Crítica de Lula a Maduro reflete pressão sobre a política externa de petista, dizem analistas


Em entrevista coletiva com Emmanuel Macron, Lula considerou ‘grave’ a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar nas urnas o ditador venezuelano

Por Isabel Gomes
Atualização:

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu pela primeira vez o tom em relação ao governo de Nicolás Maduro sobre as eleições no país, devido à exclusão da principal candidata opositora do processo venezuelano. Para especialistas ouvidos pelo Estadão, a postura do petista, avaliada como uma “virada de chave”, parece ser um reflexo da desaprovação de sua política externa pela opinião pública e por figuras políticas.

Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 28, em Brasília ao fim de uma visita de Estado de três dias do presidente francês Emmanuel Macron, Lula considerou “grave” a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro em 28 de julho.

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“É grave que a candidata não possa ter sido registrada (...) Não tem explicação jurídica, política”, declarou Lula, que se disse “surpreso” com a notícia. A Venezuela encerrou o prazo de registro de candidatos na segunda-feira, 25, sem que a principal coalizão da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), pudesse inscrever Yoris. A aliança opositora venezuelana acabou registrando outro candidato provisório, Edmundo González Urrutia.

Lourival Sant’anna, analista de assuntos internacionais e colunista do Estadão, aponta que a postura adotada pelo presidente brasileiro parece refletir um conjunto de críticas que ele vem recebendo, incluindo aquelas de homólogos sul-americanos, como Gabriel Borich, do Chile, e de parlamentares — para 42,9% dos senadores e 38,2% dos deputados, a condução do petista nas relações diplomáticas é pior que a do seu antecessor Jair Bolsonaro, de acordo com uma pesquisa feita pelo Ranking Político e divulgada pelo Poder360 nesta semana.

Em coletiva de imprensa com Emmanuel Macron, Lula considerou ‘grave’ a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro na Venezuela  Foto: LUDOVIC MARIN / AFP
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“Isso mina um dos objetivos centrais do presidente Lula que é o de se projetar como um líder do Sul Global. Se ele não consegue se credenciar como líder nem sequer aqui, na América do Sul, que dirá no mundo”, avalia o colunista. “Todo país que é uma potência regional tende ter uma projeção robusta na sua própria região. O Brasil não pode reivindicar um papel no cenário global, se ele não estiver fortemente respaldado pela região que ele estava ocasionado a liderar.”

Neste sentido, o Planalto parece ter percebido que o apoio “irrestrito e incondicional” do Brasil a Maduro pode ser uma pedra no sapato do esquerdista, incluindo entre os eleitores centristas. “Isso estava gerando um atrito e um custo real, porque esse apoio acrítico, inclusive, facilitava a vida de opositores para dizer que ‘Lula é parecido com Maduro’ ou que ‘o Brasil vai virar uma Venezuela’”, sugere o analista político, professor de Relações Internacionais da FGV-SP e colunista do Estadão, Oliver Stuenkel.

Não foi coincidência, porém, a declaração ser dada diante de Macron, que, na avaliação de Sant’anna, trouxe incentivos “muito grandes” para uma posição equilibrada de Lula, já que o líder francês demonstrou, também, em discurso na quarta-feira, 27, que a França não está alinhada incondicionalmente aos Estados Unidos. “Acho que foi o momento em que virou a chave do presidente Lula no sentido de não relegar ao Itamaraty o papel de criticar o processo na Venezuela”, argumenta.

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Declaração não deve afetar postura de Maduro

A crítica feita por Lula publicamente nesta quinta-feira foi antecedida por uma nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, na terça-feira, 26, na qual criticou a ditadura de Maduro por impedir a inscrição de Yoris nas eleições de julho. Fontes ouvidas pelo Estadão revelaram que a reação foi determinada pelo próprio petista, por uma frustração com a falta de compromisso da ditadura chavista com a realização de eleições livres no país.

Evidentemente, o Maduro nem sequer tentou disfarçar as suas ambições autoritárias (...) Maduro não estaria disposto a organizar eleições livres, os eventos mais recentes deixaram isso muito claro. Hoje em dia, é praticamente impossível argumentar seriamente que o Maduro vai permitir a organização de eleições competitivas. Ficou custoso demais para o Lula manter essa estratégia atual”, diz Stuenkel.

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No caso da nota do Itamaray, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, repudiou a declaração e disse que o comunicado parecia “ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos EUA, onde são emitidos comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.

Para Stuenkel, uma possível reação de Caracas à nova declaração de Lula, da mesma forma, não deve ir muito além de uma guerra de palavras. A influência brasileira na Venezuela é muito limitada, isso quer dizer que dificilmente o Maduro mudará sua estratégia porque o Brasil mudou de opinião. “O Maduro demonstrou perfeitamente que consegue avançar com seu projeto autoritário e consolidar o seu sistema autoritário até com Trump e Bolsonaro, que pressionam a Venezuela”, diz.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu pela primeira vez o tom em relação ao governo de Nicolás Maduro sobre as eleições no país, devido à exclusão da principal candidata opositora do processo venezuelano. Para especialistas ouvidos pelo Estadão, a postura do petista, avaliada como uma “virada de chave”, parece ser um reflexo da desaprovação de sua política externa pela opinião pública e por figuras políticas.

Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 28, em Brasília ao fim de uma visita de Estado de três dias do presidente francês Emmanuel Macron, Lula considerou “grave” a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro em 28 de julho.

“É grave que a candidata não possa ter sido registrada (...) Não tem explicação jurídica, política”, declarou Lula, que se disse “surpreso” com a notícia. A Venezuela encerrou o prazo de registro de candidatos na segunda-feira, 25, sem que a principal coalizão da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), pudesse inscrever Yoris. A aliança opositora venezuelana acabou registrando outro candidato provisório, Edmundo González Urrutia.

Lourival Sant’anna, analista de assuntos internacionais e colunista do Estadão, aponta que a postura adotada pelo presidente brasileiro parece refletir um conjunto de críticas que ele vem recebendo, incluindo aquelas de homólogos sul-americanos, como Gabriel Borich, do Chile, e de parlamentares — para 42,9% dos senadores e 38,2% dos deputados, a condução do petista nas relações diplomáticas é pior que a do seu antecessor Jair Bolsonaro, de acordo com uma pesquisa feita pelo Ranking Político e divulgada pelo Poder360 nesta semana.

Em coletiva de imprensa com Emmanuel Macron, Lula considerou ‘grave’ a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro na Venezuela  Foto: LUDOVIC MARIN / AFP

“Isso mina um dos objetivos centrais do presidente Lula que é o de se projetar como um líder do Sul Global. Se ele não consegue se credenciar como líder nem sequer aqui, na América do Sul, que dirá no mundo”, avalia o colunista. “Todo país que é uma potência regional tende ter uma projeção robusta na sua própria região. O Brasil não pode reivindicar um papel no cenário global, se ele não estiver fortemente respaldado pela região que ele estava ocasionado a liderar.”

Neste sentido, o Planalto parece ter percebido que o apoio “irrestrito e incondicional” do Brasil a Maduro pode ser uma pedra no sapato do esquerdista, incluindo entre os eleitores centristas. “Isso estava gerando um atrito e um custo real, porque esse apoio acrítico, inclusive, facilitava a vida de opositores para dizer que ‘Lula é parecido com Maduro’ ou que ‘o Brasil vai virar uma Venezuela’”, sugere o analista político, professor de Relações Internacionais da FGV-SP e colunista do Estadão, Oliver Stuenkel.

Não foi coincidência, porém, a declaração ser dada diante de Macron, que, na avaliação de Sant’anna, trouxe incentivos “muito grandes” para uma posição equilibrada de Lula, já que o líder francês demonstrou, também, em discurso na quarta-feira, 27, que a França não está alinhada incondicionalmente aos Estados Unidos. “Acho que foi o momento em que virou a chave do presidente Lula no sentido de não relegar ao Itamaraty o papel de criticar o processo na Venezuela”, argumenta.

Declaração não deve afetar postura de Maduro

A crítica feita por Lula publicamente nesta quinta-feira foi antecedida por uma nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, na terça-feira, 26, na qual criticou a ditadura de Maduro por impedir a inscrição de Yoris nas eleições de julho. Fontes ouvidas pelo Estadão revelaram que a reação foi determinada pelo próprio petista, por uma frustração com a falta de compromisso da ditadura chavista com a realização de eleições livres no país.

Evidentemente, o Maduro nem sequer tentou disfarçar as suas ambições autoritárias (...) Maduro não estaria disposto a organizar eleições livres, os eventos mais recentes deixaram isso muito claro. Hoje em dia, é praticamente impossível argumentar seriamente que o Maduro vai permitir a organização de eleições competitivas. Ficou custoso demais para o Lula manter essa estratégia atual”, diz Stuenkel.

No caso da nota do Itamaray, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, repudiou a declaração e disse que o comunicado parecia “ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos EUA, onde são emitidos comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.

Para Stuenkel, uma possível reação de Caracas à nova declaração de Lula, da mesma forma, não deve ir muito além de uma guerra de palavras. A influência brasileira na Venezuela é muito limitada, isso quer dizer que dificilmente o Maduro mudará sua estratégia porque o Brasil mudou de opinião. “O Maduro demonstrou perfeitamente que consegue avançar com seu projeto autoritário e consolidar o seu sistema autoritário até com Trump e Bolsonaro, que pressionam a Venezuela”, diz.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu pela primeira vez o tom em relação ao governo de Nicolás Maduro sobre as eleições no país, devido à exclusão da principal candidata opositora do processo venezuelano. Para especialistas ouvidos pelo Estadão, a postura do petista, avaliada como uma “virada de chave”, parece ser um reflexo da desaprovação de sua política externa pela opinião pública e por figuras políticas.

Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 28, em Brasília ao fim de uma visita de Estado de três dias do presidente francês Emmanuel Macron, Lula considerou “grave” a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro em 28 de julho.

“É grave que a candidata não possa ter sido registrada (...) Não tem explicação jurídica, política”, declarou Lula, que se disse “surpreso” com a notícia. A Venezuela encerrou o prazo de registro de candidatos na segunda-feira, 25, sem que a principal coalizão da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), pudesse inscrever Yoris. A aliança opositora venezuelana acabou registrando outro candidato provisório, Edmundo González Urrutia.

Lourival Sant’anna, analista de assuntos internacionais e colunista do Estadão, aponta que a postura adotada pelo presidente brasileiro parece refletir um conjunto de críticas que ele vem recebendo, incluindo aquelas de homólogos sul-americanos, como Gabriel Borich, do Chile, e de parlamentares — para 42,9% dos senadores e 38,2% dos deputados, a condução do petista nas relações diplomáticas é pior que a do seu antecessor Jair Bolsonaro, de acordo com uma pesquisa feita pelo Ranking Político e divulgada pelo Poder360 nesta semana.

Em coletiva de imprensa com Emmanuel Macron, Lula considerou ‘grave’ a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro na Venezuela  Foto: LUDOVIC MARIN / AFP

“Isso mina um dos objetivos centrais do presidente Lula que é o de se projetar como um líder do Sul Global. Se ele não consegue se credenciar como líder nem sequer aqui, na América do Sul, que dirá no mundo”, avalia o colunista. “Todo país que é uma potência regional tende ter uma projeção robusta na sua própria região. O Brasil não pode reivindicar um papel no cenário global, se ele não estiver fortemente respaldado pela região que ele estava ocasionado a liderar.”

Neste sentido, o Planalto parece ter percebido que o apoio “irrestrito e incondicional” do Brasil a Maduro pode ser uma pedra no sapato do esquerdista, incluindo entre os eleitores centristas. “Isso estava gerando um atrito e um custo real, porque esse apoio acrítico, inclusive, facilitava a vida de opositores para dizer que ‘Lula é parecido com Maduro’ ou que ‘o Brasil vai virar uma Venezuela’”, sugere o analista político, professor de Relações Internacionais da FGV-SP e colunista do Estadão, Oliver Stuenkel.

Não foi coincidência, porém, a declaração ser dada diante de Macron, que, na avaliação de Sant’anna, trouxe incentivos “muito grandes” para uma posição equilibrada de Lula, já que o líder francês demonstrou, também, em discurso na quarta-feira, 27, que a França não está alinhada incondicionalmente aos Estados Unidos. “Acho que foi o momento em que virou a chave do presidente Lula no sentido de não relegar ao Itamaraty o papel de criticar o processo na Venezuela”, argumenta.

Declaração não deve afetar postura de Maduro

A crítica feita por Lula publicamente nesta quinta-feira foi antecedida por uma nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, na terça-feira, 26, na qual criticou a ditadura de Maduro por impedir a inscrição de Yoris nas eleições de julho. Fontes ouvidas pelo Estadão revelaram que a reação foi determinada pelo próprio petista, por uma frustração com a falta de compromisso da ditadura chavista com a realização de eleições livres no país.

Evidentemente, o Maduro nem sequer tentou disfarçar as suas ambições autoritárias (...) Maduro não estaria disposto a organizar eleições livres, os eventos mais recentes deixaram isso muito claro. Hoje em dia, é praticamente impossível argumentar seriamente que o Maduro vai permitir a organização de eleições competitivas. Ficou custoso demais para o Lula manter essa estratégia atual”, diz Stuenkel.

No caso da nota do Itamaray, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, repudiou a declaração e disse que o comunicado parecia “ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos EUA, onde são emitidos comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.

Para Stuenkel, uma possível reação de Caracas à nova declaração de Lula, da mesma forma, não deve ir muito além de uma guerra de palavras. A influência brasileira na Venezuela é muito limitada, isso quer dizer que dificilmente o Maduro mudará sua estratégia porque o Brasil mudou de opinião. “O Maduro demonstrou perfeitamente que consegue avançar com seu projeto autoritário e consolidar o seu sistema autoritário até com Trump e Bolsonaro, que pressionam a Venezuela”, diz.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu pela primeira vez o tom em relação ao governo de Nicolás Maduro sobre as eleições no país, devido à exclusão da principal candidata opositora do processo venezuelano. Para especialistas ouvidos pelo Estadão, a postura do petista, avaliada como uma “virada de chave”, parece ser um reflexo da desaprovação de sua política externa pela opinião pública e por figuras políticas.

Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 28, em Brasília ao fim de uma visita de Estado de três dias do presidente francês Emmanuel Macron, Lula considerou “grave” a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro em 28 de julho.

“É grave que a candidata não possa ter sido registrada (...) Não tem explicação jurídica, política”, declarou Lula, que se disse “surpreso” com a notícia. A Venezuela encerrou o prazo de registro de candidatos na segunda-feira, 25, sem que a principal coalizão da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), pudesse inscrever Yoris. A aliança opositora venezuelana acabou registrando outro candidato provisório, Edmundo González Urrutia.

Lourival Sant’anna, analista de assuntos internacionais e colunista do Estadão, aponta que a postura adotada pelo presidente brasileiro parece refletir um conjunto de críticas que ele vem recebendo, incluindo aquelas de homólogos sul-americanos, como Gabriel Borich, do Chile, e de parlamentares — para 42,9% dos senadores e 38,2% dos deputados, a condução do petista nas relações diplomáticas é pior que a do seu antecessor Jair Bolsonaro, de acordo com uma pesquisa feita pelo Ranking Político e divulgada pelo Poder360 nesta semana.

Em coletiva de imprensa com Emmanuel Macron, Lula considerou ‘grave’ a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro na Venezuela  Foto: LUDOVIC MARIN / AFP

“Isso mina um dos objetivos centrais do presidente Lula que é o de se projetar como um líder do Sul Global. Se ele não consegue se credenciar como líder nem sequer aqui, na América do Sul, que dirá no mundo”, avalia o colunista. “Todo país que é uma potência regional tende ter uma projeção robusta na sua própria região. O Brasil não pode reivindicar um papel no cenário global, se ele não estiver fortemente respaldado pela região que ele estava ocasionado a liderar.”

Neste sentido, o Planalto parece ter percebido que o apoio “irrestrito e incondicional” do Brasil a Maduro pode ser uma pedra no sapato do esquerdista, incluindo entre os eleitores centristas. “Isso estava gerando um atrito e um custo real, porque esse apoio acrítico, inclusive, facilitava a vida de opositores para dizer que ‘Lula é parecido com Maduro’ ou que ‘o Brasil vai virar uma Venezuela’”, sugere o analista político, professor de Relações Internacionais da FGV-SP e colunista do Estadão, Oliver Stuenkel.

Não foi coincidência, porém, a declaração ser dada diante de Macron, que, na avaliação de Sant’anna, trouxe incentivos “muito grandes” para uma posição equilibrada de Lula, já que o líder francês demonstrou, também, em discurso na quarta-feira, 27, que a França não está alinhada incondicionalmente aos Estados Unidos. “Acho que foi o momento em que virou a chave do presidente Lula no sentido de não relegar ao Itamaraty o papel de criticar o processo na Venezuela”, argumenta.

Declaração não deve afetar postura de Maduro

A crítica feita por Lula publicamente nesta quinta-feira foi antecedida por uma nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, na terça-feira, 26, na qual criticou a ditadura de Maduro por impedir a inscrição de Yoris nas eleições de julho. Fontes ouvidas pelo Estadão revelaram que a reação foi determinada pelo próprio petista, por uma frustração com a falta de compromisso da ditadura chavista com a realização de eleições livres no país.

Evidentemente, o Maduro nem sequer tentou disfarçar as suas ambições autoritárias (...) Maduro não estaria disposto a organizar eleições livres, os eventos mais recentes deixaram isso muito claro. Hoje em dia, é praticamente impossível argumentar seriamente que o Maduro vai permitir a organização de eleições competitivas. Ficou custoso demais para o Lula manter essa estratégia atual”, diz Stuenkel.

No caso da nota do Itamaray, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, repudiou a declaração e disse que o comunicado parecia “ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos EUA, onde são emitidos comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.

Para Stuenkel, uma possível reação de Caracas à nova declaração de Lula, da mesma forma, não deve ir muito além de uma guerra de palavras. A influência brasileira na Venezuela é muito limitada, isso quer dizer que dificilmente o Maduro mudará sua estratégia porque o Brasil mudou de opinião. “O Maduro demonstrou perfeitamente que consegue avançar com seu projeto autoritário e consolidar o seu sistema autoritário até com Trump e Bolsonaro, que pressionam a Venezuela”, diz.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) subiu pela primeira vez o tom em relação ao governo de Nicolás Maduro sobre as eleições no país, devido à exclusão da principal candidata opositora do processo venezuelano. Para especialistas ouvidos pelo Estadão, a postura do petista, avaliada como uma “virada de chave”, parece ser um reflexo da desaprovação de sua política externa pela opinião pública e por figuras políticas.

Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, 28, em Brasília ao fim de uma visita de Estado de três dias do presidente francês Emmanuel Macron, Lula considerou “grave” a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro em 28 de julho.

“É grave que a candidata não possa ter sido registrada (...) Não tem explicação jurídica, política”, declarou Lula, que se disse “surpreso” com a notícia. A Venezuela encerrou o prazo de registro de candidatos na segunda-feira, 25, sem que a principal coalizão da oposição, a Plataforma Unitária Democrática (PUD), pudesse inscrever Yoris. A aliança opositora venezuelana acabou registrando outro candidato provisório, Edmundo González Urrutia.

Lourival Sant’anna, analista de assuntos internacionais e colunista do Estadão, aponta que a postura adotada pelo presidente brasileiro parece refletir um conjunto de críticas que ele vem recebendo, incluindo aquelas de homólogos sul-americanos, como Gabriel Borich, do Chile, e de parlamentares — para 42,9% dos senadores e 38,2% dos deputados, a condução do petista nas relações diplomáticas é pior que a do seu antecessor Jair Bolsonaro, de acordo com uma pesquisa feita pelo Ranking Político e divulgada pelo Poder360 nesta semana.

Em coletiva de imprensa com Emmanuel Macron, Lula considerou ‘grave’ a exclusão de Corina Yoris, designada pela líder opositora María Corina Machado, para enfrentar Maduro na Venezuela  Foto: LUDOVIC MARIN / AFP

“Isso mina um dos objetivos centrais do presidente Lula que é o de se projetar como um líder do Sul Global. Se ele não consegue se credenciar como líder nem sequer aqui, na América do Sul, que dirá no mundo”, avalia o colunista. “Todo país que é uma potência regional tende ter uma projeção robusta na sua própria região. O Brasil não pode reivindicar um papel no cenário global, se ele não estiver fortemente respaldado pela região que ele estava ocasionado a liderar.”

Neste sentido, o Planalto parece ter percebido que o apoio “irrestrito e incondicional” do Brasil a Maduro pode ser uma pedra no sapato do esquerdista, incluindo entre os eleitores centristas. “Isso estava gerando um atrito e um custo real, porque esse apoio acrítico, inclusive, facilitava a vida de opositores para dizer que ‘Lula é parecido com Maduro’ ou que ‘o Brasil vai virar uma Venezuela’”, sugere o analista político, professor de Relações Internacionais da FGV-SP e colunista do Estadão, Oliver Stuenkel.

Não foi coincidência, porém, a declaração ser dada diante de Macron, que, na avaliação de Sant’anna, trouxe incentivos “muito grandes” para uma posição equilibrada de Lula, já que o líder francês demonstrou, também, em discurso na quarta-feira, 27, que a França não está alinhada incondicionalmente aos Estados Unidos. “Acho que foi o momento em que virou a chave do presidente Lula no sentido de não relegar ao Itamaraty o papel de criticar o processo na Venezuela”, argumenta.

Declaração não deve afetar postura de Maduro

A crítica feita por Lula publicamente nesta quinta-feira foi antecedida por uma nota divulgada pelo Ministério das Relações Exteriores, na terça-feira, 26, na qual criticou a ditadura de Maduro por impedir a inscrição de Yoris nas eleições de julho. Fontes ouvidas pelo Estadão revelaram que a reação foi determinada pelo próprio petista, por uma frustração com a falta de compromisso da ditadura chavista com a realização de eleições livres no país.

Evidentemente, o Maduro nem sequer tentou disfarçar as suas ambições autoritárias (...) Maduro não estaria disposto a organizar eleições livres, os eventos mais recentes deixaram isso muito claro. Hoje em dia, é praticamente impossível argumentar seriamente que o Maduro vai permitir a organização de eleições competitivas. Ficou custoso demais para o Lula manter essa estratégia atual”, diz Stuenkel.

No caso da nota do Itamaray, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, repudiou a declaração e disse que o comunicado parecia “ter sido ditado pelo Departamento de Estado dos EUA, onde são emitidos comentários carregados de profundo desconhecimento e ignorância sobre a realidade política na Venezuela”.

Para Stuenkel, uma possível reação de Caracas à nova declaração de Lula, da mesma forma, não deve ir muito além de uma guerra de palavras. A influência brasileira na Venezuela é muito limitada, isso quer dizer que dificilmente o Maduro mudará sua estratégia porque o Brasil mudou de opinião. “O Maduro demonstrou perfeitamente que consegue avançar com seu projeto autoritário e consolidar o seu sistema autoritário até com Trump e Bolsonaro, que pressionam a Venezuela”, diz.

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