Os quatro principais líderes do Congresso dos Estados Unidos convidaram formalmente o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, para discursar em uma sessão conjunta do Congresso, em uma demonstração de unidade bipartidária que mascarou um debate tenso nos bastidores sobre recebê-lo. O convite foi feito na sexta-feira, 31, mas a data do discurso ainda não foi definida.
No sábado 1.º, o primeiro-ministro israelense anunciou o aceite do convite. “Estou muito emocionado por ter o privilégio de representar Israel perante as duas Casas do Congresso e apresentar a verdade sobre nossa guerra justa contra aqueles que buscam nos destruir aos representantes do povo americano e do mundo inteiro”, disse o político em comunicado.
Netanyahu vai discursar no Congresso em meio a profundas divisões políticas nos Estados Unidos sobre a guerra entre Israel e o grupo terrorista Hamas e a operação militar israelense em Rafah, cidade no sul do enclave palestino.
O presidente da Câmara dos Deputados, o republicano Mike Johnson, vinha pressionando há semanas para fazer o convite, procurando se aproximar do primeiro-ministro, já que alguns democratas, especialmente os progressistas, o repudiam e condenam suas táticas na guerra em Gaza.
Oposição democrata
Os republicanos apoiaram inequivocamente as políticas de Netanyahu, enquanto os democratas, muitos dos quais veem o seu governo de extrema-direita como um obstáculo à paz, estão profundamente divididos em relação a elas. Na sexta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, apelou para que Israel e o grupo terrorista Hamas concordassem com um cessar-fogo permanente e disse: “É hora de esta guerra acabar”.
O senador Chuck Schumer, democrata de Nova York e líder da maioria, apelou no início deste ano à renúncia de Netanyahu e à realização de novas eleições em Israel. Em resposta, Netanyahu atacou Schumer em um discurso virtual a portas fechadas para os republicanos do Senado. Na época, Schumer se recusou a permitir que Netanyahu fizesse um discurso semelhante aos democratas do Senado, argumentando que não era útil para Israel que o primeiro-ministro se dirigisse aos legisladores americanos de forma partidária.
Mesmo antes de o convite ser enviado, na tarde de sexta-feira, a perspectiva da visita de Netanyahu ao Capitólio dividiu os democratas. O senador Bernie Sanders, de Vermont, disse que boicotaria um discurso do primeiro-ministro, e os progressistas da Câmara afirmaram que planejariam algum tipo de gesto para registrar a sua oposição ao governo de Netanyahu e à sua presença no Capitólio.
A ex-presidente da Câmara, Nancy Pelosi, disse que Schumer não deveria adicionar seu nome ao convite.
Mas, na sexta-feira, Schumer, junto com o congressista Hakeem Jeffries, de Nova York, o líder da minoria democrata da Câmara, o senador Mitch McConnell do Kentucky, o líder da minoria republicana no Senado, e o presidente da Camara, Mike Johnson, realizaram o convite para o primeiro-ministro israelense.
“Os desafios existenciais que enfrentamos, incluindo a crescente parceria entre o Irã, Rússia e China, ameaçam a segurança, a paz e a prosperidade dos nossos países e do mundo livre”, escreveram os quatro líderes na carta. “Para desenvolver a nossa relação duradoura e destacar a solidariedade dos Estados Unidos com Israel, gostaríamos de convidá-lo a compartilhar a visão do governo israelense para defender a democracia, combater o terrorismo e estabelecer uma paz justa e duradoura na região.”
A falta de data é incomum para um convite a um líder estrangeiro. Netanyahu discursou pela última vez no Congresso em 2015, durante uma reunião conjunta mais formal, na qual questionou, perante membros da Câmara e do Senado, as políticas do então presidente americano, o democrata Barack Obama, relacionadas a um acordo nuclear com o Irã. Na época, 58 parlamentares boicotaram o discurso.
O novo convite faz parte de uma campanha de semanas que os republicanos da Câmara empreenderam para destacar as divisões democratas em relação a Israel, ao mesmo tempo que retratam o seu próprio partido como leais e pró-Tel-Aviv.
Saiba mais
Grupos progressistas consideraram a medida vergonhosa. Em um comunicado, Eva Borgwardt, porta-voz do IfNotNow, um grupo judeu de esquerda que protestou contra a guerra, afirmou que todos os quatro líderes do Congresso “serão para sempre lembrados como os líderes que convidaram o criminoso de guerra Binyamin Netanyahu para fazer um discurso no Congresso no meio do ataque genocida de Israel a Gaza, dias depois de ele ter cruzado a linha vermelha do presidente Biden na invasão de Rafah”.
Cessar-fogo
O convite a Netanyahu ocorreu no mesmo dia em que Biden anunciou que o governo de Israel tem uma proposta permanente de cessar-fogo em Gaza e endossou o plano, que conta com a retirada das tropas do território palestino e uma proposta de libertação de reféns nas mãos do grupo terrorista Hamas.
Segundo o democrata, este é um “momento decisivo”, já que o grupo terrorista sinalizou que quer uma trégua da guerra, e que o acordo seria uma oportunidade de eles provarem que realmente o querem. Como apresentado por Biden, a proposta israelense seria dividida em três fases: primeiro, um cessar-fogo de seis semanas; em seguida, a retirada das tropas de Israel do território palestino em Gaza; por fim, a troca de idosos e mulheres reféns pela libertação de prisioneiros. No entanto, ele afirmou que ainda existem detalhes a serem negociados na próxima fase.
“Desde que o Hamas cumpra os seus compromissos, um cessar-fogo temporário se tornará, nas palavras da proposta israelense, uma cessação permanente das hostilidades”, disse Biden. / Com NYT