Crise das economias globais complica aumento de sanções à Rússia


Enquanto líderes financeiros se encontram na Alemanha, medos da crescente recessão apresentam novos entraves aos ataques financeiros contra o Kremlin

Por Jeff Stein e Emily Rauhala
Atualização:

THE WASHINGTON POST, BONN, Alemanha — Temores crescentes a respeito da possibilidade de uma diminuição na economia global estão complicando a campanha econômica dos aliados do Ocidente contra a Rússia, em um momento em que líderes mundiais enfrentam dificuldades para forjar novas punições contra Moscou sem ocasionar inflação e outros problemas financeiros domésticos.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, no fim de fevereiro, líderes econômicos dos Estados Unidos e da Europa acreditavam que seus países rumavam para uma recuperação bem-sucedida da pandemia de coronavírus, esperançosos de que a inflação diminuiria. Mas três meses depois, os ministros das Finanças reunidos no oeste da Alemanha nesta semana encaram um panorama internacional mais preocupante, em meio a temores de que aumentos de juros em bancos centrais possam empurrar partes da economia global para a recessão.

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Os ventos contra colocam pressão adicional sobre EUA e Europa, para que garantam que suas sanções contra a Rússia não inclinem o mundo ainda mais para uma nova crise econômica.

Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen (à esquerda), ao lado da Ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland (no centro) e outros líderes econômicos durante reunião do G-7 em Bonn, na Alemanha, nesta quinta-feira, 19 Foto: Thilo Schmuelgen / Reuters

Analistas observam que as consequências econômicas da guerra já colocaram o preço dos alimentos nas alturas, o que arrisca ocasionar uma crise de fome em partes do mundo em desenvolvimento. Os preços da energia também dispararam tanto na Europa quanto nos EUA — apesar da manobra do presidente Joe Biden de liberar enormes quantidades das reservas de petróleo de seu país — pressionando ainda mais consumidores que enfrentam os índices mais altos de inflação em quatro décadas. O governo do Reino Unido revelou na quarta-feira que em abril os preços haviam aumentado 9% em relação ao ano anterior, superando até a inflação nos EUA.

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Alguns líderes ocidentais pretendem ir muito além no sentido de extirpar a Rússia da economia global, privando o país de quantidades substanciais de vendas de petróleo e gás natural. Mas pode haver limites a respeito de quanta dor econômica os eleitores estão dispostos a tolerar.

Na segunda-feira, a União Europeia diminuiu o prognóstico de sua economia por causa da guerra na Ucrânia e alertou que a queda decorrente do conflito poderá piorar as coisas significativamente. “Uma escalada da guerra, uma súbita paralisação dos fornecimentos de energia ou uma desaceleração ainda maior da atividade econômica nos EUA e na China poderiam resultar num panorama muito mais sombrio”, alertou a Comissão Europeia.

“A situação econômica global, particularmente a inflação alta, dificulta ainda mais para os países do Ocidente imporem sanções totais — especialmente sobre a energia russa”, afirmou Gerard DiPippo, pesquisador-sênior do programa de economia do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, um instituto de análise com base em Washington.

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Válvulas de gás em depósito de Zsana, Hungria, nesta sexta-feira, 20. Dependência do gás russo causa dificuldade para países europeus aplicarem sanções contra a Rússia Foto: Bernadett Szabo/Reuters

Até aqui, afirmou DiPippo, as sanções impostas contra a Rússia “são as mais abrangentes sanções aplicadas sobre uma grande economia desde a 2.ª Guerra. Mas são definitivamente um ato político e requerem o consentimento do país que as impõe e lhes exige uma resistência para suportar o custo de qualquer contragolpe ou efeito em sua própria economia”.

A amplitude das atuais sanções americanas e europeias sobre a Rússia em razão da guerra segue extraordinária, com as potências do Ocidente mirando as reservas do banco central do Kremlin, as elites financeiras ligadas ao presidente russo, Vladimir Putin, e setores cruciais da economia russa, incluindo sua indústria e seu setor bancário, entre outras medidas que poucos previram no início da guerra. O Instituto de Finança Internacional estimou que a economia da Rússia poderá encolher em até 15% somente este ano.

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Mas mesmo enquanto a UE trabalha com os EUA e outros aliados para atingir o Kremlin, o bloco europeu continua a importar combustíveis fósseis da Rússia, o que mantém o fluxo de dinheiro para Moscou. Alguns países, incluindo os Estados bálticos e nações do Leste Europeu, pressionaram com força por um embargo total e imediato. Outros resistiram, preocupados com as consequências econômicas.

Em abril, a UE concordou em suspender a importação de carvão, mas continua comprando petróleo e gás. Em 4 de maio, após semanas de deliberações, a Comissão Europeia propôs um plano para eliminar as importações de petróleo da Rússia. O plano incluiu prorrogações de contratos comerciais para Hungria e Eslováquia, que permanecem fortemente dependentes de importações, de acordo com diplomatas da UE. Mas nas duas semanas que se passaram desde então, os países da UE não aprovaram o acordo, outros membros solicitaram prorrogações e a Hungria pediu mais dinheiro para reformar sua infraestrutura petroleira.

Presidente da Comissão Europa, Ursula von der Leyen, durante coletiva de imprensa na Dinamarca na quarta-feira, 18 Foto: Ritzau Scanpix/via Reuters
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Autoridades da UE e diplomatas discutiriam esse assunto novamente na quarta-feira em Bruxelas, apesar do foco estar no “REPowerEU” (reabastecer a UE de energia), o plano a longo prazo do bloco para livrar a Europa de sua dependência em relação aos combustíveis fósseis produzidos na Rússia “bem antes de 2030″. Diplomatas observariam se o plano inclui algum financiamento capaz de convencer a Hungria a concordar em aderir à substituição do petróleo russo.

Autoridades americanas e europeias afirmaram que ainda há algum otimismo em relação à possibilidade de um acordo — em algum momento. Outros especialistas apontam que os americanos e os europeus se movimentaram rapidamente para punir a Rússia, mesmo colocando em risco suas economias, além de terem fornecido dezenas de bilhões em assistência econômica internacional para a Ucrânia.

“Acredito que a Europa como um todo permanecerá firme ao lado do governo Biden no sentido do desenvolvimento e da aplicação de sanções contra a Rússia em razão de sua guerra bárbara na Ucrânia”, afirmou Mark Sobel, ex-subsecretário para política monetária internacional e política financeira do Departamento do Tesouro.

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Josep Borrell, o chefe de política externa da UE, reconheceu para repórteres na terça-feira que a guerra poderá levar a aumentos nos preços de commodities em vários países, mas disse que a Europa terá de se adaptar às novas circunstâncias.

“Todos os nossos parceiros levam em conta e sentem o impacto direto que a guerra da Rússia surte em todo o mundo, como eu já disse, sobre preços de energia, escassez de alimentos e inflação”, afirmou Borrell. “Infelizmente, juntos, esses elementos levarão o mundo para a beira de outra recessão, de qualquer maneira. Teremos de adaptar nosso apoio financeiro em linha a essas novas necessidades.”

A proposta a respeito do petróleo atualmente sobre a mesa dos países europeus não inclui nenhuma medida em relação ao gás russo, que levanta ainda mais desentendimentos entre os Estados-membros.

Nos dias recentes, a UE também pareceu abrandar o tom a respeito dos países do bloco poderem continuar a comprar gás da Rússia sem violar sanções, pavimentando o caminho para os países europeus continuarem suas importações apesar da retórica belicosa da UE a respeito da guerra.

Encontrar uma maneira para manter o gás fluindo para a indústria poderia ajudar a evitar uma confrontação com a Rússia quando a próxima rodada de contas vencer. Em abril, a Gazprom, a estatal russa de gás natural, suspendeu o fornecimento do insumo para a Polônia e a Bulgária, quando os países se recusaram a atender a exigência do Kremlin por pagamento em rublos — e ameaçou mais cortes no futuro.

Um esforço para tentar limitar o preço da energia russa também evaporou, apesar da expectativa de líderes financeiros globais discutirem a ideia na cúpula do G-7, na Alemanha. Autoridades do Tesouro apresentaram recentemente aos europeus ideias para impor mecanismos de controle de preços que poderiam ser pareados ao seu compromisso de banir a energia russa depois de um período inicial, de acordo com uma fonte familiarizada com o tema, que falou sob condição de anonimato para descrever conversas privadas.

Mas esse plano foi discutido por semanas e até aqui ganhou pouca tração. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse a repórteres na terça-feira que seu país discutiu com os europeus uma ampla gama de opções, mas notou: “Não estamos tentando lhes dizer o que é melhor para eles”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

THE WASHINGTON POST, BONN, Alemanha — Temores crescentes a respeito da possibilidade de uma diminuição na economia global estão complicando a campanha econômica dos aliados do Ocidente contra a Rússia, em um momento em que líderes mundiais enfrentam dificuldades para forjar novas punições contra Moscou sem ocasionar inflação e outros problemas financeiros domésticos.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, no fim de fevereiro, líderes econômicos dos Estados Unidos e da Europa acreditavam que seus países rumavam para uma recuperação bem-sucedida da pandemia de coronavírus, esperançosos de que a inflação diminuiria. Mas três meses depois, os ministros das Finanças reunidos no oeste da Alemanha nesta semana encaram um panorama internacional mais preocupante, em meio a temores de que aumentos de juros em bancos centrais possam empurrar partes da economia global para a recessão.

Os ventos contra colocam pressão adicional sobre EUA e Europa, para que garantam que suas sanções contra a Rússia não inclinem o mundo ainda mais para uma nova crise econômica.

Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen (à esquerda), ao lado da Ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland (no centro) e outros líderes econômicos durante reunião do G-7 em Bonn, na Alemanha, nesta quinta-feira, 19 Foto: Thilo Schmuelgen / Reuters

Analistas observam que as consequências econômicas da guerra já colocaram o preço dos alimentos nas alturas, o que arrisca ocasionar uma crise de fome em partes do mundo em desenvolvimento. Os preços da energia também dispararam tanto na Europa quanto nos EUA — apesar da manobra do presidente Joe Biden de liberar enormes quantidades das reservas de petróleo de seu país — pressionando ainda mais consumidores que enfrentam os índices mais altos de inflação em quatro décadas. O governo do Reino Unido revelou na quarta-feira que em abril os preços haviam aumentado 9% em relação ao ano anterior, superando até a inflação nos EUA.

Alguns líderes ocidentais pretendem ir muito além no sentido de extirpar a Rússia da economia global, privando o país de quantidades substanciais de vendas de petróleo e gás natural. Mas pode haver limites a respeito de quanta dor econômica os eleitores estão dispostos a tolerar.

Na segunda-feira, a União Europeia diminuiu o prognóstico de sua economia por causa da guerra na Ucrânia e alertou que a queda decorrente do conflito poderá piorar as coisas significativamente. “Uma escalada da guerra, uma súbita paralisação dos fornecimentos de energia ou uma desaceleração ainda maior da atividade econômica nos EUA e na China poderiam resultar num panorama muito mais sombrio”, alertou a Comissão Europeia.

“A situação econômica global, particularmente a inflação alta, dificulta ainda mais para os países do Ocidente imporem sanções totais — especialmente sobre a energia russa”, afirmou Gerard DiPippo, pesquisador-sênior do programa de economia do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, um instituto de análise com base em Washington.

Válvulas de gás em depósito de Zsana, Hungria, nesta sexta-feira, 20. Dependência do gás russo causa dificuldade para países europeus aplicarem sanções contra a Rússia Foto: Bernadett Szabo/Reuters

Até aqui, afirmou DiPippo, as sanções impostas contra a Rússia “são as mais abrangentes sanções aplicadas sobre uma grande economia desde a 2.ª Guerra. Mas são definitivamente um ato político e requerem o consentimento do país que as impõe e lhes exige uma resistência para suportar o custo de qualquer contragolpe ou efeito em sua própria economia”.

A amplitude das atuais sanções americanas e europeias sobre a Rússia em razão da guerra segue extraordinária, com as potências do Ocidente mirando as reservas do banco central do Kremlin, as elites financeiras ligadas ao presidente russo, Vladimir Putin, e setores cruciais da economia russa, incluindo sua indústria e seu setor bancário, entre outras medidas que poucos previram no início da guerra. O Instituto de Finança Internacional estimou que a economia da Rússia poderá encolher em até 15% somente este ano.

Mas mesmo enquanto a UE trabalha com os EUA e outros aliados para atingir o Kremlin, o bloco europeu continua a importar combustíveis fósseis da Rússia, o que mantém o fluxo de dinheiro para Moscou. Alguns países, incluindo os Estados bálticos e nações do Leste Europeu, pressionaram com força por um embargo total e imediato. Outros resistiram, preocupados com as consequências econômicas.

Em abril, a UE concordou em suspender a importação de carvão, mas continua comprando petróleo e gás. Em 4 de maio, após semanas de deliberações, a Comissão Europeia propôs um plano para eliminar as importações de petróleo da Rússia. O plano incluiu prorrogações de contratos comerciais para Hungria e Eslováquia, que permanecem fortemente dependentes de importações, de acordo com diplomatas da UE. Mas nas duas semanas que se passaram desde então, os países da UE não aprovaram o acordo, outros membros solicitaram prorrogações e a Hungria pediu mais dinheiro para reformar sua infraestrutura petroleira.

Presidente da Comissão Europa, Ursula von der Leyen, durante coletiva de imprensa na Dinamarca na quarta-feira, 18 Foto: Ritzau Scanpix/via Reuters

Autoridades da UE e diplomatas discutiriam esse assunto novamente na quarta-feira em Bruxelas, apesar do foco estar no “REPowerEU” (reabastecer a UE de energia), o plano a longo prazo do bloco para livrar a Europa de sua dependência em relação aos combustíveis fósseis produzidos na Rússia “bem antes de 2030″. Diplomatas observariam se o plano inclui algum financiamento capaz de convencer a Hungria a concordar em aderir à substituição do petróleo russo.

Autoridades americanas e europeias afirmaram que ainda há algum otimismo em relação à possibilidade de um acordo — em algum momento. Outros especialistas apontam que os americanos e os europeus se movimentaram rapidamente para punir a Rússia, mesmo colocando em risco suas economias, além de terem fornecido dezenas de bilhões em assistência econômica internacional para a Ucrânia.

“Acredito que a Europa como um todo permanecerá firme ao lado do governo Biden no sentido do desenvolvimento e da aplicação de sanções contra a Rússia em razão de sua guerra bárbara na Ucrânia”, afirmou Mark Sobel, ex-subsecretário para política monetária internacional e política financeira do Departamento do Tesouro.

Josep Borrell, o chefe de política externa da UE, reconheceu para repórteres na terça-feira que a guerra poderá levar a aumentos nos preços de commodities em vários países, mas disse que a Europa terá de se adaptar às novas circunstâncias.

“Todos os nossos parceiros levam em conta e sentem o impacto direto que a guerra da Rússia surte em todo o mundo, como eu já disse, sobre preços de energia, escassez de alimentos e inflação”, afirmou Borrell. “Infelizmente, juntos, esses elementos levarão o mundo para a beira de outra recessão, de qualquer maneira. Teremos de adaptar nosso apoio financeiro em linha a essas novas necessidades.”

A proposta a respeito do petróleo atualmente sobre a mesa dos países europeus não inclui nenhuma medida em relação ao gás russo, que levanta ainda mais desentendimentos entre os Estados-membros.

Nos dias recentes, a UE também pareceu abrandar o tom a respeito dos países do bloco poderem continuar a comprar gás da Rússia sem violar sanções, pavimentando o caminho para os países europeus continuarem suas importações apesar da retórica belicosa da UE a respeito da guerra.

Encontrar uma maneira para manter o gás fluindo para a indústria poderia ajudar a evitar uma confrontação com a Rússia quando a próxima rodada de contas vencer. Em abril, a Gazprom, a estatal russa de gás natural, suspendeu o fornecimento do insumo para a Polônia e a Bulgária, quando os países se recusaram a atender a exigência do Kremlin por pagamento em rublos — e ameaçou mais cortes no futuro.

Um esforço para tentar limitar o preço da energia russa também evaporou, apesar da expectativa de líderes financeiros globais discutirem a ideia na cúpula do G-7, na Alemanha. Autoridades do Tesouro apresentaram recentemente aos europeus ideias para impor mecanismos de controle de preços que poderiam ser pareados ao seu compromisso de banir a energia russa depois de um período inicial, de acordo com uma fonte familiarizada com o tema, que falou sob condição de anonimato para descrever conversas privadas.

Mas esse plano foi discutido por semanas e até aqui ganhou pouca tração. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse a repórteres na terça-feira que seu país discutiu com os europeus uma ampla gama de opções, mas notou: “Não estamos tentando lhes dizer o que é melhor para eles”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

THE WASHINGTON POST, BONN, Alemanha — Temores crescentes a respeito da possibilidade de uma diminuição na economia global estão complicando a campanha econômica dos aliados do Ocidente contra a Rússia, em um momento em que líderes mundiais enfrentam dificuldades para forjar novas punições contra Moscou sem ocasionar inflação e outros problemas financeiros domésticos.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia, no fim de fevereiro, líderes econômicos dos Estados Unidos e da Europa acreditavam que seus países rumavam para uma recuperação bem-sucedida da pandemia de coronavírus, esperançosos de que a inflação diminuiria. Mas três meses depois, os ministros das Finanças reunidos no oeste da Alemanha nesta semana encaram um panorama internacional mais preocupante, em meio a temores de que aumentos de juros em bancos centrais possam empurrar partes da economia global para a recessão.

Os ventos contra colocam pressão adicional sobre EUA e Europa, para que garantam que suas sanções contra a Rússia não inclinem o mundo ainda mais para uma nova crise econômica.

Secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen (à esquerda), ao lado da Ministra das Finanças do Canadá, Chrystia Freeland (no centro) e outros líderes econômicos durante reunião do G-7 em Bonn, na Alemanha, nesta quinta-feira, 19 Foto: Thilo Schmuelgen / Reuters

Analistas observam que as consequências econômicas da guerra já colocaram o preço dos alimentos nas alturas, o que arrisca ocasionar uma crise de fome em partes do mundo em desenvolvimento. Os preços da energia também dispararam tanto na Europa quanto nos EUA — apesar da manobra do presidente Joe Biden de liberar enormes quantidades das reservas de petróleo de seu país — pressionando ainda mais consumidores que enfrentam os índices mais altos de inflação em quatro décadas. O governo do Reino Unido revelou na quarta-feira que em abril os preços haviam aumentado 9% em relação ao ano anterior, superando até a inflação nos EUA.

Alguns líderes ocidentais pretendem ir muito além no sentido de extirpar a Rússia da economia global, privando o país de quantidades substanciais de vendas de petróleo e gás natural. Mas pode haver limites a respeito de quanta dor econômica os eleitores estão dispostos a tolerar.

Na segunda-feira, a União Europeia diminuiu o prognóstico de sua economia por causa da guerra na Ucrânia e alertou que a queda decorrente do conflito poderá piorar as coisas significativamente. “Uma escalada da guerra, uma súbita paralisação dos fornecimentos de energia ou uma desaceleração ainda maior da atividade econômica nos EUA e na China poderiam resultar num panorama muito mais sombrio”, alertou a Comissão Europeia.

“A situação econômica global, particularmente a inflação alta, dificulta ainda mais para os países do Ocidente imporem sanções totais — especialmente sobre a energia russa”, afirmou Gerard DiPippo, pesquisador-sênior do programa de economia do Centro para Estudos Estratégicos e Internacionais, um instituto de análise com base em Washington.

Válvulas de gás em depósito de Zsana, Hungria, nesta sexta-feira, 20. Dependência do gás russo causa dificuldade para países europeus aplicarem sanções contra a Rússia Foto: Bernadett Szabo/Reuters

Até aqui, afirmou DiPippo, as sanções impostas contra a Rússia “são as mais abrangentes sanções aplicadas sobre uma grande economia desde a 2.ª Guerra. Mas são definitivamente um ato político e requerem o consentimento do país que as impõe e lhes exige uma resistência para suportar o custo de qualquer contragolpe ou efeito em sua própria economia”.

A amplitude das atuais sanções americanas e europeias sobre a Rússia em razão da guerra segue extraordinária, com as potências do Ocidente mirando as reservas do banco central do Kremlin, as elites financeiras ligadas ao presidente russo, Vladimir Putin, e setores cruciais da economia russa, incluindo sua indústria e seu setor bancário, entre outras medidas que poucos previram no início da guerra. O Instituto de Finança Internacional estimou que a economia da Rússia poderá encolher em até 15% somente este ano.

Mas mesmo enquanto a UE trabalha com os EUA e outros aliados para atingir o Kremlin, o bloco europeu continua a importar combustíveis fósseis da Rússia, o que mantém o fluxo de dinheiro para Moscou. Alguns países, incluindo os Estados bálticos e nações do Leste Europeu, pressionaram com força por um embargo total e imediato. Outros resistiram, preocupados com as consequências econômicas.

Em abril, a UE concordou em suspender a importação de carvão, mas continua comprando petróleo e gás. Em 4 de maio, após semanas de deliberações, a Comissão Europeia propôs um plano para eliminar as importações de petróleo da Rússia. O plano incluiu prorrogações de contratos comerciais para Hungria e Eslováquia, que permanecem fortemente dependentes de importações, de acordo com diplomatas da UE. Mas nas duas semanas que se passaram desde então, os países da UE não aprovaram o acordo, outros membros solicitaram prorrogações e a Hungria pediu mais dinheiro para reformar sua infraestrutura petroleira.

Presidente da Comissão Europa, Ursula von der Leyen, durante coletiva de imprensa na Dinamarca na quarta-feira, 18 Foto: Ritzau Scanpix/via Reuters

Autoridades da UE e diplomatas discutiriam esse assunto novamente na quarta-feira em Bruxelas, apesar do foco estar no “REPowerEU” (reabastecer a UE de energia), o plano a longo prazo do bloco para livrar a Europa de sua dependência em relação aos combustíveis fósseis produzidos na Rússia “bem antes de 2030″. Diplomatas observariam se o plano inclui algum financiamento capaz de convencer a Hungria a concordar em aderir à substituição do petróleo russo.

Autoridades americanas e europeias afirmaram que ainda há algum otimismo em relação à possibilidade de um acordo — em algum momento. Outros especialistas apontam que os americanos e os europeus se movimentaram rapidamente para punir a Rússia, mesmo colocando em risco suas economias, além de terem fornecido dezenas de bilhões em assistência econômica internacional para a Ucrânia.

“Acredito que a Europa como um todo permanecerá firme ao lado do governo Biden no sentido do desenvolvimento e da aplicação de sanções contra a Rússia em razão de sua guerra bárbara na Ucrânia”, afirmou Mark Sobel, ex-subsecretário para política monetária internacional e política financeira do Departamento do Tesouro.

Josep Borrell, o chefe de política externa da UE, reconheceu para repórteres na terça-feira que a guerra poderá levar a aumentos nos preços de commodities em vários países, mas disse que a Europa terá de se adaptar às novas circunstâncias.

“Todos os nossos parceiros levam em conta e sentem o impacto direto que a guerra da Rússia surte em todo o mundo, como eu já disse, sobre preços de energia, escassez de alimentos e inflação”, afirmou Borrell. “Infelizmente, juntos, esses elementos levarão o mundo para a beira de outra recessão, de qualquer maneira. Teremos de adaptar nosso apoio financeiro em linha a essas novas necessidades.”

A proposta a respeito do petróleo atualmente sobre a mesa dos países europeus não inclui nenhuma medida em relação ao gás russo, que levanta ainda mais desentendimentos entre os Estados-membros.

Nos dias recentes, a UE também pareceu abrandar o tom a respeito dos países do bloco poderem continuar a comprar gás da Rússia sem violar sanções, pavimentando o caminho para os países europeus continuarem suas importações apesar da retórica belicosa da UE a respeito da guerra.

Encontrar uma maneira para manter o gás fluindo para a indústria poderia ajudar a evitar uma confrontação com a Rússia quando a próxima rodada de contas vencer. Em abril, a Gazprom, a estatal russa de gás natural, suspendeu o fornecimento do insumo para a Polônia e a Bulgária, quando os países se recusaram a atender a exigência do Kremlin por pagamento em rublos — e ameaçou mais cortes no futuro.

Um esforço para tentar limitar o preço da energia russa também evaporou, apesar da expectativa de líderes financeiros globais discutirem a ideia na cúpula do G-7, na Alemanha. Autoridades do Tesouro apresentaram recentemente aos europeus ideias para impor mecanismos de controle de preços que poderiam ser pareados ao seu compromisso de banir a energia russa depois de um período inicial, de acordo com uma fonte familiarizada com o tema, que falou sob condição de anonimato para descrever conversas privadas.

Mas esse plano foi discutido por semanas e até aqui ganhou pouca tração. A secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen, disse a repórteres na terça-feira que seu país discutiu com os europeus uma ampla gama de opções, mas notou: “Não estamos tentando lhes dizer o que é melhor para eles”. / TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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