As contradições do projeto político do presidente Evo Morales são a principal causa para os protestos indígenas. O nacionalismo desenvolvimentista chocou-se com o indigenismo quando o governo priorizou a construção da estrada em detrimento da preservação das reservas indígenas."Evo ofereceu autonomia aos territórios indígenas, o que significa uma espécie de autogoverno para definir o que seria feito no parque, onde comunidades mantêm suas tradições, sua própria organização. O governo, entretanto, outorgou a construção da estrada dentro da reserva sem qualquer consulta aos que viviam ali", explica o especialista Roberto Laserna. "Eles entendem que seus direitos foram violados, sentem-se agredidos pelo projeto, pelo governo. Daí o surgimento da marcha". A analista política Maria Teresa Zegada aponta o choque entre as promessas pró-indígenas de Evo e suas ações concretas. "O presidente descumpriu preceitos constitucionais que ele mesmo apoiou. A violência da polícia contra os manifestantes da marcha, violando direitos humanos, também amplia a insatisfação com o governo."Ambos desqualificam as afirmações de que os protestos teriam motivação eleitoral, já que o país se prepara para sua primeira eleição popular de juízes, que ocorre no dia 16. "A chegada da marcha em La Paz perto da votação é um meio de pressão ao governo para alcançar seus objetivos", afirma Maria Teresa. / T. E.