Covid na China: funerárias lotadas e fila em crematórios marcam fim da política de covid-zero


Explosão de casos após reabertura no país leva a dúvidas sobre o número real de vítimas da pandemia

Por Christian Shepherd, Lyric Li e Vic Chiang
Atualização:

O fim da política de zero tolerância com a covid na China levou a um aumento significativo das filas em hospitais e em funerárias. Com dados oficiais que não refletem a realidade, observadores internacionais realizam relatórios com base em relatos de parentes de vítimas, número de pacientes admitidos com sintoma de febre em unidades de saúde e demanda no serviço funerário.

Em Pequim, ao menos 40 carros funerários esperam para entrar em um crematório. Do lado de dentro, 20 famílias aguardam o momento da cremação ao lado de caixões. Em Chongqing, no centro da China, um hospital recebe uma dezena de novos pacientes por dia e ao menos 80% chegam são diagnosticados com covid. As cenas ao redor do país se repetem e resultam do fim da política de covid-zero.

Nos últimos dias, as casas funerárias em Pequim estiveram lotadas, com alguns funcionários relatando mortes relacionadas à covid como a causa, de acordo com relatórios do Financial Times e da Associated Press. Uma recepcionista de uma funerária no distrito de Shunyi, em Pequim, que falou sob condição de anonimato, disse ao The Washington Post que todos os oito cremadores estão operando 24 horas por dia, as caixas de congelamento de cadáveres estão cheias, e há uma lista de espera de cinco a seis dias.

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Médicos prescrevem remédios para pacientes em uma clínica em Pequim Foto: EFE/EPA/WU HAO

Vários modelos do surto atual, que começou antes de uma flexibilização inesperada das restrições do coronavírus no início de dezembro, preveem que uma onda de infecções pode matar mais de 1 milhão de chineses, colocando a China em linha com o total de mortes por covid-19 nos Estados Unidos. Uma preocupação particular é a baixa taxa de vacinação entre as populações mais velhas, com apenas 42% das pessoas com 80 anos ou mais recebendo uma dose de reforço.

Depois que as autoridades pararam de relatar casos assintomáticos, o boca a boca se tornou a principal forma de rastrear o surto. As mídias sociais da China têm mostrado um fluxo constante de resultados de testes positivos, revertendo quase três anos da maioria das pessoas na China sem experiência com o vírus. Os hospitais lotaram constantemente, mesmo quando as autoridades anunciaram medidas para aumentar a capacidade de atendimento de emergência.

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Funcionários que falaram sob a condição de anonimato por temer represálias afirmam que em diversas cidades o número de mortos disparou. Em Chongqing, cidade de 30 milhões de pessoas, o funcionário de um crematório afirmou que o número de corpos chegando ao local aumentou tanto que não havia mais espaço para guardar os cadáveres. Em Cantão, no sul da China, outro trabalhador afirmou que a média de corpos cremados por dia é superior a 30.

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Filas nos crematórios e hospitais lotados. A China sofre com as consequências da flexibilização das medidas anticovid

“É três ou quatro vezes mais que em anos anteriores, estamos cremando uns 40 cadáveres por dia, quando antes era apenas uma dezena”, disse um trabalhador da mesma região, mas de outro crematório, à agência France-Presse, acrescentando que era difícil dizer se o aumento de mortes era causado pela covid.

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O Conselho de Estado emitiu no início de dezembro orientações atualizadas sobre a classificação e notificação de mortes relacionadas à covid. Os detalhes das regras não foram divulgados, mas a respeitada publicação chinesa Caixin informou no sábado que o novo procedimento exige uma decisão tomada em um hospital e em 24 horas. Mortes consideradas não causadas diretamente por covid não contam.

Também mudou o método para considerar um indivíduo com covid. Um paciente deve apresentar “hipoxemia grave ou um nível de saturação arterial de oxigênio abaixo de 93%”, o que sugere que o indivíduo estava quase sem oxigênio.

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A atualização refletiu uma “grande mudança” na natureza das mortes por variantes recentes, disse Wang Guiqiang, consultor do governo e diretor do departamento de doenças infecciosas do Hospital da Universidade de Pequim. Wang disse que as variantes recentes raramente resultam em insuficiência respiratória. “As principais causas de morte após a infecção com a cepa ômicron são doenças subjacentes ou velhice”, disse ele durante uma coletiva de imprensa oficial na terça-feira.

Moradora realiza teste de covid-19 em rua de Xangai, na China, em imagem desta terça-feira, 20 Foto: Alex Plavevski / EFE

Além do custo para as famílias, um aumento nas mortes evitáveis seria um embaraço para o Partido Comunista Chinês, que justificou os rígidos bloqueios do coronavírus citando o grande valor que a liderança atribui a salvar todas as vidas que pudesse. As autoridades rejeitaram as críticas à abordagem restritiva, destacando quantas pessoas morreram por causa do vírus na Europa e América do Norte.

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Eles pararam de contar – muitos foram infectados e muitas pessoas morreram

Yang Linyi, morador de Chongqing

Em novembro, o governo ainda parecia determinado a usar medidas rígidas de contenção, apesar da ômicron mais transmissível tornar as medidas cada vez mais ineficazes. A raiva pelas intervenções aparentemente arbitrárias na vida cotidiana aumentou até que os protestos estouraram no final daquele mês, espalhando-se por todo o país para mais dezenas de cidades.

Mas poucos esperavam o cavalo-de-pau que fez as autoridades se moverem tão rapidamente na outra direção. Muitas famílias, temendo que hospitais e autoridades locais não estejam preparados, reagiram ao súbito alívio das restrições ao coronavírus ficando em casa e estocando remédios.

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Para combater o desconforto, as mensagens de propaganda da China deram meia-volta. As advertências sobre os perigos da infecção foram substituídas por garantias de que a infecção não é grande coisa. Na terça-feira, 20, o jornal Diário do Povo, porta-voz do Partido Comunista Chinês, publicou um artigo com a manchete: “Testei positivo. E melhorei.”

Hospitais lotados

Hospitais estão em busca de leitos e sangue, farmácias de remédios, e as autoridades estão correndo para construir clínicas especiais. Especialistas preveem que a China pode enfrentar mais de 1 milhão de mortes por covid no próximo ano.

Conectado a um tubo respiratório debaixo de várias mantas, um homem infectado com covid-19 geme em um leito no serviço de emergências de um hospital de Chongqing, no centro da China.

O vírus se espalha e as autoridades afirmam que é impossível monitorar os contágios após o abandono abrupto dos testes em massa, das restrições de viagens e dos confinamentos aplicados desde o início da pandemia.

Um paramédico do Primer Hospital Universitário Afiliado de Chongqing confirma que o idoso tem covid. Todos os dias, eles recebem uma dezena de pessoas, das quais entre 80% e 90% estão infectadas com o coronavírus.

“Muitos dos funcionários do hospital também testaram positivos, mas não temos outra opção a não ser continuar trabalhando”, diz o paramédico.

O paciente mais velho esperou meia hora para ser atendido. Em uma sala contígua, a equipe da agência France-Press viu outras seis pessoas doentes acamadas, cercadas por médicos e familiares preocupados.

A maior parte dos pacientes são pessoas de idade avançada e, segundo um médico, “basicamente” com covid. Cinco estão conectados a ventiladores e com claras dificuldades respiratórias. / AFP, AP e W.POST

O fim da política de zero tolerância com a covid na China levou a um aumento significativo das filas em hospitais e em funerárias. Com dados oficiais que não refletem a realidade, observadores internacionais realizam relatórios com base em relatos de parentes de vítimas, número de pacientes admitidos com sintoma de febre em unidades de saúde e demanda no serviço funerário.

Em Pequim, ao menos 40 carros funerários esperam para entrar em um crematório. Do lado de dentro, 20 famílias aguardam o momento da cremação ao lado de caixões. Em Chongqing, no centro da China, um hospital recebe uma dezena de novos pacientes por dia e ao menos 80% chegam são diagnosticados com covid. As cenas ao redor do país se repetem e resultam do fim da política de covid-zero.

Nos últimos dias, as casas funerárias em Pequim estiveram lotadas, com alguns funcionários relatando mortes relacionadas à covid como a causa, de acordo com relatórios do Financial Times e da Associated Press. Uma recepcionista de uma funerária no distrito de Shunyi, em Pequim, que falou sob condição de anonimato, disse ao The Washington Post que todos os oito cremadores estão operando 24 horas por dia, as caixas de congelamento de cadáveres estão cheias, e há uma lista de espera de cinco a seis dias.

Médicos prescrevem remédios para pacientes em uma clínica em Pequim Foto: EFE/EPA/WU HAO

Vários modelos do surto atual, que começou antes de uma flexibilização inesperada das restrições do coronavírus no início de dezembro, preveem que uma onda de infecções pode matar mais de 1 milhão de chineses, colocando a China em linha com o total de mortes por covid-19 nos Estados Unidos. Uma preocupação particular é a baixa taxa de vacinação entre as populações mais velhas, com apenas 42% das pessoas com 80 anos ou mais recebendo uma dose de reforço.

Depois que as autoridades pararam de relatar casos assintomáticos, o boca a boca se tornou a principal forma de rastrear o surto. As mídias sociais da China têm mostrado um fluxo constante de resultados de testes positivos, revertendo quase três anos da maioria das pessoas na China sem experiência com o vírus. Os hospitais lotaram constantemente, mesmo quando as autoridades anunciaram medidas para aumentar a capacidade de atendimento de emergência.

Funcionários que falaram sob a condição de anonimato por temer represálias afirmam que em diversas cidades o número de mortos disparou. Em Chongqing, cidade de 30 milhões de pessoas, o funcionário de um crematório afirmou que o número de corpos chegando ao local aumentou tanto que não havia mais espaço para guardar os cadáveres. Em Cantão, no sul da China, outro trabalhador afirmou que a média de corpos cremados por dia é superior a 30.

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Filas nos crematórios e hospitais lotados. A China sofre com as consequências da flexibilização das medidas anticovid

“É três ou quatro vezes mais que em anos anteriores, estamos cremando uns 40 cadáveres por dia, quando antes era apenas uma dezena”, disse um trabalhador da mesma região, mas de outro crematório, à agência France-Presse, acrescentando que era difícil dizer se o aumento de mortes era causado pela covid.

O Conselho de Estado emitiu no início de dezembro orientações atualizadas sobre a classificação e notificação de mortes relacionadas à covid. Os detalhes das regras não foram divulgados, mas a respeitada publicação chinesa Caixin informou no sábado que o novo procedimento exige uma decisão tomada em um hospital e em 24 horas. Mortes consideradas não causadas diretamente por covid não contam.

Também mudou o método para considerar um indivíduo com covid. Um paciente deve apresentar “hipoxemia grave ou um nível de saturação arterial de oxigênio abaixo de 93%”, o que sugere que o indivíduo estava quase sem oxigênio.

A atualização refletiu uma “grande mudança” na natureza das mortes por variantes recentes, disse Wang Guiqiang, consultor do governo e diretor do departamento de doenças infecciosas do Hospital da Universidade de Pequim. Wang disse que as variantes recentes raramente resultam em insuficiência respiratória. “As principais causas de morte após a infecção com a cepa ômicron são doenças subjacentes ou velhice”, disse ele durante uma coletiva de imprensa oficial na terça-feira.

Moradora realiza teste de covid-19 em rua de Xangai, na China, em imagem desta terça-feira, 20 Foto: Alex Plavevski / EFE

Além do custo para as famílias, um aumento nas mortes evitáveis seria um embaraço para o Partido Comunista Chinês, que justificou os rígidos bloqueios do coronavírus citando o grande valor que a liderança atribui a salvar todas as vidas que pudesse. As autoridades rejeitaram as críticas à abordagem restritiva, destacando quantas pessoas morreram por causa do vírus na Europa e América do Norte.

Eles pararam de contar – muitos foram infectados e muitas pessoas morreram

Yang Linyi, morador de Chongqing

Em novembro, o governo ainda parecia determinado a usar medidas rígidas de contenção, apesar da ômicron mais transmissível tornar as medidas cada vez mais ineficazes. A raiva pelas intervenções aparentemente arbitrárias na vida cotidiana aumentou até que os protestos estouraram no final daquele mês, espalhando-se por todo o país para mais dezenas de cidades.

Mas poucos esperavam o cavalo-de-pau que fez as autoridades se moverem tão rapidamente na outra direção. Muitas famílias, temendo que hospitais e autoridades locais não estejam preparados, reagiram ao súbito alívio das restrições ao coronavírus ficando em casa e estocando remédios.

Para combater o desconforto, as mensagens de propaganda da China deram meia-volta. As advertências sobre os perigos da infecção foram substituídas por garantias de que a infecção não é grande coisa. Na terça-feira, 20, o jornal Diário do Povo, porta-voz do Partido Comunista Chinês, publicou um artigo com a manchete: “Testei positivo. E melhorei.”

Hospitais lotados

Hospitais estão em busca de leitos e sangue, farmácias de remédios, e as autoridades estão correndo para construir clínicas especiais. Especialistas preveem que a China pode enfrentar mais de 1 milhão de mortes por covid no próximo ano.

Conectado a um tubo respiratório debaixo de várias mantas, um homem infectado com covid-19 geme em um leito no serviço de emergências de um hospital de Chongqing, no centro da China.

O vírus se espalha e as autoridades afirmam que é impossível monitorar os contágios após o abandono abrupto dos testes em massa, das restrições de viagens e dos confinamentos aplicados desde o início da pandemia.

Um paramédico do Primer Hospital Universitário Afiliado de Chongqing confirma que o idoso tem covid. Todos os dias, eles recebem uma dezena de pessoas, das quais entre 80% e 90% estão infectadas com o coronavírus.

“Muitos dos funcionários do hospital também testaram positivos, mas não temos outra opção a não ser continuar trabalhando”, diz o paramédico.

O paciente mais velho esperou meia hora para ser atendido. Em uma sala contígua, a equipe da agência France-Press viu outras seis pessoas doentes acamadas, cercadas por médicos e familiares preocupados.

A maior parte dos pacientes são pessoas de idade avançada e, segundo um médico, “basicamente” com covid. Cinco estão conectados a ventiladores e com claras dificuldades respiratórias. / AFP, AP e W.POST

O fim da política de zero tolerância com a covid na China levou a um aumento significativo das filas em hospitais e em funerárias. Com dados oficiais que não refletem a realidade, observadores internacionais realizam relatórios com base em relatos de parentes de vítimas, número de pacientes admitidos com sintoma de febre em unidades de saúde e demanda no serviço funerário.

Em Pequim, ao menos 40 carros funerários esperam para entrar em um crematório. Do lado de dentro, 20 famílias aguardam o momento da cremação ao lado de caixões. Em Chongqing, no centro da China, um hospital recebe uma dezena de novos pacientes por dia e ao menos 80% chegam são diagnosticados com covid. As cenas ao redor do país se repetem e resultam do fim da política de covid-zero.

Nos últimos dias, as casas funerárias em Pequim estiveram lotadas, com alguns funcionários relatando mortes relacionadas à covid como a causa, de acordo com relatórios do Financial Times e da Associated Press. Uma recepcionista de uma funerária no distrito de Shunyi, em Pequim, que falou sob condição de anonimato, disse ao The Washington Post que todos os oito cremadores estão operando 24 horas por dia, as caixas de congelamento de cadáveres estão cheias, e há uma lista de espera de cinco a seis dias.

Médicos prescrevem remédios para pacientes em uma clínica em Pequim Foto: EFE/EPA/WU HAO

Vários modelos do surto atual, que começou antes de uma flexibilização inesperada das restrições do coronavírus no início de dezembro, preveem que uma onda de infecções pode matar mais de 1 milhão de chineses, colocando a China em linha com o total de mortes por covid-19 nos Estados Unidos. Uma preocupação particular é a baixa taxa de vacinação entre as populações mais velhas, com apenas 42% das pessoas com 80 anos ou mais recebendo uma dose de reforço.

Depois que as autoridades pararam de relatar casos assintomáticos, o boca a boca se tornou a principal forma de rastrear o surto. As mídias sociais da China têm mostrado um fluxo constante de resultados de testes positivos, revertendo quase três anos da maioria das pessoas na China sem experiência com o vírus. Os hospitais lotaram constantemente, mesmo quando as autoridades anunciaram medidas para aumentar a capacidade de atendimento de emergência.

Funcionários que falaram sob a condição de anonimato por temer represálias afirmam que em diversas cidades o número de mortos disparou. Em Chongqing, cidade de 30 milhões de pessoas, o funcionário de um crematório afirmou que o número de corpos chegando ao local aumentou tanto que não havia mais espaço para guardar os cadáveres. Em Cantão, no sul da China, outro trabalhador afirmou que a média de corpos cremados por dia é superior a 30.

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Filas nos crematórios e hospitais lotados. A China sofre com as consequências da flexibilização das medidas anticovid

“É três ou quatro vezes mais que em anos anteriores, estamos cremando uns 40 cadáveres por dia, quando antes era apenas uma dezena”, disse um trabalhador da mesma região, mas de outro crematório, à agência France-Presse, acrescentando que era difícil dizer se o aumento de mortes era causado pela covid.

O Conselho de Estado emitiu no início de dezembro orientações atualizadas sobre a classificação e notificação de mortes relacionadas à covid. Os detalhes das regras não foram divulgados, mas a respeitada publicação chinesa Caixin informou no sábado que o novo procedimento exige uma decisão tomada em um hospital e em 24 horas. Mortes consideradas não causadas diretamente por covid não contam.

Também mudou o método para considerar um indivíduo com covid. Um paciente deve apresentar “hipoxemia grave ou um nível de saturação arterial de oxigênio abaixo de 93%”, o que sugere que o indivíduo estava quase sem oxigênio.

A atualização refletiu uma “grande mudança” na natureza das mortes por variantes recentes, disse Wang Guiqiang, consultor do governo e diretor do departamento de doenças infecciosas do Hospital da Universidade de Pequim. Wang disse que as variantes recentes raramente resultam em insuficiência respiratória. “As principais causas de morte após a infecção com a cepa ômicron são doenças subjacentes ou velhice”, disse ele durante uma coletiva de imprensa oficial na terça-feira.

Moradora realiza teste de covid-19 em rua de Xangai, na China, em imagem desta terça-feira, 20 Foto: Alex Plavevski / EFE

Além do custo para as famílias, um aumento nas mortes evitáveis seria um embaraço para o Partido Comunista Chinês, que justificou os rígidos bloqueios do coronavírus citando o grande valor que a liderança atribui a salvar todas as vidas que pudesse. As autoridades rejeitaram as críticas à abordagem restritiva, destacando quantas pessoas morreram por causa do vírus na Europa e América do Norte.

Eles pararam de contar – muitos foram infectados e muitas pessoas morreram

Yang Linyi, morador de Chongqing

Em novembro, o governo ainda parecia determinado a usar medidas rígidas de contenção, apesar da ômicron mais transmissível tornar as medidas cada vez mais ineficazes. A raiva pelas intervenções aparentemente arbitrárias na vida cotidiana aumentou até que os protestos estouraram no final daquele mês, espalhando-se por todo o país para mais dezenas de cidades.

Mas poucos esperavam o cavalo-de-pau que fez as autoridades se moverem tão rapidamente na outra direção. Muitas famílias, temendo que hospitais e autoridades locais não estejam preparados, reagiram ao súbito alívio das restrições ao coronavírus ficando em casa e estocando remédios.

Para combater o desconforto, as mensagens de propaganda da China deram meia-volta. As advertências sobre os perigos da infecção foram substituídas por garantias de que a infecção não é grande coisa. Na terça-feira, 20, o jornal Diário do Povo, porta-voz do Partido Comunista Chinês, publicou um artigo com a manchete: “Testei positivo. E melhorei.”

Hospitais lotados

Hospitais estão em busca de leitos e sangue, farmácias de remédios, e as autoridades estão correndo para construir clínicas especiais. Especialistas preveem que a China pode enfrentar mais de 1 milhão de mortes por covid no próximo ano.

Conectado a um tubo respiratório debaixo de várias mantas, um homem infectado com covid-19 geme em um leito no serviço de emergências de um hospital de Chongqing, no centro da China.

O vírus se espalha e as autoridades afirmam que é impossível monitorar os contágios após o abandono abrupto dos testes em massa, das restrições de viagens e dos confinamentos aplicados desde o início da pandemia.

Um paramédico do Primer Hospital Universitário Afiliado de Chongqing confirma que o idoso tem covid. Todos os dias, eles recebem uma dezena de pessoas, das quais entre 80% e 90% estão infectadas com o coronavírus.

“Muitos dos funcionários do hospital também testaram positivos, mas não temos outra opção a não ser continuar trabalhando”, diz o paramédico.

O paciente mais velho esperou meia hora para ser atendido. Em uma sala contígua, a equipe da agência France-Press viu outras seis pessoas doentes acamadas, cercadas por médicos e familiares preocupados.

A maior parte dos pacientes são pessoas de idade avançada e, segundo um médico, “basicamente” com covid. Cinco estão conectados a ventiladores e com claras dificuldades respiratórias. / AFP, AP e W.POST

O fim da política de zero tolerância com a covid na China levou a um aumento significativo das filas em hospitais e em funerárias. Com dados oficiais que não refletem a realidade, observadores internacionais realizam relatórios com base em relatos de parentes de vítimas, número de pacientes admitidos com sintoma de febre em unidades de saúde e demanda no serviço funerário.

Em Pequim, ao menos 40 carros funerários esperam para entrar em um crematório. Do lado de dentro, 20 famílias aguardam o momento da cremação ao lado de caixões. Em Chongqing, no centro da China, um hospital recebe uma dezena de novos pacientes por dia e ao menos 80% chegam são diagnosticados com covid. As cenas ao redor do país se repetem e resultam do fim da política de covid-zero.

Nos últimos dias, as casas funerárias em Pequim estiveram lotadas, com alguns funcionários relatando mortes relacionadas à covid como a causa, de acordo com relatórios do Financial Times e da Associated Press. Uma recepcionista de uma funerária no distrito de Shunyi, em Pequim, que falou sob condição de anonimato, disse ao The Washington Post que todos os oito cremadores estão operando 24 horas por dia, as caixas de congelamento de cadáveres estão cheias, e há uma lista de espera de cinco a seis dias.

Médicos prescrevem remédios para pacientes em uma clínica em Pequim Foto: EFE/EPA/WU HAO

Vários modelos do surto atual, que começou antes de uma flexibilização inesperada das restrições do coronavírus no início de dezembro, preveem que uma onda de infecções pode matar mais de 1 milhão de chineses, colocando a China em linha com o total de mortes por covid-19 nos Estados Unidos. Uma preocupação particular é a baixa taxa de vacinação entre as populações mais velhas, com apenas 42% das pessoas com 80 anos ou mais recebendo uma dose de reforço.

Depois que as autoridades pararam de relatar casos assintomáticos, o boca a boca se tornou a principal forma de rastrear o surto. As mídias sociais da China têm mostrado um fluxo constante de resultados de testes positivos, revertendo quase três anos da maioria das pessoas na China sem experiência com o vírus. Os hospitais lotaram constantemente, mesmo quando as autoridades anunciaram medidas para aumentar a capacidade de atendimento de emergência.

Funcionários que falaram sob a condição de anonimato por temer represálias afirmam que em diversas cidades o número de mortos disparou. Em Chongqing, cidade de 30 milhões de pessoas, o funcionário de um crematório afirmou que o número de corpos chegando ao local aumentou tanto que não havia mais espaço para guardar os cadáveres. Em Cantão, no sul da China, outro trabalhador afirmou que a média de corpos cremados por dia é superior a 30.

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Filas nos crematórios e hospitais lotados. A China sofre com as consequências da flexibilização das medidas anticovid

“É três ou quatro vezes mais que em anos anteriores, estamos cremando uns 40 cadáveres por dia, quando antes era apenas uma dezena”, disse um trabalhador da mesma região, mas de outro crematório, à agência France-Presse, acrescentando que era difícil dizer se o aumento de mortes era causado pela covid.

O Conselho de Estado emitiu no início de dezembro orientações atualizadas sobre a classificação e notificação de mortes relacionadas à covid. Os detalhes das regras não foram divulgados, mas a respeitada publicação chinesa Caixin informou no sábado que o novo procedimento exige uma decisão tomada em um hospital e em 24 horas. Mortes consideradas não causadas diretamente por covid não contam.

Também mudou o método para considerar um indivíduo com covid. Um paciente deve apresentar “hipoxemia grave ou um nível de saturação arterial de oxigênio abaixo de 93%”, o que sugere que o indivíduo estava quase sem oxigênio.

A atualização refletiu uma “grande mudança” na natureza das mortes por variantes recentes, disse Wang Guiqiang, consultor do governo e diretor do departamento de doenças infecciosas do Hospital da Universidade de Pequim. Wang disse que as variantes recentes raramente resultam em insuficiência respiratória. “As principais causas de morte após a infecção com a cepa ômicron são doenças subjacentes ou velhice”, disse ele durante uma coletiva de imprensa oficial na terça-feira.

Moradora realiza teste de covid-19 em rua de Xangai, na China, em imagem desta terça-feira, 20 Foto: Alex Plavevski / EFE

Além do custo para as famílias, um aumento nas mortes evitáveis seria um embaraço para o Partido Comunista Chinês, que justificou os rígidos bloqueios do coronavírus citando o grande valor que a liderança atribui a salvar todas as vidas que pudesse. As autoridades rejeitaram as críticas à abordagem restritiva, destacando quantas pessoas morreram por causa do vírus na Europa e América do Norte.

Eles pararam de contar – muitos foram infectados e muitas pessoas morreram

Yang Linyi, morador de Chongqing

Em novembro, o governo ainda parecia determinado a usar medidas rígidas de contenção, apesar da ômicron mais transmissível tornar as medidas cada vez mais ineficazes. A raiva pelas intervenções aparentemente arbitrárias na vida cotidiana aumentou até que os protestos estouraram no final daquele mês, espalhando-se por todo o país para mais dezenas de cidades.

Mas poucos esperavam o cavalo-de-pau que fez as autoridades se moverem tão rapidamente na outra direção. Muitas famílias, temendo que hospitais e autoridades locais não estejam preparados, reagiram ao súbito alívio das restrições ao coronavírus ficando em casa e estocando remédios.

Para combater o desconforto, as mensagens de propaganda da China deram meia-volta. As advertências sobre os perigos da infecção foram substituídas por garantias de que a infecção não é grande coisa. Na terça-feira, 20, o jornal Diário do Povo, porta-voz do Partido Comunista Chinês, publicou um artigo com a manchete: “Testei positivo. E melhorei.”

Hospitais lotados

Hospitais estão em busca de leitos e sangue, farmácias de remédios, e as autoridades estão correndo para construir clínicas especiais. Especialistas preveem que a China pode enfrentar mais de 1 milhão de mortes por covid no próximo ano.

Conectado a um tubo respiratório debaixo de várias mantas, um homem infectado com covid-19 geme em um leito no serviço de emergências de um hospital de Chongqing, no centro da China.

O vírus se espalha e as autoridades afirmam que é impossível monitorar os contágios após o abandono abrupto dos testes em massa, das restrições de viagens e dos confinamentos aplicados desde o início da pandemia.

Um paramédico do Primer Hospital Universitário Afiliado de Chongqing confirma que o idoso tem covid. Todos os dias, eles recebem uma dezena de pessoas, das quais entre 80% e 90% estão infectadas com o coronavírus.

“Muitos dos funcionários do hospital também testaram positivos, mas não temos outra opção a não ser continuar trabalhando”, diz o paramédico.

O paciente mais velho esperou meia hora para ser atendido. Em uma sala contígua, a equipe da agência France-Press viu outras seis pessoas doentes acamadas, cercadas por médicos e familiares preocupados.

A maior parte dos pacientes são pessoas de idade avançada e, segundo um médico, “basicamente” com covid. Cinco estão conectados a ventiladores e com claras dificuldades respiratórias. / AFP, AP e W.POST

O fim da política de zero tolerância com a covid na China levou a um aumento significativo das filas em hospitais e em funerárias. Com dados oficiais que não refletem a realidade, observadores internacionais realizam relatórios com base em relatos de parentes de vítimas, número de pacientes admitidos com sintoma de febre em unidades de saúde e demanda no serviço funerário.

Em Pequim, ao menos 40 carros funerários esperam para entrar em um crematório. Do lado de dentro, 20 famílias aguardam o momento da cremação ao lado de caixões. Em Chongqing, no centro da China, um hospital recebe uma dezena de novos pacientes por dia e ao menos 80% chegam são diagnosticados com covid. As cenas ao redor do país se repetem e resultam do fim da política de covid-zero.

Nos últimos dias, as casas funerárias em Pequim estiveram lotadas, com alguns funcionários relatando mortes relacionadas à covid como a causa, de acordo com relatórios do Financial Times e da Associated Press. Uma recepcionista de uma funerária no distrito de Shunyi, em Pequim, que falou sob condição de anonimato, disse ao The Washington Post que todos os oito cremadores estão operando 24 horas por dia, as caixas de congelamento de cadáveres estão cheias, e há uma lista de espera de cinco a seis dias.

Médicos prescrevem remédios para pacientes em uma clínica em Pequim Foto: EFE/EPA/WU HAO

Vários modelos do surto atual, que começou antes de uma flexibilização inesperada das restrições do coronavírus no início de dezembro, preveem que uma onda de infecções pode matar mais de 1 milhão de chineses, colocando a China em linha com o total de mortes por covid-19 nos Estados Unidos. Uma preocupação particular é a baixa taxa de vacinação entre as populações mais velhas, com apenas 42% das pessoas com 80 anos ou mais recebendo uma dose de reforço.

Depois que as autoridades pararam de relatar casos assintomáticos, o boca a boca se tornou a principal forma de rastrear o surto. As mídias sociais da China têm mostrado um fluxo constante de resultados de testes positivos, revertendo quase três anos da maioria das pessoas na China sem experiência com o vírus. Os hospitais lotaram constantemente, mesmo quando as autoridades anunciaram medidas para aumentar a capacidade de atendimento de emergência.

Funcionários que falaram sob a condição de anonimato por temer represálias afirmam que em diversas cidades o número de mortos disparou. Em Chongqing, cidade de 30 milhões de pessoas, o funcionário de um crematório afirmou que o número de corpos chegando ao local aumentou tanto que não havia mais espaço para guardar os cadáveres. Em Cantão, no sul da China, outro trabalhador afirmou que a média de corpos cremados por dia é superior a 30.

Seu navegador não suporta esse video.

Filas nos crematórios e hospitais lotados. A China sofre com as consequências da flexibilização das medidas anticovid

“É três ou quatro vezes mais que em anos anteriores, estamos cremando uns 40 cadáveres por dia, quando antes era apenas uma dezena”, disse um trabalhador da mesma região, mas de outro crematório, à agência France-Presse, acrescentando que era difícil dizer se o aumento de mortes era causado pela covid.

O Conselho de Estado emitiu no início de dezembro orientações atualizadas sobre a classificação e notificação de mortes relacionadas à covid. Os detalhes das regras não foram divulgados, mas a respeitada publicação chinesa Caixin informou no sábado que o novo procedimento exige uma decisão tomada em um hospital e em 24 horas. Mortes consideradas não causadas diretamente por covid não contam.

Também mudou o método para considerar um indivíduo com covid. Um paciente deve apresentar “hipoxemia grave ou um nível de saturação arterial de oxigênio abaixo de 93%”, o que sugere que o indivíduo estava quase sem oxigênio.

A atualização refletiu uma “grande mudança” na natureza das mortes por variantes recentes, disse Wang Guiqiang, consultor do governo e diretor do departamento de doenças infecciosas do Hospital da Universidade de Pequim. Wang disse que as variantes recentes raramente resultam em insuficiência respiratória. “As principais causas de morte após a infecção com a cepa ômicron são doenças subjacentes ou velhice”, disse ele durante uma coletiva de imprensa oficial na terça-feira.

Moradora realiza teste de covid-19 em rua de Xangai, na China, em imagem desta terça-feira, 20 Foto: Alex Plavevski / EFE

Além do custo para as famílias, um aumento nas mortes evitáveis seria um embaraço para o Partido Comunista Chinês, que justificou os rígidos bloqueios do coronavírus citando o grande valor que a liderança atribui a salvar todas as vidas que pudesse. As autoridades rejeitaram as críticas à abordagem restritiva, destacando quantas pessoas morreram por causa do vírus na Europa e América do Norte.

Eles pararam de contar – muitos foram infectados e muitas pessoas morreram

Yang Linyi, morador de Chongqing

Em novembro, o governo ainda parecia determinado a usar medidas rígidas de contenção, apesar da ômicron mais transmissível tornar as medidas cada vez mais ineficazes. A raiva pelas intervenções aparentemente arbitrárias na vida cotidiana aumentou até que os protestos estouraram no final daquele mês, espalhando-se por todo o país para mais dezenas de cidades.

Mas poucos esperavam o cavalo-de-pau que fez as autoridades se moverem tão rapidamente na outra direção. Muitas famílias, temendo que hospitais e autoridades locais não estejam preparados, reagiram ao súbito alívio das restrições ao coronavírus ficando em casa e estocando remédios.

Para combater o desconforto, as mensagens de propaganda da China deram meia-volta. As advertências sobre os perigos da infecção foram substituídas por garantias de que a infecção não é grande coisa. Na terça-feira, 20, o jornal Diário do Povo, porta-voz do Partido Comunista Chinês, publicou um artigo com a manchete: “Testei positivo. E melhorei.”

Hospitais lotados

Hospitais estão em busca de leitos e sangue, farmácias de remédios, e as autoridades estão correndo para construir clínicas especiais. Especialistas preveem que a China pode enfrentar mais de 1 milhão de mortes por covid no próximo ano.

Conectado a um tubo respiratório debaixo de várias mantas, um homem infectado com covid-19 geme em um leito no serviço de emergências de um hospital de Chongqing, no centro da China.

O vírus se espalha e as autoridades afirmam que é impossível monitorar os contágios após o abandono abrupto dos testes em massa, das restrições de viagens e dos confinamentos aplicados desde o início da pandemia.

Um paramédico do Primer Hospital Universitário Afiliado de Chongqing confirma que o idoso tem covid. Todos os dias, eles recebem uma dezena de pessoas, das quais entre 80% e 90% estão infectadas com o coronavírus.

“Muitos dos funcionários do hospital também testaram positivos, mas não temos outra opção a não ser continuar trabalhando”, diz o paramédico.

O paciente mais velho esperou meia hora para ser atendido. Em uma sala contígua, a equipe da agência France-Press viu outras seis pessoas doentes acamadas, cercadas por médicos e familiares preocupados.

A maior parte dos pacientes são pessoas de idade avançada e, segundo um médico, “basicamente” com covid. Cinco estão conectados a ventiladores e com claras dificuldades respiratórias. / AFP, AP e W.POST

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