NOVA YORK - A socialite britânica Ghislaine Maxwell, de 60 anos, foi condenada pelos Estados Unidos nesta terça-feira, 28, a 20 anos de prisão por traficar jovens vítimas de abuso sexual para Jeffrey Epstein. Ghislaine foi namorada do financista durante anos e recrutava adolescentes para serem abusadas por ele diariamente.
A sentença desta terça-feira reconhece o amplo papel que a socialite teve no recrutamento de meninas e mulheres jovens e na facilitação dos encontros. Os abusos aconteceram entre 1994 e 2004, de acordo com as investigações.
A juíza americana Alison Nathan, responsável pelo julgamento, rejeitou as alegações de Ghislaine Maxwell de que estava sendo punida no lugar de Jeffrey Epstein, que morreu na cadeia em 2019 enquanto aguardava ser julgado. “[Ghislaine Maxwell] não está sendo punida no lugar de Epstein”, disse a juíza.
Em seguida, Alison acrescentou que a socialite exerceu o papel de fornecer um verniz inicial de responsabilidade e até segurança para as vítimas recrutadas e depois “normalizou” o abuso que sofreram.
A socialite leu uma declaração durante o julgamento e disse às vítimas que queria “reconhecer o sofrimento” que elas passaram. “Tenho profunda empatia por todas elas”, declarou. Em seguida, ela chamou o relacionamento com Epstein de “o maior arrependimento da minha vida”.
A advogada de duas das vítimas, Sigrid McCawley, declarou que a sentença “mostrou que os indivíduos podem ser responsabilizados independente de possuíram poder e privilégios”. “Hoje nos mostrou que o coro de vozes dessas sobreviventes prevaleceu”, declarou McCawley.
Segundo a acusação, Ghislaine exercia o papel de encontrar e preparar adolescentes para massagear Epstein nas diversas propriedades que pertenciam a ele, incluindo uma ilha particular no Caribe. As jovens não eram massagistas profissionais e eram pressionadas a se envolver sexualmente com ele durante os encontros.
A socialite teria procurado meninas e mulheres jovens problemáticas, muitas vezes de lares instáveis e que eram seduzidas por uma promessa de dinheiro fácil, de acordo com os promotores. Ela organizada viagens e hospedagem para as recrutadas e, em alguns casos, teve contato sexual com elas. Após as sessões com o financista, as jovens recebiam centenas de dólares por visita.
Durante o julgamento, a procuradora assistente dos EUA, Alison Moe, descreveu os crimes de Maxwell como “um extenso e perturbador esquema de exploração infantil” e disse que a conduta dela mostrava indiferença “ao sofrimento de outros seres humanos”.
Uma das vítimas que testemunhou no julgamento foi Annie Farmer, agora com 40 anos. Ela descreveu que confiava em Ghislaine para protegê-la de Epstein, o que não ocorria. Farmer contou que tentou esquecer o que aconteceu durante anos e que se sentia uma “vergonha significativa” durante a adolescência. Segundo ela, “é impossível medir” o tamanho do dano que Epstein e Maxwell causaram.
Outra vítima descreveu a socialite como uma “pessoa manipuladora, cruel e impiedosa”. Testemunhando sob o pseudônimo de Kate, ela disse que testemunhou contra os dois para dar o exemplo para sua filha.
Os advogados da socialite argumentaram que ela merece clemência porque ela estava vulnerável quando conheceu Epstein, logo após a morte do pai, Robert Maxwell. A defesa ainda afirmou que ela teve uma infância conturbada com pais ausentes e trauma familiar pela morte de um irmão mais velho.
Acusações contra Epstein
Em 2008, o financista Jeffrey Epstein se declarou culpado de procurar uma jovem menor de idade para prostituição e cumpriu um ano de prisão na Flórida, com amplos privilégios de liberdade. O acordo judicial foi posteriormente investigado, após a imprensa americana apurar e descobrir a extensão dos seus abusos. Investigações posteriores apontaram que ele havia abusado pelo menos 36 adolescentes.
Nos anos seguintes, diversas pessoas do círculo social de Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell se tornaram alvos de processos e novas acusações – incluindo o príncipe britânico Andrew, que chegou a um acordo com uma das acusadoras de Epstein, Virginia Giuffre, no início deste ano. Ela alegou que foi traficada por Epstein para ser prostituta do príncipe, acusação negada diversas vezes por ele.
O financista morreu na cela de uma prisão em Nova York antes de ser julgado. A morte foi considerada suicídio e levou dezenas de vítimas de Epstein afirmarem que foram lesadas na Justiça.
As investigações se voltaram então para Ghislaine, indiciada um ano depois da morte do ex-namorado. Há muito se dizia que ela estava envolvida no esquema de tráfico sexual. /WASHINGTON POST