding Freedom” (Encontrando liberdade), que ele co-escreveu com Carolyn Durand, lhe rendeu a reputação de ser muito próximo de Harry e Meghan. Meghan, descobriu-se mais tarde, autorizou um assessor a informá-lo sobre o lado dela sobre a amarga ruptura do casal com a família.

Em “Endgame”, Scobie se autodenomina um lobo solitário que opera fora do que ele chama de “bando autorregulado de jornalistas, que, assim como a equipe de imprensa da Casa Branca, acompanham a família em seus vários empreendimentos”. Ele acrescentou: “Partes deste livro vão queimar minhas pontes para sempre”, o que parece uma boa aposta.

Scobie não respondeu a dois pedidos de comentários.

Capa da versão holandesa do livro 'Endgame' que trouxe nomes de membros da família real que teriam questionado o tom de pele do filho de Harry e Meghan Foto: Piroschka van de Wouw/Reuters

Numa entrevista à televisão holandesa, ele disse que não identificou membros da família fazendo comentários sobre a cor da pele e não tinha ideia de como os nomes terminaram na tradução holandesa. O livro refere-se a cartas entre Meghan e Charles, então Príncipe de Gales, nas quais os dois discutiram o assunto, e que, segundo Scobie, fez com que o casal não levantasse o assunto novamente.

A publicação dos nomes foi revelada por Rick Evers, um repórter real holandês, que disse tê-los encontrado enquanto lia o livro. Ele postou uma captura de tela de uma página, junto com uma tradução para o inglês, em sua conta X, que se refere a cartas entre Meghan e Charles. Uma referência posterior ao envolvimento da Princesa de Gales em conversas sobre Archie é menos específica.

A diretora-chefe da editora, Anke Roelen, disse que iria investigar como os nomes foram parar no livro. “Foi um processo extremamente preciso que levou meses”, disse ela. “Portanto, tomamos muito cuidado ao tirar quaisquer conclusões.”

Os executivos das editoras holandesas eram céticos quanto à possibilidade de um tradutor acrescentar os nomes. “A única coisa que posso imaginar que poderia ter acontecido é que o tradutor traduziu uma versão inicial” do manuscrito, disse Willem Bisseling, agente literário da Sebes & Bisseling. “Mas isso é apenas um palpite.”

Alguns especularam que as leis de difamação haviam algemado Scobie com tanta força quanto a imprensa. Daniel Taylor, advogado de mídia do escritório londrino Taylor Hampton, disse que o autor e seu editor corriam o risco de um processo por difamação se as pessoas que fizeram os comentários “foram consideradas racistas ao colocarem a questão” sobre a cor da pele da criança.

“Se os nomes foram incluídos no livro por engano, sem provas suficientes para apoiar quem fez a alegação ou as circunstâncias em que foi feita”, acrescentou Taylor, “isso pode ter levado à decisão de retirar as cópias”.

Riscos legais à parte, o rebuliço causado por Scobie é o sonho de qualquer literário, especialmente depois que seu livro recebeu uma recepção medíocre da crítica.

“Os leitores que esperam um golpe final de fofoca ficarão desapontados”, disse o The New York Times em sua crítica . “Já ouvimos muito sobre isso antes. De Fergie, de Diana, de Charles, de Harry, de Harry, de Harry novamente.”

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