Crescimento de ortodoxos e aumento da violência fortalecem a direita entre jovens israelenses


Sem memória dos acordos de paz e distante de palestinos, jovens em Israel se identificam com a direita em proporção maior que os mais velhos, indo contra a tendência mundial

Por Carolina Marins
Atualização:

Apesar do levante recente de israelenses contra Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo de Israel, as políticas que colocaram Bibi no poder ganham cada vez mais força, especialmente entre os jovens. a Pesquisas de opinião mostram que a tendência ideológica em Israel é o aumento da direita - e ultradireita - conforme aumenta a população de ortodoxos no país.

Netanyahu foi eleito há 26 anos pela primeira vez com a promessa de aumentar a segurança de Israel frente a ataques de grupos palestinos. Hoje, conforme atentados e confrontos crescem no que analistas temem que pode levar a uma terceira intifada, a política de segurança que alçou o premiê é defendida com força pela juventude, que pede um “homem forte” para liderar o país. A mesma defesa que agora parece envolver o extremista Itamar Ben-Gvir, ministro do Interior de Bibi, apontam analistas.

Segundo dados do Índice de Democracia em Israel de 2022, publicado em janeiro pelo Instituto da Democracia em Israel, 62% dos judeus israelenses se identificam com a direita, contra 24% que votam pelo centro e 11% pela esquerda. Entre os jovens, porém, essa diferença aumenta 11 pontos. Entre aqueles de 18 a 24 anos, cerca de 73% se dizem de direita, enquanto os de 25 a 34 se colocam em 75% à direita.

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O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, é abordado por apoiadores enquanto comemora o feriado judaico de Purim, na cidade de Hebron, na Cisjordânia Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Os números saltam ainda mais aos olhos quando comparados com a população mais velha. Embora a identificação com a direita seja maioria em todos os segmentos etários, entre pessoas com mais de 65 anos, essa identificação cai para 46%. Dos adultos entre 45 e 54, 53% apoiam a direita e os de 55 a 64 são 52% deste espectro político.

Uma das explicações está no próprio índice: a conexão entre religiosidade e visão política é indissociável. Quanto mais próximo do religioso ortodoxo, maior a chance de se dizer de direita, enquanto entre os seculares a tendência é de equilíbrio entre os três espectros políticos.

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Aumento de ortodoxos

À essa correlação se soma o fato de que a população ortodoxa é a que mais cresce em Israel. De acordo com o Central Bureau of Statistics (CBS), centro estatístico de Israel, a população de Haredi (que engloba ortodoxos e ultraortodoxos) era de 1,28 milhão em 2022, contra 750 mil em 2009. Hoje, eles são 13% da população israelense e até 2030 devem ser 16%, ultrapassando os 2 milhões em 2033. A população total do país, hoje, é de menos de 10 milhões.

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“A taxa de crescimento da população ultra-ortodoxa (Haredi) em Israel é a mais alta de qualquer uma das populações dos países desenvolvidos, em torno de 4% ao ano”, afirma o Instituto da Democracia em Israel em seu relatório de dezembro de 2022 sobre os Haredi. “Os fatores subjacentes a esse crescimento particularmente rápido são as altas taxas de fertilidade, os padrões de vida e a medicina modernos, a idade média de casamento jovem e o grande número de filhos por família.”

A demografia israelense é um fator que explica muito, embora não toda, essa transformação na juventude israelense em direita, afirma Alon Yakter, professor na Escola de Ciência Política, Governo e Relações Internacionais da Universidade de Tel Aviv. “Em geral nos países desenvolvidos, a tendência é a queda da fertilidade. Mas em Israel ainda temos mais filhos que os demais países desenvolvidos”, explica.

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De fato, Israel é o país da OCDE que tem a maior taxa de fertilidade. São 2,9 filhos por mulher, contra 2,3 da África do Sul, o segundo país no ranking. O motivo para isso, observa o professor, é que Israel concentra duas populações com alta taxa de fertilidade: os árabes e os ultraortodoxos.

Judeus ultraortodoxos fazem Matzá durante o feriado da Páscoa Judaica, em Jerusalém  Foto: Abir Sultan/EPA/EFE

O relatório, porém, só considera os israelenses judeus na hora de avaliar apoio político à direita, centro e esquerda, pois, segundo o próprio índice ressalta, a separação não é a mais adequada para os árabes, cuja análise é feita com base em apoio a partidos sionistas e não-sionistas.

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“O judeus ortodoxos crescem em um enclave ou em uma câmara de eco, muito menos conectados à população. Então, por várias razões, eles são muito mais de direita e crescem em tamanho”, explica Yakter, que estuda comportamento eleitoral. “Mas somente a demografia não é suficiente para explicar a mudança na juventude”.

Segurança e questão palestina

Ao se falar em direita e esquerda em Israel, é importante ressaltar que são pautas bastante diferentes do espectro político brasileiro. A clivagem entre os dois apostos no país costumava estar conectada diretamente à questão Palestina.

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“A esquerda é muito mais aberta à negociações com outros países árabes, como Marrocos e Emirados Árabes Unidos, rechaça a expansão territorial de Israel e, acima de tudo, defende um Estado Palestino viável”, explica Gabriel Paciornik, escritor e analista brasileiro que mora em Tel-Aviv há 25 anos. “Já a direita coloca exatamente o oposto, e se recusa a negociar enquanto houver terror”.

Isso explica porque a diferença de apoio tende a diminuir entre os mais velhos, que se lembram dos dias de violência das duas intifadas (em 1987 e novamente em 2000) e consideram a importância das negociações de paz para a conquista de uma maior segurança. No entanto, os jovens não possuem essa memória, pelo contrário, a realidade que se recordam é a do Hamas, considerado um grupo terrorista em Israel, sendo eleito e governando na Faixa de Gaza.

Um judeu ortodoxo e um palestino conversam durante um protesto contra o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu em sua visita à Londres em 24 de março de 2023 Foto: Toby Melville/Reuters

Desde então, e após um considerável enfraquecimento da Autoridade Palestina, os episódios de violência tornaram a crescer dentro da sociedade, com 2022 e este início de 2023 sendo o auge de conflitos na Cisjordânia. “Esses jovens cresceram em um momento de desespero que se seguiu após os processos de paz estagnarem. E o que aconteceu depois? Aconteceu que Netanyahu tem estado no poder por 15 anos quase consecutivamente”.

Muros

Netanyahu foi eleito premiê pela primeira vez em 1996, após uma eleição antecipada devido ao assassinato do então premiê Yitzhak Rabin por uma extremista ortodoxo. Ao contrário de seu antecessor, Netanyahu era contra os processos de paz e prometia proteger os israelenses. Sua política se baseava na luta contra grupos palestinos vistos como terroristas, bem como o inimigo Irã.

Um símbolo desta política de segurança de Netanyahu é a construção de muros que separam israelenses e palestinos. Uma política, aponta Yakter, que a juventude de hoje conheceu a sua vida inteira e acaba fomentando a radicalização, de ambos os lados do muro.

“Israelenses e palestinos têm menos contato hoje do que costumavam ter. O resultado, e vemos isso nas pesquisas, é que nos últimos 15 anos, cada vez mais, os israelenses estão convencidos de que os palestinos são um coletivo de gente que quer matar israelenses. É igual quando as pessoas pensam no Estado Islâmico, como se fossem uma massa de gente sem rosto que só quer matar israelenses”.

Ônibus esperam junto ao muro entre Jerusalém e a Cisjordânia, para levar palestinos para assistirem à oração de sexta-feira do mês sagrado do Ramadã na Mesquita de Al Aqasa, na Cidade Velha de Jerusalém  Foto: Atef Safadi/EPA/EFE

Junto com o crescimento de ortodoxos e os esfacelamento das negociações de paz, a esquerda israelense foi perdendo espaço por desorganização própria, apontam os analistas. “A esquerda de Israel completamente desapareceu”, afirma Paciornik. “Não existem mais jovens na esquerda, na verdade nem mais velhos. Não existe mais esquerda em Israel, os números [de apoiadores] são ridículos”.

“Em termos de centro e centro-direita, que seria o partido do Benny Gantz, o partido do Yair Lapid, etc, eles atraem bastante votos, inclusive da juventude. Mas a juventude não tem uma bússola esquerda-direita nesse sentido”, completa.

Espaço para extremistas

Apesar da retórica de segurança, Netanyahu abriu certos espaços de diálogos com palestinos, inclusive se retirando de regiões ocupadas da Cisjordânia. Embora analistas digam que tenha sido única e exclusivamente por pressão do aliado Estados Unidos, na época comandado por Barack Obama. Isso, somado aos episódios de violência recentes, têm dado espaço para que Bibi seja substituído como favorito entre os jovens por Itamar Ben-Gvir, um nacionalista ortodoxo que é anti-árabes.

“É revigorante finalmente ver alguém defender os valores nos quais você acredita em termos de construir um Estado judeu mais forte, cuidando do que precisa ser cuidado”, afirmou Yakir Abelow de 22 anos sobre Ben-Gvir à agência France-Press durante as últimas eleições.

Pesquisas apontam que popularidade de Ben-Gvir é maior entre jovens que entre mais velhos Foto: Ohad Zwigenberg/AP

“Essa é uma juventude que está um pouco perdida nessa sociedade por vários motivos, e eles precisam de ação, eles estão desobedecendo. E aí para quem que eles vão votar? No herói deles, o Ben-Gvir”, explica Paciornik.

Além de perder espaço na retórica de segurança, Netanyahu se vê mais desgastado agora após os imensos protestos que continuam no país apesar da paralisação da reforma judicial. As manifestações foram um ponto de convergência na política israelense contra o que a sociedade vê como erosão dos fundamentos democráticos do país. A questão, afirma Yakter, é se esse desgaste de Bibi jogará os eleitores aos braços de Ben-Gvir ou fortalecerá o centro moderado de Lapid, Gantz e Naftali Bennet. Mas, definitivamente, não fortalecerá a esquerda.

Apesar do levante recente de israelenses contra Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo de Israel, as políticas que colocaram Bibi no poder ganham cada vez mais força, especialmente entre os jovens. a Pesquisas de opinião mostram que a tendência ideológica em Israel é o aumento da direita - e ultradireita - conforme aumenta a população de ortodoxos no país.

Netanyahu foi eleito há 26 anos pela primeira vez com a promessa de aumentar a segurança de Israel frente a ataques de grupos palestinos. Hoje, conforme atentados e confrontos crescem no que analistas temem que pode levar a uma terceira intifada, a política de segurança que alçou o premiê é defendida com força pela juventude, que pede um “homem forte” para liderar o país. A mesma defesa que agora parece envolver o extremista Itamar Ben-Gvir, ministro do Interior de Bibi, apontam analistas.

Segundo dados do Índice de Democracia em Israel de 2022, publicado em janeiro pelo Instituto da Democracia em Israel, 62% dos judeus israelenses se identificam com a direita, contra 24% que votam pelo centro e 11% pela esquerda. Entre os jovens, porém, essa diferença aumenta 11 pontos. Entre aqueles de 18 a 24 anos, cerca de 73% se dizem de direita, enquanto os de 25 a 34 se colocam em 75% à direita.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, é abordado por apoiadores enquanto comemora o feriado judaico de Purim, na cidade de Hebron, na Cisjordânia Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Os números saltam ainda mais aos olhos quando comparados com a população mais velha. Embora a identificação com a direita seja maioria em todos os segmentos etários, entre pessoas com mais de 65 anos, essa identificação cai para 46%. Dos adultos entre 45 e 54, 53% apoiam a direita e os de 55 a 64 são 52% deste espectro político.

Uma das explicações está no próprio índice: a conexão entre religiosidade e visão política é indissociável. Quanto mais próximo do religioso ortodoxo, maior a chance de se dizer de direita, enquanto entre os seculares a tendência é de equilíbrio entre os três espectros políticos.

Aumento de ortodoxos

À essa correlação se soma o fato de que a população ortodoxa é a que mais cresce em Israel. De acordo com o Central Bureau of Statistics (CBS), centro estatístico de Israel, a população de Haredi (que engloba ortodoxos e ultraortodoxos) era de 1,28 milhão em 2022, contra 750 mil em 2009. Hoje, eles são 13% da população israelense e até 2030 devem ser 16%, ultrapassando os 2 milhões em 2033. A população total do país, hoje, é de menos de 10 milhões.

“A taxa de crescimento da população ultra-ortodoxa (Haredi) em Israel é a mais alta de qualquer uma das populações dos países desenvolvidos, em torno de 4% ao ano”, afirma o Instituto da Democracia em Israel em seu relatório de dezembro de 2022 sobre os Haredi. “Os fatores subjacentes a esse crescimento particularmente rápido são as altas taxas de fertilidade, os padrões de vida e a medicina modernos, a idade média de casamento jovem e o grande número de filhos por família.”

A demografia israelense é um fator que explica muito, embora não toda, essa transformação na juventude israelense em direita, afirma Alon Yakter, professor na Escola de Ciência Política, Governo e Relações Internacionais da Universidade de Tel Aviv. “Em geral nos países desenvolvidos, a tendência é a queda da fertilidade. Mas em Israel ainda temos mais filhos que os demais países desenvolvidos”, explica.

De fato, Israel é o país da OCDE que tem a maior taxa de fertilidade. São 2,9 filhos por mulher, contra 2,3 da África do Sul, o segundo país no ranking. O motivo para isso, observa o professor, é que Israel concentra duas populações com alta taxa de fertilidade: os árabes e os ultraortodoxos.

Judeus ultraortodoxos fazem Matzá durante o feriado da Páscoa Judaica, em Jerusalém  Foto: Abir Sultan/EPA/EFE

O relatório, porém, só considera os israelenses judeus na hora de avaliar apoio político à direita, centro e esquerda, pois, segundo o próprio índice ressalta, a separação não é a mais adequada para os árabes, cuja análise é feita com base em apoio a partidos sionistas e não-sionistas.

“O judeus ortodoxos crescem em um enclave ou em uma câmara de eco, muito menos conectados à população. Então, por várias razões, eles são muito mais de direita e crescem em tamanho”, explica Yakter, que estuda comportamento eleitoral. “Mas somente a demografia não é suficiente para explicar a mudança na juventude”.

Segurança e questão palestina

Ao se falar em direita e esquerda em Israel, é importante ressaltar que são pautas bastante diferentes do espectro político brasileiro. A clivagem entre os dois apostos no país costumava estar conectada diretamente à questão Palestina.

“A esquerda é muito mais aberta à negociações com outros países árabes, como Marrocos e Emirados Árabes Unidos, rechaça a expansão territorial de Israel e, acima de tudo, defende um Estado Palestino viável”, explica Gabriel Paciornik, escritor e analista brasileiro que mora em Tel-Aviv há 25 anos. “Já a direita coloca exatamente o oposto, e se recusa a negociar enquanto houver terror”.

Isso explica porque a diferença de apoio tende a diminuir entre os mais velhos, que se lembram dos dias de violência das duas intifadas (em 1987 e novamente em 2000) e consideram a importância das negociações de paz para a conquista de uma maior segurança. No entanto, os jovens não possuem essa memória, pelo contrário, a realidade que se recordam é a do Hamas, considerado um grupo terrorista em Israel, sendo eleito e governando na Faixa de Gaza.

Um judeu ortodoxo e um palestino conversam durante um protesto contra o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu em sua visita à Londres em 24 de março de 2023 Foto: Toby Melville/Reuters

Desde então, e após um considerável enfraquecimento da Autoridade Palestina, os episódios de violência tornaram a crescer dentro da sociedade, com 2022 e este início de 2023 sendo o auge de conflitos na Cisjordânia. “Esses jovens cresceram em um momento de desespero que se seguiu após os processos de paz estagnarem. E o que aconteceu depois? Aconteceu que Netanyahu tem estado no poder por 15 anos quase consecutivamente”.

Muros

Netanyahu foi eleito premiê pela primeira vez em 1996, após uma eleição antecipada devido ao assassinato do então premiê Yitzhak Rabin por uma extremista ortodoxo. Ao contrário de seu antecessor, Netanyahu era contra os processos de paz e prometia proteger os israelenses. Sua política se baseava na luta contra grupos palestinos vistos como terroristas, bem como o inimigo Irã.

Um símbolo desta política de segurança de Netanyahu é a construção de muros que separam israelenses e palestinos. Uma política, aponta Yakter, que a juventude de hoje conheceu a sua vida inteira e acaba fomentando a radicalização, de ambos os lados do muro.

“Israelenses e palestinos têm menos contato hoje do que costumavam ter. O resultado, e vemos isso nas pesquisas, é que nos últimos 15 anos, cada vez mais, os israelenses estão convencidos de que os palestinos são um coletivo de gente que quer matar israelenses. É igual quando as pessoas pensam no Estado Islâmico, como se fossem uma massa de gente sem rosto que só quer matar israelenses”.

Ônibus esperam junto ao muro entre Jerusalém e a Cisjordânia, para levar palestinos para assistirem à oração de sexta-feira do mês sagrado do Ramadã na Mesquita de Al Aqasa, na Cidade Velha de Jerusalém  Foto: Atef Safadi/EPA/EFE

Junto com o crescimento de ortodoxos e os esfacelamento das negociações de paz, a esquerda israelense foi perdendo espaço por desorganização própria, apontam os analistas. “A esquerda de Israel completamente desapareceu”, afirma Paciornik. “Não existem mais jovens na esquerda, na verdade nem mais velhos. Não existe mais esquerda em Israel, os números [de apoiadores] são ridículos”.

“Em termos de centro e centro-direita, que seria o partido do Benny Gantz, o partido do Yair Lapid, etc, eles atraem bastante votos, inclusive da juventude. Mas a juventude não tem uma bússola esquerda-direita nesse sentido”, completa.

Espaço para extremistas

Apesar da retórica de segurança, Netanyahu abriu certos espaços de diálogos com palestinos, inclusive se retirando de regiões ocupadas da Cisjordânia. Embora analistas digam que tenha sido única e exclusivamente por pressão do aliado Estados Unidos, na época comandado por Barack Obama. Isso, somado aos episódios de violência recentes, têm dado espaço para que Bibi seja substituído como favorito entre os jovens por Itamar Ben-Gvir, um nacionalista ortodoxo que é anti-árabes.

“É revigorante finalmente ver alguém defender os valores nos quais você acredita em termos de construir um Estado judeu mais forte, cuidando do que precisa ser cuidado”, afirmou Yakir Abelow de 22 anos sobre Ben-Gvir à agência France-Press durante as últimas eleições.

Pesquisas apontam que popularidade de Ben-Gvir é maior entre jovens que entre mais velhos Foto: Ohad Zwigenberg/AP

“Essa é uma juventude que está um pouco perdida nessa sociedade por vários motivos, e eles precisam de ação, eles estão desobedecendo. E aí para quem que eles vão votar? No herói deles, o Ben-Gvir”, explica Paciornik.

Além de perder espaço na retórica de segurança, Netanyahu se vê mais desgastado agora após os imensos protestos que continuam no país apesar da paralisação da reforma judicial. As manifestações foram um ponto de convergência na política israelense contra o que a sociedade vê como erosão dos fundamentos democráticos do país. A questão, afirma Yakter, é se esse desgaste de Bibi jogará os eleitores aos braços de Ben-Gvir ou fortalecerá o centro moderado de Lapid, Gantz e Naftali Bennet. Mas, definitivamente, não fortalecerá a esquerda.

Apesar do levante recente de israelenses contra Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo de Israel, as políticas que colocaram Bibi no poder ganham cada vez mais força, especialmente entre os jovens. a Pesquisas de opinião mostram que a tendência ideológica em Israel é o aumento da direita - e ultradireita - conforme aumenta a população de ortodoxos no país.

Netanyahu foi eleito há 26 anos pela primeira vez com a promessa de aumentar a segurança de Israel frente a ataques de grupos palestinos. Hoje, conforme atentados e confrontos crescem no que analistas temem que pode levar a uma terceira intifada, a política de segurança que alçou o premiê é defendida com força pela juventude, que pede um “homem forte” para liderar o país. A mesma defesa que agora parece envolver o extremista Itamar Ben-Gvir, ministro do Interior de Bibi, apontam analistas.

Segundo dados do Índice de Democracia em Israel de 2022, publicado em janeiro pelo Instituto da Democracia em Israel, 62% dos judeus israelenses se identificam com a direita, contra 24% que votam pelo centro e 11% pela esquerda. Entre os jovens, porém, essa diferença aumenta 11 pontos. Entre aqueles de 18 a 24 anos, cerca de 73% se dizem de direita, enquanto os de 25 a 34 se colocam em 75% à direita.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, é abordado por apoiadores enquanto comemora o feriado judaico de Purim, na cidade de Hebron, na Cisjordânia Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Os números saltam ainda mais aos olhos quando comparados com a população mais velha. Embora a identificação com a direita seja maioria em todos os segmentos etários, entre pessoas com mais de 65 anos, essa identificação cai para 46%. Dos adultos entre 45 e 54, 53% apoiam a direita e os de 55 a 64 são 52% deste espectro político.

Uma das explicações está no próprio índice: a conexão entre religiosidade e visão política é indissociável. Quanto mais próximo do religioso ortodoxo, maior a chance de se dizer de direita, enquanto entre os seculares a tendência é de equilíbrio entre os três espectros políticos.

Aumento de ortodoxos

À essa correlação se soma o fato de que a população ortodoxa é a que mais cresce em Israel. De acordo com o Central Bureau of Statistics (CBS), centro estatístico de Israel, a população de Haredi (que engloba ortodoxos e ultraortodoxos) era de 1,28 milhão em 2022, contra 750 mil em 2009. Hoje, eles são 13% da população israelense e até 2030 devem ser 16%, ultrapassando os 2 milhões em 2033. A população total do país, hoje, é de menos de 10 milhões.

“A taxa de crescimento da população ultra-ortodoxa (Haredi) em Israel é a mais alta de qualquer uma das populações dos países desenvolvidos, em torno de 4% ao ano”, afirma o Instituto da Democracia em Israel em seu relatório de dezembro de 2022 sobre os Haredi. “Os fatores subjacentes a esse crescimento particularmente rápido são as altas taxas de fertilidade, os padrões de vida e a medicina modernos, a idade média de casamento jovem e o grande número de filhos por família.”

A demografia israelense é um fator que explica muito, embora não toda, essa transformação na juventude israelense em direita, afirma Alon Yakter, professor na Escola de Ciência Política, Governo e Relações Internacionais da Universidade de Tel Aviv. “Em geral nos países desenvolvidos, a tendência é a queda da fertilidade. Mas em Israel ainda temos mais filhos que os demais países desenvolvidos”, explica.

De fato, Israel é o país da OCDE que tem a maior taxa de fertilidade. São 2,9 filhos por mulher, contra 2,3 da África do Sul, o segundo país no ranking. O motivo para isso, observa o professor, é que Israel concentra duas populações com alta taxa de fertilidade: os árabes e os ultraortodoxos.

Judeus ultraortodoxos fazem Matzá durante o feriado da Páscoa Judaica, em Jerusalém  Foto: Abir Sultan/EPA/EFE

O relatório, porém, só considera os israelenses judeus na hora de avaliar apoio político à direita, centro e esquerda, pois, segundo o próprio índice ressalta, a separação não é a mais adequada para os árabes, cuja análise é feita com base em apoio a partidos sionistas e não-sionistas.

“O judeus ortodoxos crescem em um enclave ou em uma câmara de eco, muito menos conectados à população. Então, por várias razões, eles são muito mais de direita e crescem em tamanho”, explica Yakter, que estuda comportamento eleitoral. “Mas somente a demografia não é suficiente para explicar a mudança na juventude”.

Segurança e questão palestina

Ao se falar em direita e esquerda em Israel, é importante ressaltar que são pautas bastante diferentes do espectro político brasileiro. A clivagem entre os dois apostos no país costumava estar conectada diretamente à questão Palestina.

“A esquerda é muito mais aberta à negociações com outros países árabes, como Marrocos e Emirados Árabes Unidos, rechaça a expansão territorial de Israel e, acima de tudo, defende um Estado Palestino viável”, explica Gabriel Paciornik, escritor e analista brasileiro que mora em Tel-Aviv há 25 anos. “Já a direita coloca exatamente o oposto, e se recusa a negociar enquanto houver terror”.

Isso explica porque a diferença de apoio tende a diminuir entre os mais velhos, que se lembram dos dias de violência das duas intifadas (em 1987 e novamente em 2000) e consideram a importância das negociações de paz para a conquista de uma maior segurança. No entanto, os jovens não possuem essa memória, pelo contrário, a realidade que se recordam é a do Hamas, considerado um grupo terrorista em Israel, sendo eleito e governando na Faixa de Gaza.

Um judeu ortodoxo e um palestino conversam durante um protesto contra o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu em sua visita à Londres em 24 de março de 2023 Foto: Toby Melville/Reuters

Desde então, e após um considerável enfraquecimento da Autoridade Palestina, os episódios de violência tornaram a crescer dentro da sociedade, com 2022 e este início de 2023 sendo o auge de conflitos na Cisjordânia. “Esses jovens cresceram em um momento de desespero que se seguiu após os processos de paz estagnarem. E o que aconteceu depois? Aconteceu que Netanyahu tem estado no poder por 15 anos quase consecutivamente”.

Muros

Netanyahu foi eleito premiê pela primeira vez em 1996, após uma eleição antecipada devido ao assassinato do então premiê Yitzhak Rabin por uma extremista ortodoxo. Ao contrário de seu antecessor, Netanyahu era contra os processos de paz e prometia proteger os israelenses. Sua política se baseava na luta contra grupos palestinos vistos como terroristas, bem como o inimigo Irã.

Um símbolo desta política de segurança de Netanyahu é a construção de muros que separam israelenses e palestinos. Uma política, aponta Yakter, que a juventude de hoje conheceu a sua vida inteira e acaba fomentando a radicalização, de ambos os lados do muro.

“Israelenses e palestinos têm menos contato hoje do que costumavam ter. O resultado, e vemos isso nas pesquisas, é que nos últimos 15 anos, cada vez mais, os israelenses estão convencidos de que os palestinos são um coletivo de gente que quer matar israelenses. É igual quando as pessoas pensam no Estado Islâmico, como se fossem uma massa de gente sem rosto que só quer matar israelenses”.

Ônibus esperam junto ao muro entre Jerusalém e a Cisjordânia, para levar palestinos para assistirem à oração de sexta-feira do mês sagrado do Ramadã na Mesquita de Al Aqasa, na Cidade Velha de Jerusalém  Foto: Atef Safadi/EPA/EFE

Junto com o crescimento de ortodoxos e os esfacelamento das negociações de paz, a esquerda israelense foi perdendo espaço por desorganização própria, apontam os analistas. “A esquerda de Israel completamente desapareceu”, afirma Paciornik. “Não existem mais jovens na esquerda, na verdade nem mais velhos. Não existe mais esquerda em Israel, os números [de apoiadores] são ridículos”.

“Em termos de centro e centro-direita, que seria o partido do Benny Gantz, o partido do Yair Lapid, etc, eles atraem bastante votos, inclusive da juventude. Mas a juventude não tem uma bússola esquerda-direita nesse sentido”, completa.

Espaço para extremistas

Apesar da retórica de segurança, Netanyahu abriu certos espaços de diálogos com palestinos, inclusive se retirando de regiões ocupadas da Cisjordânia. Embora analistas digam que tenha sido única e exclusivamente por pressão do aliado Estados Unidos, na época comandado por Barack Obama. Isso, somado aos episódios de violência recentes, têm dado espaço para que Bibi seja substituído como favorito entre os jovens por Itamar Ben-Gvir, um nacionalista ortodoxo que é anti-árabes.

“É revigorante finalmente ver alguém defender os valores nos quais você acredita em termos de construir um Estado judeu mais forte, cuidando do que precisa ser cuidado”, afirmou Yakir Abelow de 22 anos sobre Ben-Gvir à agência France-Press durante as últimas eleições.

Pesquisas apontam que popularidade de Ben-Gvir é maior entre jovens que entre mais velhos Foto: Ohad Zwigenberg/AP

“Essa é uma juventude que está um pouco perdida nessa sociedade por vários motivos, e eles precisam de ação, eles estão desobedecendo. E aí para quem que eles vão votar? No herói deles, o Ben-Gvir”, explica Paciornik.

Além de perder espaço na retórica de segurança, Netanyahu se vê mais desgastado agora após os imensos protestos que continuam no país apesar da paralisação da reforma judicial. As manifestações foram um ponto de convergência na política israelense contra o que a sociedade vê como erosão dos fundamentos democráticos do país. A questão, afirma Yakter, é se esse desgaste de Bibi jogará os eleitores aos braços de Ben-Gvir ou fortalecerá o centro moderado de Lapid, Gantz e Naftali Bennet. Mas, definitivamente, não fortalecerá a esquerda.

Apesar do levante recente de israelenses contra Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo de Israel, as políticas que colocaram Bibi no poder ganham cada vez mais força, especialmente entre os jovens. a Pesquisas de opinião mostram que a tendência ideológica em Israel é o aumento da direita - e ultradireita - conforme aumenta a população de ortodoxos no país.

Netanyahu foi eleito há 26 anos pela primeira vez com a promessa de aumentar a segurança de Israel frente a ataques de grupos palestinos. Hoje, conforme atentados e confrontos crescem no que analistas temem que pode levar a uma terceira intifada, a política de segurança que alçou o premiê é defendida com força pela juventude, que pede um “homem forte” para liderar o país. A mesma defesa que agora parece envolver o extremista Itamar Ben-Gvir, ministro do Interior de Bibi, apontam analistas.

Segundo dados do Índice de Democracia em Israel de 2022, publicado em janeiro pelo Instituto da Democracia em Israel, 62% dos judeus israelenses se identificam com a direita, contra 24% que votam pelo centro e 11% pela esquerda. Entre os jovens, porém, essa diferença aumenta 11 pontos. Entre aqueles de 18 a 24 anos, cerca de 73% se dizem de direita, enquanto os de 25 a 34 se colocam em 75% à direita.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, é abordado por apoiadores enquanto comemora o feriado judaico de Purim, na cidade de Hebron, na Cisjordânia Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Os números saltam ainda mais aos olhos quando comparados com a população mais velha. Embora a identificação com a direita seja maioria em todos os segmentos etários, entre pessoas com mais de 65 anos, essa identificação cai para 46%. Dos adultos entre 45 e 54, 53% apoiam a direita e os de 55 a 64 são 52% deste espectro político.

Uma das explicações está no próprio índice: a conexão entre religiosidade e visão política é indissociável. Quanto mais próximo do religioso ortodoxo, maior a chance de se dizer de direita, enquanto entre os seculares a tendência é de equilíbrio entre os três espectros políticos.

Aumento de ortodoxos

À essa correlação se soma o fato de que a população ortodoxa é a que mais cresce em Israel. De acordo com o Central Bureau of Statistics (CBS), centro estatístico de Israel, a população de Haredi (que engloba ortodoxos e ultraortodoxos) era de 1,28 milhão em 2022, contra 750 mil em 2009. Hoje, eles são 13% da população israelense e até 2030 devem ser 16%, ultrapassando os 2 milhões em 2033. A população total do país, hoje, é de menos de 10 milhões.

“A taxa de crescimento da população ultra-ortodoxa (Haredi) em Israel é a mais alta de qualquer uma das populações dos países desenvolvidos, em torno de 4% ao ano”, afirma o Instituto da Democracia em Israel em seu relatório de dezembro de 2022 sobre os Haredi. “Os fatores subjacentes a esse crescimento particularmente rápido são as altas taxas de fertilidade, os padrões de vida e a medicina modernos, a idade média de casamento jovem e o grande número de filhos por família.”

A demografia israelense é um fator que explica muito, embora não toda, essa transformação na juventude israelense em direita, afirma Alon Yakter, professor na Escola de Ciência Política, Governo e Relações Internacionais da Universidade de Tel Aviv. “Em geral nos países desenvolvidos, a tendência é a queda da fertilidade. Mas em Israel ainda temos mais filhos que os demais países desenvolvidos”, explica.

De fato, Israel é o país da OCDE que tem a maior taxa de fertilidade. São 2,9 filhos por mulher, contra 2,3 da África do Sul, o segundo país no ranking. O motivo para isso, observa o professor, é que Israel concentra duas populações com alta taxa de fertilidade: os árabes e os ultraortodoxos.

Judeus ultraortodoxos fazem Matzá durante o feriado da Páscoa Judaica, em Jerusalém  Foto: Abir Sultan/EPA/EFE

O relatório, porém, só considera os israelenses judeus na hora de avaliar apoio político à direita, centro e esquerda, pois, segundo o próprio índice ressalta, a separação não é a mais adequada para os árabes, cuja análise é feita com base em apoio a partidos sionistas e não-sionistas.

“O judeus ortodoxos crescem em um enclave ou em uma câmara de eco, muito menos conectados à população. Então, por várias razões, eles são muito mais de direita e crescem em tamanho”, explica Yakter, que estuda comportamento eleitoral. “Mas somente a demografia não é suficiente para explicar a mudança na juventude”.

Segurança e questão palestina

Ao se falar em direita e esquerda em Israel, é importante ressaltar que são pautas bastante diferentes do espectro político brasileiro. A clivagem entre os dois apostos no país costumava estar conectada diretamente à questão Palestina.

“A esquerda é muito mais aberta à negociações com outros países árabes, como Marrocos e Emirados Árabes Unidos, rechaça a expansão territorial de Israel e, acima de tudo, defende um Estado Palestino viável”, explica Gabriel Paciornik, escritor e analista brasileiro que mora em Tel-Aviv há 25 anos. “Já a direita coloca exatamente o oposto, e se recusa a negociar enquanto houver terror”.

Isso explica porque a diferença de apoio tende a diminuir entre os mais velhos, que se lembram dos dias de violência das duas intifadas (em 1987 e novamente em 2000) e consideram a importância das negociações de paz para a conquista de uma maior segurança. No entanto, os jovens não possuem essa memória, pelo contrário, a realidade que se recordam é a do Hamas, considerado um grupo terrorista em Israel, sendo eleito e governando na Faixa de Gaza.

Um judeu ortodoxo e um palestino conversam durante um protesto contra o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu em sua visita à Londres em 24 de março de 2023 Foto: Toby Melville/Reuters

Desde então, e após um considerável enfraquecimento da Autoridade Palestina, os episódios de violência tornaram a crescer dentro da sociedade, com 2022 e este início de 2023 sendo o auge de conflitos na Cisjordânia. “Esses jovens cresceram em um momento de desespero que se seguiu após os processos de paz estagnarem. E o que aconteceu depois? Aconteceu que Netanyahu tem estado no poder por 15 anos quase consecutivamente”.

Muros

Netanyahu foi eleito premiê pela primeira vez em 1996, após uma eleição antecipada devido ao assassinato do então premiê Yitzhak Rabin por uma extremista ortodoxo. Ao contrário de seu antecessor, Netanyahu era contra os processos de paz e prometia proteger os israelenses. Sua política se baseava na luta contra grupos palestinos vistos como terroristas, bem como o inimigo Irã.

Um símbolo desta política de segurança de Netanyahu é a construção de muros que separam israelenses e palestinos. Uma política, aponta Yakter, que a juventude de hoje conheceu a sua vida inteira e acaba fomentando a radicalização, de ambos os lados do muro.

“Israelenses e palestinos têm menos contato hoje do que costumavam ter. O resultado, e vemos isso nas pesquisas, é que nos últimos 15 anos, cada vez mais, os israelenses estão convencidos de que os palestinos são um coletivo de gente que quer matar israelenses. É igual quando as pessoas pensam no Estado Islâmico, como se fossem uma massa de gente sem rosto que só quer matar israelenses”.

Ônibus esperam junto ao muro entre Jerusalém e a Cisjordânia, para levar palestinos para assistirem à oração de sexta-feira do mês sagrado do Ramadã na Mesquita de Al Aqasa, na Cidade Velha de Jerusalém  Foto: Atef Safadi/EPA/EFE

Junto com o crescimento de ortodoxos e os esfacelamento das negociações de paz, a esquerda israelense foi perdendo espaço por desorganização própria, apontam os analistas. “A esquerda de Israel completamente desapareceu”, afirma Paciornik. “Não existem mais jovens na esquerda, na verdade nem mais velhos. Não existe mais esquerda em Israel, os números [de apoiadores] são ridículos”.

“Em termos de centro e centro-direita, que seria o partido do Benny Gantz, o partido do Yair Lapid, etc, eles atraem bastante votos, inclusive da juventude. Mas a juventude não tem uma bússola esquerda-direita nesse sentido”, completa.

Espaço para extremistas

Apesar da retórica de segurança, Netanyahu abriu certos espaços de diálogos com palestinos, inclusive se retirando de regiões ocupadas da Cisjordânia. Embora analistas digam que tenha sido única e exclusivamente por pressão do aliado Estados Unidos, na época comandado por Barack Obama. Isso, somado aos episódios de violência recentes, têm dado espaço para que Bibi seja substituído como favorito entre os jovens por Itamar Ben-Gvir, um nacionalista ortodoxo que é anti-árabes.

“É revigorante finalmente ver alguém defender os valores nos quais você acredita em termos de construir um Estado judeu mais forte, cuidando do que precisa ser cuidado”, afirmou Yakir Abelow de 22 anos sobre Ben-Gvir à agência France-Press durante as últimas eleições.

Pesquisas apontam que popularidade de Ben-Gvir é maior entre jovens que entre mais velhos Foto: Ohad Zwigenberg/AP

“Essa é uma juventude que está um pouco perdida nessa sociedade por vários motivos, e eles precisam de ação, eles estão desobedecendo. E aí para quem que eles vão votar? No herói deles, o Ben-Gvir”, explica Paciornik.

Além de perder espaço na retórica de segurança, Netanyahu se vê mais desgastado agora após os imensos protestos que continuam no país apesar da paralisação da reforma judicial. As manifestações foram um ponto de convergência na política israelense contra o que a sociedade vê como erosão dos fundamentos democráticos do país. A questão, afirma Yakter, é se esse desgaste de Bibi jogará os eleitores aos braços de Ben-Gvir ou fortalecerá o centro moderado de Lapid, Gantz e Naftali Bennet. Mas, definitivamente, não fortalecerá a esquerda.

Apesar do levante recente de israelenses contra Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro mais longevo de Israel, as políticas que colocaram Bibi no poder ganham cada vez mais força, especialmente entre os jovens. a Pesquisas de opinião mostram que a tendência ideológica em Israel é o aumento da direita - e ultradireita - conforme aumenta a população de ortodoxos no país.

Netanyahu foi eleito há 26 anos pela primeira vez com a promessa de aumentar a segurança de Israel frente a ataques de grupos palestinos. Hoje, conforme atentados e confrontos crescem no que analistas temem que pode levar a uma terceira intifada, a política de segurança que alçou o premiê é defendida com força pela juventude, que pede um “homem forte” para liderar o país. A mesma defesa que agora parece envolver o extremista Itamar Ben-Gvir, ministro do Interior de Bibi, apontam analistas.

Segundo dados do Índice de Democracia em Israel de 2022, publicado em janeiro pelo Instituto da Democracia em Israel, 62% dos judeus israelenses se identificam com a direita, contra 24% que votam pelo centro e 11% pela esquerda. Entre os jovens, porém, essa diferença aumenta 11 pontos. Entre aqueles de 18 a 24 anos, cerca de 73% se dizem de direita, enquanto os de 25 a 34 se colocam em 75% à direita.

O ministro da Segurança Nacional de Israel, Itamar Ben-Gvir, é abordado por apoiadores enquanto comemora o feriado judaico de Purim, na cidade de Hebron, na Cisjordânia Foto: Ohad Zwigenberg/AP

Os números saltam ainda mais aos olhos quando comparados com a população mais velha. Embora a identificação com a direita seja maioria em todos os segmentos etários, entre pessoas com mais de 65 anos, essa identificação cai para 46%. Dos adultos entre 45 e 54, 53% apoiam a direita e os de 55 a 64 são 52% deste espectro político.

Uma das explicações está no próprio índice: a conexão entre religiosidade e visão política é indissociável. Quanto mais próximo do religioso ortodoxo, maior a chance de se dizer de direita, enquanto entre os seculares a tendência é de equilíbrio entre os três espectros políticos.

Aumento de ortodoxos

À essa correlação se soma o fato de que a população ortodoxa é a que mais cresce em Israel. De acordo com o Central Bureau of Statistics (CBS), centro estatístico de Israel, a população de Haredi (que engloba ortodoxos e ultraortodoxos) era de 1,28 milhão em 2022, contra 750 mil em 2009. Hoje, eles são 13% da população israelense e até 2030 devem ser 16%, ultrapassando os 2 milhões em 2033. A população total do país, hoje, é de menos de 10 milhões.

“A taxa de crescimento da população ultra-ortodoxa (Haredi) em Israel é a mais alta de qualquer uma das populações dos países desenvolvidos, em torno de 4% ao ano”, afirma o Instituto da Democracia em Israel em seu relatório de dezembro de 2022 sobre os Haredi. “Os fatores subjacentes a esse crescimento particularmente rápido são as altas taxas de fertilidade, os padrões de vida e a medicina modernos, a idade média de casamento jovem e o grande número de filhos por família.”

A demografia israelense é um fator que explica muito, embora não toda, essa transformação na juventude israelense em direita, afirma Alon Yakter, professor na Escola de Ciência Política, Governo e Relações Internacionais da Universidade de Tel Aviv. “Em geral nos países desenvolvidos, a tendência é a queda da fertilidade. Mas em Israel ainda temos mais filhos que os demais países desenvolvidos”, explica.

De fato, Israel é o país da OCDE que tem a maior taxa de fertilidade. São 2,9 filhos por mulher, contra 2,3 da África do Sul, o segundo país no ranking. O motivo para isso, observa o professor, é que Israel concentra duas populações com alta taxa de fertilidade: os árabes e os ultraortodoxos.

Judeus ultraortodoxos fazem Matzá durante o feriado da Páscoa Judaica, em Jerusalém  Foto: Abir Sultan/EPA/EFE

O relatório, porém, só considera os israelenses judeus na hora de avaliar apoio político à direita, centro e esquerda, pois, segundo o próprio índice ressalta, a separação não é a mais adequada para os árabes, cuja análise é feita com base em apoio a partidos sionistas e não-sionistas.

“O judeus ortodoxos crescem em um enclave ou em uma câmara de eco, muito menos conectados à população. Então, por várias razões, eles são muito mais de direita e crescem em tamanho”, explica Yakter, que estuda comportamento eleitoral. “Mas somente a demografia não é suficiente para explicar a mudança na juventude”.

Segurança e questão palestina

Ao se falar em direita e esquerda em Israel, é importante ressaltar que são pautas bastante diferentes do espectro político brasileiro. A clivagem entre os dois apostos no país costumava estar conectada diretamente à questão Palestina.

“A esquerda é muito mais aberta à negociações com outros países árabes, como Marrocos e Emirados Árabes Unidos, rechaça a expansão territorial de Israel e, acima de tudo, defende um Estado Palestino viável”, explica Gabriel Paciornik, escritor e analista brasileiro que mora em Tel-Aviv há 25 anos. “Já a direita coloca exatamente o oposto, e se recusa a negociar enquanto houver terror”.

Isso explica porque a diferença de apoio tende a diminuir entre os mais velhos, que se lembram dos dias de violência das duas intifadas (em 1987 e novamente em 2000) e consideram a importância das negociações de paz para a conquista de uma maior segurança. No entanto, os jovens não possuem essa memória, pelo contrário, a realidade que se recordam é a do Hamas, considerado um grupo terrorista em Israel, sendo eleito e governando na Faixa de Gaza.

Um judeu ortodoxo e um palestino conversam durante um protesto contra o primeiro-ministro israelense Binyamin Netanyahu em sua visita à Londres em 24 de março de 2023 Foto: Toby Melville/Reuters

Desde então, e após um considerável enfraquecimento da Autoridade Palestina, os episódios de violência tornaram a crescer dentro da sociedade, com 2022 e este início de 2023 sendo o auge de conflitos na Cisjordânia. “Esses jovens cresceram em um momento de desespero que se seguiu após os processos de paz estagnarem. E o que aconteceu depois? Aconteceu que Netanyahu tem estado no poder por 15 anos quase consecutivamente”.

Muros

Netanyahu foi eleito premiê pela primeira vez em 1996, após uma eleição antecipada devido ao assassinato do então premiê Yitzhak Rabin por uma extremista ortodoxo. Ao contrário de seu antecessor, Netanyahu era contra os processos de paz e prometia proteger os israelenses. Sua política se baseava na luta contra grupos palestinos vistos como terroristas, bem como o inimigo Irã.

Um símbolo desta política de segurança de Netanyahu é a construção de muros que separam israelenses e palestinos. Uma política, aponta Yakter, que a juventude de hoje conheceu a sua vida inteira e acaba fomentando a radicalização, de ambos os lados do muro.

“Israelenses e palestinos têm menos contato hoje do que costumavam ter. O resultado, e vemos isso nas pesquisas, é que nos últimos 15 anos, cada vez mais, os israelenses estão convencidos de que os palestinos são um coletivo de gente que quer matar israelenses. É igual quando as pessoas pensam no Estado Islâmico, como se fossem uma massa de gente sem rosto que só quer matar israelenses”.

Ônibus esperam junto ao muro entre Jerusalém e a Cisjordânia, para levar palestinos para assistirem à oração de sexta-feira do mês sagrado do Ramadã na Mesquita de Al Aqasa, na Cidade Velha de Jerusalém  Foto: Atef Safadi/EPA/EFE

Junto com o crescimento de ortodoxos e os esfacelamento das negociações de paz, a esquerda israelense foi perdendo espaço por desorganização própria, apontam os analistas. “A esquerda de Israel completamente desapareceu”, afirma Paciornik. “Não existem mais jovens na esquerda, na verdade nem mais velhos. Não existe mais esquerda em Israel, os números [de apoiadores] são ridículos”.

“Em termos de centro e centro-direita, que seria o partido do Benny Gantz, o partido do Yair Lapid, etc, eles atraem bastante votos, inclusive da juventude. Mas a juventude não tem uma bússola esquerda-direita nesse sentido”, completa.

Espaço para extremistas

Apesar da retórica de segurança, Netanyahu abriu certos espaços de diálogos com palestinos, inclusive se retirando de regiões ocupadas da Cisjordânia. Embora analistas digam que tenha sido única e exclusivamente por pressão do aliado Estados Unidos, na época comandado por Barack Obama. Isso, somado aos episódios de violência recentes, têm dado espaço para que Bibi seja substituído como favorito entre os jovens por Itamar Ben-Gvir, um nacionalista ortodoxo que é anti-árabes.

“É revigorante finalmente ver alguém defender os valores nos quais você acredita em termos de construir um Estado judeu mais forte, cuidando do que precisa ser cuidado”, afirmou Yakir Abelow de 22 anos sobre Ben-Gvir à agência France-Press durante as últimas eleições.

Pesquisas apontam que popularidade de Ben-Gvir é maior entre jovens que entre mais velhos Foto: Ohad Zwigenberg/AP

“Essa é uma juventude que está um pouco perdida nessa sociedade por vários motivos, e eles precisam de ação, eles estão desobedecendo. E aí para quem que eles vão votar? No herói deles, o Ben-Gvir”, explica Paciornik.

Além de perder espaço na retórica de segurança, Netanyahu se vê mais desgastado agora após os imensos protestos que continuam no país apesar da paralisação da reforma judicial. As manifestações foram um ponto de convergência na política israelense contra o que a sociedade vê como erosão dos fundamentos democráticos do país. A questão, afirma Yakter, é se esse desgaste de Bibi jogará os eleitores aos braços de Ben-Gvir ou fortalecerá o centro moderado de Lapid, Gantz e Naftali Bennet. Mas, definitivamente, não fortalecerá a esquerda.

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