O Fórum Econômico Mundial, considerado por muitos o grande templo da globalização, está reunido este ano com excepcionais medidas de segurança. A polícia criou barreiras a centenas de metros do Centro de Congressos de Davos, para dificultar o acessso de possíveis manifestantes. A administração local proibiu os protestos programados para este sábado. O governo federal aumentou os controles nas fronteiras. Se as medidas preventivas darão certo, só se saberá amanhã. Talvez nenhuma vitrina seja rompida nos próximos dias, mas as pressões acumuladas nos últimos anos, especialmente desde Seattle, produziram resultado, e a invasão mais importante já ocorreu. O encontro de Porto Alegre ocupa meia página do Forum News Daily, jornal editado pelo Fórum Econômico Mundial. A reportagem descreve a organização, cita personagens brasileiros e estrangeiros e tenta mostrar que os participantes do evento estão empenhados em produzir uma "agenda positiva". O fim da exuberância irracional e a vulnerabilidade da "nova economia", surpreendente para muitos, têm forçado economistas e empresários a adotar discurso mais cauteloso e mais humilde. O conceito de uma segunda fase da globalização foi lançado pelo diretor-gerente do Fórum, Claude Smadja, em artigos e declarações divulgados nas últimas semanas. "Penso que a primeira fase da globalização foi marcada por muita euforia", disse Smadja numa entrevista. "Agora percebemos", acrescentou, "que a globalização não pode ser apenas um negócio e uma revolução econômica: tem de ter uma dimensão cultural e social", também. Da mesma forma, segundo Smadja, agora se percebe que globalização não implica o desaparecimento ou a marginalização dos governos. Ao contrário: cabe a estes, como agora se percebe, "um papel muito forte como árbitro de interesses e de prioridades". Hoje, durante uma discussão sobre perspectivas econômicas para 2001, alguém perguntou aos participantes se eles não davam excessiva importância ao crescimento econômico, desprezando outros objetivos. A questão foi aceita com bom humor e a resposta, decisiva e conciliadora, foi dada pelo ex-presidente do Banco Central de Israel Jacob Frenkel: "Se tivermos o máximo de crescimento sustentável", disse, enfatizando a palavra ´sustentável´, "teremos os meios necessários para atender aos demais objetivos". Os tropeços da nova economia, o fim da fase de arrogante confiança e as pressões de rua vêm forçando uma discussão mais aberta e mais ampla dos problemas da globalização. Isso é evidente nas manifestações de figuras ligadas ao Fórum na agenda deste ano. A abertura oficial, marcada para o início da noite de hoje, foi destinada a um debate da globalização sob o ponto de vista dos emergentes. O ministro brasileiro da Agricultura, Pratini de Moraes, foi um dos participantes. A crítica da globalização já vinha sendo feita em reuniões anteriores do Fórum. Desde a crise na Ásia, em 1997, as deficiências do mercado sem regras ficaram mais evidentes. Questões tanto de segurança como de justiça foram discutidas, por exemplo, pelo megainvestidor George Soros. A participação de sindicalistas tem sido habitual, embora sejam apenas do Primeiro Mundo, como John Sweeney, presidente da Federação Americana do Trabalho e do Congresso das Organizações Industriais (AFL-CIO). Neste ano, como nos anteriores, esses dirigentes trabalhistas participam do Fórum.