Opinião|Defensores enrustidos do Terceiro Reich alemão não são mais apenas um partido de minoria extremista


Chances do partido extremista AfD parecem fortes antes das eleições de setembro em três Estados do leste

Atualização:

PARIS — O partido etnonacionalista no topo ou perto do topo das pesquisas antes das eleições estaduais alemãs que começam no domingo, 1º, está assustando a Europa. E não é de se admirar: veja alguns de seus representantes.

Veja Siegbert Droese, líder do partido Alternativa para a Alemanha na cidade oriental de Leipzig. Alguns anos atrás, ele posou com a mão no coração para uma foto na Toca do Lobo, o quartel-general da frente oriental de Adolf Hitler durante a 2.ª Guerra Mundial. Seu olhar sério estava direcionado diretamente para a câmera.

Alguns anos depois, ele fez campanha em uma Mercedes com a placa “AH 18 18″ — o número 18 sendo o “código alfanumérico dos supremacistas brancos para identificar Adolf Hitler (1=A e 8=H)”, de acordo com a Liga Antidifamação.

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Uma figura marginal e irrelevante? Quem dera. O partido de Droese, conhecido como AfD, é mais popular do que qualquer um dos três partidos que fazem parte do governo do chanceler Olaf Scholz.

Conforme o sucesso da AfD decolou, os partidos tradicionais do governo alemão — blocos moderados e conhecidos de centro-esquerda e centro-direita — lutaram para contê-la.

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A questão em si é desorientadora. No ano passado, a AfD foi alvo de revelações embaraçosas, processos judiciais e escândalos, incluindo investigações de espionagem ligadas a supostos pagamentos a figuras importantes do partido por parte da Rússia e da China. Nada parece diminuir seu apelo ou mudar sua pauta anti-imigração, anti-Europa, pró-Rússia e anti-americana.

O serviço de segurança da Alemanha designou a filial do partido na Turíngia, um dos estados que votaram no domingo, como uma organização extremista. O líder local do partido, Bjorn Hocke, foi condenado duas vezes por usar um slogan nazista proibido, “Tudo pela Alemanha”. No início deste ano, foi relatado que autoridades do partido e neonazistas conspiraram para deportar milhões de imigrantes e cidadãos alemães de origem estrangeira. Nesta primavera, o principal candidato da AfD para o Parlamento Europeu disse que cada membro individual da SS — a ponta de lança de Hitler na execução do Holocausto — não era “automaticamente um criminoso”.

Frequentemente, o modus operandi da AfD é a relativização. Claro, os nazistas eram ruins, mas e os aliados que bombardearam Dresden? Claro, o Holocausto foi terrível, mas e Hiroshima e Nagasaki?

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Policiais observam apoiadores se reunindo para um comício da Alternativa Jovem para a Alemanha, que é filiada ao partido de extrema direita AfD em 2018 em Munique. Foto: Matt McClain/The Washington Post

“É como uma obsessão deles, uma síndrome de Tourette política”, escreveu a jornalista alemã Mariam Lau no Guardian. “O passado nazista precisaria ser reabilitado, a qualquer custo.”

Eu tive um gostinho do pensamento distorcido do partido na figura de Droese, o líder local da AfD que entrevistei na semana passada na imponente prefeitura de Leipzig. Ele tem 55 anos, é um ex-gerente de hotel com olhos cinzentos e um jeito insensível. Ele serviu um mandato no parlamento alemão, até 2021, e ganhou um assento no Parlamento Europeu no início deste ano. Lá, ele faz parte de uma comissão que supervisiona o turismo. Sim, é verdade.

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“Meu partido é um fato”, disse ele. “Temos uma ideia, temos um programa, temos um plano para o futuro e para os problemas diários das pessoas, especialmente o crime e a imigração.”

Droese tinha explicações úteis para a placa “AH” (o carro foi emprestado de um proprietário com essas iniciais) e sua foto na Toca do Lobo (ele estava homenageando não Hitler, mas a tentativa de assassiná-lo que ocorreu lá em 1944). Ele não tinha mencionado essa última informação em entrevistas anteriores.

No dia seguinte à nossa conversa, um migrante sírio armado com uma faca e suspeito de vínculos com o Estado Islâmico matou três pessoas e feriu outras oito em uma cidade do oeste da Alemanha. Representantes da AfD aproveitaram a notícia para reforçar sua mensagem de que os imigrantes e o multiculturalismo em geral representam uma ameaça à segurança e à identidade alemãs.

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A AfD agora está em segundo lugar nacionalmente entre os partidos da Alemanha, atrás apenas da União Democrata Cristã, de centro-direita, que Angela Merkel já liderou. É ainda mais popular nos três Estados do leste que votaram em setembro: Saxônia, onde Leipzig é a maior cidade; Turíngia; e Brandemburgo.

Até agora, nenhum partido tradicional cogitou compartilhar com a AfD o poder em qualquer governo estadual. Não se sabe quanto tempo essa linha vermelha vai durar se o partido apertar seu controle no leste.

A popularidade do partido ali tem raízes no trauma residual dos estados do leste com a reunificação alemã há quase 34 anos: a saída de ambiciosos orientais, especialmente mulheres jovens, que se dirigiram para o que havia sido a Alemanha Ocidental em busca de melhores perspectivas. Perdas de empregos em empresas que foram fechadas ou reformadas. Novos chefes da Alemanha Ocidental, desdenhosos de empresas que viam como obsoletas e mal administradas. Disparidades salariais que perduram, reforçando a sensação de que os orientais continuam sendo cidadãos de segunda classe.

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A humilhação e o ressentimento são terreno fértil para o extremismo anti-establishment. Assim como a economia da Alemanha, a que se expande mais lentamente entre os países industriais avançados.

Mesmo entre outros populistas de extrema direita em ascensão por toda a Europa, a AfD foi rejeitada, tóxica demais para ser incluída por Marine Le Pen da França, Viktor Orbán da Hungria e outros blocos anti-imigrantes em sua aliança no Parlamento Europeu.

Isso pode ser o mais assustador: na Alemanha, o status de pária da AfD parece estar funcionando. E ninguém pode dizer quando, ou como, ele chegará ao auge./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

PARIS — O partido etnonacionalista no topo ou perto do topo das pesquisas antes das eleições estaduais alemãs que começam no domingo, 1º, está assustando a Europa. E não é de se admirar: veja alguns de seus representantes.

Veja Siegbert Droese, líder do partido Alternativa para a Alemanha na cidade oriental de Leipzig. Alguns anos atrás, ele posou com a mão no coração para uma foto na Toca do Lobo, o quartel-general da frente oriental de Adolf Hitler durante a 2.ª Guerra Mundial. Seu olhar sério estava direcionado diretamente para a câmera.

Alguns anos depois, ele fez campanha em uma Mercedes com a placa “AH 18 18″ — o número 18 sendo o “código alfanumérico dos supremacistas brancos para identificar Adolf Hitler (1=A e 8=H)”, de acordo com a Liga Antidifamação.

Uma figura marginal e irrelevante? Quem dera. O partido de Droese, conhecido como AfD, é mais popular do que qualquer um dos três partidos que fazem parte do governo do chanceler Olaf Scholz.

Conforme o sucesso da AfD decolou, os partidos tradicionais do governo alemão — blocos moderados e conhecidos de centro-esquerda e centro-direita — lutaram para contê-la.

A questão em si é desorientadora. No ano passado, a AfD foi alvo de revelações embaraçosas, processos judiciais e escândalos, incluindo investigações de espionagem ligadas a supostos pagamentos a figuras importantes do partido por parte da Rússia e da China. Nada parece diminuir seu apelo ou mudar sua pauta anti-imigração, anti-Europa, pró-Rússia e anti-americana.

O serviço de segurança da Alemanha designou a filial do partido na Turíngia, um dos estados que votaram no domingo, como uma organização extremista. O líder local do partido, Bjorn Hocke, foi condenado duas vezes por usar um slogan nazista proibido, “Tudo pela Alemanha”. No início deste ano, foi relatado que autoridades do partido e neonazistas conspiraram para deportar milhões de imigrantes e cidadãos alemães de origem estrangeira. Nesta primavera, o principal candidato da AfD para o Parlamento Europeu disse que cada membro individual da SS — a ponta de lança de Hitler na execução do Holocausto — não era “automaticamente um criminoso”.

Frequentemente, o modus operandi da AfD é a relativização. Claro, os nazistas eram ruins, mas e os aliados que bombardearam Dresden? Claro, o Holocausto foi terrível, mas e Hiroshima e Nagasaki?

Policiais observam apoiadores se reunindo para um comício da Alternativa Jovem para a Alemanha, que é filiada ao partido de extrema direita AfD em 2018 em Munique. Foto: Matt McClain/The Washington Post

“É como uma obsessão deles, uma síndrome de Tourette política”, escreveu a jornalista alemã Mariam Lau no Guardian. “O passado nazista precisaria ser reabilitado, a qualquer custo.”

Eu tive um gostinho do pensamento distorcido do partido na figura de Droese, o líder local da AfD que entrevistei na semana passada na imponente prefeitura de Leipzig. Ele tem 55 anos, é um ex-gerente de hotel com olhos cinzentos e um jeito insensível. Ele serviu um mandato no parlamento alemão, até 2021, e ganhou um assento no Parlamento Europeu no início deste ano. Lá, ele faz parte de uma comissão que supervisiona o turismo. Sim, é verdade.

“Meu partido é um fato”, disse ele. “Temos uma ideia, temos um programa, temos um plano para o futuro e para os problemas diários das pessoas, especialmente o crime e a imigração.”

Droese tinha explicações úteis para a placa “AH” (o carro foi emprestado de um proprietário com essas iniciais) e sua foto na Toca do Lobo (ele estava homenageando não Hitler, mas a tentativa de assassiná-lo que ocorreu lá em 1944). Ele não tinha mencionado essa última informação em entrevistas anteriores.

No dia seguinte à nossa conversa, um migrante sírio armado com uma faca e suspeito de vínculos com o Estado Islâmico matou três pessoas e feriu outras oito em uma cidade do oeste da Alemanha. Representantes da AfD aproveitaram a notícia para reforçar sua mensagem de que os imigrantes e o multiculturalismo em geral representam uma ameaça à segurança e à identidade alemãs.

A AfD agora está em segundo lugar nacionalmente entre os partidos da Alemanha, atrás apenas da União Democrata Cristã, de centro-direita, que Angela Merkel já liderou. É ainda mais popular nos três Estados do leste que votaram em setembro: Saxônia, onde Leipzig é a maior cidade; Turíngia; e Brandemburgo.

Até agora, nenhum partido tradicional cogitou compartilhar com a AfD o poder em qualquer governo estadual. Não se sabe quanto tempo essa linha vermelha vai durar se o partido apertar seu controle no leste.

A popularidade do partido ali tem raízes no trauma residual dos estados do leste com a reunificação alemã há quase 34 anos: a saída de ambiciosos orientais, especialmente mulheres jovens, que se dirigiram para o que havia sido a Alemanha Ocidental em busca de melhores perspectivas. Perdas de empregos em empresas que foram fechadas ou reformadas. Novos chefes da Alemanha Ocidental, desdenhosos de empresas que viam como obsoletas e mal administradas. Disparidades salariais que perduram, reforçando a sensação de que os orientais continuam sendo cidadãos de segunda classe.

A humilhação e o ressentimento são terreno fértil para o extremismo anti-establishment. Assim como a economia da Alemanha, a que se expande mais lentamente entre os países industriais avançados.

Mesmo entre outros populistas de extrema direita em ascensão por toda a Europa, a AfD foi rejeitada, tóxica demais para ser incluída por Marine Le Pen da França, Viktor Orbán da Hungria e outros blocos anti-imigrantes em sua aliança no Parlamento Europeu.

Isso pode ser o mais assustador: na Alemanha, o status de pária da AfD parece estar funcionando. E ninguém pode dizer quando, ou como, ele chegará ao auge./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

PARIS — O partido etnonacionalista no topo ou perto do topo das pesquisas antes das eleições estaduais alemãs que começam no domingo, 1º, está assustando a Europa. E não é de se admirar: veja alguns de seus representantes.

Veja Siegbert Droese, líder do partido Alternativa para a Alemanha na cidade oriental de Leipzig. Alguns anos atrás, ele posou com a mão no coração para uma foto na Toca do Lobo, o quartel-general da frente oriental de Adolf Hitler durante a 2.ª Guerra Mundial. Seu olhar sério estava direcionado diretamente para a câmera.

Alguns anos depois, ele fez campanha em uma Mercedes com a placa “AH 18 18″ — o número 18 sendo o “código alfanumérico dos supremacistas brancos para identificar Adolf Hitler (1=A e 8=H)”, de acordo com a Liga Antidifamação.

Uma figura marginal e irrelevante? Quem dera. O partido de Droese, conhecido como AfD, é mais popular do que qualquer um dos três partidos que fazem parte do governo do chanceler Olaf Scholz.

Conforme o sucesso da AfD decolou, os partidos tradicionais do governo alemão — blocos moderados e conhecidos de centro-esquerda e centro-direita — lutaram para contê-la.

A questão em si é desorientadora. No ano passado, a AfD foi alvo de revelações embaraçosas, processos judiciais e escândalos, incluindo investigações de espionagem ligadas a supostos pagamentos a figuras importantes do partido por parte da Rússia e da China. Nada parece diminuir seu apelo ou mudar sua pauta anti-imigração, anti-Europa, pró-Rússia e anti-americana.

O serviço de segurança da Alemanha designou a filial do partido na Turíngia, um dos estados que votaram no domingo, como uma organização extremista. O líder local do partido, Bjorn Hocke, foi condenado duas vezes por usar um slogan nazista proibido, “Tudo pela Alemanha”. No início deste ano, foi relatado que autoridades do partido e neonazistas conspiraram para deportar milhões de imigrantes e cidadãos alemães de origem estrangeira. Nesta primavera, o principal candidato da AfD para o Parlamento Europeu disse que cada membro individual da SS — a ponta de lança de Hitler na execução do Holocausto — não era “automaticamente um criminoso”.

Frequentemente, o modus operandi da AfD é a relativização. Claro, os nazistas eram ruins, mas e os aliados que bombardearam Dresden? Claro, o Holocausto foi terrível, mas e Hiroshima e Nagasaki?

Policiais observam apoiadores se reunindo para um comício da Alternativa Jovem para a Alemanha, que é filiada ao partido de extrema direita AfD em 2018 em Munique. Foto: Matt McClain/The Washington Post

“É como uma obsessão deles, uma síndrome de Tourette política”, escreveu a jornalista alemã Mariam Lau no Guardian. “O passado nazista precisaria ser reabilitado, a qualquer custo.”

Eu tive um gostinho do pensamento distorcido do partido na figura de Droese, o líder local da AfD que entrevistei na semana passada na imponente prefeitura de Leipzig. Ele tem 55 anos, é um ex-gerente de hotel com olhos cinzentos e um jeito insensível. Ele serviu um mandato no parlamento alemão, até 2021, e ganhou um assento no Parlamento Europeu no início deste ano. Lá, ele faz parte de uma comissão que supervisiona o turismo. Sim, é verdade.

“Meu partido é um fato”, disse ele. “Temos uma ideia, temos um programa, temos um plano para o futuro e para os problemas diários das pessoas, especialmente o crime e a imigração.”

Droese tinha explicações úteis para a placa “AH” (o carro foi emprestado de um proprietário com essas iniciais) e sua foto na Toca do Lobo (ele estava homenageando não Hitler, mas a tentativa de assassiná-lo que ocorreu lá em 1944). Ele não tinha mencionado essa última informação em entrevistas anteriores.

No dia seguinte à nossa conversa, um migrante sírio armado com uma faca e suspeito de vínculos com o Estado Islâmico matou três pessoas e feriu outras oito em uma cidade do oeste da Alemanha. Representantes da AfD aproveitaram a notícia para reforçar sua mensagem de que os imigrantes e o multiculturalismo em geral representam uma ameaça à segurança e à identidade alemãs.

A AfD agora está em segundo lugar nacionalmente entre os partidos da Alemanha, atrás apenas da União Democrata Cristã, de centro-direita, que Angela Merkel já liderou. É ainda mais popular nos três Estados do leste que votaram em setembro: Saxônia, onde Leipzig é a maior cidade; Turíngia; e Brandemburgo.

Até agora, nenhum partido tradicional cogitou compartilhar com a AfD o poder em qualquer governo estadual. Não se sabe quanto tempo essa linha vermelha vai durar se o partido apertar seu controle no leste.

A popularidade do partido ali tem raízes no trauma residual dos estados do leste com a reunificação alemã há quase 34 anos: a saída de ambiciosos orientais, especialmente mulheres jovens, que se dirigiram para o que havia sido a Alemanha Ocidental em busca de melhores perspectivas. Perdas de empregos em empresas que foram fechadas ou reformadas. Novos chefes da Alemanha Ocidental, desdenhosos de empresas que viam como obsoletas e mal administradas. Disparidades salariais que perduram, reforçando a sensação de que os orientais continuam sendo cidadãos de segunda classe.

A humilhação e o ressentimento são terreno fértil para o extremismo anti-establishment. Assim como a economia da Alemanha, a que se expande mais lentamente entre os países industriais avançados.

Mesmo entre outros populistas de extrema direita em ascensão por toda a Europa, a AfD foi rejeitada, tóxica demais para ser incluída por Marine Le Pen da França, Viktor Orbán da Hungria e outros blocos anti-imigrantes em sua aliança no Parlamento Europeu.

Isso pode ser o mais assustador: na Alemanha, o status de pária da AfD parece estar funcionando. E ninguém pode dizer quando, ou como, ele chegará ao auge./TRADUÇÃO DE AUGUSTO CALIL

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