De mísseis a rolamentos, Pentágono tem dificuldades para alimentar máquina de guerra


O fluxo de armas para a Ucrânia revelou uma preocupante insuficiência de capacidade de produção nos EUA que tem suas raízes no fim da Guerra Fria.

Por Eric Lipton

O almirante da Marinha tinha um recado franco para dar aos fabricantes dos mísseis guiados de precisão para os seus navios de guerra, submarinos e aviões em um momento no qual os Estados Unidos estavam enviando armas para a Ucrânia e se preparando para a possibilidade de conflito com a China.

“Olhem para mim. Não estou perdoando o fato de vocês não entregarem a munição de que precisamos. OK?” O almirante Daryl Caudle, responsável pela entrega das armas para a maior parte da frota da Marinha americana na costa leste, alertou os fornecedores durante uma reunião com a indústria em janeiro. “Estamos falando de combate de guerra, segurança nacional e enfrentar um oponente aqui e um adversário em potencial que não é nada parecido com o que já vimos. E não podemos perder tempo com essas entregas.”

Sua frustração declarada reflete um problema que se tornou aparentemente preocupante quando o Pentágono enviou o próprio estoque de armas para ajudar a Ucrânia a conter a Rússia e Washington viu com cautela sinais de que a China talvez provocasse um novo conflito invadindo Taiwan: os EUA não têm capacidade para produzir as armas de que a nação e seus aliados precisam num momento de agravamento de tensões entre superpotências.

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O Pentágono está com dificuldade para produzir a munição necessária para alimentar a máquina de guerra Foto: Haiyun Jiang / NYT

A consolidação da indústria, as linhas de produção escassas e os problemas da cadeia de suprimentos se misturaram, restringindo a produção de munições básicas, como munições de artilharia, ao mesmo tempo que suscitaram preocupações sobre a construção de estoques adequados de armas mais sofisticadas, incluindo mísseis, sistemas de defesa aérea e radar de contra-bateria.

O Pentágono, a Casa Branca, o Congresso e os fabricantes militares estão tomando medidas para resolver os problemas.

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Os orçamentos para aquisição estão crescendo. Os militares estão oferecendo aos fornecedores contratos de vários anos para incentivar as empresas a investirem mais na sua capacidade de produção e estão enviando equipes para ajudar a resolver gargalos no abastecimento. De um modo mais geral, o Pentágono está abandonando algumas das mudanças de contenção de despesas adotadas depois do fim da Guerra Fria, incluindo sistemas de gestão de entregas ao estilo corporativo just-in-time e um esforço para reduzir o tamanho da indústria.

“Estamos comprando o máximo possível da base industrial mesmo enquanto ampliamos esses limites”, disse a vice-secretária de Defesa dos EUA, Kathleen Hicks, este mês em um briefing sobre o plano orçamentário do governo Biden para 2024.

Washington está tentando garantir formas de acelerar a produção de munição para o exército americano e aliados Foto: Matt Rourke / AP
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Mas essas mudanças provavelmente vão demorar para surtir efeito, deixando os militares observando seus estoques de algumas armas fundamentais diminuirem.

Reposição de estoques de mísseis americanos levaria anos

Nos primeiros dez meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia, que levaram Washington a aprovar até agora US$ 33 bilhões em ajuda militar, os EUA enviaram a Kiev tantos mísseis Stinger de seu próprio estoque, que seriam necessários o equivalente a 13 anos de produção na capacidade atual para repor todos eles. Já foram enviados tantos mísseis Javelin que levaria cinco anos, segundo o ritmo de produção registrado no ano passado, para repô-los, de acordo com a Raytheon, a empresa que ajuda a fabricar os sistemas de mísseis.

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Se uma guerra em larga escala eclodisse com a China, em mais ou menos uma semana os EUA ficariam sem os chamados mísseis de cruzeiro antinavio furtivo, uma arma vital em qualquer interação com a China, de acordo com uma série de exercícios de guerra conduzidos pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank com sede em Washington.

As limitações na base industrial de defesa do país são claramente explicadas pela escassez de motores de foguete de combustível sólido necessários para propulsionar uma ampla gama de sistemas de mísseis de precisão, como os mísseis SM-6, lançados por navios, fabricados pela Raytheon.

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Foi a escassez de mísseis SM-6, em particular, que enfureceu o almirante Caudle; eles são usados para defender navios contra aeronaves inimigas, veículos aéreos não tripulados e mísseis de cruzeiro.

Existem hoje apenas dois fabricantes que produzem um grande número de motores de foguetes para sistemas de mísseis utilizados pela Força Aérea, Marinha, Exército e Fuzileiros Navais, em 1995 havia seis.

Um incêndio recente prejudicou a linha de produção de um dos dois fornecedores restantes, a Aerojet Rocketdyne, provocando mais atrasos na entrega do SM-6 e de outros sistemas de mísseis de precisão, mesmo com o acúmulo de encomendas do Pentágono para milhares de novos mísseis.

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“Os motores de foguetes, uma maldição na minha vida, continuaram a ser um problema”, disse Gregory Hayes, CEO da Raytheon, a analistas de Wall Street no mês passado. Ele explicou que a escassez afetaria a capacidade da empresa de entregar novos mísseis a tempo e era um problema pouco provável de ser resolvido “até provavelmente a metade de 2024″.

A Aerojet está construindo motores para sistemas mais antigos, como os mísseis contra blindados Javelin e os mísseis antiaéreos Stinger, dos quais mais de 10 mil já foram enviados para a Ucrânia. A empresa também está construindo novos foguetes necessários para propulsionar os chamados mísseis hipersônicos que podem se deslocar muito mais rápido, assim como os foguetes para uma nova geração de armas nucleares para os EUA e até mesmo o foguete para uma nova nave espacial da NASA que em breve deve ir até a lua.

Guerra na Ucrânia mobilizou alto fornecimento militar de Washington e aliados para Kiev  Foto: Baz Ratner / REUTERS

O resultado são bilhões de dólares em encomendas atrasadas na empresa – e frustração no Pentágono pelo ritmo de entrega.

“No fim das contas, quero que os armazéns sejam preenchidos”, disse o almirante Caudle aos fabricantes e à equipe da Marinha em janeiro, referindo-se às áreas de armazenamento em seus navios para mísseis guiados. “OK? Quero os navios cheios.”

Outros itens escassos que diminuem a velocidade da produção incluem coisas simples, como rolamentos, um componente-chave de certos sistemas de mísseis teleguiados, e peças em aço fundido, usadas na fabricação de motores.

Há também apenas uma empresa, a Williams International, que fabrica motores turbofan para a maioria dos mísseis de cruzeiro, de acordo com Seth G. Jones, um ex-funcionário do Departamento de Defesa que hoje trabalha no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, armas que seriam vitais para qualquer guerra com a China devido ao seu longo alcance.

Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin e o Secretário de Estado de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, participam de reunião no Pentágono, em Arlington, Virgínia  Foto: Shawn Thew / EFE

Os problemas atuais têm as suas raízes nas consequências do fim da Guerra Fria, quando um ímpeto para o “dividendo da paz” levou a cortes na aquisição de armas e à consolidação da indústria.

Em 1993, Norman Augustine, então CEO da Martin Marietta, um dos maiores fornecedores dos militares, recebeu um convite para um jantar com o secretário de Defesa Les Aspin, que estava ajudando o presidente Bill Clinton a descobrir como reduzir os gastos militares.

Empresas fornecedoras de armas foram reduzidas

Quando ele chegou, mais de uma dúzia de outros CEOs de grandes fornecedores estavam lá para uma reunião que se tornaria conhecida como “A Última Ceia”. A mensagem transmitida ao setor por Aspin foi a de que muitas das empresas precisavam desaparecer, fundindo-se ou encerrando as suas atividades.

“O custo de manter pela metade as fábricas, as linhas de produção seria enorme”, disse Augustine, hoje com 87 anos, durante uma entrevista em um café perto de sua casa em Maryland, lembrando da mensagem compartilhada com os executivos. “O governo não iria nos dizer quais seriam os sobreviventes – teríamos que descobrir isso.”

Augustine ainda tem uma cópia de um gráfico detalhado da “Última Ceia”, dividido por sistemas de armas, criado por ele depois do jantar. O número total de estaleiros e fabricantes de mísseis táticos seria reduzido de oito para quatro, enquanto o número de fabricantes de motores de foguetes cairia de cinco para dois.

Navio da Marinha dos Estados Unidos atracado em Honolulu, Havaí  Foto: HO / REUTERS

Pouco tempo depois, a Martin Marietta adquiriu a GE Aerospace e a General Dynamics’ Space Systems, e depois se fundiu com a Lockheed Corporation, com sede na Califórnia, para formar o que agora é conhecido como Lockheed Martin.

“A conclusão a qual eles chegaram – ver-se livre da maior parte das sedes e dos CEOs e fazer aqueles que restaram operarem em 100%, acho que foi a conclusão certa na época”, disse Augustine. “Mas ela teve consequências no longo prazo. O desafio que enfrentamos hoje foi criado por nós mesmos.”

Desde o fim da Guerra Fria, os EUA – do ponto de vista das demandas de sua base industrial – enfrentaram combates de pouca ou alta intensidade, como a primeira Guerra do Golfo em 1990-1991 e períodos da Guerra do Iraque começando em 2003, ou conflitos prolongados, mas de menor intensidade, como a guerra que durou décadas no Afeganistão, disse Michael E. O’Hanlon, especialista em assuntos militares da Brookings Institution.

Mas mesmo esses confrontos, muito diferentes em escala de possíveis enfrentamentos contra outras grandes potências, expuseram os riscos emergentes: em 2016, os EUA ficaram sem mísseis de precisão após uma série de combates no Afeganistão, depois no Iraque, na Líbia e, por fim, na Síria.

O Pentágono aumentou por um breve período a produção para reabastecer as reservas de mísseis, mas foi uma medida temporária, disse William A. LaPlante, subsecretário de Defesa que supervisiona as aquisições. Os líderes do Departamento de Defesa e os legisladores que definiram o orçamento, muitas vezes voltavam-se para os programas de mísseis para reduzir o total de gastos.

Washington tenta coordenar fornecimento de armas para a Ucrânia junto com países aliados  Foto: Matthias Schrader / AP

Incentivados por lobistas da indústria militar – e pelas centenas de oficiais militares aposentados de alto escalão que contrataram para suas equipes de vendas e marketing –, o governo, em vez disso, focou em grande parte na compra de novos navios, aviões e outros equipamentos extremamente caros, com os quais os principais fabricantes ganham a maior parte de seu dinheiro.

Os lobistas também pressionaram o Congresso a manter navios e aviões mais antigos que até mesmo o Departamento de Defesa dizia ter valor militar limitado, mas que demandam grandes quantias para serem equipados e na contratação de profissionais.

No entanto, os itens com preços mais baixos – como os mísseis e outras munições – tornaram-se uma maneira fácil de fazer cortes nos orçamentos para dar conta das despesas com os itens caros.

“Torna-se muito tentador quando nossos orçamentos estão sendo equilibrados, equilibrá-los com os fundos para munições, porque é dinheiro fungível”, disse LaPlante. “Nós permitimos, sem dúvidas, que as linhas de produção esfriassem e observamos como as peças se tornavam obsoletas.”

Esse hábito também se estendeu aos aliados europeus, como a Polônia, que se comprometeu a comprar aviões de caça F-35, que custam cerca de US$ 80 milhões cada, mas não mísseis suficientes para usar neles por mais do que duas semanas em uma guerra, disse Hayes, CEO da Raytheon, cuja divisão Pratt & Whitney fabrica motores para o caça.

“Gastamos muito dinheiro com alguns sistemas grandes e muito sofisticados, e não gastamos, nem focamos tanto nas munições necessárias para acioná-los”, disse Hayes em dezembro. “Ninguém está comprando os sistemas de armas necessários para se envolver em outra coisa que não seja uma batalha de curta, curtíssima duração.”

O Pentágono agora está trabalhando para abrir mão de uma estratégia construída em torno da filosofia just-in-time, ao estilo do Walmart, de manter o estoque baixo e, em vez disso, focar mais na capacidade de produção, disse LaPlante em uma entrevista.

Biden propôs aumento do orçamento militar

A Casa Branca de Biden propôs este mês um aumento de 51% no orçamento para comprar mísseis e munições, em comparação com 2022, alcançando um total de US$ 30,6 bilhões.

E isso é apenas o começo. O orçamento proposto pela Casa Branca apenas para a aquisição de mísseis para a Força Aérea deve saltar para quase US$ 13 bilhões até 2028, ante os US$ 2,2 bilhões em 2021. (O Congresso está apenas começando a considerar as propostas do governo e as de ambos os partidos no Capitólio.)

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de coletiva de imprensa na Casa Branca Foto: Michael A. McCoy / NYT

Grandes fabricantes como a Lockheed Martin, com o apoio do Pentágono, estão procurando por todo o país novos fornecedores para os programas de mísseis. O Departamento de Defesa também está enviando equipes para ajudá-los a eliminar gargalos, inclusive recorrendo a aliados de todo o mundo para encontrar peças específicas em estoque baixo que estão atrasando as linhas de produção.

No ano passado, a Lockheed conseguiu produzir 7.500 dos foguetes de artilharia que as tropas ucranianas dispararam com grande sucesso de lançadores múltiplos HIMARS. Este ano, esse número saltará para 10 mil. Mas isso ainda é bem menos do que o Pentágono precisa, mesmo apenas para reabastecer a Ucrânia, e é um dos mais de dez sistemas de foguetes e mísseis que os fabricantes agora estão correndo para aumentar a produção.

É provável que o aumento das despesas se traduza, no longo prazo, em um aumento dos lucros dos fabricantes de itens para uso militar. Mas, no curto prazo, vários deles, como a Lockheed, continuam a ter dificuldades para contratar trabalhadores e acabar com a escassez de peças-chave necessárias para atender a demanda do Pentágono.

A Lockheed espera que sua receita permaneça estável este ano, ainda que o governo federal aumente os gastos. Reforçar a capacidade adicional necessária provavelmente vai demorar vários anos.

“Toda vez que você vê uma análise que diz: ‘Talvez não estejamos preparados para alcançar nossos objetivos estratégicos’, isso é preocupante”, disse Frank A. St.John, diretor de operações da Lockheed Martin, a maior fornecedora de itens para uso militar dos EUA, em uma entrevista. “Estamos no caminho para lidar com essa necessidade.”

Em dezembro, o Congresso deu ao Pentágono um novo poder para fechar contratos plurianuais com fabricantes de itens para uso militar para comprar sistemas de mísseis, proporcionando compromissos financeiros que permitem a eles contratar mais fornecedores ou expandir fábricas para que possam produzir mais mísseis, sabendo que há lucros a serem alcançados.

“Isso dará à indústria a confirmação real de que vão estar operando nos próximos anos”, disse LaPlante. “Essa é uma grande, enorme mudança cultural.”

No ano passado, o Pentágono também criou uma equipe encarregada de trabalhar com os fabricantes para identificar a escassez de mão de obra e na cadeia de suprimentos – e, depois, distribuiu mais de US$ 2 bilhões em recursos financeiros para ajudar a solucioná-los rapidamente.

Essa equipe começou com foco no reabastecimento de armas enviadas para a Ucrânia, disse LaPlante, mas ela agora foi configurada como uma unidade mais permanente dentro do Pentágono para ajudar o Departamento de Defesa a fazer uma “mudança geral de afastamento da mentalidade just-in-time”.

Em uma reversão da política pós-Guerra Fria, os reguladores antitruste também aumentaram o escrutínio da consolidação contínua da indústria militar, com a Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês), por exemplo, se mexendo no ano passado para impedir o plano da Lockheed Martin de comprar a Aerojet Rocketdyne por US$ 4,4 bilhões.

“Não podemos permitir mais concentração em mercados fundamentais para a nossa segurança e defesa nacional”, disse Holly Vedova, diretora do Departamento de Concorrência da FTC, no início do ano passado, depois que a agência entrou em ação para impedir o acordo.

Outra grande empresa do setor de defesa, a L3 Harris Technologies, que é a sexta maior do país, propôs comprar a Aerojet, uma transação que ainda não foi concluída. Mas os fabricantes também estão em busca de novas opções para expandir a capacidade de fabricar motores de foguete, com a Lockheed solicitando orçamentos de uma variedade de possíveis novos fornecedores.

A Aerojet propôs recentemente expandir suas fábricas de motores para foguetes no Arkansas e no Alabama, onde a empresa fabrica motores de foguetes para o SM-6 que a Marinha está esperando, assim como o míssil PAC-3, que Taiwan está aguardando para se defender contra qualquer nova ameaça de mísseis.

“Os líderes do Departamento de Defesa sinalizaram uma necessidade crítica de reabastecer os estoques atuais”, disse a empresa em um comunicado, “assim como a necessidade de investir significativamente para atender o estoque geral de munições”.

A Força Aérea começou a mudar a forma como compra sistemas de mísseis, em parte para aumentar o número de empresas que fabricam itens essenciais, como motores de foguetes, disse Andrew Hunter, secretário-adjunto da Força Aérea responsável pelas aquisições.

“É quase inconcebível que um único fornecedor tenha o tipo de capacidade que você vai precisar, caso esse conflito se prolongue”, disse ele depois de ser questionado sobre a escassez de motores de foguetes.

O presidente Biden também recorreu à Lei de Produção para a Defesa – usada durante a pandemia para acelerar a fabricação de respiradores e vacinas – para avançar mais rápido com novos programas de mísseis, incluindo uma série de armas hipersônicas sendo desenvolvidas para a Força Aérea, o Exército e a Marinha.

Washington não se preparou para momento atual

Todas as medidas foram necessárias porque os EUA subestimaram as ameaças que enfrentam agora – ou não se prepararam adequadamente, reconheceram funcionários do Pentágono.

“Ninguém previu o conflito prolongado de alto volume que estamos vendo na Ucrânia, ou que poderemos ver contra um adversário estratégico no futuro”, disse LaPlante este mês, referindo-se à China.

Um aumento nas encomendas de armas americanas por aliados na Europa e na Ásia também ajudará, criando mais demanda para apoiar as linhas de produção domésticas.

Só para Taiwan, há um acúmulo de US$ 19 bilhões de encomendas de armas fabricadas nos EUA – boa parte delas de mísseis Stinger com motores de foguete construídos pela Aerojet que já estão com estoque baixo.

O Pentágono também está trabalhando com certos aliados dos EUA para criar mais parcerias, como um contrato de US$ 1,2 bilhão fechado no ano passado para financiar um projeto conjunto entre a Raytheon e a empresa de defesa norueguesa Kongsberg para construir um sistema de mísseis de defesa antiaérea lançados do solo chamado NASAMS, que está sendo enviado para a Ucrânia.

Kathleen, a vice-secretária de Defesa, disse que o objetivo não é necessariamente se preparar para travar uma guerra com a China – é impedir que ela comece. “De qualquer modo, devemos ter uma força de combate confiável para vencer, caso seja preciso lutar”, disse ela.

O almirante da Marinha tinha um recado franco para dar aos fabricantes dos mísseis guiados de precisão para os seus navios de guerra, submarinos e aviões em um momento no qual os Estados Unidos estavam enviando armas para a Ucrânia e se preparando para a possibilidade de conflito com a China.

“Olhem para mim. Não estou perdoando o fato de vocês não entregarem a munição de que precisamos. OK?” O almirante Daryl Caudle, responsável pela entrega das armas para a maior parte da frota da Marinha americana na costa leste, alertou os fornecedores durante uma reunião com a indústria em janeiro. “Estamos falando de combate de guerra, segurança nacional e enfrentar um oponente aqui e um adversário em potencial que não é nada parecido com o que já vimos. E não podemos perder tempo com essas entregas.”

Sua frustração declarada reflete um problema que se tornou aparentemente preocupante quando o Pentágono enviou o próprio estoque de armas para ajudar a Ucrânia a conter a Rússia e Washington viu com cautela sinais de que a China talvez provocasse um novo conflito invadindo Taiwan: os EUA não têm capacidade para produzir as armas de que a nação e seus aliados precisam num momento de agravamento de tensões entre superpotências.

O Pentágono está com dificuldade para produzir a munição necessária para alimentar a máquina de guerra Foto: Haiyun Jiang / NYT

A consolidação da indústria, as linhas de produção escassas e os problemas da cadeia de suprimentos se misturaram, restringindo a produção de munições básicas, como munições de artilharia, ao mesmo tempo que suscitaram preocupações sobre a construção de estoques adequados de armas mais sofisticadas, incluindo mísseis, sistemas de defesa aérea e radar de contra-bateria.

O Pentágono, a Casa Branca, o Congresso e os fabricantes militares estão tomando medidas para resolver os problemas.

Os orçamentos para aquisição estão crescendo. Os militares estão oferecendo aos fornecedores contratos de vários anos para incentivar as empresas a investirem mais na sua capacidade de produção e estão enviando equipes para ajudar a resolver gargalos no abastecimento. De um modo mais geral, o Pentágono está abandonando algumas das mudanças de contenção de despesas adotadas depois do fim da Guerra Fria, incluindo sistemas de gestão de entregas ao estilo corporativo just-in-time e um esforço para reduzir o tamanho da indústria.

“Estamos comprando o máximo possível da base industrial mesmo enquanto ampliamos esses limites”, disse a vice-secretária de Defesa dos EUA, Kathleen Hicks, este mês em um briefing sobre o plano orçamentário do governo Biden para 2024.

Washington está tentando garantir formas de acelerar a produção de munição para o exército americano e aliados Foto: Matt Rourke / AP

Mas essas mudanças provavelmente vão demorar para surtir efeito, deixando os militares observando seus estoques de algumas armas fundamentais diminuirem.

Reposição de estoques de mísseis americanos levaria anos

Nos primeiros dez meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia, que levaram Washington a aprovar até agora US$ 33 bilhões em ajuda militar, os EUA enviaram a Kiev tantos mísseis Stinger de seu próprio estoque, que seriam necessários o equivalente a 13 anos de produção na capacidade atual para repor todos eles. Já foram enviados tantos mísseis Javelin que levaria cinco anos, segundo o ritmo de produção registrado no ano passado, para repô-los, de acordo com a Raytheon, a empresa que ajuda a fabricar os sistemas de mísseis.

Se uma guerra em larga escala eclodisse com a China, em mais ou menos uma semana os EUA ficariam sem os chamados mísseis de cruzeiro antinavio furtivo, uma arma vital em qualquer interação com a China, de acordo com uma série de exercícios de guerra conduzidos pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank com sede em Washington.

As limitações na base industrial de defesa do país são claramente explicadas pela escassez de motores de foguete de combustível sólido necessários para propulsionar uma ampla gama de sistemas de mísseis de precisão, como os mísseis SM-6, lançados por navios, fabricados pela Raytheon.

Foi a escassez de mísseis SM-6, em particular, que enfureceu o almirante Caudle; eles são usados para defender navios contra aeronaves inimigas, veículos aéreos não tripulados e mísseis de cruzeiro.

Existem hoje apenas dois fabricantes que produzem um grande número de motores de foguetes para sistemas de mísseis utilizados pela Força Aérea, Marinha, Exército e Fuzileiros Navais, em 1995 havia seis.

Um incêndio recente prejudicou a linha de produção de um dos dois fornecedores restantes, a Aerojet Rocketdyne, provocando mais atrasos na entrega do SM-6 e de outros sistemas de mísseis de precisão, mesmo com o acúmulo de encomendas do Pentágono para milhares de novos mísseis.

“Os motores de foguetes, uma maldição na minha vida, continuaram a ser um problema”, disse Gregory Hayes, CEO da Raytheon, a analistas de Wall Street no mês passado. Ele explicou que a escassez afetaria a capacidade da empresa de entregar novos mísseis a tempo e era um problema pouco provável de ser resolvido “até provavelmente a metade de 2024″.

A Aerojet está construindo motores para sistemas mais antigos, como os mísseis contra blindados Javelin e os mísseis antiaéreos Stinger, dos quais mais de 10 mil já foram enviados para a Ucrânia. A empresa também está construindo novos foguetes necessários para propulsionar os chamados mísseis hipersônicos que podem se deslocar muito mais rápido, assim como os foguetes para uma nova geração de armas nucleares para os EUA e até mesmo o foguete para uma nova nave espacial da NASA que em breve deve ir até a lua.

Guerra na Ucrânia mobilizou alto fornecimento militar de Washington e aliados para Kiev  Foto: Baz Ratner / REUTERS

O resultado são bilhões de dólares em encomendas atrasadas na empresa – e frustração no Pentágono pelo ritmo de entrega.

“No fim das contas, quero que os armazéns sejam preenchidos”, disse o almirante Caudle aos fabricantes e à equipe da Marinha em janeiro, referindo-se às áreas de armazenamento em seus navios para mísseis guiados. “OK? Quero os navios cheios.”

Outros itens escassos que diminuem a velocidade da produção incluem coisas simples, como rolamentos, um componente-chave de certos sistemas de mísseis teleguiados, e peças em aço fundido, usadas na fabricação de motores.

Há também apenas uma empresa, a Williams International, que fabrica motores turbofan para a maioria dos mísseis de cruzeiro, de acordo com Seth G. Jones, um ex-funcionário do Departamento de Defesa que hoje trabalha no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, armas que seriam vitais para qualquer guerra com a China devido ao seu longo alcance.

Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin e o Secretário de Estado de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, participam de reunião no Pentágono, em Arlington, Virgínia  Foto: Shawn Thew / EFE

Os problemas atuais têm as suas raízes nas consequências do fim da Guerra Fria, quando um ímpeto para o “dividendo da paz” levou a cortes na aquisição de armas e à consolidação da indústria.

Em 1993, Norman Augustine, então CEO da Martin Marietta, um dos maiores fornecedores dos militares, recebeu um convite para um jantar com o secretário de Defesa Les Aspin, que estava ajudando o presidente Bill Clinton a descobrir como reduzir os gastos militares.

Empresas fornecedoras de armas foram reduzidas

Quando ele chegou, mais de uma dúzia de outros CEOs de grandes fornecedores estavam lá para uma reunião que se tornaria conhecida como “A Última Ceia”. A mensagem transmitida ao setor por Aspin foi a de que muitas das empresas precisavam desaparecer, fundindo-se ou encerrando as suas atividades.

“O custo de manter pela metade as fábricas, as linhas de produção seria enorme”, disse Augustine, hoje com 87 anos, durante uma entrevista em um café perto de sua casa em Maryland, lembrando da mensagem compartilhada com os executivos. “O governo não iria nos dizer quais seriam os sobreviventes – teríamos que descobrir isso.”

Augustine ainda tem uma cópia de um gráfico detalhado da “Última Ceia”, dividido por sistemas de armas, criado por ele depois do jantar. O número total de estaleiros e fabricantes de mísseis táticos seria reduzido de oito para quatro, enquanto o número de fabricantes de motores de foguetes cairia de cinco para dois.

Navio da Marinha dos Estados Unidos atracado em Honolulu, Havaí  Foto: HO / REUTERS

Pouco tempo depois, a Martin Marietta adquiriu a GE Aerospace e a General Dynamics’ Space Systems, e depois se fundiu com a Lockheed Corporation, com sede na Califórnia, para formar o que agora é conhecido como Lockheed Martin.

“A conclusão a qual eles chegaram – ver-se livre da maior parte das sedes e dos CEOs e fazer aqueles que restaram operarem em 100%, acho que foi a conclusão certa na época”, disse Augustine. “Mas ela teve consequências no longo prazo. O desafio que enfrentamos hoje foi criado por nós mesmos.”

Desde o fim da Guerra Fria, os EUA – do ponto de vista das demandas de sua base industrial – enfrentaram combates de pouca ou alta intensidade, como a primeira Guerra do Golfo em 1990-1991 e períodos da Guerra do Iraque começando em 2003, ou conflitos prolongados, mas de menor intensidade, como a guerra que durou décadas no Afeganistão, disse Michael E. O’Hanlon, especialista em assuntos militares da Brookings Institution.

Mas mesmo esses confrontos, muito diferentes em escala de possíveis enfrentamentos contra outras grandes potências, expuseram os riscos emergentes: em 2016, os EUA ficaram sem mísseis de precisão após uma série de combates no Afeganistão, depois no Iraque, na Líbia e, por fim, na Síria.

O Pentágono aumentou por um breve período a produção para reabastecer as reservas de mísseis, mas foi uma medida temporária, disse William A. LaPlante, subsecretário de Defesa que supervisiona as aquisições. Os líderes do Departamento de Defesa e os legisladores que definiram o orçamento, muitas vezes voltavam-se para os programas de mísseis para reduzir o total de gastos.

Washington tenta coordenar fornecimento de armas para a Ucrânia junto com países aliados  Foto: Matthias Schrader / AP

Incentivados por lobistas da indústria militar – e pelas centenas de oficiais militares aposentados de alto escalão que contrataram para suas equipes de vendas e marketing –, o governo, em vez disso, focou em grande parte na compra de novos navios, aviões e outros equipamentos extremamente caros, com os quais os principais fabricantes ganham a maior parte de seu dinheiro.

Os lobistas também pressionaram o Congresso a manter navios e aviões mais antigos que até mesmo o Departamento de Defesa dizia ter valor militar limitado, mas que demandam grandes quantias para serem equipados e na contratação de profissionais.

No entanto, os itens com preços mais baixos – como os mísseis e outras munições – tornaram-se uma maneira fácil de fazer cortes nos orçamentos para dar conta das despesas com os itens caros.

“Torna-se muito tentador quando nossos orçamentos estão sendo equilibrados, equilibrá-los com os fundos para munições, porque é dinheiro fungível”, disse LaPlante. “Nós permitimos, sem dúvidas, que as linhas de produção esfriassem e observamos como as peças se tornavam obsoletas.”

Esse hábito também se estendeu aos aliados europeus, como a Polônia, que se comprometeu a comprar aviões de caça F-35, que custam cerca de US$ 80 milhões cada, mas não mísseis suficientes para usar neles por mais do que duas semanas em uma guerra, disse Hayes, CEO da Raytheon, cuja divisão Pratt & Whitney fabrica motores para o caça.

“Gastamos muito dinheiro com alguns sistemas grandes e muito sofisticados, e não gastamos, nem focamos tanto nas munições necessárias para acioná-los”, disse Hayes em dezembro. “Ninguém está comprando os sistemas de armas necessários para se envolver em outra coisa que não seja uma batalha de curta, curtíssima duração.”

O Pentágono agora está trabalhando para abrir mão de uma estratégia construída em torno da filosofia just-in-time, ao estilo do Walmart, de manter o estoque baixo e, em vez disso, focar mais na capacidade de produção, disse LaPlante em uma entrevista.

Biden propôs aumento do orçamento militar

A Casa Branca de Biden propôs este mês um aumento de 51% no orçamento para comprar mísseis e munições, em comparação com 2022, alcançando um total de US$ 30,6 bilhões.

E isso é apenas o começo. O orçamento proposto pela Casa Branca apenas para a aquisição de mísseis para a Força Aérea deve saltar para quase US$ 13 bilhões até 2028, ante os US$ 2,2 bilhões em 2021. (O Congresso está apenas começando a considerar as propostas do governo e as de ambos os partidos no Capitólio.)

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de coletiva de imprensa na Casa Branca Foto: Michael A. McCoy / NYT

Grandes fabricantes como a Lockheed Martin, com o apoio do Pentágono, estão procurando por todo o país novos fornecedores para os programas de mísseis. O Departamento de Defesa também está enviando equipes para ajudá-los a eliminar gargalos, inclusive recorrendo a aliados de todo o mundo para encontrar peças específicas em estoque baixo que estão atrasando as linhas de produção.

No ano passado, a Lockheed conseguiu produzir 7.500 dos foguetes de artilharia que as tropas ucranianas dispararam com grande sucesso de lançadores múltiplos HIMARS. Este ano, esse número saltará para 10 mil. Mas isso ainda é bem menos do que o Pentágono precisa, mesmo apenas para reabastecer a Ucrânia, e é um dos mais de dez sistemas de foguetes e mísseis que os fabricantes agora estão correndo para aumentar a produção.

É provável que o aumento das despesas se traduza, no longo prazo, em um aumento dos lucros dos fabricantes de itens para uso militar. Mas, no curto prazo, vários deles, como a Lockheed, continuam a ter dificuldades para contratar trabalhadores e acabar com a escassez de peças-chave necessárias para atender a demanda do Pentágono.

A Lockheed espera que sua receita permaneça estável este ano, ainda que o governo federal aumente os gastos. Reforçar a capacidade adicional necessária provavelmente vai demorar vários anos.

“Toda vez que você vê uma análise que diz: ‘Talvez não estejamos preparados para alcançar nossos objetivos estratégicos’, isso é preocupante”, disse Frank A. St.John, diretor de operações da Lockheed Martin, a maior fornecedora de itens para uso militar dos EUA, em uma entrevista. “Estamos no caminho para lidar com essa necessidade.”

Em dezembro, o Congresso deu ao Pentágono um novo poder para fechar contratos plurianuais com fabricantes de itens para uso militar para comprar sistemas de mísseis, proporcionando compromissos financeiros que permitem a eles contratar mais fornecedores ou expandir fábricas para que possam produzir mais mísseis, sabendo que há lucros a serem alcançados.

“Isso dará à indústria a confirmação real de que vão estar operando nos próximos anos”, disse LaPlante. “Essa é uma grande, enorme mudança cultural.”

No ano passado, o Pentágono também criou uma equipe encarregada de trabalhar com os fabricantes para identificar a escassez de mão de obra e na cadeia de suprimentos – e, depois, distribuiu mais de US$ 2 bilhões em recursos financeiros para ajudar a solucioná-los rapidamente.

Essa equipe começou com foco no reabastecimento de armas enviadas para a Ucrânia, disse LaPlante, mas ela agora foi configurada como uma unidade mais permanente dentro do Pentágono para ajudar o Departamento de Defesa a fazer uma “mudança geral de afastamento da mentalidade just-in-time”.

Em uma reversão da política pós-Guerra Fria, os reguladores antitruste também aumentaram o escrutínio da consolidação contínua da indústria militar, com a Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês), por exemplo, se mexendo no ano passado para impedir o plano da Lockheed Martin de comprar a Aerojet Rocketdyne por US$ 4,4 bilhões.

“Não podemos permitir mais concentração em mercados fundamentais para a nossa segurança e defesa nacional”, disse Holly Vedova, diretora do Departamento de Concorrência da FTC, no início do ano passado, depois que a agência entrou em ação para impedir o acordo.

Outra grande empresa do setor de defesa, a L3 Harris Technologies, que é a sexta maior do país, propôs comprar a Aerojet, uma transação que ainda não foi concluída. Mas os fabricantes também estão em busca de novas opções para expandir a capacidade de fabricar motores de foguete, com a Lockheed solicitando orçamentos de uma variedade de possíveis novos fornecedores.

A Aerojet propôs recentemente expandir suas fábricas de motores para foguetes no Arkansas e no Alabama, onde a empresa fabrica motores de foguetes para o SM-6 que a Marinha está esperando, assim como o míssil PAC-3, que Taiwan está aguardando para se defender contra qualquer nova ameaça de mísseis.

“Os líderes do Departamento de Defesa sinalizaram uma necessidade crítica de reabastecer os estoques atuais”, disse a empresa em um comunicado, “assim como a necessidade de investir significativamente para atender o estoque geral de munições”.

A Força Aérea começou a mudar a forma como compra sistemas de mísseis, em parte para aumentar o número de empresas que fabricam itens essenciais, como motores de foguetes, disse Andrew Hunter, secretário-adjunto da Força Aérea responsável pelas aquisições.

“É quase inconcebível que um único fornecedor tenha o tipo de capacidade que você vai precisar, caso esse conflito se prolongue”, disse ele depois de ser questionado sobre a escassez de motores de foguetes.

O presidente Biden também recorreu à Lei de Produção para a Defesa – usada durante a pandemia para acelerar a fabricação de respiradores e vacinas – para avançar mais rápido com novos programas de mísseis, incluindo uma série de armas hipersônicas sendo desenvolvidas para a Força Aérea, o Exército e a Marinha.

Washington não se preparou para momento atual

Todas as medidas foram necessárias porque os EUA subestimaram as ameaças que enfrentam agora – ou não se prepararam adequadamente, reconheceram funcionários do Pentágono.

“Ninguém previu o conflito prolongado de alto volume que estamos vendo na Ucrânia, ou que poderemos ver contra um adversário estratégico no futuro”, disse LaPlante este mês, referindo-se à China.

Um aumento nas encomendas de armas americanas por aliados na Europa e na Ásia também ajudará, criando mais demanda para apoiar as linhas de produção domésticas.

Só para Taiwan, há um acúmulo de US$ 19 bilhões de encomendas de armas fabricadas nos EUA – boa parte delas de mísseis Stinger com motores de foguete construídos pela Aerojet que já estão com estoque baixo.

O Pentágono também está trabalhando com certos aliados dos EUA para criar mais parcerias, como um contrato de US$ 1,2 bilhão fechado no ano passado para financiar um projeto conjunto entre a Raytheon e a empresa de defesa norueguesa Kongsberg para construir um sistema de mísseis de defesa antiaérea lançados do solo chamado NASAMS, que está sendo enviado para a Ucrânia.

Kathleen, a vice-secretária de Defesa, disse que o objetivo não é necessariamente se preparar para travar uma guerra com a China – é impedir que ela comece. “De qualquer modo, devemos ter uma força de combate confiável para vencer, caso seja preciso lutar”, disse ela.

O almirante da Marinha tinha um recado franco para dar aos fabricantes dos mísseis guiados de precisão para os seus navios de guerra, submarinos e aviões em um momento no qual os Estados Unidos estavam enviando armas para a Ucrânia e se preparando para a possibilidade de conflito com a China.

“Olhem para mim. Não estou perdoando o fato de vocês não entregarem a munição de que precisamos. OK?” O almirante Daryl Caudle, responsável pela entrega das armas para a maior parte da frota da Marinha americana na costa leste, alertou os fornecedores durante uma reunião com a indústria em janeiro. “Estamos falando de combate de guerra, segurança nacional e enfrentar um oponente aqui e um adversário em potencial que não é nada parecido com o que já vimos. E não podemos perder tempo com essas entregas.”

Sua frustração declarada reflete um problema que se tornou aparentemente preocupante quando o Pentágono enviou o próprio estoque de armas para ajudar a Ucrânia a conter a Rússia e Washington viu com cautela sinais de que a China talvez provocasse um novo conflito invadindo Taiwan: os EUA não têm capacidade para produzir as armas de que a nação e seus aliados precisam num momento de agravamento de tensões entre superpotências.

O Pentágono está com dificuldade para produzir a munição necessária para alimentar a máquina de guerra Foto: Haiyun Jiang / NYT

A consolidação da indústria, as linhas de produção escassas e os problemas da cadeia de suprimentos se misturaram, restringindo a produção de munições básicas, como munições de artilharia, ao mesmo tempo que suscitaram preocupações sobre a construção de estoques adequados de armas mais sofisticadas, incluindo mísseis, sistemas de defesa aérea e radar de contra-bateria.

O Pentágono, a Casa Branca, o Congresso e os fabricantes militares estão tomando medidas para resolver os problemas.

Os orçamentos para aquisição estão crescendo. Os militares estão oferecendo aos fornecedores contratos de vários anos para incentivar as empresas a investirem mais na sua capacidade de produção e estão enviando equipes para ajudar a resolver gargalos no abastecimento. De um modo mais geral, o Pentágono está abandonando algumas das mudanças de contenção de despesas adotadas depois do fim da Guerra Fria, incluindo sistemas de gestão de entregas ao estilo corporativo just-in-time e um esforço para reduzir o tamanho da indústria.

“Estamos comprando o máximo possível da base industrial mesmo enquanto ampliamos esses limites”, disse a vice-secretária de Defesa dos EUA, Kathleen Hicks, este mês em um briefing sobre o plano orçamentário do governo Biden para 2024.

Washington está tentando garantir formas de acelerar a produção de munição para o exército americano e aliados Foto: Matt Rourke / AP

Mas essas mudanças provavelmente vão demorar para surtir efeito, deixando os militares observando seus estoques de algumas armas fundamentais diminuirem.

Reposição de estoques de mísseis americanos levaria anos

Nos primeiros dez meses após a invasão da Ucrânia pela Rússia, que levaram Washington a aprovar até agora US$ 33 bilhões em ajuda militar, os EUA enviaram a Kiev tantos mísseis Stinger de seu próprio estoque, que seriam necessários o equivalente a 13 anos de produção na capacidade atual para repor todos eles. Já foram enviados tantos mísseis Javelin que levaria cinco anos, segundo o ritmo de produção registrado no ano passado, para repô-los, de acordo com a Raytheon, a empresa que ajuda a fabricar os sistemas de mísseis.

Se uma guerra em larga escala eclodisse com a China, em mais ou menos uma semana os EUA ficariam sem os chamados mísseis de cruzeiro antinavio furtivo, uma arma vital em qualquer interação com a China, de acordo com uma série de exercícios de guerra conduzidos pelo Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, um think tank com sede em Washington.

As limitações na base industrial de defesa do país são claramente explicadas pela escassez de motores de foguete de combustível sólido necessários para propulsionar uma ampla gama de sistemas de mísseis de precisão, como os mísseis SM-6, lançados por navios, fabricados pela Raytheon.

Foi a escassez de mísseis SM-6, em particular, que enfureceu o almirante Caudle; eles são usados para defender navios contra aeronaves inimigas, veículos aéreos não tripulados e mísseis de cruzeiro.

Existem hoje apenas dois fabricantes que produzem um grande número de motores de foguetes para sistemas de mísseis utilizados pela Força Aérea, Marinha, Exército e Fuzileiros Navais, em 1995 havia seis.

Um incêndio recente prejudicou a linha de produção de um dos dois fornecedores restantes, a Aerojet Rocketdyne, provocando mais atrasos na entrega do SM-6 e de outros sistemas de mísseis de precisão, mesmo com o acúmulo de encomendas do Pentágono para milhares de novos mísseis.

“Os motores de foguetes, uma maldição na minha vida, continuaram a ser um problema”, disse Gregory Hayes, CEO da Raytheon, a analistas de Wall Street no mês passado. Ele explicou que a escassez afetaria a capacidade da empresa de entregar novos mísseis a tempo e era um problema pouco provável de ser resolvido “até provavelmente a metade de 2024″.

A Aerojet está construindo motores para sistemas mais antigos, como os mísseis contra blindados Javelin e os mísseis antiaéreos Stinger, dos quais mais de 10 mil já foram enviados para a Ucrânia. A empresa também está construindo novos foguetes necessários para propulsionar os chamados mísseis hipersônicos que podem se deslocar muito mais rápido, assim como os foguetes para uma nova geração de armas nucleares para os EUA e até mesmo o foguete para uma nova nave espacial da NASA que em breve deve ir até a lua.

Guerra na Ucrânia mobilizou alto fornecimento militar de Washington e aliados para Kiev  Foto: Baz Ratner / REUTERS

O resultado são bilhões de dólares em encomendas atrasadas na empresa – e frustração no Pentágono pelo ritmo de entrega.

“No fim das contas, quero que os armazéns sejam preenchidos”, disse o almirante Caudle aos fabricantes e à equipe da Marinha em janeiro, referindo-se às áreas de armazenamento em seus navios para mísseis guiados. “OK? Quero os navios cheios.”

Outros itens escassos que diminuem a velocidade da produção incluem coisas simples, como rolamentos, um componente-chave de certos sistemas de mísseis teleguiados, e peças em aço fundido, usadas na fabricação de motores.

Há também apenas uma empresa, a Williams International, que fabrica motores turbofan para a maioria dos mísseis de cruzeiro, de acordo com Seth G. Jones, um ex-funcionário do Departamento de Defesa que hoje trabalha no Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais, armas que seriam vitais para qualquer guerra com a China devido ao seu longo alcance.

Secretário de Defesa dos Estados Unidos, Lloyd Austin e o Secretário de Estado de Defesa do Reino Unido, Ben Wallace, participam de reunião no Pentágono, em Arlington, Virgínia  Foto: Shawn Thew / EFE

Os problemas atuais têm as suas raízes nas consequências do fim da Guerra Fria, quando um ímpeto para o “dividendo da paz” levou a cortes na aquisição de armas e à consolidação da indústria.

Em 1993, Norman Augustine, então CEO da Martin Marietta, um dos maiores fornecedores dos militares, recebeu um convite para um jantar com o secretário de Defesa Les Aspin, que estava ajudando o presidente Bill Clinton a descobrir como reduzir os gastos militares.

Empresas fornecedoras de armas foram reduzidas

Quando ele chegou, mais de uma dúzia de outros CEOs de grandes fornecedores estavam lá para uma reunião que se tornaria conhecida como “A Última Ceia”. A mensagem transmitida ao setor por Aspin foi a de que muitas das empresas precisavam desaparecer, fundindo-se ou encerrando as suas atividades.

“O custo de manter pela metade as fábricas, as linhas de produção seria enorme”, disse Augustine, hoje com 87 anos, durante uma entrevista em um café perto de sua casa em Maryland, lembrando da mensagem compartilhada com os executivos. “O governo não iria nos dizer quais seriam os sobreviventes – teríamos que descobrir isso.”

Augustine ainda tem uma cópia de um gráfico detalhado da “Última Ceia”, dividido por sistemas de armas, criado por ele depois do jantar. O número total de estaleiros e fabricantes de mísseis táticos seria reduzido de oito para quatro, enquanto o número de fabricantes de motores de foguetes cairia de cinco para dois.

Navio da Marinha dos Estados Unidos atracado em Honolulu, Havaí  Foto: HO / REUTERS

Pouco tempo depois, a Martin Marietta adquiriu a GE Aerospace e a General Dynamics’ Space Systems, e depois se fundiu com a Lockheed Corporation, com sede na Califórnia, para formar o que agora é conhecido como Lockheed Martin.

“A conclusão a qual eles chegaram – ver-se livre da maior parte das sedes e dos CEOs e fazer aqueles que restaram operarem em 100%, acho que foi a conclusão certa na época”, disse Augustine. “Mas ela teve consequências no longo prazo. O desafio que enfrentamos hoje foi criado por nós mesmos.”

Desde o fim da Guerra Fria, os EUA – do ponto de vista das demandas de sua base industrial – enfrentaram combates de pouca ou alta intensidade, como a primeira Guerra do Golfo em 1990-1991 e períodos da Guerra do Iraque começando em 2003, ou conflitos prolongados, mas de menor intensidade, como a guerra que durou décadas no Afeganistão, disse Michael E. O’Hanlon, especialista em assuntos militares da Brookings Institution.

Mas mesmo esses confrontos, muito diferentes em escala de possíveis enfrentamentos contra outras grandes potências, expuseram os riscos emergentes: em 2016, os EUA ficaram sem mísseis de precisão após uma série de combates no Afeganistão, depois no Iraque, na Líbia e, por fim, na Síria.

O Pentágono aumentou por um breve período a produção para reabastecer as reservas de mísseis, mas foi uma medida temporária, disse William A. LaPlante, subsecretário de Defesa que supervisiona as aquisições. Os líderes do Departamento de Defesa e os legisladores que definiram o orçamento, muitas vezes voltavam-se para os programas de mísseis para reduzir o total de gastos.

Washington tenta coordenar fornecimento de armas para a Ucrânia junto com países aliados  Foto: Matthias Schrader / AP

Incentivados por lobistas da indústria militar – e pelas centenas de oficiais militares aposentados de alto escalão que contrataram para suas equipes de vendas e marketing –, o governo, em vez disso, focou em grande parte na compra de novos navios, aviões e outros equipamentos extremamente caros, com os quais os principais fabricantes ganham a maior parte de seu dinheiro.

Os lobistas também pressionaram o Congresso a manter navios e aviões mais antigos que até mesmo o Departamento de Defesa dizia ter valor militar limitado, mas que demandam grandes quantias para serem equipados e na contratação de profissionais.

No entanto, os itens com preços mais baixos – como os mísseis e outras munições – tornaram-se uma maneira fácil de fazer cortes nos orçamentos para dar conta das despesas com os itens caros.

“Torna-se muito tentador quando nossos orçamentos estão sendo equilibrados, equilibrá-los com os fundos para munições, porque é dinheiro fungível”, disse LaPlante. “Nós permitimos, sem dúvidas, que as linhas de produção esfriassem e observamos como as peças se tornavam obsoletas.”

Esse hábito também se estendeu aos aliados europeus, como a Polônia, que se comprometeu a comprar aviões de caça F-35, que custam cerca de US$ 80 milhões cada, mas não mísseis suficientes para usar neles por mais do que duas semanas em uma guerra, disse Hayes, CEO da Raytheon, cuja divisão Pratt & Whitney fabrica motores para o caça.

“Gastamos muito dinheiro com alguns sistemas grandes e muito sofisticados, e não gastamos, nem focamos tanto nas munições necessárias para acioná-los”, disse Hayes em dezembro. “Ninguém está comprando os sistemas de armas necessários para se envolver em outra coisa que não seja uma batalha de curta, curtíssima duração.”

O Pentágono agora está trabalhando para abrir mão de uma estratégia construída em torno da filosofia just-in-time, ao estilo do Walmart, de manter o estoque baixo e, em vez disso, focar mais na capacidade de produção, disse LaPlante em uma entrevista.

Biden propôs aumento do orçamento militar

A Casa Branca de Biden propôs este mês um aumento de 51% no orçamento para comprar mísseis e munições, em comparação com 2022, alcançando um total de US$ 30,6 bilhões.

E isso é apenas o começo. O orçamento proposto pela Casa Branca apenas para a aquisição de mísseis para a Força Aérea deve saltar para quase US$ 13 bilhões até 2028, ante os US$ 2,2 bilhões em 2021. (O Congresso está apenas começando a considerar as propostas do governo e as de ambos os partidos no Capitólio.)

Presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, participa de coletiva de imprensa na Casa Branca Foto: Michael A. McCoy / NYT

Grandes fabricantes como a Lockheed Martin, com o apoio do Pentágono, estão procurando por todo o país novos fornecedores para os programas de mísseis. O Departamento de Defesa também está enviando equipes para ajudá-los a eliminar gargalos, inclusive recorrendo a aliados de todo o mundo para encontrar peças específicas em estoque baixo que estão atrasando as linhas de produção.

No ano passado, a Lockheed conseguiu produzir 7.500 dos foguetes de artilharia que as tropas ucranianas dispararam com grande sucesso de lançadores múltiplos HIMARS. Este ano, esse número saltará para 10 mil. Mas isso ainda é bem menos do que o Pentágono precisa, mesmo apenas para reabastecer a Ucrânia, e é um dos mais de dez sistemas de foguetes e mísseis que os fabricantes agora estão correndo para aumentar a produção.

É provável que o aumento das despesas se traduza, no longo prazo, em um aumento dos lucros dos fabricantes de itens para uso militar. Mas, no curto prazo, vários deles, como a Lockheed, continuam a ter dificuldades para contratar trabalhadores e acabar com a escassez de peças-chave necessárias para atender a demanda do Pentágono.

A Lockheed espera que sua receita permaneça estável este ano, ainda que o governo federal aumente os gastos. Reforçar a capacidade adicional necessária provavelmente vai demorar vários anos.

“Toda vez que você vê uma análise que diz: ‘Talvez não estejamos preparados para alcançar nossos objetivos estratégicos’, isso é preocupante”, disse Frank A. St.John, diretor de operações da Lockheed Martin, a maior fornecedora de itens para uso militar dos EUA, em uma entrevista. “Estamos no caminho para lidar com essa necessidade.”

Em dezembro, o Congresso deu ao Pentágono um novo poder para fechar contratos plurianuais com fabricantes de itens para uso militar para comprar sistemas de mísseis, proporcionando compromissos financeiros que permitem a eles contratar mais fornecedores ou expandir fábricas para que possam produzir mais mísseis, sabendo que há lucros a serem alcançados.

“Isso dará à indústria a confirmação real de que vão estar operando nos próximos anos”, disse LaPlante. “Essa é uma grande, enorme mudança cultural.”

No ano passado, o Pentágono também criou uma equipe encarregada de trabalhar com os fabricantes para identificar a escassez de mão de obra e na cadeia de suprimentos – e, depois, distribuiu mais de US$ 2 bilhões em recursos financeiros para ajudar a solucioná-los rapidamente.

Essa equipe começou com foco no reabastecimento de armas enviadas para a Ucrânia, disse LaPlante, mas ela agora foi configurada como uma unidade mais permanente dentro do Pentágono para ajudar o Departamento de Defesa a fazer uma “mudança geral de afastamento da mentalidade just-in-time”.

Em uma reversão da política pós-Guerra Fria, os reguladores antitruste também aumentaram o escrutínio da consolidação contínua da indústria militar, com a Comissão Federal de Comércio (FTC, na sigla em inglês), por exemplo, se mexendo no ano passado para impedir o plano da Lockheed Martin de comprar a Aerojet Rocketdyne por US$ 4,4 bilhões.

“Não podemos permitir mais concentração em mercados fundamentais para a nossa segurança e defesa nacional”, disse Holly Vedova, diretora do Departamento de Concorrência da FTC, no início do ano passado, depois que a agência entrou em ação para impedir o acordo.

Outra grande empresa do setor de defesa, a L3 Harris Technologies, que é a sexta maior do país, propôs comprar a Aerojet, uma transação que ainda não foi concluída. Mas os fabricantes também estão em busca de novas opções para expandir a capacidade de fabricar motores de foguete, com a Lockheed solicitando orçamentos de uma variedade de possíveis novos fornecedores.

A Aerojet propôs recentemente expandir suas fábricas de motores para foguetes no Arkansas e no Alabama, onde a empresa fabrica motores de foguetes para o SM-6 que a Marinha está esperando, assim como o míssil PAC-3, que Taiwan está aguardando para se defender contra qualquer nova ameaça de mísseis.

“Os líderes do Departamento de Defesa sinalizaram uma necessidade crítica de reabastecer os estoques atuais”, disse a empresa em um comunicado, “assim como a necessidade de investir significativamente para atender o estoque geral de munições”.

A Força Aérea começou a mudar a forma como compra sistemas de mísseis, em parte para aumentar o número de empresas que fabricam itens essenciais, como motores de foguetes, disse Andrew Hunter, secretário-adjunto da Força Aérea responsável pelas aquisições.

“É quase inconcebível que um único fornecedor tenha o tipo de capacidade que você vai precisar, caso esse conflito se prolongue”, disse ele depois de ser questionado sobre a escassez de motores de foguetes.

O presidente Biden também recorreu à Lei de Produção para a Defesa – usada durante a pandemia para acelerar a fabricação de respiradores e vacinas – para avançar mais rápido com novos programas de mísseis, incluindo uma série de armas hipersônicas sendo desenvolvidas para a Força Aérea, o Exército e a Marinha.

Washington não se preparou para momento atual

Todas as medidas foram necessárias porque os EUA subestimaram as ameaças que enfrentam agora – ou não se prepararam adequadamente, reconheceram funcionários do Pentágono.

“Ninguém previu o conflito prolongado de alto volume que estamos vendo na Ucrânia, ou que poderemos ver contra um adversário estratégico no futuro”, disse LaPlante este mês, referindo-se à China.

Um aumento nas encomendas de armas americanas por aliados na Europa e na Ásia também ajudará, criando mais demanda para apoiar as linhas de produção domésticas.

Só para Taiwan, há um acúmulo de US$ 19 bilhões de encomendas de armas fabricadas nos EUA – boa parte delas de mísseis Stinger com motores de foguete construídos pela Aerojet que já estão com estoque baixo.

O Pentágono também está trabalhando com certos aliados dos EUA para criar mais parcerias, como um contrato de US$ 1,2 bilhão fechado no ano passado para financiar um projeto conjunto entre a Raytheon e a empresa de defesa norueguesa Kongsberg para construir um sistema de mísseis de defesa antiaérea lançados do solo chamado NASAMS, que está sendo enviado para a Ucrânia.

Kathleen, a vice-secretária de Defesa, disse que o objetivo não é necessariamente se preparar para travar uma guerra com a China – é impedir que ela comece. “De qualquer modo, devemos ter uma força de combate confiável para vencer, caso seja preciso lutar”, disse ela.

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