Congresso dos Estados Unidos deve aprovar mais US$ 40 bilhões em ajuda à Ucrânia


Recurso é destinado a equipamentos militares, ajuda humanitária e ajuda econômica; se aprovado pelo Senado, como é esperado, total enviado pelos EUA à Ucrânia chega a mais de US$ 53 bilhões

Por Felicia Sonmez, André Jeong e Cate Cadell, The Washington Post
Atualização:

WASHINGTON - O Congresso dos Estados Unidos está próximo de aprovar cerca de US$ 40 bilhões em ajuda militar e humanitária adicional para a Ucrânia. O valor supera o pedido de US$ 33 bilhões do presidente americano Joe Biden e reforça o governo de Kiev, enquanto Moscou segue com planos de anexar áreas do sul e leste do país.

A Câmara aprovou a proposta nesta terça-feira, 10, com uma votação de 368 a 57. O Senado deve fazer o mesmo ainda nesta semana. A aprovação da medida aumenta o total da ajuda ucraniana fornecida pelos EUA desde o início da invasão no dia 24 de fevereiro. O valor chegaria a mais de US$ 53 bilhões.

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O projeto inclui quase US$ 15 bilhões destinados a equipamentos militares, treinamento, apoio de inteligência e salários das forças de defesa ucranianas. Outros US$ 14 bilhões seriam alocados para apoio não militar, incluindo ajuda humanitária, e outros US$ 5 bilhões tratariam de questões globais de segurança alimentar.

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi (Democrata), chamou repetidamente o presidente russo Vladimir Putin de “covarde” nesta terça-feira e descreveu o pacote de ajuda como “um ato de misericórdia”. Ela classificou a guerra na Ucrânia como algo crucial para o futuro da democracia do mundo.

Presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi (no centro), ao lado de outros membros do Congresso durante coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10. Câmara aprovou ajuda militar a Ucrânia e EUA aguarda aprovação do Senado para envio de recursos Foto: AP / AP
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“Todos devemos estar muito orgulhosos por termos tido a chance de estar lá para ajuda quando Putin decidiu – o que quer que ele tenha decidido – ser brutal, cruel e covarde”, disse Pelosi. “É sobre democracia versus ditadura. A democracia deve prevalecer. O povo ucraniano luta pela sua democracia e, ao fazê-lo, pela nossa também”.

O secretário de Estado dos EUA Antony Blinken e o secretário de Defesa Lloyd Austin pediram em uma carta aberta aos parlamentares que aprovem a medida. “A capacidade de recorrer aos estoques existentes [do Departamento de Defesa] tem sido uma ferramenta crítica em nossos esforços para apoiar os ucranianos em sua luta contra a agressão russa”, diz a carta. “Resumindo, precisamos da ajuda de vocês.”

A ajuda para a Ucrânia até agora atraiu apoio bipartidário, incluindo uma votação da Câmara de 417 a 10 para aprovar um projeto de lei de empréstimo-arrendamento que acelera o envio de armas para a Ucrânia – uma medida que Biden sancionou na segunda-feira, 9.

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Isso ocorre no momento em que os Estados Unidos se junta à União Europeia e ao Reino Unido ao culpar a Rússia por um ataque cibernético no final de fevereiro que paralisou a Viasat, empresa de Internet via satélite com sede nos EUA. O ataque interrompeu o serviço de dezenas de milhares de modems via satélite na Ucrânia e em outros países europeus apenas uma hora antes do início da invasão. Os Estados Unidos não haviam atribuído culpa pelo ataque inicialmente.

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Em Zaporizhzhia, um grupo de pessoas retirado da usina de Azovstal, em Mariupol, respiram um pouco mais aliviados.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, disse nesta terça-feira que os objetivos do país estão “evoluindo” à medida que a guerra se arrasta. Ele indicou que o apoio externo poderia ajudar o país não apenas a repelir a invasão, mas também a recuperar territórios - como a Crimeia, controlada pelas forças russas em 2014.

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“Nos primeiros meses da guerra, a vitória para nós parecia a retirada das forças russas para as posições que ocupavam antes de 24 de fevereiro”, disse Kuleba. “Agora, se formos fortes o suficiente na frente militar e vencermos a batalha de Donbas, que será crucial para a dinâmica seguinte da guerra, é claro que a vitória para nós será a libertação do resto de nossos territórios.”

Um funcionário do alto escalão inteligência dos EUA disse que entre 8 e 10 generais russos foram mortos enquanto lutavam na Ucrânia – um número incomum e alto para um conflito que tem menos de três meses.

O número se deve em parte ao papel atípico que os líderes militares russos estão desempenhando no campo de batalha, avaliou o tenente-general americano Scott Berrier, diretor da Agência de Inteligência de Defesa, ao Comitê de Serviços Armados do Senado. Em vez de comandar forças de longe, disse Berrier, os generais de Moscou tiveram que viajar para o front para garantir que as ordens fossem cumpridas.

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Mas a Ucrânia enfrenta uma batalha difícil sobre cidades que foram destruídas e ainda estão sendo atacadas pela Rússia.

Ataques russos continuam em Odessa e em Mariupol

As tropas russas iniciaram um novo ataque a cidades no sul e leste da Ucrânia nesta semana, incluindo bombardeios na cidade portuária de Odessa, no sul, com mísseis hipersônicos disparados da Crimeia, segundo autoridades ucranianas. Imagens desta terça-feira mostraram bombeiros vasculhando escombros em busca de sobreviventes após os ataques, que atingiram um armazém, um shopping center e uma infraestrutura turística, segundo a administração militar regional ucraniana.

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Capturar Odessa, uma cidade portuária no Mar Negro, seria uma grande vitória estratégica para Moscou, embora o Pentágono avalie que as forças russas não têm atualmente a capacidade de lançar ofensivas terrestres ou marítimas na região.

Civis andam em destroços de shopping destruído por bombardeio russo na cidade de Odessa, na Ucrânia, nesta terça-feira, 10 Foto: Igor Tkachenko
/Reuters

A leste de Odessa, mais de 100 civis e 1 mil combatentes seguem escondidos na usina siderúrgica Azovstal de Mariupol, que está sendo bombardeada frequentemente por tropas russas, de acordo com uma autoridade local. “Artilharia pesada e aeronaves continuaram a atacar a fábrica durante todo o dia. As tentativas de invadir o terreno continuam falhando”, escreveu no Telegram Petro Andriushchenko, assessor do prefeito de Mariupol, nesta terça-feira.

Autoridades ucranianas disseram no sábado que um esforço de evacuação apoiado pela ONU havia retirado mais de 300 mulheres, crianças e idosos da usina, mas os combatentes dizem que os civis ainda podem estar escondidos no vasto labirinto subterrâneo do complexo.

Segundo um alto funcionário da defesa dos EUA, o equivalente a dois grupos táticos do batalhão russo permanece na cidade portuária devastada, mas que a maioria das forças foi redistribuída em outro lugar.

Ao norte de Mariupol, em Izium, autoridades ucranianas disseram que 44 corpos foram retirados dos escombros de um prédio de cinco andares destruído em um ataque russo na primeira semana de março. Oleh Siniehubov, governador da região de Kharkiv, onde Izium está localizada, disse que os esforços para procurar outros prédios destruídos pelo ataque foram prejudicados por bombardeios constantes.

Civis mortos e refugiados

A chefe da Missão de Monitoramento de Direitos Humanos da ONU na Ucrânia, Matilda Bogner, afirmou nesta terça-feira que o número real de civis mortos no conflito é provavelmente milhares maior do que o número atualmente confirmado, de 3.381. Os combates nos grandes centros urbanos do sul do país dificultam as investigações sobre o verdadeiro preço da guerra.

“A grande incógnita é realmente Mariupol, onde tem sido difícil acessar totalmente e obter informações corretas”, disse Bogner. Autoridades ucranianas de Mariupol estimaram que cerca de 20 mil civis morreram no bombardeio da cidade pela Rússia.

Bogner também disse que a missão da ONU “recebeu informações confiáveis sobre tortura, maus-tratos e detenção incomunicável” de prisioneiros de guerra russos por forças ucranianas. As informações incluem vídeos online que parecem mostrar tratamento desumano e humilhação, incluindo declarações coagidas e desculpas. “Embora a escala seja significativamente maior do lado das alegações contra as forças russas, também estamos documentando violações das forças ucranianas”, disse ela.

Refugiados ucranianos de Mariupol aguardam saída da cidade dentro de ônibus da ONU Foto: Gleb Garanich/Reuters

Um relatório separado da Organização Internacional para as Migrações da ONU disse na segunda-feira que mais de 8 milhões de ucranianos foram deslocados internamente pelos combates, um aumento de 24% desde meados de março. O documento afirma que há uma “necessidade esmagadora” de ajuda financeira e abrigo para aqueles que fogem de suas casas para outras partes da Ucrânia, e que as tensões cortaram o acesso a algumas pessoas em extrema necessidade.

Milhões de outros ucranianos fugiram do país nos últimos meses, no que se tornou a maior migração de humanos na Europa desde a 2ª Guerra. A grande maioria deles são mulheres e crianças. Organizações antitráfico dizem que o risco de serem vítimas de tráfico de humanos aumenta à medida que a guerra se arrasta.

“Aqueles que fugiram sozinhos, sem parentes ou contatos em países vizinhos, correm um risco significativamente maior, pois precisam confiar em pessoas que não conhecem”, disse Suzanne Hoff, coordenadora do La Strada International, um consórcio de organizações antitráfico sediado em Amsterdã que divulgaram um relatório na terça-feira sobre os perigos que os refugiados enfrentam por grupos de tráfico, incluindo trabalho e abuso sexual.

WASHINGTON - O Congresso dos Estados Unidos está próximo de aprovar cerca de US$ 40 bilhões em ajuda militar e humanitária adicional para a Ucrânia. O valor supera o pedido de US$ 33 bilhões do presidente americano Joe Biden e reforça o governo de Kiev, enquanto Moscou segue com planos de anexar áreas do sul e leste do país.

A Câmara aprovou a proposta nesta terça-feira, 10, com uma votação de 368 a 57. O Senado deve fazer o mesmo ainda nesta semana. A aprovação da medida aumenta o total da ajuda ucraniana fornecida pelos EUA desde o início da invasão no dia 24 de fevereiro. O valor chegaria a mais de US$ 53 bilhões.

O projeto inclui quase US$ 15 bilhões destinados a equipamentos militares, treinamento, apoio de inteligência e salários das forças de defesa ucranianas. Outros US$ 14 bilhões seriam alocados para apoio não militar, incluindo ajuda humanitária, e outros US$ 5 bilhões tratariam de questões globais de segurança alimentar.

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi (Democrata), chamou repetidamente o presidente russo Vladimir Putin de “covarde” nesta terça-feira e descreveu o pacote de ajuda como “um ato de misericórdia”. Ela classificou a guerra na Ucrânia como algo crucial para o futuro da democracia do mundo.

Presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi (no centro), ao lado de outros membros do Congresso durante coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10. Câmara aprovou ajuda militar a Ucrânia e EUA aguarda aprovação do Senado para envio de recursos Foto: AP / AP

“Todos devemos estar muito orgulhosos por termos tido a chance de estar lá para ajuda quando Putin decidiu – o que quer que ele tenha decidido – ser brutal, cruel e covarde”, disse Pelosi. “É sobre democracia versus ditadura. A democracia deve prevalecer. O povo ucraniano luta pela sua democracia e, ao fazê-lo, pela nossa também”.

O secretário de Estado dos EUA Antony Blinken e o secretário de Defesa Lloyd Austin pediram em uma carta aberta aos parlamentares que aprovem a medida. “A capacidade de recorrer aos estoques existentes [do Departamento de Defesa] tem sido uma ferramenta crítica em nossos esforços para apoiar os ucranianos em sua luta contra a agressão russa”, diz a carta. “Resumindo, precisamos da ajuda de vocês.”

A ajuda para a Ucrânia até agora atraiu apoio bipartidário, incluindo uma votação da Câmara de 417 a 10 para aprovar um projeto de lei de empréstimo-arrendamento que acelera o envio de armas para a Ucrânia – uma medida que Biden sancionou na segunda-feira, 9.

Isso ocorre no momento em que os Estados Unidos se junta à União Europeia e ao Reino Unido ao culpar a Rússia por um ataque cibernético no final de fevereiro que paralisou a Viasat, empresa de Internet via satélite com sede nos EUA. O ataque interrompeu o serviço de dezenas de milhares de modems via satélite na Ucrânia e em outros países europeus apenas uma hora antes do início da invasão. Os Estados Unidos não haviam atribuído culpa pelo ataque inicialmente.

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Em Zaporizhzhia, um grupo de pessoas retirado da usina de Azovstal, em Mariupol, respiram um pouco mais aliviados.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, disse nesta terça-feira que os objetivos do país estão “evoluindo” à medida que a guerra se arrasta. Ele indicou que o apoio externo poderia ajudar o país não apenas a repelir a invasão, mas também a recuperar territórios - como a Crimeia, controlada pelas forças russas em 2014.

“Nos primeiros meses da guerra, a vitória para nós parecia a retirada das forças russas para as posições que ocupavam antes de 24 de fevereiro”, disse Kuleba. “Agora, se formos fortes o suficiente na frente militar e vencermos a batalha de Donbas, que será crucial para a dinâmica seguinte da guerra, é claro que a vitória para nós será a libertação do resto de nossos territórios.”

Um funcionário do alto escalão inteligência dos EUA disse que entre 8 e 10 generais russos foram mortos enquanto lutavam na Ucrânia – um número incomum e alto para um conflito que tem menos de três meses.

O número se deve em parte ao papel atípico que os líderes militares russos estão desempenhando no campo de batalha, avaliou o tenente-general americano Scott Berrier, diretor da Agência de Inteligência de Defesa, ao Comitê de Serviços Armados do Senado. Em vez de comandar forças de longe, disse Berrier, os generais de Moscou tiveram que viajar para o front para garantir que as ordens fossem cumpridas.

Mas a Ucrânia enfrenta uma batalha difícil sobre cidades que foram destruídas e ainda estão sendo atacadas pela Rússia.

Ataques russos continuam em Odessa e em Mariupol

As tropas russas iniciaram um novo ataque a cidades no sul e leste da Ucrânia nesta semana, incluindo bombardeios na cidade portuária de Odessa, no sul, com mísseis hipersônicos disparados da Crimeia, segundo autoridades ucranianas. Imagens desta terça-feira mostraram bombeiros vasculhando escombros em busca de sobreviventes após os ataques, que atingiram um armazém, um shopping center e uma infraestrutura turística, segundo a administração militar regional ucraniana.

Capturar Odessa, uma cidade portuária no Mar Negro, seria uma grande vitória estratégica para Moscou, embora o Pentágono avalie que as forças russas não têm atualmente a capacidade de lançar ofensivas terrestres ou marítimas na região.

Civis andam em destroços de shopping destruído por bombardeio russo na cidade de Odessa, na Ucrânia, nesta terça-feira, 10 Foto: Igor Tkachenko
/Reuters

A leste de Odessa, mais de 100 civis e 1 mil combatentes seguem escondidos na usina siderúrgica Azovstal de Mariupol, que está sendo bombardeada frequentemente por tropas russas, de acordo com uma autoridade local. “Artilharia pesada e aeronaves continuaram a atacar a fábrica durante todo o dia. As tentativas de invadir o terreno continuam falhando”, escreveu no Telegram Petro Andriushchenko, assessor do prefeito de Mariupol, nesta terça-feira.

Autoridades ucranianas disseram no sábado que um esforço de evacuação apoiado pela ONU havia retirado mais de 300 mulheres, crianças e idosos da usina, mas os combatentes dizem que os civis ainda podem estar escondidos no vasto labirinto subterrâneo do complexo.

Segundo um alto funcionário da defesa dos EUA, o equivalente a dois grupos táticos do batalhão russo permanece na cidade portuária devastada, mas que a maioria das forças foi redistribuída em outro lugar.

Ao norte de Mariupol, em Izium, autoridades ucranianas disseram que 44 corpos foram retirados dos escombros de um prédio de cinco andares destruído em um ataque russo na primeira semana de março. Oleh Siniehubov, governador da região de Kharkiv, onde Izium está localizada, disse que os esforços para procurar outros prédios destruídos pelo ataque foram prejudicados por bombardeios constantes.

Civis mortos e refugiados

A chefe da Missão de Monitoramento de Direitos Humanos da ONU na Ucrânia, Matilda Bogner, afirmou nesta terça-feira que o número real de civis mortos no conflito é provavelmente milhares maior do que o número atualmente confirmado, de 3.381. Os combates nos grandes centros urbanos do sul do país dificultam as investigações sobre o verdadeiro preço da guerra.

“A grande incógnita é realmente Mariupol, onde tem sido difícil acessar totalmente e obter informações corretas”, disse Bogner. Autoridades ucranianas de Mariupol estimaram que cerca de 20 mil civis morreram no bombardeio da cidade pela Rússia.

Bogner também disse que a missão da ONU “recebeu informações confiáveis sobre tortura, maus-tratos e detenção incomunicável” de prisioneiros de guerra russos por forças ucranianas. As informações incluem vídeos online que parecem mostrar tratamento desumano e humilhação, incluindo declarações coagidas e desculpas. “Embora a escala seja significativamente maior do lado das alegações contra as forças russas, também estamos documentando violações das forças ucranianas”, disse ela.

Refugiados ucranianos de Mariupol aguardam saída da cidade dentro de ônibus da ONU Foto: Gleb Garanich/Reuters

Um relatório separado da Organização Internacional para as Migrações da ONU disse na segunda-feira que mais de 8 milhões de ucranianos foram deslocados internamente pelos combates, um aumento de 24% desde meados de março. O documento afirma que há uma “necessidade esmagadora” de ajuda financeira e abrigo para aqueles que fogem de suas casas para outras partes da Ucrânia, e que as tensões cortaram o acesso a algumas pessoas em extrema necessidade.

Milhões de outros ucranianos fugiram do país nos últimos meses, no que se tornou a maior migração de humanos na Europa desde a 2ª Guerra. A grande maioria deles são mulheres e crianças. Organizações antitráfico dizem que o risco de serem vítimas de tráfico de humanos aumenta à medida que a guerra se arrasta.

“Aqueles que fugiram sozinhos, sem parentes ou contatos em países vizinhos, correm um risco significativamente maior, pois precisam confiar em pessoas que não conhecem”, disse Suzanne Hoff, coordenadora do La Strada International, um consórcio de organizações antitráfico sediado em Amsterdã que divulgaram um relatório na terça-feira sobre os perigos que os refugiados enfrentam por grupos de tráfico, incluindo trabalho e abuso sexual.

WASHINGTON - O Congresso dos Estados Unidos está próximo de aprovar cerca de US$ 40 bilhões em ajuda militar e humanitária adicional para a Ucrânia. O valor supera o pedido de US$ 33 bilhões do presidente americano Joe Biden e reforça o governo de Kiev, enquanto Moscou segue com planos de anexar áreas do sul e leste do país.

A Câmara aprovou a proposta nesta terça-feira, 10, com uma votação de 368 a 57. O Senado deve fazer o mesmo ainda nesta semana. A aprovação da medida aumenta o total da ajuda ucraniana fornecida pelos EUA desde o início da invasão no dia 24 de fevereiro. O valor chegaria a mais de US$ 53 bilhões.

O projeto inclui quase US$ 15 bilhões destinados a equipamentos militares, treinamento, apoio de inteligência e salários das forças de defesa ucranianas. Outros US$ 14 bilhões seriam alocados para apoio não militar, incluindo ajuda humanitária, e outros US$ 5 bilhões tratariam de questões globais de segurança alimentar.

A presidente da Câmara, Nancy Pelosi (Democrata), chamou repetidamente o presidente russo Vladimir Putin de “covarde” nesta terça-feira e descreveu o pacote de ajuda como “um ato de misericórdia”. Ela classificou a guerra na Ucrânia como algo crucial para o futuro da democracia do mundo.

Presidente da Câmara dos EUA, Nancy Pelosi (no centro), ao lado de outros membros do Congresso durante coletiva de imprensa nesta terça-feira, 10. Câmara aprovou ajuda militar a Ucrânia e EUA aguarda aprovação do Senado para envio de recursos Foto: AP / AP

“Todos devemos estar muito orgulhosos por termos tido a chance de estar lá para ajuda quando Putin decidiu – o que quer que ele tenha decidido – ser brutal, cruel e covarde”, disse Pelosi. “É sobre democracia versus ditadura. A democracia deve prevalecer. O povo ucraniano luta pela sua democracia e, ao fazê-lo, pela nossa também”.

O secretário de Estado dos EUA Antony Blinken e o secretário de Defesa Lloyd Austin pediram em uma carta aberta aos parlamentares que aprovem a medida. “A capacidade de recorrer aos estoques existentes [do Departamento de Defesa] tem sido uma ferramenta crítica em nossos esforços para apoiar os ucranianos em sua luta contra a agressão russa”, diz a carta. “Resumindo, precisamos da ajuda de vocês.”

A ajuda para a Ucrânia até agora atraiu apoio bipartidário, incluindo uma votação da Câmara de 417 a 10 para aprovar um projeto de lei de empréstimo-arrendamento que acelera o envio de armas para a Ucrânia – uma medida que Biden sancionou na segunda-feira, 9.

Isso ocorre no momento em que os Estados Unidos se junta à União Europeia e ao Reino Unido ao culpar a Rússia por um ataque cibernético no final de fevereiro que paralisou a Viasat, empresa de Internet via satélite com sede nos EUA. O ataque interrompeu o serviço de dezenas de milhares de modems via satélite na Ucrânia e em outros países europeus apenas uma hora antes do início da invasão. Os Estados Unidos não haviam atribuído culpa pelo ataque inicialmente.

Seu navegador não suporta esse video.

Em Zaporizhzhia, um grupo de pessoas retirado da usina de Azovstal, em Mariupol, respiram um pouco mais aliviados.

O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmitro Kuleba, disse nesta terça-feira que os objetivos do país estão “evoluindo” à medida que a guerra se arrasta. Ele indicou que o apoio externo poderia ajudar o país não apenas a repelir a invasão, mas também a recuperar territórios - como a Crimeia, controlada pelas forças russas em 2014.

“Nos primeiros meses da guerra, a vitória para nós parecia a retirada das forças russas para as posições que ocupavam antes de 24 de fevereiro”, disse Kuleba. “Agora, se formos fortes o suficiente na frente militar e vencermos a batalha de Donbas, que será crucial para a dinâmica seguinte da guerra, é claro que a vitória para nós será a libertação do resto de nossos territórios.”

Um funcionário do alto escalão inteligência dos EUA disse que entre 8 e 10 generais russos foram mortos enquanto lutavam na Ucrânia – um número incomum e alto para um conflito que tem menos de três meses.

O número se deve em parte ao papel atípico que os líderes militares russos estão desempenhando no campo de batalha, avaliou o tenente-general americano Scott Berrier, diretor da Agência de Inteligência de Defesa, ao Comitê de Serviços Armados do Senado. Em vez de comandar forças de longe, disse Berrier, os generais de Moscou tiveram que viajar para o front para garantir que as ordens fossem cumpridas.

Mas a Ucrânia enfrenta uma batalha difícil sobre cidades que foram destruídas e ainda estão sendo atacadas pela Rússia.

Ataques russos continuam em Odessa e em Mariupol

As tropas russas iniciaram um novo ataque a cidades no sul e leste da Ucrânia nesta semana, incluindo bombardeios na cidade portuária de Odessa, no sul, com mísseis hipersônicos disparados da Crimeia, segundo autoridades ucranianas. Imagens desta terça-feira mostraram bombeiros vasculhando escombros em busca de sobreviventes após os ataques, que atingiram um armazém, um shopping center e uma infraestrutura turística, segundo a administração militar regional ucraniana.

Capturar Odessa, uma cidade portuária no Mar Negro, seria uma grande vitória estratégica para Moscou, embora o Pentágono avalie que as forças russas não têm atualmente a capacidade de lançar ofensivas terrestres ou marítimas na região.

Civis andam em destroços de shopping destruído por bombardeio russo na cidade de Odessa, na Ucrânia, nesta terça-feira, 10 Foto: Igor Tkachenko
/Reuters

A leste de Odessa, mais de 100 civis e 1 mil combatentes seguem escondidos na usina siderúrgica Azovstal de Mariupol, que está sendo bombardeada frequentemente por tropas russas, de acordo com uma autoridade local. “Artilharia pesada e aeronaves continuaram a atacar a fábrica durante todo o dia. As tentativas de invadir o terreno continuam falhando”, escreveu no Telegram Petro Andriushchenko, assessor do prefeito de Mariupol, nesta terça-feira.

Autoridades ucranianas disseram no sábado que um esforço de evacuação apoiado pela ONU havia retirado mais de 300 mulheres, crianças e idosos da usina, mas os combatentes dizem que os civis ainda podem estar escondidos no vasto labirinto subterrâneo do complexo.

Segundo um alto funcionário da defesa dos EUA, o equivalente a dois grupos táticos do batalhão russo permanece na cidade portuária devastada, mas que a maioria das forças foi redistribuída em outro lugar.

Ao norte de Mariupol, em Izium, autoridades ucranianas disseram que 44 corpos foram retirados dos escombros de um prédio de cinco andares destruído em um ataque russo na primeira semana de março. Oleh Siniehubov, governador da região de Kharkiv, onde Izium está localizada, disse que os esforços para procurar outros prédios destruídos pelo ataque foram prejudicados por bombardeios constantes.

Civis mortos e refugiados

A chefe da Missão de Monitoramento de Direitos Humanos da ONU na Ucrânia, Matilda Bogner, afirmou nesta terça-feira que o número real de civis mortos no conflito é provavelmente milhares maior do que o número atualmente confirmado, de 3.381. Os combates nos grandes centros urbanos do sul do país dificultam as investigações sobre o verdadeiro preço da guerra.

“A grande incógnita é realmente Mariupol, onde tem sido difícil acessar totalmente e obter informações corretas”, disse Bogner. Autoridades ucranianas de Mariupol estimaram que cerca de 20 mil civis morreram no bombardeio da cidade pela Rússia.

Bogner também disse que a missão da ONU “recebeu informações confiáveis sobre tortura, maus-tratos e detenção incomunicável” de prisioneiros de guerra russos por forças ucranianas. As informações incluem vídeos online que parecem mostrar tratamento desumano e humilhação, incluindo declarações coagidas e desculpas. “Embora a escala seja significativamente maior do lado das alegações contra as forças russas, também estamos documentando violações das forças ucranianas”, disse ela.

Refugiados ucranianos de Mariupol aguardam saída da cidade dentro de ônibus da ONU Foto: Gleb Garanich/Reuters

Um relatório separado da Organização Internacional para as Migrações da ONU disse na segunda-feira que mais de 8 milhões de ucranianos foram deslocados internamente pelos combates, um aumento de 24% desde meados de março. O documento afirma que há uma “necessidade esmagadora” de ajuda financeira e abrigo para aqueles que fogem de suas casas para outras partes da Ucrânia, e que as tensões cortaram o acesso a algumas pessoas em extrema necessidade.

Milhões de outros ucranianos fugiram do país nos últimos meses, no que se tornou a maior migração de humanos na Europa desde a 2ª Guerra. A grande maioria deles são mulheres e crianças. Organizações antitráfico dizem que o risco de serem vítimas de tráfico de humanos aumenta à medida que a guerra se arrasta.

“Aqueles que fugiram sozinhos, sem parentes ou contatos em países vizinhos, correm um risco significativamente maior, pois precisam confiar em pessoas que não conhecem”, disse Suzanne Hoff, coordenadora do La Strada International, um consórcio de organizações antitráfico sediado em Amsterdã que divulgaram um relatório na terça-feira sobre os perigos que os refugiados enfrentam por grupos de tráfico, incluindo trabalho e abuso sexual.

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