Conheça o museu dos tanques, mais popular que o Metropolitan e o MoMA no YouTube; assista


Apenas poucas centenas de milhares de pessoas visitam O Museu do Tanque, na região rural da Inglaterra; mas no YouTube, a instituição tem mais de 100 milhões de visualizações

Por Alex Marshall*

THE NEW YORK TIMES - O Museu do Tanque, em Bovington, Inglaterra, não figura normalmente entre os grandes museus do mundo. Localizado próximo a uma base militar numa serena região rural, sua coleção de aproximadamente 300 veículos blindados não atrai mais do que algumas centenas de milhares de visitantes ao ano, principalmente famílias pegas de surpresa por chuvas em suas férias na praia.

Mas há um lugar em que O Museu do Tanque não apenas figura entre os maiores museus do mundo, mas os supera: o YouTube. O canal do Museu do Tanque tem mais de 550 mil assinantes — superando o MoMA  (519 mil), o Metropolitan (380 mil) e o Louvre (106 mil).

Em abril, O Museu do Tanque anunciou que se tornou o primeiro museu do mundo a obter mais de 100 milhões de visualizações no YouTube, com vídeos semanais que incluíram discussões detalhadas sobre a história dos tanques, comentários dos curadores a respeito de suas máquinas de guerra favoritas e vídeos noticiosos relatando os modos que os veículos blindados estão sendo usados na Ucrânia.

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Chris Copson, um dos apresentadores de vídeo que faz conteúdo para o Tank Museum em Bovington, Inglaterra. Foto: Sam Bush/The New York T

O sucesso do canal tem agradado — e ocasionalmente deixado perplexa — a equipe do museu. David Willey, um dos curadores que apresenta clipes do museu no YouTube, afirmou que certa vez produziu um vídeo de 80 minutos sobre a Batalha de Arras, um confronto da 2.ª Guerra no norte da França, e se surpreendeu com o sucesso. “Era só um cara sem graça falando na tela, e agora o vídeo tem mais de 800 mil visualizações”, afirmou Willey.

O mundo dos museus está tomando nota, pelo menos no Reino Unido. “Eles mudaram o jogo”, afirmou Jack Yates, diretor de comunicação do museu militar Royal Armories, que também tem presença grande no YouTube. O sucesso do Museu do Tanque foi “não apenas em criar conteúdo sobre sua coleção e alcançar audiências massivas, mas também em monetizar isso”, acrescentou ele.

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Fundado em 1923 e aberto originalmente apenas para militares, O Museu do Tanque tem uma coleção que inclui artefatos significativos, como o primeiro tanque do mundo, apelidado de “Little Willie”, e a única unidade em funcionamento do temido Tiger 1, um veículo alemão usado na 2.ª Guerra; assim como curiosidades incluindo um tanque branco que pertenceu às Nações Unidas.

O diretor de marketing do Museu do Tanque, Nik Wyness, disse que sua jornada no YouTube começou com um desejo de divulgar a instituição. Estar localizado “em uma base militar anteriormente secreta no meio do nada” dificultava atrair visitantes, afirmou ele.

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Início

As primeiras experiências foram com clipes destinados a arrecadar fundos e vídeos curtos, com objetivo de atrair atenção dos meios de imprensa. Então, em 2015, o canal do Museu do Tanque começou a publicar uma série chamada “Tank Chats”, na qual o historiador militar David Fletcher mostrava os veículos do museu e falava a respeito de sua história e importância — por vezes analisando em profundo detalhe esteiras e sistemas de motorização dos tanques. Esses vídeos eram simples, filmados em uma única tomada, afirmou Wyness, mas logo decolaram, encontrando público entre veteranos de forças armadas e joviais jogadores de World of Tanks, um game online extremamente popular.

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Hoje, O Museu do Tanque mantém dez funcionários trabalhando em sua produção para o YouTube, e seus astutos vídeos lembram minidocumentários. Normalmente exibem imagens de arquivo de tanques em ação e às vezes sequências sobre mecânica que explicam o funcionamento dos veículos.

Filmar em um museu tem dificuldades próprias. Numa manhã recente, o apresentador  Chris Copson falava à câmera sobre o veículo Mark I, usado na primeira batalha entre tanques, na 1.ª Guerra, quando o museu abriu as portas. Copson seguiu falando enquanto várias famílias circulavam no fundo da imagem e áudios de batalhas começaram a soar nos alto-falantes do museu.

A entrada principal do Museu do Tanque. O museu atrai algumas centenas de milhares de visitantes por ano Foto: Sam Bush/The NY Times
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Aquela equipe de filmagem, que incluía outros quatro membros operando câmeras e luzes, logo decidiu que seria mais fácil gravar dentro do tanque, e Copson entrou no enferrujado Mark I e continuou, gravando um segmento que incluiu uma discussão sobre as duras condições que os militares teriam experimentado dentro do veículo.

“Nós temos mesmo que admirar a bravura e a tenacidade dos caras que trabalharam nessas condições”, afirmou ele.

A popularidade dos vídeos do Museu do Tanque rendeu aos apresentadores um gostinho da vida de influenciador digital — positivo e negativo. Willey, o curador, disse que às vezes as pessoas lhe pedem selfies ou autógrafos. Menos amavelmente, acrescentou ele “bots russos” parecem ter como alvo vídeos do museu sobre o uso de tanques na Ucrânia, disseminando vídeos com comentários negativos.

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Num momento em que muitos museus no Reino Unido enfrentam dificuldades para lidar com a inflação e os subsídios do governo em queda, Wyness afirmou que os clipes no YouTube têm se provado um trunfo nas finanças. No ano passado, o museu gerou um terço de sua renda online, afirmou ele, incluindo com assinantes pagando por acesso antecipado a vídeos e vendas de mercadorias de uma loja online. Parte dos cerca de US$ 2,5 milhões levantados na internet foi usada para contratar Copson como apresentador em tempo integral e Paul Famojuro, um ex-guia do museu, para coordenar o canal da instituição no TikTok. O museu também publicou livros históricos sobre tanques antigos, afirmou Wyness.

Willey afirmou que, graças ao YouTube, está ensinando mais gente a respeito de tanques do que jamais esperou. Mas no fim das contas ele quer é ver mais gente dentro do museu. “Enquanto curador”, afirmou ele, “o que eu mais gosto é ver a cara de admiração das pessoas quando elas nos visitam pela primeira vez, ficam diante de um tanque e dizem, ‘Olha o tamanho dessa coisa!’”. Foi essa sua reação em sua primeira visita a Bovington, aos 6 anos, mais de meio século atrás, afirmou ele.

Willey deixou, então, a entrevista no café do museu e se dirigia para seu escritório quando Kenneth Beynon, de 74 anos, um militar aposentado da Força Aérea dos Estados Unidos, vindo de Chicago, o chamou: “Ei! Você não é aquele cara do YouTube?”. Willey sorriu, e por alguns minutos a dupla conversou sobre tanques. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

* Alex Marshall foi enviado a Bovington, Inglaterra. Seu algoritmo no YouTube está atualmente dominado por tanques

THE NEW YORK TIMES - O Museu do Tanque, em Bovington, Inglaterra, não figura normalmente entre os grandes museus do mundo. Localizado próximo a uma base militar numa serena região rural, sua coleção de aproximadamente 300 veículos blindados não atrai mais do que algumas centenas de milhares de visitantes ao ano, principalmente famílias pegas de surpresa por chuvas em suas férias na praia.

Mas há um lugar em que O Museu do Tanque não apenas figura entre os maiores museus do mundo, mas os supera: o YouTube. O canal do Museu do Tanque tem mais de 550 mil assinantes — superando o MoMA  (519 mil), o Metropolitan (380 mil) e o Louvre (106 mil).

Em abril, O Museu do Tanque anunciou que se tornou o primeiro museu do mundo a obter mais de 100 milhões de visualizações no YouTube, com vídeos semanais que incluíram discussões detalhadas sobre a história dos tanques, comentários dos curadores a respeito de suas máquinas de guerra favoritas e vídeos noticiosos relatando os modos que os veículos blindados estão sendo usados na Ucrânia.

Chris Copson, um dos apresentadores de vídeo que faz conteúdo para o Tank Museum em Bovington, Inglaterra. Foto: Sam Bush/The New York T

O sucesso do canal tem agradado — e ocasionalmente deixado perplexa — a equipe do museu. David Willey, um dos curadores que apresenta clipes do museu no YouTube, afirmou que certa vez produziu um vídeo de 80 minutos sobre a Batalha de Arras, um confronto da 2.ª Guerra no norte da França, e se surpreendeu com o sucesso. “Era só um cara sem graça falando na tela, e agora o vídeo tem mais de 800 mil visualizações”, afirmou Willey.

O mundo dos museus está tomando nota, pelo menos no Reino Unido. “Eles mudaram o jogo”, afirmou Jack Yates, diretor de comunicação do museu militar Royal Armories, que também tem presença grande no YouTube. O sucesso do Museu do Tanque foi “não apenas em criar conteúdo sobre sua coleção e alcançar audiências massivas, mas também em monetizar isso”, acrescentou ele.

Fundado em 1923 e aberto originalmente apenas para militares, O Museu do Tanque tem uma coleção que inclui artefatos significativos, como o primeiro tanque do mundo, apelidado de “Little Willie”, e a única unidade em funcionamento do temido Tiger 1, um veículo alemão usado na 2.ª Guerra; assim como curiosidades incluindo um tanque branco que pertenceu às Nações Unidas.

O diretor de marketing do Museu do Tanque, Nik Wyness, disse que sua jornada no YouTube começou com um desejo de divulgar a instituição. Estar localizado “em uma base militar anteriormente secreta no meio do nada” dificultava atrair visitantes, afirmou ele.

Início

As primeiras experiências foram com clipes destinados a arrecadar fundos e vídeos curtos, com objetivo de atrair atenção dos meios de imprensa. Então, em 2015, o canal do Museu do Tanque começou a publicar uma série chamada “Tank Chats”, na qual o historiador militar David Fletcher mostrava os veículos do museu e falava a respeito de sua história e importância — por vezes analisando em profundo detalhe esteiras e sistemas de motorização dos tanques. Esses vídeos eram simples, filmados em uma única tomada, afirmou Wyness, mas logo decolaram, encontrando público entre veteranos de forças armadas e joviais jogadores de World of Tanks, um game online extremamente popular.

Hoje, O Museu do Tanque mantém dez funcionários trabalhando em sua produção para o YouTube, e seus astutos vídeos lembram minidocumentários. Normalmente exibem imagens de arquivo de tanques em ação e às vezes sequências sobre mecânica que explicam o funcionamento dos veículos.

Filmar em um museu tem dificuldades próprias. Numa manhã recente, o apresentador  Chris Copson falava à câmera sobre o veículo Mark I, usado na primeira batalha entre tanques, na 1.ª Guerra, quando o museu abriu as portas. Copson seguiu falando enquanto várias famílias circulavam no fundo da imagem e áudios de batalhas começaram a soar nos alto-falantes do museu.

A entrada principal do Museu do Tanque. O museu atrai algumas centenas de milhares de visitantes por ano Foto: Sam Bush/The NY Times

Aquela equipe de filmagem, que incluía outros quatro membros operando câmeras e luzes, logo decidiu que seria mais fácil gravar dentro do tanque, e Copson entrou no enferrujado Mark I e continuou, gravando um segmento que incluiu uma discussão sobre as duras condições que os militares teriam experimentado dentro do veículo.

“Nós temos mesmo que admirar a bravura e a tenacidade dos caras que trabalharam nessas condições”, afirmou ele.

A popularidade dos vídeos do Museu do Tanque rendeu aos apresentadores um gostinho da vida de influenciador digital — positivo e negativo. Willey, o curador, disse que às vezes as pessoas lhe pedem selfies ou autógrafos. Menos amavelmente, acrescentou ele “bots russos” parecem ter como alvo vídeos do museu sobre o uso de tanques na Ucrânia, disseminando vídeos com comentários negativos.

Num momento em que muitos museus no Reino Unido enfrentam dificuldades para lidar com a inflação e os subsídios do governo em queda, Wyness afirmou que os clipes no YouTube têm se provado um trunfo nas finanças. No ano passado, o museu gerou um terço de sua renda online, afirmou ele, incluindo com assinantes pagando por acesso antecipado a vídeos e vendas de mercadorias de uma loja online. Parte dos cerca de US$ 2,5 milhões levantados na internet foi usada para contratar Copson como apresentador em tempo integral e Paul Famojuro, um ex-guia do museu, para coordenar o canal da instituição no TikTok. O museu também publicou livros históricos sobre tanques antigos, afirmou Wyness.

Willey afirmou que, graças ao YouTube, está ensinando mais gente a respeito de tanques do que jamais esperou. Mas no fim das contas ele quer é ver mais gente dentro do museu. “Enquanto curador”, afirmou ele, “o que eu mais gosto é ver a cara de admiração das pessoas quando elas nos visitam pela primeira vez, ficam diante de um tanque e dizem, ‘Olha o tamanho dessa coisa!’”. Foi essa sua reação em sua primeira visita a Bovington, aos 6 anos, mais de meio século atrás, afirmou ele.

Willey deixou, então, a entrevista no café do museu e se dirigia para seu escritório quando Kenneth Beynon, de 74 anos, um militar aposentado da Força Aérea dos Estados Unidos, vindo de Chicago, o chamou: “Ei! Você não é aquele cara do YouTube?”. Willey sorriu, e por alguns minutos a dupla conversou sobre tanques. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

* Alex Marshall foi enviado a Bovington, Inglaterra. Seu algoritmo no YouTube está atualmente dominado por tanques

THE NEW YORK TIMES - O Museu do Tanque, em Bovington, Inglaterra, não figura normalmente entre os grandes museus do mundo. Localizado próximo a uma base militar numa serena região rural, sua coleção de aproximadamente 300 veículos blindados não atrai mais do que algumas centenas de milhares de visitantes ao ano, principalmente famílias pegas de surpresa por chuvas em suas férias na praia.

Mas há um lugar em que O Museu do Tanque não apenas figura entre os maiores museus do mundo, mas os supera: o YouTube. O canal do Museu do Tanque tem mais de 550 mil assinantes — superando o MoMA  (519 mil), o Metropolitan (380 mil) e o Louvre (106 mil).

Em abril, O Museu do Tanque anunciou que se tornou o primeiro museu do mundo a obter mais de 100 milhões de visualizações no YouTube, com vídeos semanais que incluíram discussões detalhadas sobre a história dos tanques, comentários dos curadores a respeito de suas máquinas de guerra favoritas e vídeos noticiosos relatando os modos que os veículos blindados estão sendo usados na Ucrânia.

Chris Copson, um dos apresentadores de vídeo que faz conteúdo para o Tank Museum em Bovington, Inglaterra. Foto: Sam Bush/The New York T

O sucesso do canal tem agradado — e ocasionalmente deixado perplexa — a equipe do museu. David Willey, um dos curadores que apresenta clipes do museu no YouTube, afirmou que certa vez produziu um vídeo de 80 minutos sobre a Batalha de Arras, um confronto da 2.ª Guerra no norte da França, e se surpreendeu com o sucesso. “Era só um cara sem graça falando na tela, e agora o vídeo tem mais de 800 mil visualizações”, afirmou Willey.

O mundo dos museus está tomando nota, pelo menos no Reino Unido. “Eles mudaram o jogo”, afirmou Jack Yates, diretor de comunicação do museu militar Royal Armories, que também tem presença grande no YouTube. O sucesso do Museu do Tanque foi “não apenas em criar conteúdo sobre sua coleção e alcançar audiências massivas, mas também em monetizar isso”, acrescentou ele.

Fundado em 1923 e aberto originalmente apenas para militares, O Museu do Tanque tem uma coleção que inclui artefatos significativos, como o primeiro tanque do mundo, apelidado de “Little Willie”, e a única unidade em funcionamento do temido Tiger 1, um veículo alemão usado na 2.ª Guerra; assim como curiosidades incluindo um tanque branco que pertenceu às Nações Unidas.

O diretor de marketing do Museu do Tanque, Nik Wyness, disse que sua jornada no YouTube começou com um desejo de divulgar a instituição. Estar localizado “em uma base militar anteriormente secreta no meio do nada” dificultava atrair visitantes, afirmou ele.

Início

As primeiras experiências foram com clipes destinados a arrecadar fundos e vídeos curtos, com objetivo de atrair atenção dos meios de imprensa. Então, em 2015, o canal do Museu do Tanque começou a publicar uma série chamada “Tank Chats”, na qual o historiador militar David Fletcher mostrava os veículos do museu e falava a respeito de sua história e importância — por vezes analisando em profundo detalhe esteiras e sistemas de motorização dos tanques. Esses vídeos eram simples, filmados em uma única tomada, afirmou Wyness, mas logo decolaram, encontrando público entre veteranos de forças armadas e joviais jogadores de World of Tanks, um game online extremamente popular.

Hoje, O Museu do Tanque mantém dez funcionários trabalhando em sua produção para o YouTube, e seus astutos vídeos lembram minidocumentários. Normalmente exibem imagens de arquivo de tanques em ação e às vezes sequências sobre mecânica que explicam o funcionamento dos veículos.

Filmar em um museu tem dificuldades próprias. Numa manhã recente, o apresentador  Chris Copson falava à câmera sobre o veículo Mark I, usado na primeira batalha entre tanques, na 1.ª Guerra, quando o museu abriu as portas. Copson seguiu falando enquanto várias famílias circulavam no fundo da imagem e áudios de batalhas começaram a soar nos alto-falantes do museu.

A entrada principal do Museu do Tanque. O museu atrai algumas centenas de milhares de visitantes por ano Foto: Sam Bush/The NY Times

Aquela equipe de filmagem, que incluía outros quatro membros operando câmeras e luzes, logo decidiu que seria mais fácil gravar dentro do tanque, e Copson entrou no enferrujado Mark I e continuou, gravando um segmento que incluiu uma discussão sobre as duras condições que os militares teriam experimentado dentro do veículo.

“Nós temos mesmo que admirar a bravura e a tenacidade dos caras que trabalharam nessas condições”, afirmou ele.

A popularidade dos vídeos do Museu do Tanque rendeu aos apresentadores um gostinho da vida de influenciador digital — positivo e negativo. Willey, o curador, disse que às vezes as pessoas lhe pedem selfies ou autógrafos. Menos amavelmente, acrescentou ele “bots russos” parecem ter como alvo vídeos do museu sobre o uso de tanques na Ucrânia, disseminando vídeos com comentários negativos.

Num momento em que muitos museus no Reino Unido enfrentam dificuldades para lidar com a inflação e os subsídios do governo em queda, Wyness afirmou que os clipes no YouTube têm se provado um trunfo nas finanças. No ano passado, o museu gerou um terço de sua renda online, afirmou ele, incluindo com assinantes pagando por acesso antecipado a vídeos e vendas de mercadorias de uma loja online. Parte dos cerca de US$ 2,5 milhões levantados na internet foi usada para contratar Copson como apresentador em tempo integral e Paul Famojuro, um ex-guia do museu, para coordenar o canal da instituição no TikTok. O museu também publicou livros históricos sobre tanques antigos, afirmou Wyness.

Willey afirmou que, graças ao YouTube, está ensinando mais gente a respeito de tanques do que jamais esperou. Mas no fim das contas ele quer é ver mais gente dentro do museu. “Enquanto curador”, afirmou ele, “o que eu mais gosto é ver a cara de admiração das pessoas quando elas nos visitam pela primeira vez, ficam diante de um tanque e dizem, ‘Olha o tamanho dessa coisa!’”. Foi essa sua reação em sua primeira visita a Bovington, aos 6 anos, mais de meio século atrás, afirmou ele.

Willey deixou, então, a entrevista no café do museu e se dirigia para seu escritório quando Kenneth Beynon, de 74 anos, um militar aposentado da Força Aérea dos Estados Unidos, vindo de Chicago, o chamou: “Ei! Você não é aquele cara do YouTube?”. Willey sorriu, e por alguns minutos a dupla conversou sobre tanques. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

* Alex Marshall foi enviado a Bovington, Inglaterra. Seu algoritmo no YouTube está atualmente dominado por tanques

THE NEW YORK TIMES - O Museu do Tanque, em Bovington, Inglaterra, não figura normalmente entre os grandes museus do mundo. Localizado próximo a uma base militar numa serena região rural, sua coleção de aproximadamente 300 veículos blindados não atrai mais do que algumas centenas de milhares de visitantes ao ano, principalmente famílias pegas de surpresa por chuvas em suas férias na praia.

Mas há um lugar em que O Museu do Tanque não apenas figura entre os maiores museus do mundo, mas os supera: o YouTube. O canal do Museu do Tanque tem mais de 550 mil assinantes — superando o MoMA  (519 mil), o Metropolitan (380 mil) e o Louvre (106 mil).

Em abril, O Museu do Tanque anunciou que se tornou o primeiro museu do mundo a obter mais de 100 milhões de visualizações no YouTube, com vídeos semanais que incluíram discussões detalhadas sobre a história dos tanques, comentários dos curadores a respeito de suas máquinas de guerra favoritas e vídeos noticiosos relatando os modos que os veículos blindados estão sendo usados na Ucrânia.

Chris Copson, um dos apresentadores de vídeo que faz conteúdo para o Tank Museum em Bovington, Inglaterra. Foto: Sam Bush/The New York T

O sucesso do canal tem agradado — e ocasionalmente deixado perplexa — a equipe do museu. David Willey, um dos curadores que apresenta clipes do museu no YouTube, afirmou que certa vez produziu um vídeo de 80 minutos sobre a Batalha de Arras, um confronto da 2.ª Guerra no norte da França, e se surpreendeu com o sucesso. “Era só um cara sem graça falando na tela, e agora o vídeo tem mais de 800 mil visualizações”, afirmou Willey.

O mundo dos museus está tomando nota, pelo menos no Reino Unido. “Eles mudaram o jogo”, afirmou Jack Yates, diretor de comunicação do museu militar Royal Armories, que também tem presença grande no YouTube. O sucesso do Museu do Tanque foi “não apenas em criar conteúdo sobre sua coleção e alcançar audiências massivas, mas também em monetizar isso”, acrescentou ele.

Fundado em 1923 e aberto originalmente apenas para militares, O Museu do Tanque tem uma coleção que inclui artefatos significativos, como o primeiro tanque do mundo, apelidado de “Little Willie”, e a única unidade em funcionamento do temido Tiger 1, um veículo alemão usado na 2.ª Guerra; assim como curiosidades incluindo um tanque branco que pertenceu às Nações Unidas.

O diretor de marketing do Museu do Tanque, Nik Wyness, disse que sua jornada no YouTube começou com um desejo de divulgar a instituição. Estar localizado “em uma base militar anteriormente secreta no meio do nada” dificultava atrair visitantes, afirmou ele.

Início

As primeiras experiências foram com clipes destinados a arrecadar fundos e vídeos curtos, com objetivo de atrair atenção dos meios de imprensa. Então, em 2015, o canal do Museu do Tanque começou a publicar uma série chamada “Tank Chats”, na qual o historiador militar David Fletcher mostrava os veículos do museu e falava a respeito de sua história e importância — por vezes analisando em profundo detalhe esteiras e sistemas de motorização dos tanques. Esses vídeos eram simples, filmados em uma única tomada, afirmou Wyness, mas logo decolaram, encontrando público entre veteranos de forças armadas e joviais jogadores de World of Tanks, um game online extremamente popular.

Hoje, O Museu do Tanque mantém dez funcionários trabalhando em sua produção para o YouTube, e seus astutos vídeos lembram minidocumentários. Normalmente exibem imagens de arquivo de tanques em ação e às vezes sequências sobre mecânica que explicam o funcionamento dos veículos.

Filmar em um museu tem dificuldades próprias. Numa manhã recente, o apresentador  Chris Copson falava à câmera sobre o veículo Mark I, usado na primeira batalha entre tanques, na 1.ª Guerra, quando o museu abriu as portas. Copson seguiu falando enquanto várias famílias circulavam no fundo da imagem e áudios de batalhas começaram a soar nos alto-falantes do museu.

A entrada principal do Museu do Tanque. O museu atrai algumas centenas de milhares de visitantes por ano Foto: Sam Bush/The NY Times

Aquela equipe de filmagem, que incluía outros quatro membros operando câmeras e luzes, logo decidiu que seria mais fácil gravar dentro do tanque, e Copson entrou no enferrujado Mark I e continuou, gravando um segmento que incluiu uma discussão sobre as duras condições que os militares teriam experimentado dentro do veículo.

“Nós temos mesmo que admirar a bravura e a tenacidade dos caras que trabalharam nessas condições”, afirmou ele.

A popularidade dos vídeos do Museu do Tanque rendeu aos apresentadores um gostinho da vida de influenciador digital — positivo e negativo. Willey, o curador, disse que às vezes as pessoas lhe pedem selfies ou autógrafos. Menos amavelmente, acrescentou ele “bots russos” parecem ter como alvo vídeos do museu sobre o uso de tanques na Ucrânia, disseminando vídeos com comentários negativos.

Num momento em que muitos museus no Reino Unido enfrentam dificuldades para lidar com a inflação e os subsídios do governo em queda, Wyness afirmou que os clipes no YouTube têm se provado um trunfo nas finanças. No ano passado, o museu gerou um terço de sua renda online, afirmou ele, incluindo com assinantes pagando por acesso antecipado a vídeos e vendas de mercadorias de uma loja online. Parte dos cerca de US$ 2,5 milhões levantados na internet foi usada para contratar Copson como apresentador em tempo integral e Paul Famojuro, um ex-guia do museu, para coordenar o canal da instituição no TikTok. O museu também publicou livros históricos sobre tanques antigos, afirmou Wyness.

Willey afirmou que, graças ao YouTube, está ensinando mais gente a respeito de tanques do que jamais esperou. Mas no fim das contas ele quer é ver mais gente dentro do museu. “Enquanto curador”, afirmou ele, “o que eu mais gosto é ver a cara de admiração das pessoas quando elas nos visitam pela primeira vez, ficam diante de um tanque e dizem, ‘Olha o tamanho dessa coisa!’”. Foi essa sua reação em sua primeira visita a Bovington, aos 6 anos, mais de meio século atrás, afirmou ele.

Willey deixou, então, a entrevista no café do museu e se dirigia para seu escritório quando Kenneth Beynon, de 74 anos, um militar aposentado da Força Aérea dos Estados Unidos, vindo de Chicago, o chamou: “Ei! Você não é aquele cara do YouTube?”. Willey sorriu, e por alguns minutos a dupla conversou sobre tanques. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

* Alex Marshall foi enviado a Bovington, Inglaterra. Seu algoritmo no YouTube está atualmente dominado por tanques

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