Coronavírus mata o último libertador de Paris


Veterano da 2.ª Divisão Blindada do general Leclerc, Rafael Gómez Nieto estava entre os combatentes que tomaram a capital francesa, em 24 de agosto de 1944

Por Redação
Atualização:

Eram 20 horas do dia 24 de agosto de 1944 quando os 160 homens da 9.ª Companhia da 2.º Divisão Blindada, La Neuve, entraram em Paris. Horas antes o general alemão Dietrich von Choltitz se recusara a destruir a capital francesa, transformando-a em uma fortaleza para atrasar o avanço aliado. Entre os homens que ultrapassaram a Porte d’Italie naquela noite para libertar a capital francesa estava Rafael Gómez Nieto.  Esse republicano espanhol – assim como a maioria dos seus companheiros de esquadrão – e veterano da 2.ª Guerra Mundial tombou setenta e seis anos depois da libertação diante da covid-19.

Rafael Goméz Nieto, o último sobrevivente do esquadrão da 2.º Divisão Blindada, do general Leclerc, que libertou Paris em 1944
Rafael Goméz Nieto, o último sobrevivente do esquadrão da 2.º Divisão Blindada, do general Leclerc, que libertou Paris em 1944 Foto: TMEX

Gómez Nieto nasceu 1921 em Raquetas de Mar, na província de Almería, comunidade autônoma da Andaluzia. O sul da Espanha, que viu o desembarque da legião marroquina do general Francisco Franco, em 1936, era uma terra marcada pela divisões entre socialistas e conservadores. Filho de um militar que permaneceu fiel à república espanhola após o golpe de Estado tentado pelos generais Gonzalo Queipo de Llano, Emilio Mola, Francisco Franco e José Sanjurjo de Almería – que iniciou os três anos de guerra civil na Espanha -,Gómez foi mobilizado em 1938. Participou da batalha do Ebro, cuja derrota levaria à queda da Catalunha, selando a vitória nacionalista.

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Em janeiro de 1939, acompanhados de outros republicanos, cruzou os Pirineus e se refugiou na França. Depois, conseguiu autorização para ir morar com um tio em Oran, na Argélia. Em 1942, após o desembarque americano no norte da África, ele se engajou na 2.ª Divisão Blindada, que estava sendo formada no Marrocos sob o comando do general Phillipe Leclerc, herói da libertação, que enfrentara a antes o Afrika Korps, o exército do general Erwin Rommel, na Líbia e na Tunísia.

Sob o comando do capitão Raymond Dronne, Gómez desembarcou em 1.º de agosto em Utah Beach, na Normandia. Os carros de combate de seu esquadrão tinham todos nomes espanhóis: o soldado Gomez primeiro dirigiu o Guernica depois o Quixote, com o qual terminou a guerra. Durante o avanço em direção à Île-de-France, o general Leclerc, então braço-direito de Charles De Gaulle, tinha um único objetivo: libertar a capital. E foi para o capitão Dronne que Leclerc deu a ordem na tarde do dia 24 de agosto: ‘Avance direto para Paris”.

Duas seções do esquadrão de Dronne, com um grupo de engenharia e três carros de combate chegaram à sede da prefeitura da cidade, l'Hôtel de Ville, já ocupada por integrantes da resistência francesa, comandados pelo “coronel” Henry Rol-Tanguy, o comunista que chefiara o levante que enfrentava havia quatro dias os alemães na capital francesa.

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No dia seguinte. Gómez testemunharia a marcha triunfal de De Gaulle pela Avenida Champs Élysées. A cena marcaria a história da República francesa. Após quatro anos, Paris estava livre. O soldado seguiu em direção à Alemanha e participou de sua invasão, rumando até Berchtesgaden, o Ninho da Águias, o refúgio de Adolf Hitler, na Baviera. Depois da guerra, Gómez voltou a Oran. Deixou a Argélia em 1958 e foi morar em Estrasburgo, onde se tornou mecânico da Citröen. E lá permaneceu, mesmo depois da morte do ditador Franco, em 1975.

Gómez passou os últimos anos recebendo as homenagens dos franceses aos espanhóis republicanos que libertaram Paris. Com 99 anos, ele era o último sobrevivente da 9.ª Companhia. No fim de março, o velho soldado foi levado de sua casa para uma clínica em Lingolsheim, cidade vizinha de Estrasburgo. No dia de sua morte – em 30 de março –, o serviço de imprensa da sede do governo francês publicou um comunicado sobre o falecimento do combatente. O jornal Le Monde notou: “Não é comum que a presidência se manifeste sobre a morte de um simples soldado”.

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A publicação assinada presidente Emmanuel Macron disse: “O presidente da República saúda esse herói da liberdade, membro das gloriosas tropas de Leclerc”. Ao tomar conhecimento da morte do soldado Gómez, o rei Felipe VI, da Espanha, enviou telegrama de condolências à família desse andaluz que ajudou a libertar Paris dos nazistas. Anne Hidalgo, prefeita de Paris, fez o mesmo. Neta de republicanos espanhóis e integrante do Partido Socialista, Hidalgo disse sobre Gómez: "Hoje lhe presto homenagem."

Eram 20 horas do dia 24 de agosto de 1944 quando os 160 homens da 9.ª Companhia da 2.º Divisão Blindada, La Neuve, entraram em Paris. Horas antes o general alemão Dietrich von Choltitz se recusara a destruir a capital francesa, transformando-a em uma fortaleza para atrasar o avanço aliado. Entre os homens que ultrapassaram a Porte d’Italie naquela noite para libertar a capital francesa estava Rafael Gómez Nieto.  Esse republicano espanhol – assim como a maioria dos seus companheiros de esquadrão – e veterano da 2.ª Guerra Mundial tombou setenta e seis anos depois da libertação diante da covid-19.

Rafael Goméz Nieto, o último sobrevivente do esquadrão da 2.º Divisão Blindada, do general Leclerc, que libertou Paris em 1944 Foto: TMEX

Gómez Nieto nasceu 1921 em Raquetas de Mar, na província de Almería, comunidade autônoma da Andaluzia. O sul da Espanha, que viu o desembarque da legião marroquina do general Francisco Franco, em 1936, era uma terra marcada pela divisões entre socialistas e conservadores. Filho de um militar que permaneceu fiel à república espanhola após o golpe de Estado tentado pelos generais Gonzalo Queipo de Llano, Emilio Mola, Francisco Franco e José Sanjurjo de Almería – que iniciou os três anos de guerra civil na Espanha -,Gómez foi mobilizado em 1938. Participou da batalha do Ebro, cuja derrota levaria à queda da Catalunha, selando a vitória nacionalista.

Em janeiro de 1939, acompanhados de outros republicanos, cruzou os Pirineus e se refugiou na França. Depois, conseguiu autorização para ir morar com um tio em Oran, na Argélia. Em 1942, após o desembarque americano no norte da África, ele se engajou na 2.ª Divisão Blindada, que estava sendo formada no Marrocos sob o comando do general Phillipe Leclerc, herói da libertação, que enfrentara a antes o Afrika Korps, o exército do general Erwin Rommel, na Líbia e na Tunísia.

Sob o comando do capitão Raymond Dronne, Gómez desembarcou em 1.º de agosto em Utah Beach, na Normandia. Os carros de combate de seu esquadrão tinham todos nomes espanhóis: o soldado Gomez primeiro dirigiu o Guernica depois o Quixote, com o qual terminou a guerra. Durante o avanço em direção à Île-de-France, o general Leclerc, então braço-direito de Charles De Gaulle, tinha um único objetivo: libertar a capital. E foi para o capitão Dronne que Leclerc deu a ordem na tarde do dia 24 de agosto: ‘Avance direto para Paris”.

Duas seções do esquadrão de Dronne, com um grupo de engenharia e três carros de combate chegaram à sede da prefeitura da cidade, l'Hôtel de Ville, já ocupada por integrantes da resistência francesa, comandados pelo “coronel” Henry Rol-Tanguy, o comunista que chefiara o levante que enfrentava havia quatro dias os alemães na capital francesa.

No dia seguinte. Gómez testemunharia a marcha triunfal de De Gaulle pela Avenida Champs Élysées. A cena marcaria a história da República francesa. Após quatro anos, Paris estava livre. O soldado seguiu em direção à Alemanha e participou de sua invasão, rumando até Berchtesgaden, o Ninho da Águias, o refúgio de Adolf Hitler, na Baviera. Depois da guerra, Gómez voltou a Oran. Deixou a Argélia em 1958 e foi morar em Estrasburgo, onde se tornou mecânico da Citröen. E lá permaneceu, mesmo depois da morte do ditador Franco, em 1975.

Gómez passou os últimos anos recebendo as homenagens dos franceses aos espanhóis republicanos que libertaram Paris. Com 99 anos, ele era o último sobrevivente da 9.ª Companhia. No fim de março, o velho soldado foi levado de sua casa para uma clínica em Lingolsheim, cidade vizinha de Estrasburgo. No dia de sua morte – em 30 de março –, o serviço de imprensa da sede do governo francês publicou um comunicado sobre o falecimento do combatente. O jornal Le Monde notou: “Não é comum que a presidência se manifeste sobre a morte de um simples soldado”.

A publicação assinada presidente Emmanuel Macron disse: “O presidente da República saúda esse herói da liberdade, membro das gloriosas tropas de Leclerc”. Ao tomar conhecimento da morte do soldado Gómez, o rei Felipe VI, da Espanha, enviou telegrama de condolências à família desse andaluz que ajudou a libertar Paris dos nazistas. Anne Hidalgo, prefeita de Paris, fez o mesmo. Neta de republicanos espanhóis e integrante do Partido Socialista, Hidalgo disse sobre Gómez: "Hoje lhe presto homenagem."

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Eram 20 horas do dia 24 de agosto de 1944 quando os 160 homens da 9.ª Companhia da 2.º Divisão Blindada, La Neuve, entraram em Paris. Horas antes o general alemão Dietrich von Choltitz se recusara a destruir a capital francesa, transformando-a em uma fortaleza para atrasar o avanço aliado. Entre os homens que ultrapassaram a Porte d’Italie naquela noite para libertar a capital francesa estava Rafael Gómez Nieto.  Esse republicano espanhol – assim como a maioria dos seus companheiros de esquadrão – e veterano da 2.ª Guerra Mundial tombou setenta e seis anos depois da libertação diante da covid-19.

Rafael Goméz Nieto, o último sobrevivente do esquadrão da 2.º Divisão Blindada, do general Leclerc, que libertou Paris em 1944 Foto: TMEX

Gómez Nieto nasceu 1921 em Raquetas de Mar, na província de Almería, comunidade autônoma da Andaluzia. O sul da Espanha, que viu o desembarque da legião marroquina do general Francisco Franco, em 1936, era uma terra marcada pela divisões entre socialistas e conservadores. Filho de um militar que permaneceu fiel à república espanhola após o golpe de Estado tentado pelos generais Gonzalo Queipo de Llano, Emilio Mola, Francisco Franco e José Sanjurjo de Almería – que iniciou os três anos de guerra civil na Espanha -,Gómez foi mobilizado em 1938. Participou da batalha do Ebro, cuja derrota levaria à queda da Catalunha, selando a vitória nacionalista.

Em janeiro de 1939, acompanhados de outros republicanos, cruzou os Pirineus e se refugiou na França. Depois, conseguiu autorização para ir morar com um tio em Oran, na Argélia. Em 1942, após o desembarque americano no norte da África, ele se engajou na 2.ª Divisão Blindada, que estava sendo formada no Marrocos sob o comando do general Phillipe Leclerc, herói da libertação, que enfrentara a antes o Afrika Korps, o exército do general Erwin Rommel, na Líbia e na Tunísia.

Sob o comando do capitão Raymond Dronne, Gómez desembarcou em 1.º de agosto em Utah Beach, na Normandia. Os carros de combate de seu esquadrão tinham todos nomes espanhóis: o soldado Gomez primeiro dirigiu o Guernica depois o Quixote, com o qual terminou a guerra. Durante o avanço em direção à Île-de-France, o general Leclerc, então braço-direito de Charles De Gaulle, tinha um único objetivo: libertar a capital. E foi para o capitão Dronne que Leclerc deu a ordem na tarde do dia 24 de agosto: ‘Avance direto para Paris”.

Duas seções do esquadrão de Dronne, com um grupo de engenharia e três carros de combate chegaram à sede da prefeitura da cidade, l'Hôtel de Ville, já ocupada por integrantes da resistência francesa, comandados pelo “coronel” Henry Rol-Tanguy, o comunista que chefiara o levante que enfrentava havia quatro dias os alemães na capital francesa.

No dia seguinte. Gómez testemunharia a marcha triunfal de De Gaulle pela Avenida Champs Élysées. A cena marcaria a história da República francesa. Após quatro anos, Paris estava livre. O soldado seguiu em direção à Alemanha e participou de sua invasão, rumando até Berchtesgaden, o Ninho da Águias, o refúgio de Adolf Hitler, na Baviera. Depois da guerra, Gómez voltou a Oran. Deixou a Argélia em 1958 e foi morar em Estrasburgo, onde se tornou mecânico da Citröen. E lá permaneceu, mesmo depois da morte do ditador Franco, em 1975.

Gómez passou os últimos anos recebendo as homenagens dos franceses aos espanhóis republicanos que libertaram Paris. Com 99 anos, ele era o último sobrevivente da 9.ª Companhia. No fim de março, o velho soldado foi levado de sua casa para uma clínica em Lingolsheim, cidade vizinha de Estrasburgo. No dia de sua morte – em 30 de março –, o serviço de imprensa da sede do governo francês publicou um comunicado sobre o falecimento do combatente. O jornal Le Monde notou: “Não é comum que a presidência se manifeste sobre a morte de um simples soldado”.

A publicação assinada presidente Emmanuel Macron disse: “O presidente da República saúda esse herói da liberdade, membro das gloriosas tropas de Leclerc”. Ao tomar conhecimento da morte do soldado Gómez, o rei Felipe VI, da Espanha, enviou telegrama de condolências à família desse andaluz que ajudou a libertar Paris dos nazistas. Anne Hidalgo, prefeita de Paris, fez o mesmo. Neta de republicanos espanhóis e integrante do Partido Socialista, Hidalgo disse sobre Gómez: "Hoje lhe presto homenagem."