O Congresso do Peru rejeitou nesta sexta-feira, 16, antecipar as eleições gerais do país para dezembro de 2023 para escolher um novo presidente após a destituição do ex-presidente Pedro Castillo na semana passada. A antecipação das eleições, previstas para 2026, é uma demanda de classes políticas e de movimentos sociais do Peru que realizam protestos no país desde a destituição do ex-presidente Pedro Castillo na semana passada, após este tentar um golpe de Estado.
A proposta para antecipar o pleito de abril de 2026 para dezembro de 2023 necessitava de 87 votos para prosperar, mas obteve 49 a favor, 33 contra e 25 abstenções, segundo a contagem oficial da votação no plenário. Os deputados ainda discutem se as eleições serão antecipadas para 2024.
Desde que Castillo foi deposto e preso e a sua vice-presidente, Dina Boluarte, assumiu o comando do Peru, parte dos peruanos foram às ruas para pedir que as eleições do país fossem antecipadas e o Congresso fechado. Os manifestantes bloquearam estradas e aeroportos, atacaram a sede de instituições para pressionar as autoridades e bloquearam áreas visitadas por turistas. O governo peruano declarou estado de emergência em todo o país e enviou um projeto para as eleições ocorrerem em 2024.
As manifestações também geraram conflitos entre os manifestantes e a polícia. Ao todo, 18 pessoas morreram até o momento.
Nesta sexta-feira, Dina Boluarte fez um apelo por diálogo aos manifestantes que exigem sua renúncia, o fechamento do Congresso e a convocação de uma Assembleia Constituinte. “Convoquei os líderes das igrejas católica, cristã e evangélica para montar uma mesa de diálogo em cada uma das regiões que se mobilizaram (...) Abriremos esses espaços para chamar as lideranças que encabeçam essas marchas para ouvir suas demandas e canalizá-las”, disse Boluarte durante uma cerimônia de formatura militar.
A presidente também anunciou que irá se deslocar “ao interior do país” para atender às reivindicações populares, embora não tenha esclarecido para onde viajará nem quando o fará.
“Este governo de transição que presido compreende e continua reconhecendo as demandas dos homens e mulheres peruanos que legitimamente saíram para levantar suas vozes, as mesmas que continuamos apoiando, ratificando que a Polícia e as Forças Armadas têm instruções claras para salvaguardar a vida e os direitos humanos dos manifestantes”, afirmou Boluarte.
Dina Boluarte também condenou veementemente “os atos de vandalismo que alguns radicais (...) utilizaram contra policiais, militares, civis, instituições públicas e privadas e a economia familiar que continuam causando danos a poucos dias do Natal”.
“Lamento os trágicos acontecimentos que ceifaram a vida de vários compatriotas em várias regiões do país. Isto tem de acabar”, enfatizou.
Antecipação para 2024 é debatida
A presidente Boluarte, que assumiu após a destituição de Castillo, afirmou na quarta-feira, 14, que acredita que as eleições gerais em dezembro de 2023. Ela assumiu o cargo dizendo que ficaria até 2026, quando acaba o atual mandato, mas voltou atrás e propôs antecipar as eleições para abril de 2024. Essa proposta ainda é discutida pelos deputados.
A medida não foi suficiente para conter os manifestantes, que pedem eleições já. A data de 2024 foi proposta para dar tempo ao governo de fazer reformas eleitorais antes da nova votação. “Sem as reformas, se prevê que as consequências (de uma nova eleição) serão as mesmas: fragmentação política e facilidade de corrupção em uma nova campanha eleitoral no financiamento partidário. No entanto, não estamos no melhor momento para armar reformar pacientes pré-eleitorais enquanto o país pega fogo, literalmente”, diz Meléndez.
Alguns congressistas acreditam que a votação não deva ser antecipada, outros pensam que sim e divergem sobre a data: se fala em fim de 2023 e até mesmo abril de 2023, como pedem alguns do partido Peru Livre (de Castillo).
Vários sindicatos agrários e indígenas começaram uma paralisação por tempo indeterminado exigindo eleições gerais imediatas, levando à suspensão de serviços de trens entre Cusco e Machu Picchu, a principal atração turística do país. /EFE, AFP