Apesar dos protestos contra o Taleban nesta quinta-feira, 19, e o clima de medo que tomou a cidade desde que o grupo fundamentalista islâmico tomou o poder, um tipo de "calma tensa" tomou a maior parte da capital do Afeganistão, sem o registro de grandes confrontos armados até aqui. Entretanto, todos os medos e agonias da população afegã parecem estar se manifestando nos arredores do aeroporto internacional de Cabul - única porta de saída para muitos -, onde cenas caóticas vêm sendo registradas desde o último domingo - na mais recente delas, crianças são repassadas de mão em mão por uma multidão pessoas, um retrato do desespero para deixar o país.
Em um vídeo que se tornou viral nas redes sociais, uma garotinha é carregada por uma multidão que se aglomera no entorno do aeroporto de Cabul. Ela é içada por cima do alto muro erguido no perímetro, sendo entregue a um soldado norte-americano que montava guarda.
O governo americano faz a segurança do aeroporto, mas diversos países participam da operação de retirada, como Reino Unido, Espanha, Itália, França e Alemanha.
O momento, filmado nesta semana, demonstra o sentimento de desespero entre muitos afegãos que temem o futuro com o retorno repentino do Taleban ao poder. No começo da semana, imagens de pessoas invadindo a pista do aeroporto e se agarrando a aviões americanos também comoveram o público - posteriormente, os EUA chegaram a confirmar que restos mortais foram encontrados no trem de pouso de pelo menos uma aeronave.
As cenas chamaram a atenção do mundo para saber se outros países têm o dever de aceitar afegãos que estão fugindo por medo de perseguição. Centenas pousaram em aeroportos em toda a Europa e fora dela, mas muitos outros estão presos.
Quando questionado sobre a filmagem da criança, o ministro da Defesa, Ben Wallace, disse que o Reino Unido não pode retirar crianças desacompanhadas do Afeganistão - embora, no caso específico, a menina estivesse sendo acompanhada pela família, segundo ele.
"Não podemos simplesmente cuidar de um menor por conta própria", disse Wallace à Sky News.
A área em volta do aeroporto se tornou o foco da tensão na capital desde o último domingo. Ao todo, doze pessoas morreram dentro ou nas imediações, de acordo com informações oficiais da Otan e do grupo islâmico.
As mortes confirmadas foram causadas por tiros ou por tumultos, segundo afirmou um oficial do Taleban, que preferiu não se identificar. À agência de notícias Reuters, ele pediu às pessoas que não têm o direito legal de viajar que voltem para casa. "Não queremos machucar ninguém no aeroporto".
Nesta quinta-feira, tiros foram disparados em várias entradas do aeroporto, espalhando a multidão, incluindo mulheres que carregavam seus bebês. Não ficou claro se os tiros partiram do Taleban ou de funcionários de segurança que ajudam as forças dos EUA dentro do aeroporto.
Os Estados Unidos e outras potências ocidentais aceleraram a retirada de seus cidadãos do Afeganistão, e de alguns funcionários afegãos. Cerca de 8 mil pessoas fugiram desde domingo, segundo um oficial de segurança ocidental ouvido pela Reuters.
O Taleban também concordou em não atacar as forças estrangeiras no momento da partida. O presidente americano Joe Biden disse que as forças dos EUA permaneceriam até que a retirada dos americanos fosse concluída, mesmo que isso significasse permanecer após o prazo de 31 de agosto./ REUTERS