Crescimento da extrema direita na França faz voto feminino em Marine Le Pen aumentar


Enquanto obteve apenas cerca de 33% dos votos no segundo turno com Macron em 2017,candidata poderá conquistar até 46% dos votos no segundo turno deste ano

Por Odelia Oshri, Liran Harsgor, Reut Itzkovitch-Malka e Or Tuttnauer
Atualização:

THE WASHINGTON POST - A maioria das pesquisas sugere que o presidente francês, Emmanuel Macron, derrotará a candidata de extrema direita, Marine Le Pen, no segundo turno da eleição presidencial, neste domingo. Ainda assim, Le Pen desempenhou melhor nesta disputa eleitoral do que na sua candidatura em 2017. Enquanto obteve apenas cerca de 33% dos votos no segundo turno com Macron em 2017, a projeção do site Politico prevê que Le Pen poderá conquistar até 46% dos votos no segundo turno deste ano.

O que poderia explicar o sucesso relativo de Le Pen? Mais apoio das mulheres nas urnas. No passado, mais homens do que mulheres apoiavam o Reagrupamento Nacional (anteriormente Frente Nacional), o partido de extrema direita de Le Pen. Hoje, o hiato entre gêneros se inverteu, e mais mulheres do que homens expressam apoio por Le Pen.

Isso é um tanto quanto surpreendente, porque pesquisas anteriores mostraram que as mulheres são significativamente menos propensas a votar em partidos populistas de extrema direita do que os homens. Como podemos explicar o caso francês?

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Partidos populistas de extrema direita são arriscados, e mulheres são mais avessas a riscos do que homens.Votar por um partido populista de extrema direita engendra um certo grau de risco. Esses partidos são entidades relativamente desconhecidas, com experiência parlamentar limitada. Eles também desafiam as certezas da ordem política existente, questionando o status quo e fazendo campanha contra o establishment político. Apesar de alguns eleitores considerarem essas atitudes atraentes, eleitores avessos a riscos rejeitarão esses partidos em eleições.

Pesquisas constatam regularmente que as mulheres são mais avessas a riscos do que os homens. (Evidentemente, isso representa uma média; individualmente, homens e mulheres podem divergir dessa generalização.) E as mulheres geralmente tendem a evitar votar em partidos arriscados que não têm chance de conquistar assentos no Parlamento, incluindo muitos dos partidos populistas de extrema direita. Eleitores avessos a riscos com frequência seguem normas sociais e direcionam seus votos a causas mainstream e moderadas — e evitam apoiar partidos extremistas e radicais.

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Marine Le Pen participa de campanha durante o segundo turno da eleição francesa em Saint Pierre-en-Auge, no interior do país Foto: Sameer Al-Doumy/AFP

Apoio à extrema direita depende do contexto eleitoral

Imagine a seguinte hipótese: Quando um partido populista de extrema direita tem alta possibilidade de conquistar assentos na legislatura, decidir votar naquele partido pode parecer menos arriscado, tanto eleitoralmente quanto socialmente. Eleitoralmente, não será um voto desperdiçado se o partido tem chance de vencer. Socialmente, não é considerado anormal apoiar um partido desse tipo que tenha ganhado apoio de uma grande porção do eleitorado.

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Para testar esta hipótese, utilizamos as oito tendências da European Social Survey (ESS) constatadas entre 2002 e 2016. A ESS é bianual e envolve pelo menos 1,5 mil entrevistados em cada um dos 36 países em que é realizada. Nós analisamos os resultados de 14 países da Europa Ocidental, incluindo a França. As pesquisas fazem perguntas a respeito de atitudes sociais, econômicas e políticas dos indivíduos por meio de entrevistas presenciais, com novos entrevistados selecionados aleatoriamente a cada rodada em fatias transversais de população.

Nós mensuramos o que os cientistas sociais chamam de “aversão individual ao risco” usando uma pergunta que questionou os participantes sobre até que ponto eles aceitam assumir riscos na vida, numa escala de 1 a 6. Consistentemente com pesquisas anteriores, constatamos que as mulheres são, em média, mais avessas a riscos do que os homens. Nós também constatamos que os indivíduos com aversão a riscos mais intensa são menos propensos a apoiar partidos populistas de extrema direita.

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Nós mensuramos o nível de risco eleitoral que votar por esses partidos pode ocasionar examinando o índice do eleitorado nacional que votou num partido populista de extrema direita ou o número de assentos que um partido populista de extrema direita conquistou anteriormente à pesquisa. Saber o quanto esse partido foi bem-sucedido (ou não) na eleição anterior dá aos eleitores uma noção a respeito da viabilidade do partido e sobre se votar naquele partido equivale a desperdiçar o voto. À medida que partidos de extrema direita reúnem apoio eleitoral suficiente, votar neles passa a ser menos arriscado.

Mais votos, mais apoio feminino

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Consistentemente com esta teoria, constatamos que o hiato entre gêneros no apoio a partidos de extrema direita diminui em função de seu bom desempenho em eleições anteriores às pesquisas. Mas quando esses partidos não conseguiram chegar ao Parlamento na eleição anterior, o hiato entre gêneros no apoio a eles aumenta, com os homens apoiando os partidos arriscados muito mais do que as mulheres.

- O que isso significa para Le Pen e a política europeia mais amplamente?O desempenho de Le Pen no primeiro turno da eleição ostenta apoio significativo das mulheres. De acordo com pesquisas Harris publicadas a cada semana, mulheres respondem que provavelmente votariam por Le Pen em índices maiores que os homens. Como seria consistente com nosso argumento, o hiato entre gêneros nos votos pelo mais novo candidato populista, Éric Zemmour, ocorreu na direção oposta; mais homens do que mulheres responderam que provavelmente votariam nele.

Contudo, votar por Le Pen, uma candidata consolidada, é considerado menos arriscado, então mais mulheres responderam que estavam propensas a votar nela. Na realidade, a candidatura de Zemmour ajudou Le Pen a se apresentar como uma figura menos extrema do que antes. Além disso, se uma candidata considerada extremista entra no jogo, nossa análise sugere que as mulheres evitariam votar nela tanto quanto afirmaram evitar Zemmour.

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Tanto a criação quanto a base de apoio dos partidos populistas de extrema direita que surgiram por toda a Europa nos últimos 20 anos foram amplamente dominadas por homens. Esses partidos foram geralmente liderados e sustentados por homens. Mas esse padrão está mudando, e as eleições de 2022 na França comprovam isso. Nós prevemos que o hiato entre gêneros se estreitará em relação ao voto em partidos populistas de extrema direita na medida em que os partidos populistas de extrema direita entrem no mainstream, um processo que ocorre atualmente em países ocidentais. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE WASHINGTON POST - A maioria das pesquisas sugere que o presidente francês, Emmanuel Macron, derrotará a candidata de extrema direita, Marine Le Pen, no segundo turno da eleição presidencial, neste domingo. Ainda assim, Le Pen desempenhou melhor nesta disputa eleitoral do que na sua candidatura em 2017. Enquanto obteve apenas cerca de 33% dos votos no segundo turno com Macron em 2017, a projeção do site Politico prevê que Le Pen poderá conquistar até 46% dos votos no segundo turno deste ano.

O que poderia explicar o sucesso relativo de Le Pen? Mais apoio das mulheres nas urnas. No passado, mais homens do que mulheres apoiavam o Reagrupamento Nacional (anteriormente Frente Nacional), o partido de extrema direita de Le Pen. Hoje, o hiato entre gêneros se inverteu, e mais mulheres do que homens expressam apoio por Le Pen.

Isso é um tanto quanto surpreendente, porque pesquisas anteriores mostraram que as mulheres são significativamente menos propensas a votar em partidos populistas de extrema direita do que os homens. Como podemos explicar o caso francês?

Partidos populistas de extrema direita são arriscados, e mulheres são mais avessas a riscos do que homens.Votar por um partido populista de extrema direita engendra um certo grau de risco. Esses partidos são entidades relativamente desconhecidas, com experiência parlamentar limitada. Eles também desafiam as certezas da ordem política existente, questionando o status quo e fazendo campanha contra o establishment político. Apesar de alguns eleitores considerarem essas atitudes atraentes, eleitores avessos a riscos rejeitarão esses partidos em eleições.

Pesquisas constatam regularmente que as mulheres são mais avessas a riscos do que os homens. (Evidentemente, isso representa uma média; individualmente, homens e mulheres podem divergir dessa generalização.) E as mulheres geralmente tendem a evitar votar em partidos arriscados que não têm chance de conquistar assentos no Parlamento, incluindo muitos dos partidos populistas de extrema direita. Eleitores avessos a riscos com frequência seguem normas sociais e direcionam seus votos a causas mainstream e moderadas — e evitam apoiar partidos extremistas e radicais.

Marine Le Pen participa de campanha durante o segundo turno da eleição francesa em Saint Pierre-en-Auge, no interior do país Foto: Sameer Al-Doumy/AFP

Apoio à extrema direita depende do contexto eleitoral

Imagine a seguinte hipótese: Quando um partido populista de extrema direita tem alta possibilidade de conquistar assentos na legislatura, decidir votar naquele partido pode parecer menos arriscado, tanto eleitoralmente quanto socialmente. Eleitoralmente, não será um voto desperdiçado se o partido tem chance de vencer. Socialmente, não é considerado anormal apoiar um partido desse tipo que tenha ganhado apoio de uma grande porção do eleitorado.

Para testar esta hipótese, utilizamos as oito tendências da European Social Survey (ESS) constatadas entre 2002 e 2016. A ESS é bianual e envolve pelo menos 1,5 mil entrevistados em cada um dos 36 países em que é realizada. Nós analisamos os resultados de 14 países da Europa Ocidental, incluindo a França. As pesquisas fazem perguntas a respeito de atitudes sociais, econômicas e políticas dos indivíduos por meio de entrevistas presenciais, com novos entrevistados selecionados aleatoriamente a cada rodada em fatias transversais de população.

Nós mensuramos o que os cientistas sociais chamam de “aversão individual ao risco” usando uma pergunta que questionou os participantes sobre até que ponto eles aceitam assumir riscos na vida, numa escala de 1 a 6. Consistentemente com pesquisas anteriores, constatamos que as mulheres são, em média, mais avessas a riscos do que os homens. Nós também constatamos que os indivíduos com aversão a riscos mais intensa são menos propensos a apoiar partidos populistas de extrema direita.

Nós mensuramos o nível de risco eleitoral que votar por esses partidos pode ocasionar examinando o índice do eleitorado nacional que votou num partido populista de extrema direita ou o número de assentos que um partido populista de extrema direita conquistou anteriormente à pesquisa. Saber o quanto esse partido foi bem-sucedido (ou não) na eleição anterior dá aos eleitores uma noção a respeito da viabilidade do partido e sobre se votar naquele partido equivale a desperdiçar o voto. À medida que partidos de extrema direita reúnem apoio eleitoral suficiente, votar neles passa a ser menos arriscado.

Mais votos, mais apoio feminino

Consistentemente com esta teoria, constatamos que o hiato entre gêneros no apoio a partidos de extrema direita diminui em função de seu bom desempenho em eleições anteriores às pesquisas. Mas quando esses partidos não conseguiram chegar ao Parlamento na eleição anterior, o hiato entre gêneros no apoio a eles aumenta, com os homens apoiando os partidos arriscados muito mais do que as mulheres.

- O que isso significa para Le Pen e a política europeia mais amplamente?O desempenho de Le Pen no primeiro turno da eleição ostenta apoio significativo das mulheres. De acordo com pesquisas Harris publicadas a cada semana, mulheres respondem que provavelmente votariam por Le Pen em índices maiores que os homens. Como seria consistente com nosso argumento, o hiato entre gêneros nos votos pelo mais novo candidato populista, Éric Zemmour, ocorreu na direção oposta; mais homens do que mulheres responderam que provavelmente votariam nele.

Contudo, votar por Le Pen, uma candidata consolidada, é considerado menos arriscado, então mais mulheres responderam que estavam propensas a votar nela. Na realidade, a candidatura de Zemmour ajudou Le Pen a se apresentar como uma figura menos extrema do que antes. Além disso, se uma candidata considerada extremista entra no jogo, nossa análise sugere que as mulheres evitariam votar nela tanto quanto afirmaram evitar Zemmour.

Tanto a criação quanto a base de apoio dos partidos populistas de extrema direita que surgiram por toda a Europa nos últimos 20 anos foram amplamente dominadas por homens. Esses partidos foram geralmente liderados e sustentados por homens. Mas esse padrão está mudando, e as eleições de 2022 na França comprovam isso. Nós prevemos que o hiato entre gêneros se estreitará em relação ao voto em partidos populistas de extrema direita na medida em que os partidos populistas de extrema direita entrem no mainstream, um processo que ocorre atualmente em países ocidentais. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE WASHINGTON POST - A maioria das pesquisas sugere que o presidente francês, Emmanuel Macron, derrotará a candidata de extrema direita, Marine Le Pen, no segundo turno da eleição presidencial, neste domingo. Ainda assim, Le Pen desempenhou melhor nesta disputa eleitoral do que na sua candidatura em 2017. Enquanto obteve apenas cerca de 33% dos votos no segundo turno com Macron em 2017, a projeção do site Politico prevê que Le Pen poderá conquistar até 46% dos votos no segundo turno deste ano.

O que poderia explicar o sucesso relativo de Le Pen? Mais apoio das mulheres nas urnas. No passado, mais homens do que mulheres apoiavam o Reagrupamento Nacional (anteriormente Frente Nacional), o partido de extrema direita de Le Pen. Hoje, o hiato entre gêneros se inverteu, e mais mulheres do que homens expressam apoio por Le Pen.

Isso é um tanto quanto surpreendente, porque pesquisas anteriores mostraram que as mulheres são significativamente menos propensas a votar em partidos populistas de extrema direita do que os homens. Como podemos explicar o caso francês?

Partidos populistas de extrema direita são arriscados, e mulheres são mais avessas a riscos do que homens.Votar por um partido populista de extrema direita engendra um certo grau de risco. Esses partidos são entidades relativamente desconhecidas, com experiência parlamentar limitada. Eles também desafiam as certezas da ordem política existente, questionando o status quo e fazendo campanha contra o establishment político. Apesar de alguns eleitores considerarem essas atitudes atraentes, eleitores avessos a riscos rejeitarão esses partidos em eleições.

Pesquisas constatam regularmente que as mulheres são mais avessas a riscos do que os homens. (Evidentemente, isso representa uma média; individualmente, homens e mulheres podem divergir dessa generalização.) E as mulheres geralmente tendem a evitar votar em partidos arriscados que não têm chance de conquistar assentos no Parlamento, incluindo muitos dos partidos populistas de extrema direita. Eleitores avessos a riscos com frequência seguem normas sociais e direcionam seus votos a causas mainstream e moderadas — e evitam apoiar partidos extremistas e radicais.

Marine Le Pen participa de campanha durante o segundo turno da eleição francesa em Saint Pierre-en-Auge, no interior do país Foto: Sameer Al-Doumy/AFP

Apoio à extrema direita depende do contexto eleitoral

Imagine a seguinte hipótese: Quando um partido populista de extrema direita tem alta possibilidade de conquistar assentos na legislatura, decidir votar naquele partido pode parecer menos arriscado, tanto eleitoralmente quanto socialmente. Eleitoralmente, não será um voto desperdiçado se o partido tem chance de vencer. Socialmente, não é considerado anormal apoiar um partido desse tipo que tenha ganhado apoio de uma grande porção do eleitorado.

Para testar esta hipótese, utilizamos as oito tendências da European Social Survey (ESS) constatadas entre 2002 e 2016. A ESS é bianual e envolve pelo menos 1,5 mil entrevistados em cada um dos 36 países em que é realizada. Nós analisamos os resultados de 14 países da Europa Ocidental, incluindo a França. As pesquisas fazem perguntas a respeito de atitudes sociais, econômicas e políticas dos indivíduos por meio de entrevistas presenciais, com novos entrevistados selecionados aleatoriamente a cada rodada em fatias transversais de população.

Nós mensuramos o que os cientistas sociais chamam de “aversão individual ao risco” usando uma pergunta que questionou os participantes sobre até que ponto eles aceitam assumir riscos na vida, numa escala de 1 a 6. Consistentemente com pesquisas anteriores, constatamos que as mulheres são, em média, mais avessas a riscos do que os homens. Nós também constatamos que os indivíduos com aversão a riscos mais intensa são menos propensos a apoiar partidos populistas de extrema direita.

Nós mensuramos o nível de risco eleitoral que votar por esses partidos pode ocasionar examinando o índice do eleitorado nacional que votou num partido populista de extrema direita ou o número de assentos que um partido populista de extrema direita conquistou anteriormente à pesquisa. Saber o quanto esse partido foi bem-sucedido (ou não) na eleição anterior dá aos eleitores uma noção a respeito da viabilidade do partido e sobre se votar naquele partido equivale a desperdiçar o voto. À medida que partidos de extrema direita reúnem apoio eleitoral suficiente, votar neles passa a ser menos arriscado.

Mais votos, mais apoio feminino

Consistentemente com esta teoria, constatamos que o hiato entre gêneros no apoio a partidos de extrema direita diminui em função de seu bom desempenho em eleições anteriores às pesquisas. Mas quando esses partidos não conseguiram chegar ao Parlamento na eleição anterior, o hiato entre gêneros no apoio a eles aumenta, com os homens apoiando os partidos arriscados muito mais do que as mulheres.

- O que isso significa para Le Pen e a política europeia mais amplamente?O desempenho de Le Pen no primeiro turno da eleição ostenta apoio significativo das mulheres. De acordo com pesquisas Harris publicadas a cada semana, mulheres respondem que provavelmente votariam por Le Pen em índices maiores que os homens. Como seria consistente com nosso argumento, o hiato entre gêneros nos votos pelo mais novo candidato populista, Éric Zemmour, ocorreu na direção oposta; mais homens do que mulheres responderam que provavelmente votariam nele.

Contudo, votar por Le Pen, uma candidata consolidada, é considerado menos arriscado, então mais mulheres responderam que estavam propensas a votar nela. Na realidade, a candidatura de Zemmour ajudou Le Pen a se apresentar como uma figura menos extrema do que antes. Além disso, se uma candidata considerada extremista entra no jogo, nossa análise sugere que as mulheres evitariam votar nela tanto quanto afirmaram evitar Zemmour.

Tanto a criação quanto a base de apoio dos partidos populistas de extrema direita que surgiram por toda a Europa nos últimos 20 anos foram amplamente dominadas por homens. Esses partidos foram geralmente liderados e sustentados por homens. Mas esse padrão está mudando, e as eleições de 2022 na França comprovam isso. Nós prevemos que o hiato entre gêneros se estreitará em relação ao voto em partidos populistas de extrema direita na medida em que os partidos populistas de extrema direita entrem no mainstream, um processo que ocorre atualmente em países ocidentais. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE WASHINGTON POST - A maioria das pesquisas sugere que o presidente francês, Emmanuel Macron, derrotará a candidata de extrema direita, Marine Le Pen, no segundo turno da eleição presidencial, neste domingo. Ainda assim, Le Pen desempenhou melhor nesta disputa eleitoral do que na sua candidatura em 2017. Enquanto obteve apenas cerca de 33% dos votos no segundo turno com Macron em 2017, a projeção do site Politico prevê que Le Pen poderá conquistar até 46% dos votos no segundo turno deste ano.

O que poderia explicar o sucesso relativo de Le Pen? Mais apoio das mulheres nas urnas. No passado, mais homens do que mulheres apoiavam o Reagrupamento Nacional (anteriormente Frente Nacional), o partido de extrema direita de Le Pen. Hoje, o hiato entre gêneros se inverteu, e mais mulheres do que homens expressam apoio por Le Pen.

Isso é um tanto quanto surpreendente, porque pesquisas anteriores mostraram que as mulheres são significativamente menos propensas a votar em partidos populistas de extrema direita do que os homens. Como podemos explicar o caso francês?

Partidos populistas de extrema direita são arriscados, e mulheres são mais avessas a riscos do que homens.Votar por um partido populista de extrema direita engendra um certo grau de risco. Esses partidos são entidades relativamente desconhecidas, com experiência parlamentar limitada. Eles também desafiam as certezas da ordem política existente, questionando o status quo e fazendo campanha contra o establishment político. Apesar de alguns eleitores considerarem essas atitudes atraentes, eleitores avessos a riscos rejeitarão esses partidos em eleições.

Pesquisas constatam regularmente que as mulheres são mais avessas a riscos do que os homens. (Evidentemente, isso representa uma média; individualmente, homens e mulheres podem divergir dessa generalização.) E as mulheres geralmente tendem a evitar votar em partidos arriscados que não têm chance de conquistar assentos no Parlamento, incluindo muitos dos partidos populistas de extrema direita. Eleitores avessos a riscos com frequência seguem normas sociais e direcionam seus votos a causas mainstream e moderadas — e evitam apoiar partidos extremistas e radicais.

Marine Le Pen participa de campanha durante o segundo turno da eleição francesa em Saint Pierre-en-Auge, no interior do país Foto: Sameer Al-Doumy/AFP

Apoio à extrema direita depende do contexto eleitoral

Imagine a seguinte hipótese: Quando um partido populista de extrema direita tem alta possibilidade de conquistar assentos na legislatura, decidir votar naquele partido pode parecer menos arriscado, tanto eleitoralmente quanto socialmente. Eleitoralmente, não será um voto desperdiçado se o partido tem chance de vencer. Socialmente, não é considerado anormal apoiar um partido desse tipo que tenha ganhado apoio de uma grande porção do eleitorado.

Para testar esta hipótese, utilizamos as oito tendências da European Social Survey (ESS) constatadas entre 2002 e 2016. A ESS é bianual e envolve pelo menos 1,5 mil entrevistados em cada um dos 36 países em que é realizada. Nós analisamos os resultados de 14 países da Europa Ocidental, incluindo a França. As pesquisas fazem perguntas a respeito de atitudes sociais, econômicas e políticas dos indivíduos por meio de entrevistas presenciais, com novos entrevistados selecionados aleatoriamente a cada rodada em fatias transversais de população.

Nós mensuramos o que os cientistas sociais chamam de “aversão individual ao risco” usando uma pergunta que questionou os participantes sobre até que ponto eles aceitam assumir riscos na vida, numa escala de 1 a 6. Consistentemente com pesquisas anteriores, constatamos que as mulheres são, em média, mais avessas a riscos do que os homens. Nós também constatamos que os indivíduos com aversão a riscos mais intensa são menos propensos a apoiar partidos populistas de extrema direita.

Nós mensuramos o nível de risco eleitoral que votar por esses partidos pode ocasionar examinando o índice do eleitorado nacional que votou num partido populista de extrema direita ou o número de assentos que um partido populista de extrema direita conquistou anteriormente à pesquisa. Saber o quanto esse partido foi bem-sucedido (ou não) na eleição anterior dá aos eleitores uma noção a respeito da viabilidade do partido e sobre se votar naquele partido equivale a desperdiçar o voto. À medida que partidos de extrema direita reúnem apoio eleitoral suficiente, votar neles passa a ser menos arriscado.

Mais votos, mais apoio feminino

Consistentemente com esta teoria, constatamos que o hiato entre gêneros no apoio a partidos de extrema direita diminui em função de seu bom desempenho em eleições anteriores às pesquisas. Mas quando esses partidos não conseguiram chegar ao Parlamento na eleição anterior, o hiato entre gêneros no apoio a eles aumenta, com os homens apoiando os partidos arriscados muito mais do que as mulheres.

- O que isso significa para Le Pen e a política europeia mais amplamente?O desempenho de Le Pen no primeiro turno da eleição ostenta apoio significativo das mulheres. De acordo com pesquisas Harris publicadas a cada semana, mulheres respondem que provavelmente votariam por Le Pen em índices maiores que os homens. Como seria consistente com nosso argumento, o hiato entre gêneros nos votos pelo mais novo candidato populista, Éric Zemmour, ocorreu na direção oposta; mais homens do que mulheres responderam que provavelmente votariam nele.

Contudo, votar por Le Pen, uma candidata consolidada, é considerado menos arriscado, então mais mulheres responderam que estavam propensas a votar nela. Na realidade, a candidatura de Zemmour ajudou Le Pen a se apresentar como uma figura menos extrema do que antes. Além disso, se uma candidata considerada extremista entra no jogo, nossa análise sugere que as mulheres evitariam votar nela tanto quanto afirmaram evitar Zemmour.

Tanto a criação quanto a base de apoio dos partidos populistas de extrema direita que surgiram por toda a Europa nos últimos 20 anos foram amplamente dominadas por homens. Esses partidos foram geralmente liderados e sustentados por homens. Mas esse padrão está mudando, e as eleições de 2022 na França comprovam isso. Nós prevemos que o hiato entre gêneros se estreitará em relação ao voto em partidos populistas de extrema direita na medida em que os partidos populistas de extrema direita entrem no mainstream, um processo que ocorre atualmente em países ocidentais. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

THE WASHINGTON POST - A maioria das pesquisas sugere que o presidente francês, Emmanuel Macron, derrotará a candidata de extrema direita, Marine Le Pen, no segundo turno da eleição presidencial, neste domingo. Ainda assim, Le Pen desempenhou melhor nesta disputa eleitoral do que na sua candidatura em 2017. Enquanto obteve apenas cerca de 33% dos votos no segundo turno com Macron em 2017, a projeção do site Politico prevê que Le Pen poderá conquistar até 46% dos votos no segundo turno deste ano.

O que poderia explicar o sucesso relativo de Le Pen? Mais apoio das mulheres nas urnas. No passado, mais homens do que mulheres apoiavam o Reagrupamento Nacional (anteriormente Frente Nacional), o partido de extrema direita de Le Pen. Hoje, o hiato entre gêneros se inverteu, e mais mulheres do que homens expressam apoio por Le Pen.

Isso é um tanto quanto surpreendente, porque pesquisas anteriores mostraram que as mulheres são significativamente menos propensas a votar em partidos populistas de extrema direita do que os homens. Como podemos explicar o caso francês?

Partidos populistas de extrema direita são arriscados, e mulheres são mais avessas a riscos do que homens.Votar por um partido populista de extrema direita engendra um certo grau de risco. Esses partidos são entidades relativamente desconhecidas, com experiência parlamentar limitada. Eles também desafiam as certezas da ordem política existente, questionando o status quo e fazendo campanha contra o establishment político. Apesar de alguns eleitores considerarem essas atitudes atraentes, eleitores avessos a riscos rejeitarão esses partidos em eleições.

Pesquisas constatam regularmente que as mulheres são mais avessas a riscos do que os homens. (Evidentemente, isso representa uma média; individualmente, homens e mulheres podem divergir dessa generalização.) E as mulheres geralmente tendem a evitar votar em partidos arriscados que não têm chance de conquistar assentos no Parlamento, incluindo muitos dos partidos populistas de extrema direita. Eleitores avessos a riscos com frequência seguem normas sociais e direcionam seus votos a causas mainstream e moderadas — e evitam apoiar partidos extremistas e radicais.

Marine Le Pen participa de campanha durante o segundo turno da eleição francesa em Saint Pierre-en-Auge, no interior do país Foto: Sameer Al-Doumy/AFP

Apoio à extrema direita depende do contexto eleitoral

Imagine a seguinte hipótese: Quando um partido populista de extrema direita tem alta possibilidade de conquistar assentos na legislatura, decidir votar naquele partido pode parecer menos arriscado, tanto eleitoralmente quanto socialmente. Eleitoralmente, não será um voto desperdiçado se o partido tem chance de vencer. Socialmente, não é considerado anormal apoiar um partido desse tipo que tenha ganhado apoio de uma grande porção do eleitorado.

Para testar esta hipótese, utilizamos as oito tendências da European Social Survey (ESS) constatadas entre 2002 e 2016. A ESS é bianual e envolve pelo menos 1,5 mil entrevistados em cada um dos 36 países em que é realizada. Nós analisamos os resultados de 14 países da Europa Ocidental, incluindo a França. As pesquisas fazem perguntas a respeito de atitudes sociais, econômicas e políticas dos indivíduos por meio de entrevistas presenciais, com novos entrevistados selecionados aleatoriamente a cada rodada em fatias transversais de população.

Nós mensuramos o que os cientistas sociais chamam de “aversão individual ao risco” usando uma pergunta que questionou os participantes sobre até que ponto eles aceitam assumir riscos na vida, numa escala de 1 a 6. Consistentemente com pesquisas anteriores, constatamos que as mulheres são, em média, mais avessas a riscos do que os homens. Nós também constatamos que os indivíduos com aversão a riscos mais intensa são menos propensos a apoiar partidos populistas de extrema direita.

Nós mensuramos o nível de risco eleitoral que votar por esses partidos pode ocasionar examinando o índice do eleitorado nacional que votou num partido populista de extrema direita ou o número de assentos que um partido populista de extrema direita conquistou anteriormente à pesquisa. Saber o quanto esse partido foi bem-sucedido (ou não) na eleição anterior dá aos eleitores uma noção a respeito da viabilidade do partido e sobre se votar naquele partido equivale a desperdiçar o voto. À medida que partidos de extrema direita reúnem apoio eleitoral suficiente, votar neles passa a ser menos arriscado.

Mais votos, mais apoio feminino

Consistentemente com esta teoria, constatamos que o hiato entre gêneros no apoio a partidos de extrema direita diminui em função de seu bom desempenho em eleições anteriores às pesquisas. Mas quando esses partidos não conseguiram chegar ao Parlamento na eleição anterior, o hiato entre gêneros no apoio a eles aumenta, com os homens apoiando os partidos arriscados muito mais do que as mulheres.

- O que isso significa para Le Pen e a política europeia mais amplamente?O desempenho de Le Pen no primeiro turno da eleição ostenta apoio significativo das mulheres. De acordo com pesquisas Harris publicadas a cada semana, mulheres respondem que provavelmente votariam por Le Pen em índices maiores que os homens. Como seria consistente com nosso argumento, o hiato entre gêneros nos votos pelo mais novo candidato populista, Éric Zemmour, ocorreu na direção oposta; mais homens do que mulheres responderam que provavelmente votariam nele.

Contudo, votar por Le Pen, uma candidata consolidada, é considerado menos arriscado, então mais mulheres responderam que estavam propensas a votar nela. Na realidade, a candidatura de Zemmour ajudou Le Pen a se apresentar como uma figura menos extrema do que antes. Além disso, se uma candidata considerada extremista entra no jogo, nossa análise sugere que as mulheres evitariam votar nela tanto quanto afirmaram evitar Zemmour.

Tanto a criação quanto a base de apoio dos partidos populistas de extrema direita que surgiram por toda a Europa nos últimos 20 anos foram amplamente dominadas por homens. Esses partidos foram geralmente liderados e sustentados por homens. Mas esse padrão está mudando, e as eleições de 2022 na França comprovam isso. Nós prevemos que o hiato entre gêneros se estreitará em relação ao voto em partidos populistas de extrema direita na medida em que os partidos populistas de extrema direita entrem no mainstream, um processo que ocorre atualmente em países ocidentais. / TRADUÇÃO DE GUILHERME RUSSO

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