Uma ofensiva militar do Exército colombiano no sudoeste da Colômbia contra o maior grupo dissidente da extinta guerrilha das FARC (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) matou oito pessoas nesta terça-feira, 26, disse à AFP um comandante sênior do exército, após a decisão do governo de suspender uma trégua com o grupo.
Delegados do governo colombiano e o Estado-Maior Central (EMC), a maior facção de guerrilheiros que não aderiu ao pacto de paz que desarmou as FARC em 2017, estavam em negociações desde o final de 2023, mas o assassinato de um líder indígena provocou uma crise há dez dias.
Na semana passada, o governo anunciou que estava suspendendo a sua trégua com o grupo em três departamentos diferentes ao longo da costa do Pacífico, todas grandes áreas produtoras de cocaína. As negociações continuam, embora o presidente Gustavo Petro tenha endurecido sua retórica contra o EMC.
Durante a última semana, a operação deixou “oito mortos e 17 feridos” nas fileiras rebeldes, disse à AFP o general Federico Mejia, comandante das forças militares na região de Cauca.
Os mortos, disse Mejía, estavam lutando no conflituoso Cañón del Micay (Cauca), um território que os dissidentes controlam há anos. Entre os “afetados” havia vários menores de idade, acrescentou o general, com base em comunicações interceptadas dos insurgentes.
Na terça-feira, o Canyon de Micay estava calmo, informou a AFP.
Repórteres da agência estiveram no domingo na cidade de El Plateado, um dos maiores redutos nessa região do EMC.
Após a suspensão da trégua com esse grupo em 17 de março, unidades do exército chegaram a algumas centenas de metros da aldeia controlada pelos rebeldes. Os confrontos, no entanto, limitaram-se a escaramuças esporádicas nas montanhas ao redor de El Plateado, de acordo com um comandante do EMC na área.
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O EMC agrupa cerca de 3.500 combatentes e controla rotas de tráfico de drogas em diferentes áreas da Colômbia, segundo a inteligência militar. Nos departamentos de Cauca, Valle del Cauca e Nariño (sudoeste), ela administra as plantações de coca e os corredores fluviais que levam ao Oceano Pacífico.
Combate constante
“Nesses três departamentos (...) temos mais de 32 mil homens para garantir a segurança”, disse o comandante geral das forças militares, Helder Giraldo, responsável pela chamada Operação Mantus, em uma coletiva de imprensa no sábado.
Além disso, os militares empregaram “meios aéreos, como o avião Phantom, drones e helicópteros UH60 Black Hawk”, bem como embarcações da marinha nos rios que deságuam no Pacífico, de acordo com um comunicado do exército.
Desde o início da operação, em 20 de março, houve “combates constantes” e “11 operações em profundidade” contra os dissidentes, disse Mejía na terça-feira.
Os rebeldes “lançam armas não convencionais (...) com diferentes direções ou atiram com metralhadoras para poder localizar a resposta das forças de segurança”, explicou.
Após entrar no Cañón de Micay em 23 de março, a AFP passou vários dias com um dos principais comandantes da frente do EMC, Carlos Patiño, que em nenhum momento relatou grandes confrontos.
Carnaval
Na cidade de San Juan del Micay, os moradores participaram de um “carnaval” de vários dias que incluiu a entrega de uma ambulância e a inauguração de um centro de saúde, financiado em conjunto pelas comunidades locais e pelos dissidentes das FARC.
“Essa ambulância e esse centro de saúde são um sonho que se tornou realidade”, disse à AFP a líder local Adriana Rivera.
“Essa área sempre foi totalmente abandonada pelo Estado. Tudo o que temos aqui, escolas, estradas... foi construído pelos próprios camponeses. As FARC (EMC) nos dão diretrizes e nos ajudam a realizar certos projetos”, explicou.
Imagens da inauguração foram publicadas na imprensa local e provocaram uma resposta do governo. O ministro da Defesa, Iván Velásquez, lamentou o “golpe na institucionalidade” e reconheceu que a ausência do Estado nesses territórios permite que os grupos armados “se legitimem” aos olhos das comunidades./AFP