CARACAS - O governo da Venezuela criou uma polêmica de final de ano instalando luzes de Natal nas grandes cidades, decorações que muitos dizem não terem cabimento em um país que sofre blecautes crônicos. Os adornos distribuídos pelo governo do presidente Nicolás Maduro a partir de novembro incluem uma cruz iluminada no topo de uma montanha nos arredores da capital Caracas.
As decorações causaram revolta após um ano de vários interrupções no fornecimento de energia de toda a nação e umaredução contínua do serviço para a maioria dos cidadãos. “É bonito, mas há luzes demais. Há lugares sem energia e aqui há demais”, disse Elina Montaño, dona de casa de 76 anos, em um passeio de pedestres de Caracas onde luzes multicoloridas cercam um cenário de animação da Natividade.
Carolina Cestari, uma autoridade municipal de Caracas, defendeu a decisão de iluminar 22 locais públicos, incluindo parte do poluído rio Guaire. Cestari disse que o consumo de energia é pequeno graças às lâmpadas econômicas fornecidas pela aliada política China e que as luzes proporcionarão um clima de festa para as famílias mais pobres.
Migdalia Teran, estilista de 36 anos que mora na cidade de Valencia, disse que a decoração é problemáticas, dados os cortes de eletricidade, mas acrescentou que as luzes trazem alguma alegria. “Sempre adorei o Natal, e quero alguma alegria depois de tanta tristeza. Sou uma dessas pessoas que viram metade da família deixar o país”, disse, referindo-se aos cerca de 4,5 milhões de venezuelanos que migraram desde 2015.
Nas redes sociais, até mesmo críticos observaram que desligar as luzes de Natal faria pouco para melhorar o acesso à eletricidade.
A Venezuela ficou no escuro em março, na esteira de um blecaute que Maduro atribuiu aos Estados Unidos. Críticos dizem que os problemas energéticos são resultantes da corrupção, da má administração e do subinvestimento. Grande parte do suprimento de energia da capital foi restabelecido desde então, mas blecautes nas províncias continuam causando transtornos em diversas áreas, desde o comércio rotineiro a procedimentos médicos de emergência.
Na segunda maior cidade do país, Maracaibo, onde a eletricidade é excepcionalmente precária, o caminhoneiro Jesús Paz se queixou de uma grande exibição de luzes de um lado da ponte de acesso à cidade. “Como eles podem gastar todo esse dinheiro iluminando a entrada da ponte se o resto da ponte está no escuro?”, questionou Paz, de 38 anos. / REUTERS