Cúpula na Suíça por paz na Ucrânia corteja Sul Global, mas esbarra na ausência de China e Rússia


Conferência quer discutir tópicos relacionados à guerra que afetam o mundo todo, como segurança alimentar e nuclear

Por Daniel Gateno

Após dias em que o foco da comunidade internacional estava na Itália com a cúpula do G-7, as atenções se voltam para a vizinha Suíça, que sedia uma Cúpula de Paz sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. O evento, que começa neste sábado, 15, em um complexo hoteleiro na cidade de Lucerna, deve receber representantes de mais de 90 países e tentará apresentar pontos de convergência entre nações do Ocidente e do Sul Global, apesar de ausências de peso como a própria Rússia e a China.

Moscou não foi convidada pelo evento e classificou a cúpula como perda de tempo. A China apontou que não deve comparecer por considerar que Rússia e Ucrânia precisam estar presentes em negociações de paz. Outros países de peso como Arábia Saudita e Paquistão também não enviarão delegações e Brasil e Índia devem enviar representantes de menos peso diplomático.

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A Suíça, que concordou em organizar a cúpula após um pedido feito pela Ucrânia em janeiro, afirmou que a conferência é um primeiro passo para tratar de possíveis soluções para a paz e que a Rússia deve participar em uma segunda cúpula. A conferência terá três focos que fazem parte da fórmula de paz proposta pelo presidente ucraniano Volodimir Zelenski: segurança nuclear, segurança alimentar e libertação de prisioneiros de guerra e crianças sequestradas.

“As questões que serão discutidas têm pontos importantes para todos, como a segurança alimentar. Todos querem a livre circulação porque se abastecem dos grãos que vêm da região. A segurança nuclear também é uma preocupação mundial e a libertação de crianças é uma questão humanitária”, avalia Vitelio Brustolin, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador da Universidade de Harvard.

O presidente da Ucrania, Volodmir Zelenski, participa de uma coletiva de imprensa na cúpula do G-7, em Savalletri, Itália  Foto: Andrew Medichini/AP
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Objetivo da cúpula

A cúpula visa buscar justamente isso: pontos em comum entre diferentes países. “Estes tópicos servem para a construção de uma confiança entre as partes do conflito. São problemas civis e relevantes para países geograficamente distantes da Ucrânia mas que também são diretamente afetados pela guerra, particularmente o Sul Global”, apontou um comunicado do governo suíço, que ainda não divulgou a lista com todos os países que participarão da conferência.

“A Ucrânia vai tentar mostrar que os países da Ásia, África e América do Sul ficarão menos seguros se estes tópicos não forem resolvidos”, avalia Simon Schlegel, analista sênior para Ucrânia do International Crisis Group, organização independente que trabalha para prevenir guerras e moldar políticas públicas. Kiev quer ressaltar que estas questões são globais e não só da Ucrânia, completa o analista.

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Segurança alimentar e a libertação de crianças abduzidas estão entre os raros tópicos que Moscou e Kiev conseguiram chegar a um entendimento desde que o conflito começou em fevereiro de 2022.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, desembarca em Zurique, Suíça  Foto: Michael Buholzer/ REUTERS

Em julho de 2022, Rússia e Ucrânia costuraram um acordo com mediação da Turquia para a livre navegação de embarcações de carga ucranianas no Mar Negro. A Ucrânia está entre os principais países exportadores de girassol, milho, trigo e cevada. Na época, Moscou afirmou que concordou com a livre navegação por preocupação com os países pobres que estavam sendo prejudicados pela escassez dos produtos e o aumento dos preços. Contudo, os russos saíram do acordo um ano depois alegando que as condições do entendimento não haviam sido respeitadas.

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Os dois países também realizaram trocas de prisioneiros e acordos para a devolução de crianças ucranianas. Segundo cálculos do governo ucraniano, cerca de 20 mil crianças da Ucrânia estão em território russo. Em março do ano passado, o Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou que emitiu um mandado de prisão contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por crimes de guerra por causa de seu suposto envolvimento em sequestros e deportação de crianças de partes da Ucrânia ocupadas pela Rússia durante a guerra.

“As propostas não envolvem territórios e por isso é possível acreditar que seria mais fácil para a Rússia negociar”, aponta Brustolin.

Rússia

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Moscou não parece estar de acordo com os termos da cúpula na Suíça e divulgou as suas condições para uma negociação com a Ucrânia na sexta-feira, 14, véspera do evento. Segundo a Rússia, Kiev precisa retirar as tropas das quatro regiões que Moscou reivindica e se comprometer a não entrar na Otan.

“Assim que Kiev começar a retirada efetiva das tropas das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, e assim que notificar que abandona os planos de adesão à Otan, daremos imediatamente, no mesmo minuto, a ordem de cessar-fogo e iniciaremos as negociações”, disse Putin a funcionários de alto escalão do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

Putin também criticou a cúpula na Suíça, classificando o evento como uma “estratagema para desviar a atenção do mundo inteiro dos verdadeiros responsáveis pelo conflito” que são, segundo ele, os países ocidentais e as autoridades de Kiev. “A este respeito, quero sublinhar que sem a participação da Rússia e sem um diálogo honesto e responsável conosco, é impossível alcançar uma solução pacífica na Ucrânia e para a segurança da Europa em geral”, afirmou Putin.

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O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma cerimônia religiosa em Moscou, Rússia  Foto: Valery Sharifulin/AFP

Para Schlegel, as declarações não revelam novas informações sobre os objetivos russos. “Não é nada novo, mas é raro eles falarem tão claramente quais são os objetivos. Além disso, foi provavelmente um presente para os ucranianos porque Moscou admitiu que não controla todos os territórios que deseja anexar, já que pediu a saída das tropas ucranianas”.

O chanceler da Suíça, Ignazio Cassis, afirmou em entrevista coletiva que o país sabe que não é possível discutir o processo de paz sem a presença da Rússia. “A questão não é se a Rússia estará a bordo das negociações, mas quando”. Cassis também ressaltou que a Suíça está em contato com Moscou sobre a cúpula.

Presenças importantes

O governo suíço enviou 160 convites para a cúpula, mas 90 estão confirmados. A lista de todos os países ainda não foi divulgada, mas Berna afirmou em um comunicado que metade dos países são da Europa e o resto está dividido pelo globo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, optou por retornar aos EUA para participar de um comício de campanha e será representado pela vice-presidente americana Kamala Harris e pelo conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan. Todos os outros líderes do G-7 confirmaram presença.

A Hungria, que mantém relações próximas com Moscou e já criticou sanções do Ocidente contra a Rússia, apontou que o chanceler do país deve estar presente, assim como a Turquia. A Índia também está confirmada, mas Nova Délhi não informou o nível diplomático de sua delegação. Já o Brasil será representado pela embaixadora Cláudia Fonseca Buzzi, representante do País na Suíça.

Para o analista do International Crisis Group, é importante que Kiev consiga angariar um grande número de países no evento. “É uma questão simbólica, o peso da cúpula será medido pelo número de países que vão participar, pelo peso dos países e também pelo nível de autoridades importantes que estarão lá”.

Países de peso não devem comparecer

O grande questionamento em relação a eficácia da cúpula são os países que não participarão do evento. A Rússia não foi convidada e disse que se tivesse sido não iria do mesmo jeito. A China ressaltou que só iria participar de negociações que envolvessem as duas partes em conflito. Arábia Saudita e Paquistão também não devem enviar delegações e a África do Sul, outro país importante do Sul Global que mantém boas relações com a Rússia, não indicou se vai a conferência.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, se encontrou com a presidente da Suíça, Viola Amherd, em Genebra na quinta-feira, 13, mas recusou o convite. Para os ucranianos, a presença de Lula seria fundamental para impulsionar o apoio a Kiev na América Latina, onde há resistências.

Em entrevista a jornalistas, o presidente disse que o Brasil só vai participar de conferências do tipo se os dois países em conflito estiverem na mesa de negociação. “Nós estaremos dispostos a participar de qualquer reunião que discuta paz se tiver os dois conflitantes na mesa, Rússia e Ucrânia. Se não, não é discutir paz”, afirmou Lula.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, cumprimenta o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na cúpula do G-7  Foto: Ricardo Stuckert /Presidência da República

Em maio, Brasil e China publicaram uma proposta conjunta para a negociação do conflito europeu. Pequim e Brasília querem que uma conferência internacional de paz, que seja reconhecida por Kiev e Moscou, seja realizada. De acordo com a China, Hungria e Nicarágua sinalizaram apoio ao texto.

O professor de relações internacionais da ESPM-SP, Gunther Rudzit, avalia que é difícil fazer com que os países do Sul Global apoiem um documento final no evento. “Mesmo os países que irão comparecer, uma coisa é ir para o evento e a outra é assinar a declaração final. Muitos dos países que devem ir para o evento dependem financeiramente da China e Pequim não quer deixar a Rússia isolada”.

Impacto da cúpula

Para Rudzit, da ESPM-SP, a cúpula não deve produzir mudanças no conflito no Leste Europeu. “Não acredito que esta cúpula terá um grande impacto. Enquanto não houver por parte da Rússia uma decisão militar de que uma negociação é necessária, assim como do ponto de vista ucraniano, estas propostas vão continuar ocorrendo, mas a guerra vai continuar vigente”.

Kiev precisa de uma posição mais forte no campo de batalha para negociar, avalia o analista do International Crisis Group. “A Ucrânia necessita de garantias de que vai conseguir entrar na União Europeia (UE) e na Otan no futuro”.

Além disso, Schlegel aponta que os russos não devem concordar com uma mediação da Suíça em uma possível segunda cúpula, por conta das sanções que a União Europeia (UE) impôs a Moscou e que foram apoiadas por Berna. “A Rússia não olha para a Suíça como um país neutro, para os russos está claro que a Suíça é uma aliada de Kiev e por isso não poderia mediar uma negociação entre os dois lados”.

Após dias em que o foco da comunidade internacional estava na Itália com a cúpula do G-7, as atenções se voltam para a vizinha Suíça, que sedia uma Cúpula de Paz sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. O evento, que começa neste sábado, 15, em um complexo hoteleiro na cidade de Lucerna, deve receber representantes de mais de 90 países e tentará apresentar pontos de convergência entre nações do Ocidente e do Sul Global, apesar de ausências de peso como a própria Rússia e a China.

Moscou não foi convidada pelo evento e classificou a cúpula como perda de tempo. A China apontou que não deve comparecer por considerar que Rússia e Ucrânia precisam estar presentes em negociações de paz. Outros países de peso como Arábia Saudita e Paquistão também não enviarão delegações e Brasil e Índia devem enviar representantes de menos peso diplomático.

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A Suíça, que concordou em organizar a cúpula após um pedido feito pela Ucrânia em janeiro, afirmou que a conferência é um primeiro passo para tratar de possíveis soluções para a paz e que a Rússia deve participar em uma segunda cúpula. A conferência terá três focos que fazem parte da fórmula de paz proposta pelo presidente ucraniano Volodimir Zelenski: segurança nuclear, segurança alimentar e libertação de prisioneiros de guerra e crianças sequestradas.

“As questões que serão discutidas têm pontos importantes para todos, como a segurança alimentar. Todos querem a livre circulação porque se abastecem dos grãos que vêm da região. A segurança nuclear também é uma preocupação mundial e a libertação de crianças é uma questão humanitária”, avalia Vitelio Brustolin, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador da Universidade de Harvard.

O presidente da Ucrania, Volodmir Zelenski, participa de uma coletiva de imprensa na cúpula do G-7, em Savalletri, Itália  Foto: Andrew Medichini/AP

Objetivo da cúpula

A cúpula visa buscar justamente isso: pontos em comum entre diferentes países. “Estes tópicos servem para a construção de uma confiança entre as partes do conflito. São problemas civis e relevantes para países geograficamente distantes da Ucrânia mas que também são diretamente afetados pela guerra, particularmente o Sul Global”, apontou um comunicado do governo suíço, que ainda não divulgou a lista com todos os países que participarão da conferência.

“A Ucrânia vai tentar mostrar que os países da Ásia, África e América do Sul ficarão menos seguros se estes tópicos não forem resolvidos”, avalia Simon Schlegel, analista sênior para Ucrânia do International Crisis Group, organização independente que trabalha para prevenir guerras e moldar políticas públicas. Kiev quer ressaltar que estas questões são globais e não só da Ucrânia, completa o analista.

Segurança alimentar e a libertação de crianças abduzidas estão entre os raros tópicos que Moscou e Kiev conseguiram chegar a um entendimento desde que o conflito começou em fevereiro de 2022.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, desembarca em Zurique, Suíça  Foto: Michael Buholzer/ REUTERS

Em julho de 2022, Rússia e Ucrânia costuraram um acordo com mediação da Turquia para a livre navegação de embarcações de carga ucranianas no Mar Negro. A Ucrânia está entre os principais países exportadores de girassol, milho, trigo e cevada. Na época, Moscou afirmou que concordou com a livre navegação por preocupação com os países pobres que estavam sendo prejudicados pela escassez dos produtos e o aumento dos preços. Contudo, os russos saíram do acordo um ano depois alegando que as condições do entendimento não haviam sido respeitadas.

Os dois países também realizaram trocas de prisioneiros e acordos para a devolução de crianças ucranianas. Segundo cálculos do governo ucraniano, cerca de 20 mil crianças da Ucrânia estão em território russo. Em março do ano passado, o Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou que emitiu um mandado de prisão contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por crimes de guerra por causa de seu suposto envolvimento em sequestros e deportação de crianças de partes da Ucrânia ocupadas pela Rússia durante a guerra.

“As propostas não envolvem territórios e por isso é possível acreditar que seria mais fácil para a Rússia negociar”, aponta Brustolin.

Rússia

Moscou não parece estar de acordo com os termos da cúpula na Suíça e divulgou as suas condições para uma negociação com a Ucrânia na sexta-feira, 14, véspera do evento. Segundo a Rússia, Kiev precisa retirar as tropas das quatro regiões que Moscou reivindica e se comprometer a não entrar na Otan.

“Assim que Kiev começar a retirada efetiva das tropas das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, e assim que notificar que abandona os planos de adesão à Otan, daremos imediatamente, no mesmo minuto, a ordem de cessar-fogo e iniciaremos as negociações”, disse Putin a funcionários de alto escalão do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

Putin também criticou a cúpula na Suíça, classificando o evento como uma “estratagema para desviar a atenção do mundo inteiro dos verdadeiros responsáveis pelo conflito” que são, segundo ele, os países ocidentais e as autoridades de Kiev. “A este respeito, quero sublinhar que sem a participação da Rússia e sem um diálogo honesto e responsável conosco, é impossível alcançar uma solução pacífica na Ucrânia e para a segurança da Europa em geral”, afirmou Putin.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma cerimônia religiosa em Moscou, Rússia  Foto: Valery Sharifulin/AFP

Para Schlegel, as declarações não revelam novas informações sobre os objetivos russos. “Não é nada novo, mas é raro eles falarem tão claramente quais são os objetivos. Além disso, foi provavelmente um presente para os ucranianos porque Moscou admitiu que não controla todos os territórios que deseja anexar, já que pediu a saída das tropas ucranianas”.

O chanceler da Suíça, Ignazio Cassis, afirmou em entrevista coletiva que o país sabe que não é possível discutir o processo de paz sem a presença da Rússia. “A questão não é se a Rússia estará a bordo das negociações, mas quando”. Cassis também ressaltou que a Suíça está em contato com Moscou sobre a cúpula.

Presenças importantes

O governo suíço enviou 160 convites para a cúpula, mas 90 estão confirmados. A lista de todos os países ainda não foi divulgada, mas Berna afirmou em um comunicado que metade dos países são da Europa e o resto está dividido pelo globo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, optou por retornar aos EUA para participar de um comício de campanha e será representado pela vice-presidente americana Kamala Harris e pelo conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan. Todos os outros líderes do G-7 confirmaram presença.

A Hungria, que mantém relações próximas com Moscou e já criticou sanções do Ocidente contra a Rússia, apontou que o chanceler do país deve estar presente, assim como a Turquia. A Índia também está confirmada, mas Nova Délhi não informou o nível diplomático de sua delegação. Já o Brasil será representado pela embaixadora Cláudia Fonseca Buzzi, representante do País na Suíça.

Para o analista do International Crisis Group, é importante que Kiev consiga angariar um grande número de países no evento. “É uma questão simbólica, o peso da cúpula será medido pelo número de países que vão participar, pelo peso dos países e também pelo nível de autoridades importantes que estarão lá”.

Países de peso não devem comparecer

O grande questionamento em relação a eficácia da cúpula são os países que não participarão do evento. A Rússia não foi convidada e disse que se tivesse sido não iria do mesmo jeito. A China ressaltou que só iria participar de negociações que envolvessem as duas partes em conflito. Arábia Saudita e Paquistão também não devem enviar delegações e a África do Sul, outro país importante do Sul Global que mantém boas relações com a Rússia, não indicou se vai a conferência.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, se encontrou com a presidente da Suíça, Viola Amherd, em Genebra na quinta-feira, 13, mas recusou o convite. Para os ucranianos, a presença de Lula seria fundamental para impulsionar o apoio a Kiev na América Latina, onde há resistências.

Em entrevista a jornalistas, o presidente disse que o Brasil só vai participar de conferências do tipo se os dois países em conflito estiverem na mesa de negociação. “Nós estaremos dispostos a participar de qualquer reunião que discuta paz se tiver os dois conflitantes na mesa, Rússia e Ucrânia. Se não, não é discutir paz”, afirmou Lula.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, cumprimenta o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na cúpula do G-7  Foto: Ricardo Stuckert /Presidência da República

Em maio, Brasil e China publicaram uma proposta conjunta para a negociação do conflito europeu. Pequim e Brasília querem que uma conferência internacional de paz, que seja reconhecida por Kiev e Moscou, seja realizada. De acordo com a China, Hungria e Nicarágua sinalizaram apoio ao texto.

O professor de relações internacionais da ESPM-SP, Gunther Rudzit, avalia que é difícil fazer com que os países do Sul Global apoiem um documento final no evento. “Mesmo os países que irão comparecer, uma coisa é ir para o evento e a outra é assinar a declaração final. Muitos dos países que devem ir para o evento dependem financeiramente da China e Pequim não quer deixar a Rússia isolada”.

Impacto da cúpula

Para Rudzit, da ESPM-SP, a cúpula não deve produzir mudanças no conflito no Leste Europeu. “Não acredito que esta cúpula terá um grande impacto. Enquanto não houver por parte da Rússia uma decisão militar de que uma negociação é necessária, assim como do ponto de vista ucraniano, estas propostas vão continuar ocorrendo, mas a guerra vai continuar vigente”.

Kiev precisa de uma posição mais forte no campo de batalha para negociar, avalia o analista do International Crisis Group. “A Ucrânia necessita de garantias de que vai conseguir entrar na União Europeia (UE) e na Otan no futuro”.

Além disso, Schlegel aponta que os russos não devem concordar com uma mediação da Suíça em uma possível segunda cúpula, por conta das sanções que a União Europeia (UE) impôs a Moscou e que foram apoiadas por Berna. “A Rússia não olha para a Suíça como um país neutro, para os russos está claro que a Suíça é uma aliada de Kiev e por isso não poderia mediar uma negociação entre os dois lados”.

Após dias em que o foco da comunidade internacional estava na Itália com a cúpula do G-7, as atenções se voltam para a vizinha Suíça, que sedia uma Cúpula de Paz sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. O evento, que começa neste sábado, 15, em um complexo hoteleiro na cidade de Lucerna, deve receber representantes de mais de 90 países e tentará apresentar pontos de convergência entre nações do Ocidente e do Sul Global, apesar de ausências de peso como a própria Rússia e a China.

Moscou não foi convidada pelo evento e classificou a cúpula como perda de tempo. A China apontou que não deve comparecer por considerar que Rússia e Ucrânia precisam estar presentes em negociações de paz. Outros países de peso como Arábia Saudita e Paquistão também não enviarão delegações e Brasil e Índia devem enviar representantes de menos peso diplomático.

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A Suíça, que concordou em organizar a cúpula após um pedido feito pela Ucrânia em janeiro, afirmou que a conferência é um primeiro passo para tratar de possíveis soluções para a paz e que a Rússia deve participar em uma segunda cúpula. A conferência terá três focos que fazem parte da fórmula de paz proposta pelo presidente ucraniano Volodimir Zelenski: segurança nuclear, segurança alimentar e libertação de prisioneiros de guerra e crianças sequestradas.

“As questões que serão discutidas têm pontos importantes para todos, como a segurança alimentar. Todos querem a livre circulação porque se abastecem dos grãos que vêm da região. A segurança nuclear também é uma preocupação mundial e a libertação de crianças é uma questão humanitária”, avalia Vitelio Brustolin, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador da Universidade de Harvard.

O presidente da Ucrania, Volodmir Zelenski, participa de uma coletiva de imprensa na cúpula do G-7, em Savalletri, Itália  Foto: Andrew Medichini/AP

Objetivo da cúpula

A cúpula visa buscar justamente isso: pontos em comum entre diferentes países. “Estes tópicos servem para a construção de uma confiança entre as partes do conflito. São problemas civis e relevantes para países geograficamente distantes da Ucrânia mas que também são diretamente afetados pela guerra, particularmente o Sul Global”, apontou um comunicado do governo suíço, que ainda não divulgou a lista com todos os países que participarão da conferência.

“A Ucrânia vai tentar mostrar que os países da Ásia, África e América do Sul ficarão menos seguros se estes tópicos não forem resolvidos”, avalia Simon Schlegel, analista sênior para Ucrânia do International Crisis Group, organização independente que trabalha para prevenir guerras e moldar políticas públicas. Kiev quer ressaltar que estas questões são globais e não só da Ucrânia, completa o analista.

Segurança alimentar e a libertação de crianças abduzidas estão entre os raros tópicos que Moscou e Kiev conseguiram chegar a um entendimento desde que o conflito começou em fevereiro de 2022.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, desembarca em Zurique, Suíça  Foto: Michael Buholzer/ REUTERS

Em julho de 2022, Rússia e Ucrânia costuraram um acordo com mediação da Turquia para a livre navegação de embarcações de carga ucranianas no Mar Negro. A Ucrânia está entre os principais países exportadores de girassol, milho, trigo e cevada. Na época, Moscou afirmou que concordou com a livre navegação por preocupação com os países pobres que estavam sendo prejudicados pela escassez dos produtos e o aumento dos preços. Contudo, os russos saíram do acordo um ano depois alegando que as condições do entendimento não haviam sido respeitadas.

Os dois países também realizaram trocas de prisioneiros e acordos para a devolução de crianças ucranianas. Segundo cálculos do governo ucraniano, cerca de 20 mil crianças da Ucrânia estão em território russo. Em março do ano passado, o Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou que emitiu um mandado de prisão contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por crimes de guerra por causa de seu suposto envolvimento em sequestros e deportação de crianças de partes da Ucrânia ocupadas pela Rússia durante a guerra.

“As propostas não envolvem territórios e por isso é possível acreditar que seria mais fácil para a Rússia negociar”, aponta Brustolin.

Rússia

Moscou não parece estar de acordo com os termos da cúpula na Suíça e divulgou as suas condições para uma negociação com a Ucrânia na sexta-feira, 14, véspera do evento. Segundo a Rússia, Kiev precisa retirar as tropas das quatro regiões que Moscou reivindica e se comprometer a não entrar na Otan.

“Assim que Kiev começar a retirada efetiva das tropas das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, e assim que notificar que abandona os planos de adesão à Otan, daremos imediatamente, no mesmo minuto, a ordem de cessar-fogo e iniciaremos as negociações”, disse Putin a funcionários de alto escalão do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

Putin também criticou a cúpula na Suíça, classificando o evento como uma “estratagema para desviar a atenção do mundo inteiro dos verdadeiros responsáveis pelo conflito” que são, segundo ele, os países ocidentais e as autoridades de Kiev. “A este respeito, quero sublinhar que sem a participação da Rússia e sem um diálogo honesto e responsável conosco, é impossível alcançar uma solução pacífica na Ucrânia e para a segurança da Europa em geral”, afirmou Putin.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma cerimônia religiosa em Moscou, Rússia  Foto: Valery Sharifulin/AFP

Para Schlegel, as declarações não revelam novas informações sobre os objetivos russos. “Não é nada novo, mas é raro eles falarem tão claramente quais são os objetivos. Além disso, foi provavelmente um presente para os ucranianos porque Moscou admitiu que não controla todos os territórios que deseja anexar, já que pediu a saída das tropas ucranianas”.

O chanceler da Suíça, Ignazio Cassis, afirmou em entrevista coletiva que o país sabe que não é possível discutir o processo de paz sem a presença da Rússia. “A questão não é se a Rússia estará a bordo das negociações, mas quando”. Cassis também ressaltou que a Suíça está em contato com Moscou sobre a cúpula.

Presenças importantes

O governo suíço enviou 160 convites para a cúpula, mas 90 estão confirmados. A lista de todos os países ainda não foi divulgada, mas Berna afirmou em um comunicado que metade dos países são da Europa e o resto está dividido pelo globo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, optou por retornar aos EUA para participar de um comício de campanha e será representado pela vice-presidente americana Kamala Harris e pelo conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan. Todos os outros líderes do G-7 confirmaram presença.

A Hungria, que mantém relações próximas com Moscou e já criticou sanções do Ocidente contra a Rússia, apontou que o chanceler do país deve estar presente, assim como a Turquia. A Índia também está confirmada, mas Nova Délhi não informou o nível diplomático de sua delegação. Já o Brasil será representado pela embaixadora Cláudia Fonseca Buzzi, representante do País na Suíça.

Para o analista do International Crisis Group, é importante que Kiev consiga angariar um grande número de países no evento. “É uma questão simbólica, o peso da cúpula será medido pelo número de países que vão participar, pelo peso dos países e também pelo nível de autoridades importantes que estarão lá”.

Países de peso não devem comparecer

O grande questionamento em relação a eficácia da cúpula são os países que não participarão do evento. A Rússia não foi convidada e disse que se tivesse sido não iria do mesmo jeito. A China ressaltou que só iria participar de negociações que envolvessem as duas partes em conflito. Arábia Saudita e Paquistão também não devem enviar delegações e a África do Sul, outro país importante do Sul Global que mantém boas relações com a Rússia, não indicou se vai a conferência.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, se encontrou com a presidente da Suíça, Viola Amherd, em Genebra na quinta-feira, 13, mas recusou o convite. Para os ucranianos, a presença de Lula seria fundamental para impulsionar o apoio a Kiev na América Latina, onde há resistências.

Em entrevista a jornalistas, o presidente disse que o Brasil só vai participar de conferências do tipo se os dois países em conflito estiverem na mesa de negociação. “Nós estaremos dispostos a participar de qualquer reunião que discuta paz se tiver os dois conflitantes na mesa, Rússia e Ucrânia. Se não, não é discutir paz”, afirmou Lula.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, cumprimenta o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na cúpula do G-7  Foto: Ricardo Stuckert /Presidência da República

Em maio, Brasil e China publicaram uma proposta conjunta para a negociação do conflito europeu. Pequim e Brasília querem que uma conferência internacional de paz, que seja reconhecida por Kiev e Moscou, seja realizada. De acordo com a China, Hungria e Nicarágua sinalizaram apoio ao texto.

O professor de relações internacionais da ESPM-SP, Gunther Rudzit, avalia que é difícil fazer com que os países do Sul Global apoiem um documento final no evento. “Mesmo os países que irão comparecer, uma coisa é ir para o evento e a outra é assinar a declaração final. Muitos dos países que devem ir para o evento dependem financeiramente da China e Pequim não quer deixar a Rússia isolada”.

Impacto da cúpula

Para Rudzit, da ESPM-SP, a cúpula não deve produzir mudanças no conflito no Leste Europeu. “Não acredito que esta cúpula terá um grande impacto. Enquanto não houver por parte da Rússia uma decisão militar de que uma negociação é necessária, assim como do ponto de vista ucraniano, estas propostas vão continuar ocorrendo, mas a guerra vai continuar vigente”.

Kiev precisa de uma posição mais forte no campo de batalha para negociar, avalia o analista do International Crisis Group. “A Ucrânia necessita de garantias de que vai conseguir entrar na União Europeia (UE) e na Otan no futuro”.

Além disso, Schlegel aponta que os russos não devem concordar com uma mediação da Suíça em uma possível segunda cúpula, por conta das sanções que a União Europeia (UE) impôs a Moscou e que foram apoiadas por Berna. “A Rússia não olha para a Suíça como um país neutro, para os russos está claro que a Suíça é uma aliada de Kiev e por isso não poderia mediar uma negociação entre os dois lados”.

Após dias em que o foco da comunidade internacional estava na Itália com a cúpula do G-7, as atenções se voltam para a vizinha Suíça, que sedia uma Cúpula de Paz sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia. O evento, que começa neste sábado, 15, em um complexo hoteleiro na cidade de Lucerna, deve receber representantes de mais de 90 países e tentará apresentar pontos de convergência entre nações do Ocidente e do Sul Global, apesar de ausências de peso como a própria Rússia e a China.

Moscou não foi convidada pelo evento e classificou a cúpula como perda de tempo. A China apontou que não deve comparecer por considerar que Rússia e Ucrânia precisam estar presentes em negociações de paz. Outros países de peso como Arábia Saudita e Paquistão também não enviarão delegações e Brasil e Índia devem enviar representantes de menos peso diplomático.

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A Suíça, que concordou em organizar a cúpula após um pedido feito pela Ucrânia em janeiro, afirmou que a conferência é um primeiro passo para tratar de possíveis soluções para a paz e que a Rússia deve participar em uma segunda cúpula. A conferência terá três focos que fazem parte da fórmula de paz proposta pelo presidente ucraniano Volodimir Zelenski: segurança nuclear, segurança alimentar e libertação de prisioneiros de guerra e crianças sequestradas.

“As questões que serão discutidas têm pontos importantes para todos, como a segurança alimentar. Todos querem a livre circulação porque se abastecem dos grãos que vêm da região. A segurança nuclear também é uma preocupação mundial e a libertação de crianças é uma questão humanitária”, avalia Vitelio Brustolin, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) e pesquisador da Universidade de Harvard.

O presidente da Ucrania, Volodmir Zelenski, participa de uma coletiva de imprensa na cúpula do G-7, em Savalletri, Itália  Foto: Andrew Medichini/AP

Objetivo da cúpula

A cúpula visa buscar justamente isso: pontos em comum entre diferentes países. “Estes tópicos servem para a construção de uma confiança entre as partes do conflito. São problemas civis e relevantes para países geograficamente distantes da Ucrânia mas que também são diretamente afetados pela guerra, particularmente o Sul Global”, apontou um comunicado do governo suíço, que ainda não divulgou a lista com todos os países que participarão da conferência.

“A Ucrânia vai tentar mostrar que os países da Ásia, África e América do Sul ficarão menos seguros se estes tópicos não forem resolvidos”, avalia Simon Schlegel, analista sênior para Ucrânia do International Crisis Group, organização independente que trabalha para prevenir guerras e moldar políticas públicas. Kiev quer ressaltar que estas questões são globais e não só da Ucrânia, completa o analista.

Segurança alimentar e a libertação de crianças abduzidas estão entre os raros tópicos que Moscou e Kiev conseguiram chegar a um entendimento desde que o conflito começou em fevereiro de 2022.

O presidente da Ucrânia, Volodmir Zelenski, desembarca em Zurique, Suíça  Foto: Michael Buholzer/ REUTERS

Em julho de 2022, Rússia e Ucrânia costuraram um acordo com mediação da Turquia para a livre navegação de embarcações de carga ucranianas no Mar Negro. A Ucrânia está entre os principais países exportadores de girassol, milho, trigo e cevada. Na época, Moscou afirmou que concordou com a livre navegação por preocupação com os países pobres que estavam sendo prejudicados pela escassez dos produtos e o aumento dos preços. Contudo, os russos saíram do acordo um ano depois alegando que as condições do entendimento não haviam sido respeitadas.

Os dois países também realizaram trocas de prisioneiros e acordos para a devolução de crianças ucranianas. Segundo cálculos do governo ucraniano, cerca de 20 mil crianças da Ucrânia estão em território russo. Em março do ano passado, o Tribunal Penal Internacional (TPI) anunciou que emitiu um mandado de prisão contra o presidente da Rússia, Vladimir Putin, por crimes de guerra por causa de seu suposto envolvimento em sequestros e deportação de crianças de partes da Ucrânia ocupadas pela Rússia durante a guerra.

“As propostas não envolvem territórios e por isso é possível acreditar que seria mais fácil para a Rússia negociar”, aponta Brustolin.

Rússia

Moscou não parece estar de acordo com os termos da cúpula na Suíça e divulgou as suas condições para uma negociação com a Ucrânia na sexta-feira, 14, véspera do evento. Segundo a Rússia, Kiev precisa retirar as tropas das quatro regiões que Moscou reivindica e se comprometer a não entrar na Otan.

“Assim que Kiev começar a retirada efetiva das tropas das regiões de Donetsk, Luhansk, Kherson e Zaporizhzhia, e assim que notificar que abandona os planos de adesão à Otan, daremos imediatamente, no mesmo minuto, a ordem de cessar-fogo e iniciaremos as negociações”, disse Putin a funcionários de alto escalão do Ministério das Relações Exteriores da Rússia.

Putin também criticou a cúpula na Suíça, classificando o evento como uma “estratagema para desviar a atenção do mundo inteiro dos verdadeiros responsáveis pelo conflito” que são, segundo ele, os países ocidentais e as autoridades de Kiev. “A este respeito, quero sublinhar que sem a participação da Rússia e sem um diálogo honesto e responsável conosco, é impossível alcançar uma solução pacífica na Ucrânia e para a segurança da Europa em geral”, afirmou Putin.

O presidente da Rússia, Vladimir Putin, participa de uma cerimônia religiosa em Moscou, Rússia  Foto: Valery Sharifulin/AFP

Para Schlegel, as declarações não revelam novas informações sobre os objetivos russos. “Não é nada novo, mas é raro eles falarem tão claramente quais são os objetivos. Além disso, foi provavelmente um presente para os ucranianos porque Moscou admitiu que não controla todos os territórios que deseja anexar, já que pediu a saída das tropas ucranianas”.

O chanceler da Suíça, Ignazio Cassis, afirmou em entrevista coletiva que o país sabe que não é possível discutir o processo de paz sem a presença da Rússia. “A questão não é se a Rússia estará a bordo das negociações, mas quando”. Cassis também ressaltou que a Suíça está em contato com Moscou sobre a cúpula.

Presenças importantes

O governo suíço enviou 160 convites para a cúpula, mas 90 estão confirmados. A lista de todos os países ainda não foi divulgada, mas Berna afirmou em um comunicado que metade dos países são da Europa e o resto está dividido pelo globo.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, optou por retornar aos EUA para participar de um comício de campanha e será representado pela vice-presidente americana Kamala Harris e pelo conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan. Todos os outros líderes do G-7 confirmaram presença.

A Hungria, que mantém relações próximas com Moscou e já criticou sanções do Ocidente contra a Rússia, apontou que o chanceler do país deve estar presente, assim como a Turquia. A Índia também está confirmada, mas Nova Délhi não informou o nível diplomático de sua delegação. Já o Brasil será representado pela embaixadora Cláudia Fonseca Buzzi, representante do País na Suíça.

Para o analista do International Crisis Group, é importante que Kiev consiga angariar um grande número de países no evento. “É uma questão simbólica, o peso da cúpula será medido pelo número de países que vão participar, pelo peso dos países e também pelo nível de autoridades importantes que estarão lá”.

Países de peso não devem comparecer

O grande questionamento em relação a eficácia da cúpula são os países que não participarão do evento. A Rússia não foi convidada e disse que se tivesse sido não iria do mesmo jeito. A China ressaltou que só iria participar de negociações que envolvessem as duas partes em conflito. Arábia Saudita e Paquistão também não devem enviar delegações e a África do Sul, outro país importante do Sul Global que mantém boas relações com a Rússia, não indicou se vai a conferência.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, se encontrou com a presidente da Suíça, Viola Amherd, em Genebra na quinta-feira, 13, mas recusou o convite. Para os ucranianos, a presença de Lula seria fundamental para impulsionar o apoio a Kiev na América Latina, onde há resistências.

Em entrevista a jornalistas, o presidente disse que o Brasil só vai participar de conferências do tipo se os dois países em conflito estiverem na mesa de negociação. “Nós estaremos dispostos a participar de qualquer reunião que discuta paz se tiver os dois conflitantes na mesa, Rússia e Ucrânia. Se não, não é discutir paz”, afirmou Lula.

O presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, cumprimenta o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, na cúpula do G-7  Foto: Ricardo Stuckert /Presidência da República

Em maio, Brasil e China publicaram uma proposta conjunta para a negociação do conflito europeu. Pequim e Brasília querem que uma conferência internacional de paz, que seja reconhecida por Kiev e Moscou, seja realizada. De acordo com a China, Hungria e Nicarágua sinalizaram apoio ao texto.

O professor de relações internacionais da ESPM-SP, Gunther Rudzit, avalia que é difícil fazer com que os países do Sul Global apoiem um documento final no evento. “Mesmo os países que irão comparecer, uma coisa é ir para o evento e a outra é assinar a declaração final. Muitos dos países que devem ir para o evento dependem financeiramente da China e Pequim não quer deixar a Rússia isolada”.

Impacto da cúpula

Para Rudzit, da ESPM-SP, a cúpula não deve produzir mudanças no conflito no Leste Europeu. “Não acredito que esta cúpula terá um grande impacto. Enquanto não houver por parte da Rússia uma decisão militar de que uma negociação é necessária, assim como do ponto de vista ucraniano, estas propostas vão continuar ocorrendo, mas a guerra vai continuar vigente”.

Kiev precisa de uma posição mais forte no campo de batalha para negociar, avalia o analista do International Crisis Group. “A Ucrânia necessita de garantias de que vai conseguir entrar na União Europeia (UE) e na Otan no futuro”.

Além disso, Schlegel aponta que os russos não devem concordar com uma mediação da Suíça em uma possível segunda cúpula, por conta das sanções que a União Europeia (UE) impôs a Moscou e que foram apoiadas por Berna. “A Rússia não olha para a Suíça como um país neutro, para os russos está claro que a Suíça é uma aliada de Kiev e por isso não poderia mediar uma negociação entre os dois lados”.

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