ESPECIAL PARA O ESTADOSANTIAGOHá pouco mais de um ano, o Chile era visto como a imagem da "nova direita" latino-americana - eficiente, democrática e pluralista. A chegada do empresário Sebastián Piñera à presidência marcava a primeira vitória da direita nas urnas em 50 anos. Nos últimos três meses, o sopro de ar fresco sobre Santiago perdeu força. Confrontado por uma gigantesca onda de protestos estudantis, que a cada semana leva mais de 100 mil pessoas às ruas, Piñera cedeu a um impulso para conter a oposição. O governo pôs a tropa de choque nas ruas e chegou a impedir a realização de marchas, sob argumento de que exigiam autorização prévia. Em uma semana, a polícia deteve quase 1.300 estudantes numa onda de repressão que não se via no país desde a volta da democracia. A Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) e a Anistia Internacional usaram oficialmente o termo "repressão" e pediram que o governo modere o uso da força."Não há mais "nova direita". Foi uma grande decepção. Passamos de um governo que prometia eficiência para um governo que agora está marcado pela repressão", disse ao Estado o analista Patricio Navias, acadêmico das Universidades de Nova York, nos EUA, e Diego Portales, no Chile. Navias é um exemplo da decepção que acomete mesmo aquela parcela dos chilenos que votou em Piñera. Com 40 mil seguidores no Twitter, ele havia declarado apoio à candidatura de Piñera no segundo turno. "A velha direita, a direita mais dura, passou a ocupar mais espaço no governo", constata.Hoje, apenas 26% dos chilenos aprovam Piñera - o índice mais baixo desde a redemocratização -, enquanto 80% apoiam a causa dos manifestantes, que pedem uma profunda reforma educacional (Mais informações nesta página). Para piorar, a queda do dólar acertou em cheio a economia do Chile, que depende fortemente da venda de cobre no mercado internacional."O que restou ao governo foi apelar para valores como a manutenção da ordem pública e da autoridade, numa tentativa de preservar o apoio desse núcleo duro do eleitorado de direita", disse o sociólogo chileno Eugenio Tironi, analisando a recente onda de repressão aos manifestantes.
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